24/11/2016

A arte de vencer os demônios da alma

Os demônios interiores colocam-nos diante de muitas tentações


A vida nem sempre é um oásis de paz. Há momentos em que nos vemos perdidos em um grande deserto. Nada conseguimos enxergar. Olhamos e só vemos o sol e a areia, o calor e as miragens. Não há sinais de vida que devolvam ao nosso coração a esperança de outrora. Atravessar desertos nem sempre é uma tarefa fácil, pois, nele, entramos em contato com as mais variadas tentações nascidas a partir de nossas mais diversas sedes: desânimo, falta de fé, incredulidade, revoltas interiores, desejos de vingança, poder, ganância, inveja. Podemos dizer que, no deserto, somos confrontados com os nossos demônios interiores, que ficam adormecidos em nosso coração, esperando o momento certo de acordar; quando acordam, podem provocar uma destruição enorme em nossa alma e, consequentemente, em nossa vida, tanto humana quanto espiritual.


A arte de vencer os demônios da alma
Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

 

Desertos físicos e espirituais

O povo de Deus também percorreu muitos desertos físicos e espirituais. Contudo, foi a confiança na Sua misericórdia e no Seu amor que libertou o povo dessa travessia que, muitas vezes, parecia não ter fim. Esse gesto de libertação marcou, definitivamente, a vida dessas pessoas. Na liberdade, experimentaram o amor concreto de um Deus presente em meio às maiores dificuldades da travessia. Essa libertação deixou marcas profundas na história da salvação. 


Nada mais seria como antes. Outros desertos iriam surgir, mas eles agora sabiam que não estavam mais sozinhos. Em meio às dificuldades das novas travessias dos desertos que deveriam fazer, tinham plena certeza de que Deus caminhava com eles.


Nossa vida é marcada por desertos. Em meio a esses momentos, sentimo-nos, muitas vezes, sozinhos e desamparados. Parece que nunca chegaremos ao fim da travessia. Mas é na experiência do povo de Deus que encontramos fortaleza para seguir adiante. Não estamos sós, somos acompanhados pelo amor de Deus, que nos guia constantemente e nos indica o melhor caminho a ser seguido.


A experiência do deserto também atingiu, de maneira profunda, a vida de Jesus. Após ser batizado no rio Jordão, Ele foi conduzido pelo Espírito ao deserto. Quarenta dias de jejum e de provações marcaram esse tempo na vida de Cristo.




No deserto, entramos em contato com os nossos desejos mais profundos. Para sairmos dele, somos tentados a aceitar qualquer oferta que nos garanta uma libertação. Porém, muitas dessas propostas são ilusórias. Poderíamos dizer que são miragens, pois se desfazem rapidamente. Não são verdadeiras, mas se baseiam em nosso desejo de superarmos uma dificuldade de modo fácil e superficial.


Jesus foi tentado pelo demônio. Ele foi convidado a saciar sua fome, mas seu alimento era divino. Foi tentado a obter poder sobre muitos reinos terrenos, mas seu Reino era o Céu. Foi tentado a desafiar o poder de Deus, mas Ele mesmo era Deus. Cristo venceu a tentação a partir de Suas próprias certezas.

 

Os demônios interiores


No deserto da vida, somos tentados a saciar nossas sedes de muitos modos, mas a água que nos é oferecida não sacia a nossa verdadeira sede. Os demônios interiores colocam-nos diante de muitas tentações e miragens. Todas essas, porém, ilusórias. Para não se perder é preciso, antes, encontrar-se.
Em Cristo e na Sua Palavra somos convidados a nos encontrarmos com a fonte da verdadeira vida. Vencendo os demônios dos desertos da vida, faremos a experiência da libertação n’Aquele que é o nosso Libertador.



Autor: Padre Flavio Sobreiro

23/11/2016

Por que fazemos o sinal da Cruz?

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“É a cruz que fecunda a Igreja, ilumina os povos, guarda o deserto, abre o paraíso.”Proclo de Constantinopla, bispo


A primeira coisa que nossos pais católicos nos ensinam a fazer é o sinal da Cruz. É uma das mais belas marcas de nossa religião; é o ato que inicia e termina nossas orações particulares ou coletivas. É um sinal externo que “nos volta para Deus”.


Sua referência é bíblica. Uma delas está no livro de Ezequiel (9,3-4): “O Senhor disse: Percorre a cidade, atravessa Jerusalém e marca na fronte os que se lamentaram afligidos pelas abominações que nela se cometem.”


A marca é um tau (T), última letra do alfabeto hebraico, que tinha a forma de uma cruz. Os marcados são propriedade do Senhor, uma porção sagrada e intocável. Em Apocalipse 7,3 temos outra cena semelhante: “Não causeis danos à terra nem ao mar nem às árvores, até que selemos a fronte dos servos do nosso Deus.” Em ambos os textos, a marca na fronte significava a salvação e sem ele o homem não seria poupado.


Tertuliano (†220) escrevia no ano 211 d. C.: “Nós marcamos nossa fronte com o sinal da cruz. Quando nos pomos a caminhar, quando saímos e entramos, quando nos vestimos, quando nos lavamos, quando iniciamos as refeições, quando nos vamos deitar, quando nos sentamos, nessas ocasiões e em todas as nossas demais atividades, persignamo-nos a testa com o sinal da Cruz” (De corona militis 3).


Fazer o sinal da cruz já era um hábito antigo quando escreveu isso.


Há muitos textos bíblicos, que louvam e exaltam a Cruz de Cristo:


Mt 10,38: “Aquele que não toma a sua cruz e me segue, não é digno de mim” (Cf.Mc 8,34; Lc 9,23; 14,27).


Mt 16,24: “Disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”.


Leia também: O Sinal da Cruz


Gl 2,19: “Pela Lei morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Fui crucificado com Cristo.”


Gl 6,14: “Quanto a mim, não aconteça gloriar-me senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.”


Diz ainda Santo Hipólito de Roma (†235), descrevendo as práticas dos cristãos do século II: “Marcai com respeito as vossas cabeças com o sinal da Cruz. Este sinal da Paixão opõe-se ao diabo e protege contra o diabo, se á feito com fé, não por ostentação, mas em virtude da convicção de que á um escudo protetor. É um sinal como outrora foi o Cordeiro verdadeiro; ao fazer o sinal da Cruz na fronte e sobre os olhos, rechaçamos aquele que nos espreite para nos condenar” (Tradição dos Apóstolos 42).




São Paulo exalta a santa cruz: “A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas para os que se salvam, isto é para nós, é uma força divina.” (1 Cor 1,18)

Podemos e devemos fazer o sinal da cruz sempre que vamos rezar, conversar com Deus, pedir a sua proteção. Ao passar por uma igreja, ou outro lugar sagrado, podemos fazer o sinal da cruz, com respeito, e bem feito, para pedir a Deus a sua proteção. O importante é a intenção de rezar, “voltar-se para Deus”. 


O próprio Sinal da Cruz é uma oração. Importa que seja feito com devoção, e não como superstição. Diante do Santíssimo Sacramento, pode-se fazer o sinal da cruz, mas não é obrigatório; e sim a genuflexão. Também não é necessário fazer o sinal da cruz ao receber a sagrada Comunhão, pois já o fizemos no início da celebração.


Nota: vale a pena lembrar que no dia 14 de setembro a Igreja celebra a festa da exaltação da santa cruz.


“… Até hoje a cruz é glorificada; com efeito, é a cruz que ainda hoje consagra os reis, adorna os padres,protege as virgens, dá força aos ascetas, reforça os elos dos esposos, dá ânimo às viúvas.É a cruz que fecunda a Igreja, ilumina os povos, guarda o deserto, abre o paraíso.”Proclo de Constantinopla, bispo (c. 390-446) – Sermão para o Domingo de Ramos



Autor: Prof. Felipe Aquino
Fonte: Cleofas

22/11/2016

Por que cometemos sempre os mesmos pecados?

Saiba por que temos a tendência de cometer sempre os mesmos pecados

 

O encontro pessoal com Cristo ressuscitado provoca uma transformação em nosso interior. O amor de Deus é responsável pelo nascimento de homens e mulheres novos, gerados na água e no Espírito (cf. Jo 3,3-5). Nossas aspirações passam a ser de enveredar pelo caminho da santidade, procurar o arrependimento dos pecados, para não ofender o Senhor, que revelou o quanto nos ama.

Por que cometemos sempre os mesmos pecados
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com


A esperança renasce, uma força contagia e, principalmente, um novo conceito de si, a partir da dignidade de filho de Deus, abrange nossos corações. Porém, decorrido algum tempo, pode acontecer de voltarmos a cometer alguns pecados. Mesmo com luta e vigilância, acabamos por cair, vez ou outra, nos mesmos erros. São os chamados “pecados de estimação”.

 

O que acontece conosco?


Temos a consciência e a inspiração de não pecar, então, por que nos percebemos fracos diante de certos impulsos? A primeira coisa a entender é que o Senhor criou o homem todo no bem, para o bem e pelo bem. “E viu (Deus) que tudo era muito bom” (Gn 1,31). São Tomás de Aquino diz que “o homem, ao seguir qualquer desejo natural, tende à semelhança divina, pois todo bem naturalmente desejado é uma certa semelhança com a bondade divina”. Ainda citando São Tomás de Aquino, ele diz: “O pecado é desviar-se da reta apropriação de um bem”.


O que leva o ser humano a pecar sempre será o desejo de alcançar o bem que nele foi constituído. Pecamos quando usamos esses bens – dons e talentos depositados em nós por Deus de forma incorreta. Esse anseio pelo bem nunca será extirpado, e ainda que a forma de buscar alcançá-lo seja errada “o pecado tende a reproduzir-se e a reforçar-se, mas não consegue destruir o senso moral até a raiz” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1865). O dom nunca morrerá, mesmo que o estejamos usando para o pecado. “Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Rm 11,29).


Se todas as nossas faculdades humanas foram criadas para o bem, mas, por nossa livre iniciativa ou porque aprendemos as coisas de forma pecaminosa, nós ainda não conseguimos nos livrar de uma prática ruim, significa que estamos lidando com um traço da nossa personalidade– criada para o bem; –porém, durante a história pessoal, foi habituado na forma de pecado e não de virtude.
Aí entra satanás, o autor do pecado com suas artimanhas. A tentação será maior em uma área do que em outra, pois o demônio conhece nossas fraquezas, ou melhor, conhece nossos traços e quer acabar com o que temos de melhor.


Jesus, no deserto, foi tentado justamente em Sua mais sagrada particularidade, naquilo que só Ele é: “Se és Filho de Deus!” (Mt 4,3-6). De Jó, o demônio pediu contas de seu maior mérito: a fé (cf. Jó 1,21; 2,9-10).


Também nossa maior luta será nas maiores características do nosso ser, no que diz respeito ao núcleo íntimo de cada um. É por isso que voltamos à prática do pecado, pois foi afetado um traço da sacra individualidade do ser, está selado em nós e não há como lançar fora o que somos. Exemplo disso: uma grande habilidade de comunicar-se, em vez de ser usufruída para levar a Boa Nova pode estar sendo desenvolvida para a maledicência.


Leia mais:
:: Todo pecado confessado na Missa é perdoado?
:: Doenças espirituais causadas pelos pecados capitais
:: Que pecados nos impedem de comungar?
:: Como você reage diante do pecado do outro?


Se uma fraqueza persiste, há ali um forte traço da nossa humanidade. É um valioso dom, mas não o percebemos como riqueza, pois estamos lutando para sufocá-lo, já que está manifesto na forma de pecado. O homem que enterrou seu único talento, no fim perdeu-o, exatamente por não ter investido corretamente (cf. Mt 25, 14-30). O livro “Pecados e Virtudes Capitais”, do professor Felipe Aquino, salienta que os erros e os bens capitais têm todos uma mesma raiz, apenas que um é inverso do outro.


O que se deve fazer agora é direcionar essas forças para o bem, descobrindo em que ponto nos apropriamos, aprendemos ou canalizamos essa característica individual de forma errada e potencializá-la de maneira que venha à tona toda riqueza que o Altíssimo deu a cada um de nós.
Também é essencial não lutarmos sozinhos! Tanto para detectar em que ponto da nossa vida o dom foi se inclinando para o pecado como para bem canalizá-lo será importante a ajuda de uma outra pessoa. Busque auxílio: biológico (se for patologia ou vício), psicológico e espiritual (alguém ministeriado).


Nessa descoberta, que é permeada pela luta, acima de tudo devemos ter paciência conosco. Sendo humanos, somos limitados e sempre conviveremos com nossas misérias, porém, não podemos nos render a elas. A busca da santidade não é atingir a perfeição, mas lutar contra nossas fraquezas. Nisso o ser humano avança, torna-se humanamente melhor e mais próximo de Deus.


São Francisco de Sales ensinava: “Considerai os vossos defeitos com mais dó do que indignação, com mais humildade do que severidade, e conservai o coração cheio de um amor brando, sossegado e terno”.
Caiu? Levante-se! Não se conforme com o pecado nem desanime. Você vai vencer! O Catecismo da Igreja Católica afirma, no número 943: “os leigos têm o poder de vencer o império do pecado em si mesmos e no mundo”. Além de o Senhor dotar-nos com essa força interior, que é mais potente que nossas faltas, ainda podemos recorrer à Sua graça. “Mas Ele [Jesus] me disse: Basta-te a minha graça”.


Eis porque sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, necessidades, perseguições e no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. “Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte” (II Cor 12,9a-10).


A graça de Deus também se manifesta em nossa pobreza. Quando nos percebemos impotentes diante de um fato, só podemos recorrer à Misericórdia Divina, que, neste mundo, manifesta-se por excelência no sacramento da confissão. Confessar-se será sempre a melhor via de libertação.




Autor: Sandro Arquejada
Fonte: Canção Nova

21/11/2016

Apresentação de Nossa Senhora no Templo

Apresentação de Nossa Senhora no Templo 

Joaquim e Ana, por muito tempo não tinham filhos, até que nasceu Maria, cuja infância se dedicou totalmente, e livremente a Deus, impelida pelo Espírito Santo desde sua concepção imaculada


A memória que a Igreja celebra hoje não encontra fundamentos explícitos nos Evangelhos Canônicos, mas algumas pistas no chamado proto-evangelho de Tiago, livro de Tiago, ou ainda, História do nascimento de Maria. A validade do acontecimento que lembramos possui real alicerce na Tradição que a liga à Dedicação da Igreja de Santa Maria Nova, construída em 543, perto do templo de Jerusalém.


Os manuscritos não canônicos, contam que Joaquim e Ana, por muito tempo não tinham filhos, até que nasceu Maria, cuja infância se dedicou totalmente, e livremente a Deus, impelida pelo Espírito Santo desde sua concepção imaculada.

Tanto no Oriente, quanto no Ocidente observamos esta celebração mariana nascendo do meio do povo e com muita sabedoria sendo acolhida pela Liturgia Católica, por isso esta festa aparece no Missal Romano a partir de 1505, onde busca exaltar a Jesus através daquela muito bem soube isto fazer com a vida, como partilha Santo Agostinho, em um dos seus Sermões:


“Acaso não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que creu pela fé, pela fé concebeu, foi escolhida dentre os homens para que dela nos nascesse a salvação; criada por Cristo antes que Cristo nela fosse criado? Fez Maria totalmente a vontade do Pai e por isto mais valeu para ela ser discípula de Cristo do que mãe de Cristo; maior felicidade gozou em ser discípula do que mãe de Cristo. E assim Maria era feliz porque já antes de dar à luz o Mestre, trazia-o na mente”.


A Beata Maria do Divino Coração dedicava devoção especial à festa da Apresentação de Nossa Senhora, de modo que quis que os atos mais importantes da sua vida se realizassem neste dia.


Foi no dia 21 de novembro de 1964 que o Papa Paulo VI, na clausura da 3ª Sessão do Concílio Vaticano II, consagrou o mundo ao Coração de Maria e declarou Nossa Senhora Mãe da Igreja.


Nossa Senhora da Apresentação, rogai por nós!



Fonte: Canção Nova

Não quero abortar, mas não tenho condições de criar um filho...

Saiba o que fazer para não abortar seu filho


Em minha vida de padre, sobretudo de professor de bioética (por isso muitas situações que envolvem aborto vieram até mim), deparei-me com vários casos de mulheres que, estando grávidas, com consciência moral cristã, por várias circunstâncias eram “forçadas” a buscar pelo aborto. Dentre os motivos apresentados para pensar nessa possibilidade, um deles é a não condição de criar um filho: “Não quero abortar, mas não tenho condições de criar um filho”.


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Foto: Copyright: selvanegra


Procuram-me aquelas mães que, diante da gravidez e da falta de condições para criar um filho, sofrem a angústia da dúvida. Um detalhe que me preocupa é que, raramente, elas vêm acompanhadas por seus parceiros ou algum parente. Trata-se de um problema real e grave, que afeta a vida de milhares de mulheres que vivem o drama entre o aborto, a consciência moral e a criação do filho. Em muitas situações, a mãe tem consciência da moralidade do ato de abortar, estão grávidas e, por isso, já vivem o dom da maternidade; porém, vivem o medo da incapacidade, seja por motivos econômicos, afetivos ou sociais para criar o filho.


Minha experiência fez-me conhecer bem os condicionamentos que levaram muitas mulheres a tomar a decisão de abortar. Sei que é um drama existencial e moral. Encontrei muitas mulheres que traziam no seu coração a cicatriz causada por essa angústia sofrida e dolorosa.


Em uma mulher com convicções normais, seja com fé ou sem fé, a decisão de abortar é um processo complicado e doloroso. Existe uma tendência natural nas mulheres de continuar a maternidade começada com a concepção do novo indivíduo. A decisão de abortar pode gerar uma crise por diversos fatores externos e/ou internos, que conflitam o psicológico da mulher, como o peso que ela vê na criação do filho, especialmente se já tem outros filhos. Essa situação pode desembocar em um autêntico conflito interior enfrentado pela mulher com a necessidade de tomar uma decisão.


Se necessitar de conselho, o que lhe darão, em grande parte dos casos, a empurrará ao aborto, especialmente se, em seu caso, a lei civil o ampara, a medicina o garante e para a sociedade é indiferente.


O acompanhamento de mulheres nessa situação é uma arte a favor do bem e da vida. É assegurar para a mãe que o bebê é um dom de Deus, um sinal da providência, e que nunca deverá ser visto como um problema a mais na vida dela. O feto é um ser humano, igual a qualquer um de nós, e parte integral da comunidade humana, que tem dignidade. Agora, a destruição de uma vida humana não é solução para o que, basicamente, é um problema econômico e social. Consiste em ajudar essa mãe a perceber que nunca estará sozinha, a ser corajosa na decisão de não abortar.


Todas as experiências abortivas são automaticamente “estressantes” e angustiantes; e o que a mulher pensa ser a solução para um problema, no caso a situação econômica, acaba se tornando outro problema maior ainda: encarar a realidade da consciência de, um dia, ter provocado um aborto e que aquele filho poderia estar com ela na luta pela vida. O aborto de um filho nunca poderá ser olhado como solução para um problema social.


O aborto não é definitivamente uma “solução fácil” de um grave problema, mas um ato agressivo, que terá repercussões contínuas na vida da mulher; e é nesse sentido que ela é vítima da sua própria decisão. A maioria das mulheres que conheci, e que se submeteram a abortos, teriam preferido outra solução para o problema.


Muitas mulheres praticam o aborto em uma situação desesperadora de medo ou insegurança. Por mais “liberta” que a mulher esteja dos padrões morais e religiosos, por mais consciente da impossibilidade de levar a termo sua gestação, por mais indesejada que tenha sido a gravidez, abortar é uma decisão que, na grande maioria das vezes, envolve angústia e drama de consciência. Os fatos comprovam que o aborto não é uma solução para dificuldades psicossociais, pelo contrário, após o aborto persiste a crise e se acrescenta o risco de novas e mais graves consequências psíquicas.


Algumas atitudes práticas para ajudar uma mulher a não abortar e escolher a vida para o bebê é, primeiro, ter a mesma atitude de Jesus, aproximar-se sem julgar ou condenar. Acolher a mãe em sua história, angústia e conflito; demonstrar compaixão, sentir a dor daquela mãe, demonstrar confiança. Ouvir a história da mulher que pensa em abortar, porque ouvir é acolher, é respeitar e ter carinho. Procure saber como ela está, deixe a pessoa falar. Para ajudar é preciso ouvir; e foi dessa forma que Jesus agiu com os discípulos de Emaús, primeiro os escutou. Deixe a mãe contar o que está acontecendo, quais as razões que levam essa mulher a pensar em abortar. Por que ela pensa que o aborto vai solucionar o problema?


O apoio afetivo é muito importante. A mulher precisa perceber que não está sozinha. É preciso manifestar solidariedade para com ela. A mulher precisa perceber que alguém se importa com ela e está disposto em ajudá-la. Mostre que ela é forte e capaz de superar aquele momento, que ter um filho não é o fim do mundo; pelo contrário, é um dom de Deus, é uma notícia a ser celebrada com alegria. As tribulações passam, as crises se superam, mas para o aborto não existe volta, e ele pode marcar a vida da mulher para sempre. O filho que ela espera é uma vida a ser acolhida e cuidada. Nesse momento, uma amizade sincera e verdadeira é muito importante. Converse um pouco sobre o aborto, suas consequências e sequelas.


Busque exemplo nas mães que enfrentaram os dissabores da gravidez inesperada e hoje estão felizes, com paz de consciência por terem feito a opção de não abortar.


Para certas situações, não bastam somente palavras, é preciso ter propostas concretas. Busque, em sua cidade e comunidade, formas de ajudar essa mulher que pensa no aborto. Ela pode estar precisando de ajuda médica, material, psicológica e espiritual. De imediato, você pode não saber onde encontrar esses serviços, mas se prontifique a procurar e entrar em contato com ela o mais rápido possível.


O drama pessoal pelo qual passa a gestante não pode ser superado com a eliminação do mais “fraco”, “não se pode tentar resolver o que é dramático com o trágico! No dramático existe a possibilidade de uma positividade, no trágico só a destruição”. A vida deve ser acolhida como dom e compromisso. Como afirma o Papa Bento XVI, “o amor de Deus não faz diferença entre o neoconcebido, ainda no seio de sua mãe, e a criança, o jovem, o homem maduro ou o idoso. Não faz diferença, porque em cada um deles vê a marca da própria imagem e semelhança” (cf. Gn 1,26).


“Tu modelaste as entranhas do meu ser e formaste-me no seio de minha mãe. Dou-te graças por tão espantosas maravilhas; admiráveis são as tuas obras. Conhecias até o fundo da minha alma”, como reza um Salmo (Sl 139 [138], 13-14), referindo-se à intervenção direta de Deus na criação de cada novo ser humano.



Autora: Fernanda Soares Zapparoli
Fonte: Canção Nova

20/11/2016

Maria teve outros filhos, os supostos irmãos de Jesus?

A polêmica sobre a Virgem Maria ter outros filhos, os supostos irmãos de Jesus, e a interpretação da Igreja Católica

 

Em algumas passagens das Sagradas Escrituras aparecem as palavras: “irmãos de Jesus” e isso tem gerado a interpretação de que a Santíssima Virgem Maria teve outros filhos. Para quem tem somente a Bíblia, parece evidente que Nossa Senhora teve outros filhos além do Filho de Deus e, portanto, Jesus Cristo teve irmãos e irmãs (cf. Mt 13, 55-56).


No entanto, nós temos a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, que são os fundamentos necessários para entender as verdades da fé católica. A partir desses fundamentos, vejamos se é verdade que a Virgem Maria teve outros filhos além do Verbo de Deus encarnado.


Maria teve outros filhos além de Jesus

 

O que a Tradição e o Magistério da Igreja dizem sobre os irmãos de Jesus?


A polêmica a respeito da afirmação de que a Santíssima Virgem Maria teve outros filhos além de seu Filho Jesus Cristo não é nova. Pelo contrário, no século IV, São Jerônimo já combatia aqueles que usavam a passagem de Mateus e outras para sustentar que Nossa Senhora teve outros filhos: “Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?” (Mt 13, 55).


A respeito dessa passagem, Jerônimo ensina que são chamados de irmãos de Jesus os filhos de sua tia materna, Maria de Cléofas, mulher de Alfeu e mãe de São Tiago e de José1. A Tradição da Igreja – desde os apóstolos até os Santos Padres – e posteriormente os Santos Doutores da Igreja, afirmam que a Virgem Maria não teve outros filhos e que ela permaneceu Virgem antes, durante e depois do parto do Filho de Deus.


O Magistério da Igreja, em consonância com a Tradição da Igreja e com as Sagradas Escrituras, afirmou como dogma de fé a virgindade perpétua de Nossa Senhora, ainda no tempo dos Santos Padres. A virgindade perpétua de Maria Santíssima foi proclamada em 649, no Concílio de Latrão: Se alguém, segundo os Santos Padres, não confessa que própria e verdadeiramente é Mãe de Deus a santa e sempre Virgem e Imaculada Maria, já que concebeu nos últimos tempos sem sêmen, do Espírito Santo, o próprio Deus-Verbo (…), e que deu à luz sem corrupção, permanecendo a sua virgindade indissolúvel mesmo depois do parto, seja anátema2.


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:: Nossa Senhora foi assunta aos céus?
:: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores
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Tendo em vista que a Igreja Católica proclamou como dogma de fé a virgindade perpétua de Nossa Senhora, é necessário que nós católicos creiamos nessa verdade. Por isso, se não cremos nela, devemos fazer um esforço para crer, para que possamos entender, como ensinava Santo Agostinho: “Não queirais entender para crer, crê para que possas entender. Se não crês, não entenderás”3.

 

O que as Sagradas Escrituras dizem sobre os irmãos de Jesus?


Na Bíblia, há varias passagens nas quais são mencionados os “irmãos de Jesus”. Dentre estas, tomaremos a seguinte passagem do Evangelho segundo São Mateus: “Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?” (Mt 13, 55). Continuando nosso estudo, vemos que entre os apóstolos há dois com o nome de Tiago: “Eis os nomes dos doze apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor” (Mt 10, 2-4). Mateus ainda nos dá a conhecer que entre as mulheres que seguiam Jesus está a mãe de um desses e de José: “Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu” (Mt 27, 56). Como sabemos que Tiago, filho de Zebedeu, é irmão de sangue de João, então, Tiago, filho de Alfeu, é irmão de José. Até aqui, a polêmica permanece, pois não sabemos que Maria é esta que é mãe de Tiago e de José. No entanto, há uma passagem que esclarece a questão.


Com base nos textos acima, verificamos que Alfeu, que também era chamado Cléofas, era o pai de Tiago e de José, os mesmos que são chamados “irmãos de Jesus”. A mãe deles chamava-se Maria, um nome bastante comum naquele tempo. A dificuldade em saber que é esta Maria é superada em uma passagem do Evangelho segundo São João, na qual esta Maria está ao lado da Virgem Maria, Mãe de Jesus Cristo, na hora da crucifixão: “Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena” (Jo 19, 25).


Dessa forma, vemos que Maria, mãe de Tiago e de José, era irmã de Nossa Senhora, e que esses supostos irmãos de Jesus são, na verdade, seus primos. Para os incrédulos, talvez essa explicação não os tenha convencido, e perguntem sobre os outros dois irmãos: Simão e Judas. Mas não perderemos tempo em mais explicações, pois, para quem não tem fé católica, provavelmente não servirão os nossos argumentos.

 

O mal entendido a respeito da palavra “irmãos”


Depois de analisar a questão dos “irmãos” de Jesus do ponto de vista da Revelação Divina e do Magistério da Igreja, vimos que para nós católicos não há o que discutir. Cremos que a Virgem Maria foi Mãe de Jesus Cristo e que permaneceu virgem. Consequentemente, não poderia ser a mãe dos supostos irmãos do Senhor. Mas se Jesus não teve irmãos de sangue, por que Tiago, José, Simão e Judas são chamados de seus irmãos? A resposta é muitos mais simples do que se imagina.


Em hebraico, língua do povo judeu, a palavra irmão: א ח, que transliterada se lê: ach, é usada para vários tipos de parentesco. Pois, na língua hebraica, não há palavras específicas para primo, prima e outros graus de parentesco. Quando a Bíblia foi traduzida para o grego, foi usada a palavra “adelfos”, que significa literalmente irmão, e não “anepsios”, que significa primo. Posteriormente, a Bíblia foi traduzida para o latim “fratres”, que também significa irmão. As traduções da Bíblia em grego e em latim foram feitas dessa forma para não perder a originalidade, e eram naturalmente compreendidas pelas pessoas, pois conheciam a fé católica e a cultura judaica.


Assim, procuremos conhecer a fé católica, a Tradição e o Magistério da Igreja, e pelo menos um pouco da cultura judaica, antes de ler as Sagradas Escrituras. Recordemos sempre que o Sagrado Magistério nos ensina que a Bíblia só é Palavra de Deus se unida à Tradição: “A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito sagrado da Palavra de Deus”4. Dessa forma, a Bíblia não será para nós “pedra de tropeço” (1 Pd 2, 7) e certamente evitaremos interpretações contrárias à fé católica.

Referências:
1 SÃO JERÔNIMO. Contra Helvidium, 14. In SANTO TOMÁS DE AQUINIO. Catena Aurea.
2 DS 255, 649.
3 SANTO AGOSTINHO. Serm. 118, 1.
4 CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Dei Verbum, 10.




Autor: Natalino Ueda
Fonte: Canção Nova



19/11/2016

Quando começa a vida espiritual de alguém?

Saiba quando começa a vida espiritual de alguém

 

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Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com


A dimensão espiritual começa a desenvolver-se quando emerge e se realiza uma nova consciência e um novo controle das próprias ações, ou na tomada de posse da própria realidade. É uma passagem notável, que vem em um determinado momento da historia humana, nas pessoas particulares, e representa a última etapa da maturidade.


É difícil determinar essas passagens, seja pela humanidade ou pelas pessoas individuais. Se a nossa humanidade está cerca de trezentos mil anos sobre a Terra, a dimensão espiritual é muito mais recente. A prática religiosa pertence agora ao âmbito psíquico e constituiu o ambiente no qual se desenvolveu a dimensão espiritual.


Essa emerge quando o homem toma consciência de ser inserido em um processo maior, de ser âmbito da manifestação de uma “energia” mais profunda, de uma realidade transcendente, e assume a postura correspondente, ou seja, a postura de acolhimento. Isso vale para todas as culturas e religiões. O homem espiritual afirma: “Não sou eu a pensar, mas é o pensamento que me faz exprimir-se; não sou eu a amar, mas é o bem que me faz transformar-me em amor. Não sou eu a querer, mas é a força da vida que em mim faz transformar o desejo e a ação”.


As experiências místicas das diversas religiões são as expressões de uma vida espiritual que atinge a maturidade.
As estruturas de comunicação comerciais, industriais e políticas requerem uma nova espiritualidade. A dificuldade que a humanidade, hoje, prova é que existem estruturas universais, mas não existem homens espirituais que saibam gerenciar essas estruturas. Estamos em retardo a respeito do caminho do desenvolvimento humano, da técnica e da ciência.


Hoje, existe uma forte exigência de espiritualidade, que não é exigência de prática religiosa. A prática religiosa é necessária, mas não é suficiente. Exige-se alguma coisa maior: entrar em sintonia com a força criadora que requer uma postura nova. Estamos diante de uma realização da história humana, que requer novidade psíquica e espiritual. Umberto Galibert sustenta que, hoje, o homem é inadequado a viver a estação histórica, porque não é capaz de prever as consequências de suas ações. “É essa capacidade que o homem de hoje tem de menos, não é mais capaz de antecipar, nem mesmo de imaginar os efeitos últimos do seu fazer.


Nessa inadequação, o seu risco máximo, assim como na ampliação da sua capacidade de compreensão do desmedido que o circunda, a sua flexível esperança” (Livro: Psique e Techne, Feltrinelli, Milano, 1999).


Por isso, ele sustenta a necessidade de um suplemento psíquico. Cremos que todos estamos de acordo sobre esse ponto, precisando talvez que o suplemento psíquico seja de natureza espiritual. Ocorre assim um suplemento de espiritualidade. A espiritualidade, ou seja, as posturas que correspondem ao emergir da dimensão espiritual do homem, do qual hoje tem necessidade, é uma espiritualidade da relação. Vale dizer a passagem da espiritualidade do ser para a espiritualidade da relação. Nós não somos, mas nos tornamos; somos, mas o nosso ser é continuamente feito pela relação, porque antes de mim estão os outros, dos quais venho. Essa é a dimensão espiritual da pessoa.


Uma parábola de Jesus, do Evangelho de Lucas, exprime em modo plástico a diferença entre o homem psíquico e o homem espiritual e entre as duas correspondentes espiritualidade: a parábola do fariseu e do publicano que sobem ao Templo para rezar (Lc 18,9-14). O fariseu agradece a Deus pela sua bondade, que ele pode se vangloriar: observa a lei, paga o dízimo, é fiel com a esposa, realiza a justiça. Porém, torna a casa não justificado, ou seja, não em justa relação com Deus. A razão está no fato que ele está centralizado em si mesmo. Pensa de ser princípio do bem aquilo que cumpre por norma: paga as taxas e faz os jejuns.


O homem espiritual, ao contrário, é consciente de não ser ele o princípio da sua perfeição e da sua ação. Como Jesus que repreende o notável que o interpela com a fórmula “bom mestre”. Jesus o repreende dizendo: “Por que dizes bom mestre? Ninguém é bom a não ser um só: Deus” (Lc 18,19). O publicano, ao contrário, assume uma postura de escuta e acolhimento: “tende piedade de mim pecador”. Por isso, “voltou para casa justificado” (Lc 18,14).


São Paulo, da sua parte, utiliza três modelos diversos. Distingue o homem velho e o homem novo; o homem exterior e o homem interior; o homem psíquico e o homem espiritual. As três fórmulas têm referências culturais diversas, mas, na prática, podem coincidir. Hoje, prefere-se utilizar a terceira fórmula para indicar o caminho da maturidade humana.




Autora: Fernanda Soares Zapparoli
Fonte: Canção Nova

18/11/2016

Quem não sabe perder perde sempre!

É preciso saber perder


Nem sempre as coisas são como queremos e idealizamos, e é bom que isso seja assim, pois nem sempre o que queremos é o melhor para nós. Toda existência humana é marcada pela “condição de contradição”, ou seja, pela fraqueza, pelo pecado e, consequentemente, pela queda. Perder faz parte da vida, e aceitar a própria condição limitada é sinal de sabedoria. É horrível conviver com alguém que crê ser absoluto e que acredita que todos têm o dever de satisfazer suas vontades.


Quem não sabe perder, perde sempre
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

 

Humildade, o segredo para aprender a perder


Há muitos pais que estragam seus filhos, porque não lhes ensinam que o ‘“não’” também faz crescer, e que a queda pode também ensinar. E há filhos que não aprendem em casa que na vida a gente também perde, e que precisamos aprender a lidar com nossos fracassos.

Há muitos que não suportam os fracassos próprios da vida, porque foram educados somente para ganhar. Para superar as quedas impostas pela vida, precisamos ter a humildade de saber perder.


As pessoas não são obrigadas a ser e a fazer o que queremos. Elas não são obrigadas a corresponder às nossas expectativas. A maturidade se expressa quando o coração consegue deixar livre um outro coração, que não quis lhe pertencer nem corresponder aos seus desejos.


O ser “contrariado” é uma experiência que nos faz mais fortes, pois assim compreendemos que nossa maneira de pensar não é a única nem a melhor, e que não estamos sempre certos. Precisamos saber perder e sair de cena quando erramos e não estamos com a razão.

 

Insuportável e arrogante


Perfeição cristã não significa ausência de erro, mas sim capacidade de perdoar e recomeçar sempre. Não temos a obrigação de acertar sempre, mas sim o dever de aprender com nossos erros. Quem não sabe perder, perde sempre, pois acaba sendo humilhado pelo fato de não aceitar a própria fraqueza; querendo, assim, ser o que não é, e fazer o que ainda não é capaz.


Quem não sabe perder, busca sempre levar vantagem sobre tudo e todos, tornando-se alguém insuportável e arrogante.


Leia mais:
::  É preciso saber perder
:: Como lidar com as perdas da vida?
:: Como lidar com a decepção?
:: É possível superar


A humildade é escola da virtude, e grandeza é aceitar com ternura aquilo que se é. A vida não diz sempre ‘sim’, e a alma se torna grande quando é capaz de sorrir também no ‘não’. Aceitar que nem todos nos amam, que não somos bons em tudo e que nem sempre somos os melhores são expressões de um coração que compreendeu verdadeiramente o que significa “viver bem”. A derrota é sempre uma possibilidade de recomeço e crescimento para quem sabe bem aproveitá-la. Que este não seja para nós motivo de paralisia, mas um trampolim a nos lançar nos braços da vitória.


Deus abençoe!



Fonte: Canção Nova

17/11/2016

As virtudes teologais para o cristão

Pare e reflita sobre as virtudes teologais para o cristão e o seu relacionamento com Deus


A forma cristã de existência é a atitude teologal. Normalmente, insiste-se sobre a norma moral ou sobre o preceito do amor como especificidade cristã; na realidade, a existência cristã, na sua essência, é teologal, centralizada sobre Deus.

Para o cristão, a santidade não consiste na observação das normas ou na busca de uma perfeição moral, mas no ter fixo o olhar em Jesus Cristo para imitar a fé, a sua descentralização em direção a Deus. A vida cristã é a consciente relação de Deus como seus filhos – adotivos, diz São Paulo; reais, porque gerados por Deus, segundo São João (cf. Gl 1,13 e 1Jo 3,1). É existência teologal.

Analogicamente, a vida cristã não consiste na eliminação dos defeitos e do pecado, mas no contínuo relacionamento com Deus, no viver na Sua presença. Os judeus tinham 613 preceitos a serem observados, para que fossem perfeitos. A linha profética tinha buscado a redução da lei a elementos essenciais. Davi nos Salmos, Isaías, Miqueias até Habacuc, que reduz o tudo à fé: “O justo viverá pela fé” (Hab 2,4), retomado depois em Rm 1,17 por Paulo. A vida de Cristo (cf. At 9,2) é vida de relação com Deus modulada segundo as dimensões do tempo.


Como um cristão existe no mundo 

Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

 

Deus no centro


A nossa existência teologal é a modalidade histórica da única atitude madura possível para o cristão: colocar Deus no centro na vivência cotidiana. A consciência da ação com a qual Deus nos faz vivos é a existência cristã. Nascemos centralizados em nós mesmos (fase narcisista); depois, referimo-nos às coisas e aos outros como absolutos (fase idolátrica), até que chegamos a descobrir que existe um Outro, que é a fonte da vida e da perfeição (fase espiritual ou de fé). Descobrimos, então, que Deus não é um Deus dos mortos, mas dos vivos, porque todos vivem por Ele (cf. Lc 20,38).


Desde o início, a experiência cristã, por seguir a via traçada por Jesus, foi descrita segundo uma particular estrutura teologal. Ter o olhar fixo em Jesus, Autor e Aperfeiçoador da fé (cf. Hb 12,2), conduziu o cristão, necessariamente, a descrever a relação com Deus em termos temporais. Desde os primeiros escritos sobreviventes, a atitude fundamental é indicada com três termos: fé, esperança e caridade, que nós chamamos de virtudes teologais.


Em 1 Tessalonicenses (ano 50/51), a existência cristã já é descrita neste modo: “Agradecemos sempre a Deus por todos vós, recordando-vos sempre nas nossas orações, continuamente colocando-os diante de Deus e Pai nosso do vosso compromisso na fé, da vossa operosidade na caridade e da vossa constante esperança no Senhor Nosso Jesus Cristo” (1Tes 1,3). Paulo, na Carta aos Coríntios, exprime de modo explícito o caráter absoluto das virtudes teologais: “Três são as coisas que permanecem: a fé, a esperança e a caridade” (1Cor 13,13).

 

Virtudes teologais


As três virtudes teologais são a conjunção temporal de uma atitude de fundo, que é a atitude teologal, de abandono confiante em Deus. Essas são a modulação temporal do relacionamento do cristão com Deus: o passado, o presente e o futuro, do ágape ao presente. Essas três atitudes têm também uma relevância moral, mas estruturalmente são centradas em Deus. O início da vida espiritual cristã, como tal, acontece quando nos convertemos a

Deus como nosso centro vital, não quando passamos do pecado à graça. Também Jesus viveu essa fase e teve de reconhecer Deus como fonte e razão da sua existência.

Quando repreende o jovem que o chama de bom, exprime a convicção que “nenhum é bom se não somente Deus” (Lc 18,19) ou quando afirma que “não faz nada por si mesmo” e que “suas palavras não são suas” manifesta com evidência a riqueza da sua vida espiritual.

A passagem da vida moral à vida teologal , que é a modalidade cristã para passar da vida psíquica à vida espiritual, é a conversão radical que Jesus pede, a modalidade concreta e histórica para viver o seguimento de Jesus, o ter os olhos fixos nele.


Leia mais:
.: Lutemos para alcançar as virtudes cristãs
.: As virtudes ocultas da santa cruz
.: Aprender a ser cristão
.: Virtudes teologais


Essas atitudes fundamentais têm relevância moral: sugerem decisões e comportamentos. A santidade cristã não é a perfeição moral que seria ainda o resultado das nossas obras, mas é se tornar transparência de Deus, descobrir que Deus está no centro da nossa existência, como para Jesus. Por isso, a vida espiritual cristã é madura quando é estavelmente teologal e tem Deus como centro. A vida teologal constitui a comunidade eclesial, templo de Deus, e se exprime operativamente nas três virtudes chamadas portanto teologais: a fé, a esperança e a caridade.

 

A vida espiritual


Por que se desenvolvem essas três expressões da vida espiritual? Elas traduzem a atitude fundamental da pessoa nos confrontos com Deus segundo as três dimensões do tempo: passado (fé), presente (caridade), futuro (esperança) e se conectam diferentemente a existência cristã à ação salvadora de Deus.


Em Paulo, aparece uma estreita conexão entre as virtudes teologais e a referência ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo (cf. 1Cor 13,13; 1Ts 1,3; Rm 5,15; Gal 5,5; Col 1,45; Ef 1,15-18). Buscando explicar a razão dessa conexão, indicamos três pistas de reflexão. As três virtudes teologais dizem do relacionamento do homem com Deus na sua unidade fundamental, mas com específicas referências a Deus como Pai e Filho, como Redentor e ao Espírito como santificador.


É fácil e comum pensar essas três virtudes como três estruturas morais, ao contrário, essas devem ser antes de tudo consideradas como uma estrutura teologal, que tem referência com Deus e em Deus. O surgir dessas três virtudes assinala a passagem da vida psíquica para a vida espiritual.


O âmbito psíquico é dominado pelo passado, pelas conexões com o passado transformado em formas instintivas para um reagir a partir das suas experiências passadas. O âmbito espiritual, ao contrário, é o âmbito no qual se exercita a liberdade que se dirige em direção ao outro e a Deus.


No âmbito psíquico, uma pessoa se sente sujeita à lei moral, centralizada sobre o próprio “eu”; enquanto no âmbito espiritual, o cristão se sente em relação com Deus.


Cada vez que entendemos as três virtudes como estruturas morais, como expressões do nosso “eu”, recaímos no mundo psíquico, em uma espécie de regressão espiritual. Nesse caso, a fé se confunde com a doutrina da fé.




Autor: Padre Anderson Marçal
Fonte: Canção Nova

11/11/2016

O que significa ser a Medianeira de todas as graças?


A Virgem Maria é Medianeira de todas as graças, pois ela nos deu Jesus Cristo

 

O título de “Medianeira de todas as graças”, atribuído a Nossa Senhora, tem o seu significado ligado principalmente à participação da Mãe de Deus no Mistério da Encarnação do Verbo e no Mistério Pascal de Jesus Cristo. Mas esse título tem seu significado ligado também à mediação materna da Mãe de Deus sobre toda a Igreja e cada um dos fiéis em particular. Desde os primórdios do Cristianismo, o povo de Deus recorria a Virgem Santíssima, e a Tradição da Igreja já reconhecia a sua participação singular no Mistério de Cristo e na vida dos fiéis. Esse costume de recorrer a Santíssima Virgem é atestado pela mais antiga oração mariana de que se tem conhecimento, do século III, que em latim se chama Sub tuum præsidium, e significa “À vossa proteção”.


As imagens de Nossa Senhora, muitas delas retratadas até mesmo em cavernas e catacumbas, onde se reuniam os primeiros cristãos para rezar, também nos ajudam a compreender que a mediação da Mãe do Senhor faz parte do Cristianismo desde o princípio. Tendo em vista a importância do significado do tema para a Igreja de todos os tempos, trataremos brevemente sobre a Virgem Maria “Medianeira de todas as graças” a partir da doutrina do Corpo Místico de Cristo, presente nas Sagradas Escrituras; dos ensinamentos dos santos e dos doutores da Igreja; da doutrina do Magistério da Igreja.



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Foto: Arquivo CN

 

Os mediadores junto ao único Mediador


Para falar da mediação da Virgem Maria, vamos partir da Palavra de Deus, mais especificamente da Carta de São Paulo a Timóteo, na qual está escrito: “Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e a humanidade: o homem Cristo Jesus, que se entregou como resgate por todos”1. Por essa passagem, não há dúvida de que o apóstolo Paulo diz claramente que existe um só mediador entre Deus e os homens2. Mas, voltando alguns versículos, também está escrito: “Antes de tudo, peço que se façam súplicas, orações, intercessões r ação de graças por todas as pessoas, pelos reis e pelas autoridades em geral, para que possamos levar uma vida calma e tranquila, com toda a piedade e dignidade”3.


Nesses versículos, o apóstolo dos gentios pede que se “façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças”4 pelas necessidades da comunidade e por toda a sociedade da época. Mas se Cristo é o único Mediador entre Deus e os homens, por que Paulo pede a Timóteo e a sua comunidade que intercedam por suas necessidades e as de outras pessoas? O apóstolo faz isso, porque tem a clareza de que o único Mediador é a Igreja, é o Cristo Total, que é formado pela Cabeça, que é Jesus, e por nós, membros do Corpo Místico de Cristo5. Fazemos parte do Corpo de Cristo, por isso participamos da mediação do único Mediador, que é Cristo. Dessa forma, a “mediação única do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas cooperações diversas, que participam dessa única fonte”6.


No entanto, somos pessoas cheias de fraquezas, inconstantes, pecadores, e Deus sabe que somos indignos e incapazes, por isso teve piedade de nós e, para nos dar acesso às suas misericórdias, concedeu-nos intercessores poderosos junto da Sua grandeza7.

 

A Medianeira como caminho para chegar ao Mediador


Pela Sua infinita caridade, Jesus Cristo tornou-se a nossa garantia e o nosso Mediador “junto de Deus, Seu Pai, para aplacá-lo e pagar-lhe o que lhe devíamos. Mas será isso uma razão para termos menos respeito e temor à sua majestade e santidade? Digamos, pois, abertamente – com São Bernardo – que temos necessidade dum mediador junto do mesmo Medianeiro, e que Maria Santíssima é a pessoa mais capaz de desempenhar essa função caridosa.


Foi por Ela que nos veio Jesus Cristo; é por Ela que devemos ir a Ele. Se receamos ir diretamente a Jesus Cristo, nosso Deus, por causa da sua grandeza infinita, ou da nossa miséria, ou ainda dos nossos pecados, imploremos ousadamente o auxílio e a intercessão de Maria, nossa mãe”8.


À vista disso, compreendemos que a grandeza de Deus e a miséria humana são motivos suficientes para recorrer a Medianeira de todas as graças. Para chegar até Deus, segundo São Bernardo e São Boaventura, temos que subir três degraus: “o primeiro, que está mais perto de nós e mais conforme à nossa capacidade, é Maria; o segundo é Jesus Cristo, e o terceiro é Deus Pai. Para ir a Jesus é preciso ir a Maria: Ela é a nossa Medianeira de Intercessão. Para ir ao Eterno Pai é preciso ir a Jesus: nosso Medianeiro de Redenção”9.


No que diz respeito a Virgem Maria, devemos esclarecer que ela não é somente medianeira de intercessão no sentido mais comum da palavra, que é de interceder por nós, mas também no sentido de intervir concretamente em nossas vidas.

 

A Medianeira e a sua maternidade espiritual


A doutrina a respeito da maternidade espiritual da Virgem Maria sobre os fiéis atravessou os séculos e se faz presente na Igreja até os nossos dias, inclusive nos principais documentos do magisteriais do Concílio Vaticano II, como a Constituição Dogmática Lumen Gentium e o Catecismo da Igreja Católica. Mas, novamente vamos partir da Palavra de Deus que, a respeito do Corpo Místico de Cristo, diz: “Um homem e um homem nasceu d’Ela”10.


Neste versículo do Salmo 86, “segundo a explicação de alguns Santos Padres, o primeiro homem que nasceu de Maria foi o Homem-Deus, Jesus Cristo; o segundo é um homem impuro, filho de Deus e de Maria por adoção”11. Se Jesus Cristo, cabeça do Corpo Místico da Igreja, nasceu da Virgem de Nazaré, todos os predestinados, membros dessa Cabeça, também devem nascer dela, por uma consequência necessária.


Visto que, a mesma mãe não pode dar à luz a cabeça sem os membros, nem os membros sem a cabeça. Isso seria uma monstruosidade na ordem da natureza. Do mesma forma, na ordem da graça, a cabeça e os membros nascem também de uma só Mãe: a Virgem Maria.


Se um membro do Corpo Místico de Cristo nascesse de outra mãe que não fosse a Mãe de Deus, que gerou a Cabeça, não seria um predestinado nem um membro de Jesus Cristo, mas sim um monstro na ordem da graça 12. Por disposição divina, a Santíssima Virgem, “concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural.


É, por essa razão, nossa mãe na ordem da graça”13. Essa maternidade espiritual de “Maria, na economia da graça perdura sem interrupção, desde o consentimento que fielmente deu na anunciação 14 e que manteve inabalável junto à cruz 15, até à consumação eterna de todos os eleitos”16. Isso significa que a mediação materna da Mãe da Igreja é universal e particular, que ela é “Medianeira de todas as graças”


:: Por que chamamos Maria de Nossa Senhora?
:: Como relacionar com Nossa Senhora no dia dia
:: Maria é mãe de Deus?
:: Como Maria foi sempre Virgem?

 

O significado do título de Maria “Medianeira de todas as graças”


Portanto, a Palavra de Deus, a Tradição da Igreja sempre consideraram a mediação humana junto a Jesus Cristo, o único Mediador, pois a Santíssima Trindade não quis salvar a humanidade sem a cooperação dos homens. Na História da Salvação, desde a Antiga Aliança, muitas foram as mediações humanas como Abraão, Moisés, os reis, os profetas, as santas mulheres, os apóstolos e discípulos de Jesus Cristo. Mas, na plenitude dos tempos, Deus suscitou a mediação singular da Virgem Maria para o desígnio da Salvação da humanidade.


Nossa Senhora esteve presente em toda a vida terrena de Seu Filho Jesus Cristo, desde o Mistério da Encarnação do Verbo, passando pela Sua vida oculta em Nazaré e a sua vida pública, até a consumação do Mistério Pascal. Como que para simbolizar a sua mediação, depois da Ascensão do Senhor aos Céus, a Santíssima Virgem permaneceu com os apóstolos e discípulos. Essa mediação de Maria, que permanece pelos séculos até a consumação eterna de todos os eleitos, não exclui a mediação de Cristo, mas antes é um caminho mais fácil para chegar até o Filho, nosso único Mediador junto ao Pai. No entanto, essa mediação da Mãe da Igreja se diferencia radicalmente das outras mediações humanas por seu caráter materno.


A Virgem de Nazaré não somente gerou o Filho de Deus, mas também o alimentou, educou e acompanhou durante toda sua vida, até o momento supremo de sua existência terrena, a sua doação total no sacrifício da Cruz. Isso significa que a Virgem Maria é medianeira universal, pois ao entregar-se inteiramente ao seu Filho Jesus, ela cooperou na obra da salvação de toda a humanidade. Ao mesmo tempo, Nossa Senhora é nossa medianeira particular, porque sua maternidade espiritual estende-se também a cada um de nós, que somos membros do Corpo de Cristo. Nós somos gerados, alimentados, educados e acompanhados pela Mãe da Igreja por toda a vida, por isso ela é também nossa medianeira de modo particular.


Dessa forma, a Virgem Maria é medianeira de todas as graças, pois ela nos deu Jesus Cristo, a graça incriada e eterna, e nos dá todas as graças necessárias para a nossa salvação, que nos foi alcançada pelo sacrifício único e definitivo de seu Filho no alto da cruz. Embora “Medianeira de todas as graças” seja um título de Nossa Senhora, e não um dogma de fé, o senso de fé do povo de Deus e a Igreja Universal são favoráveis a este, tanto que a sua celebração é reconhecida na Liturgia. Em 1921, o Papa Bento XV concedeu o Ofício e a Santa Missa da Bem-aventurada Virgem Maria “Medianeira de todas as graças”. A sua celebração, no dia 31 de maio, aconteceu primeiramente na Bélgica, mas se difundiu rapidamente por toda a Igreja.


“A devoção também chegou no Brasil e, no sul do país, ganhou enorme expressão. Em 1928, foi introduzida no Seminário São José, da cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, através de um santinho recebido da Bélgica por padre Inácio Valle”17.


À Medianeira junto ao Mediador, recorramos com toda a confiança:


Bem-aventurada Virgem Maria Medianeira de todas as graças, rogai por nós!

1- 1 Tim 2, 5-6.
2 – 1 Tim 2, 5.
3 -1 Tim 2, 1-2.
4- 1 Tim 2, 1.
5 – A doutrina do Corpo Místico está presente nas Cartas de São Paulo: 1 Cor 12, 12; Cl 1, 18; Ef 5, 23; Rm 12, 4-5.
6 – CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, 62.
7 –  SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTF. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 83.
8 – Idem, 85.
9 –  Idem, 86.
10 –  Sl 86, 5.
11 –  SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 32.
12 – Cf. idem, ibidem.
13 –  CONCÍLIO VATICANO II. Op. cit., 61.
14 – Cf. Lc 1, 28-38.
15 – Cf. Jo 19, 25.
16 – CONCÍLIO VATICANO II. Op. cit., 62.
17 – PAULINAS. 12/11/15 Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças.
 
 
 Autor: Natalino Ueda - Canção Nova

10/11/2016

A cura da mente e do coração

A cura interior é a chave para a cura plena da pessoa


A cura interior não só é importante como necessária. Precisamos ser curados, e Deus quer nos curar plenamente; por meio dessa cura, somos restaurados na nossa personalidade. A cura interior é a chave para a cura plena da pessoa. Cada dia é um dia de surpresas que o Senhor nos reserva. Podemos confiar e nos abrir, sem medo, à ação do Espírito Santo.


A cura da mente e do coração - 1600x1200 
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com



Como saber se eu preciso de cura interior? Onde eu preciso de cura interior? Questionamentos fundamentais que nós, à luz do Espírito Santo, precisamos nos fazer, buscar o discernimento, o diagnóstico. Se um médico é cuidadoso em fazer um diagnóstico ao seu paciente, quanto mais nós precisamos ter cuidado com o diagnóstico das nossas emoções e das emoções das pessoas. É preciso abrir-se ao Espírito Santo, agir em nome de Jesus, agir para o bem, porque Deus trabalha para o bem, para todos aqueles que O amam. Para seguir o exemplo de Jesus, que passou pela Terra fazendo o bem, libertando as pessoas do poder de satanás, é preciso concluir esse trabalho, é preciso ter fé e compaixão.
Passos práticos para responder aos questionamentos: Eu preciso de cura interior? Onde eu preciso de cura interior?

  • 1º passo:


Saber o que está acontecendo com você. Isso se chama observação. Olhar os sintomas e anotar. Observar tudo: sintomas físicos, doenças físicas que você traz e que se passam com você. Tomar nota de tudo o que acontece no seu corpo. Fazer muitas perguntas a si mesmo, anotar cada detalhe, enfim, tomar nota dos sintomas físicos. É preciso fazer bem feito. Depois de anotar todos os sintomas emocionais, lembre-se de que eles são espelho do que você vive interiormente (Exemplo: quando você está sozinho, o que você sente?). Ficar atento aos sentimentos. Ainda: tomar nota das atitudes de vida, porque elas são reflexo do que você vive interiormente. Como você se comporta? (Exemplo: dizer uma mentira é sintoma de um problema muito mais profundo. Depressão não é doença, é um sintoma). Não podemos rezar somente pelos sintomas, por isso que a cura não acontece.

  • 2º passo:


Descobrir a doença, dar nome ao seu diagnóstico. Orar por cura profunda. Quais são os problemas emocionais profundos?

Rejeição: Como ela vem? Vem quando eu não sinto que não sou amado e querido pelas pessoas que me são importantes e próximas. Não que elas não me amem, eu sinto assim (sentimentos que podem existir: raiva, amargura, tristeza, ódio, inveja dos amigos, suspeita, falta de confiança nas pessoas). É a mais importante ferida emocional. A grande dor que Jesus sentiu foi a da rejeição.

Sentimento de Culpa: Ele entrou quando eu fui criado em uma família muito religiosa, onde alguns conceitos são passados de maneira errada. Exemplo: ““Papai do céu vai castigá-lo””; ““Papai do céu está vendo tudo que você está fazendo de errado””. A culpa saudável nos leva à conversão, mas a culpa errada nos leva a ter medo de Deus, medo do castigo eterno.

Sentimento de Inferioridade: Quando a criança nasce, ela está cheia de sentimentos de superioridade, porque todos olham para ela, tornando-a o centro; porém, conforme a criança vai crescendo, as pessoas se cansam dela e ela deixa de ser o centro. Talvez ainda ela escute dos pais expressões do tipo: 

“Como “você é ruim”, você é mal!””. Forma-se nela uma imagem pobre de si mesma, vinda de palavras negativas que chegam a si. Nasce com isso um sentimento de autopiedade, o ódio de si mesma, depois vem a autodestruição, chegando muitas vezes ao suicídio.

Medos: Não são os medos pequenos, são os medos que paralisam a pessoa, que a fazem se fechar em si mesma, como medo da morte, medo de ficar sozinho, medo do diabo, do escuro etc.


Leia mais:
:: Passamos por processos de cura interior na vida
:: A cura emocional é a “porta de entrada” para todas as outras curas
:: Sou uma pessoa afetivamente madura?

  • 3º passo:


É o mais importante: encontrar as causas profundas pelos quais você tem esses problemas emocionais, as fontes dos problemas profundos das pessoas. Como está escrito no início, não basta rezar pelos sintomas, é preciso rezar pelas causas.




Fonte: Canção Nova

09/11/2016

Nunca é tarde para recomeçar!

Às vezes, é preciso parar e recomeçar, mas não recomeçar do nada

 

O dinamismo da mudança, de ser melhor a cada dia, nunca é tardio, pois faz das quedas um motivo de crescimento, de vida nova e aprendizado.



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Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com


Você faz das situações de dificuldade um motivo de crescimento?
“Todas as pessoas, em todos os âmbitos da Igreja, que aproveitam as situações de crise e conflito, com humildade, vão amadurecer e crescer”, afirma Frei Raniero. Portanto, se você aproveita o seu erro como aprendizado para crescer e amadurecer, você não recomeça do nada, pois sabe que tem uma história que o faz melhor, que o lança para o novo, para o futuro. Por isso, há o ânimo de trazer no coração essa motivação.


A maioria das pessoas não sabe lidar com seus erros, pois o ser humano é colocado em uma ênfase: “A pessoa melhor é aquela que não erra, que é perfeita, autossuficiente, que pode e consegue tudo”. No entanto, a melhor pessoa é aquela que contempla a sua verdade no tocante às suas qualidades e a seus defeitos.


Por isso, recomece, mas não do início. Aprenda com os seus erros e seja um novo homem, uma nova mulher. Deus nos dá essa graça, mas é preciso olhar para nós mesmos com amor, como o Senhor nos olha. Peça que Deus converta o seu olhar de negativo e pessimista, para um olhar que vê o todo e contempla, em primeiro lugar, a graça d’Ele. E que o Senhor fortaleça o seu coração!


Deus lhe diz: “Sede santo, como vosso Pai celeste é santo”. Sede santo, porque Eu sou santo”. É preciso recomeçar sempre, saber que eu quero iniciar o dia de amanhã melhor do que hoje e aprender com os erros de hoje para não errar amanhã. E contemplar as coisas que não fiz de bom hoje para fazê-las amanhã.


Leia mais:
:: A motivação é melhor que a cobrança
:: Sempre é tempo para recomeçar
:: Enxergar a vida com esperança


Não só erramos quando fazemos o mal, mas também ao deixarmos de fazer o bem quando poderíamos [fazê-lo].
Que Deus nos ajude a crescer e amadurecer com humildade diante das crises e dos conflitos.


Uma pessoa que não é otimista e motivada, ao olhar uma montanha de pedras, vê uma impossibilidade: “Eu não posso superar aquela barreira, aquela situação”. Já a pessoa diante de Deus, ao olhar a mesma montanha, diz: “Eu posso construir uma escada e superar essa montanha, essa situação”.


Que Deus possa motivar o seu coração a fazer essa experiência cada vez mais.


Padre Eliano Luiz Gonçalves, SJS
Fonte: Canção Nova

03/11/2016

Maria teve pecados?

Como responder às pessoas que nos perguntam se a Virgem Maria, Mãe de Deus, teve pecados?


A sã Doutrina da Igreja, desde os primórdios do Cristianismo, ensina que a Santíssima Virgem Maria foi concebida sem a mancha do pecado original e não teve nenhum pecado mortal ou venial. A Virgem Santa, Nova Eva, é o verdadeiro Paraíso Terrestre do Novo Adão1. “Há, nesse paraíso terrestre, riquezas, belezas, raridades e doçuras inexplicáveis que o Novo Adão, Jesus Cristo, aí deixou. Nesse paraíso, Ele achou as Suas delícias durante nove meses, operou as suas maravilhas e ostentou as suas riquezas com a magnificência de um Deus”2. A Mãe do Senhor é o lugar santo, a terra virgem e imaculada sem qualquer nódoa ou mancha, da qual foi formado e se alimentou o Novo Adão pela ação do Espírito Santo que aí habita.


maria teve pecados 
 Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com


O Magistério da Igreja ensina que a concepção da Virgem Maria aconteceu, no ventre da sua mãe, sem a mancha do pecado original. Em conformidade com a Palavra e com a Tradição da Igreja, o dogma da Imaculada Conceição de Maria foi definido pelo Papa Pio IX, pela Bula Ineffabilis Deus, em 8 de dezembro de 1854: “Para a honra da santa e indivisível Trindade, para adorno e ornamento da Virgem Deípara (Mãe de Deus), para exaltação da fé católica e o incremento da religião cristã, com a autoridade do Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo, declaramos, proclamamos e definimos a doutrina que sustenta a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio do Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha da culpa original, é revelada por Deus e por isso deve ser crida firme e constantemente por todos os fiéis”3.

 

Festa da Imaculada Conceição


Naquele tempo, a festa da Imaculada Conceição de Maria já era celebrada, no dia 8 de dezembro, por definição do Papa Sisto IV, em 1476. A celebração desta festa, na Liturgia da Igreja Católica, é reflexo do pensamento dos padres da Igreja e dos Santos Doutores, que, muito antes, já defendiam a Imaculada Conceição de Maria, pois era adequado que a Mãe do Cristo estivesse completamente livre da mancha do pecado original para gerar o Filho de Deus. 


“A um Deus puríssimo convinha uma Mãe isenta de toda culpa”4. Além disso, “o consenso universal dos fiéis, […] o sentimento comum dos católicos é favorável a essa doutrina”5. Favorável ao Dogma da Imaculada Conceição é também a festa da Natividade de Maria, celebrada por causa da fé da Igreja na sua santidade desde o ventre materno.


A Doutrina não ensina somente que Nossa Senhora foi concebida sem o pecado original, mas também atesta a Perpétua Virgindade de Maria. A Virgem Santa foi preservada por Deus de todo pecado, em vista dos méritos de seu Filho Jesus Cristo, desde o primeiro momento da sua vida. A Santa Igreja ensina que Maria é virgem antes, durante e depois do parto. A definição magisterial da virgindade perpétua da Mãe de Deus é o dogma mariano mais antigo das Igrejas Católica e Oriental Ortodoxa, que afirmam a “real e perpétua virgindade mesmo no ato de dar à luz o Filho de Deus feito homem”6. Este dogma foi definido pelo Concílio de Trento, em 1555, embora essa doutrina já estivesse presente no Cristianismo primitivo, nos escritos de São Justino e Orígenes.


 

Os dogmas de Maria


Os dogmas da virgindade perpétua e da Imaculada Conceição de Maria, definidos pelo magistério, pelos Santos Doutores e pelo consenso de fé dos fiéis, tem como fundamento a revelação. Ainda que não haja, nas Sagradas Escrituras, afirmações explícitas dessas doutrinas, há vários textos que, implicitamente, atestam essas verdades, como nos ensinam os Santos Padres. Estes aplicam à Virgem Maria as palavras do Eclesiástico: “Eu saí da boca do Altíssimo, a primogênita entre todas as criaturas”7. A própria Igreja se serve desse texto na Liturgia da Solenidade da Imaculada Conceição. Maria é a primogênita de Deus, pois foi predestinada juntamente com o Filho nos desígnios divinos, antes de todas as criaturas. Convinha que nem sequer por um instante ela fosse escrava de Lúcifer, mas pertencesse unicamente a Deus: “O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos”8.


Deus Altíssimo elegeu a Virgem de Nazaré para ser Mãe de Seu Filho unigênito9 e, pelo Espírito Santo, a tornou digna dessa sublime honra. Por isso, Maria foi concebida sem o pecado original, em vista dos méritos de Cristo, e durante a vida a “Cheia de Graça”10 não cometeu nenhum pecado mortal ou venial. Se Nossa Senhora tivesse cometido apenas um pecado venial, ela já não seria digna Mãe de Deus. Muito menos digna seria ainda se sobre ela pesasse a culpa original. Se sobre ela pesasse semelhante culpa, Maria seria inimiga de Deus e escrava do demônio. Essa reflexão levou Santo Agostinho a pronunciar a célebre sentença: “Nem se deve tocar na palavra pecado, em se tratando de Maria; e isso por respeito Àquele de quem mereceu ser a Mãe, o qual a preservou de todo pecado por sua graça”11.


Imaculado Coração de Maria, rogai por nós!



1Cf. I Cor 15, 45.
2SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria. Anápolis: Fraternidade Arca de Maria, 2002, 261.
3DENZINGER-HÜNERMANN. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. São Paulo: Paulinas; Loyola, 2007, 2803.
4SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Glórias de Maria. 3ª ed. Aparecida: Santuário, 1989, p. 241.
5Idem, p. 253.
6JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000, 499.
7Eclo 24, 5.
8Pr 8, 22.
9Cf. Lc 1, 30.
10Lc, 1, 28.
11SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Op. cit., p. 244.




Autor: Natalino Ueda

02/11/2016

Não ao mundanismo espiritual!

Deus nos livre de uma Igreja mundana sob vestes espirituais ou pastorais!

 

O mundanismo espiritual, que se esconde por detrás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja, busca, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal. É aquilo que o Senhor censurava aos fariseus: «Como vos é possível acreditar, se andais à procura da glória uns dos outros, e não procurais a glória que vem do Deus único?» (Jo 5,44).


É uma maneira sutil de procurar «os próprios interesses, não os interesses de Jesus Cristo» (Fl 2,21). Reveste-se de muitas formas, de acordo com o tipo de pessoas e situações em que penetra. Por cultivar o cuidado da aparência, nem sempre suscita pecados de domínio público, pelo que externamente tudo parece correto. Mas, se invadisse a Igreja, «seria infinitamente mais desastroso do que qualquer outro mundanismo meramente moral».


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Esse mundanismo pode alimentar-se sobretudo de duas maneiras profundamente relacionadas. Uma delas é o fascínio do gnosticismo, uma fé fechada no subjetivismo, onde apenas interessa uma determinada experiência ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada na imanência da sua própria razão ou dos seus sentimentos.


A outra maneira é o neopelagianismo autorreferencial e prometeuco de quem, no fundo, só confia nas suas próprias forças e se sente superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico próprio do passado. 


É uma suposta segurança doutrinal ou disciplinar que dá lugar a um elitismo narcisista e autoritário, onde, em vez de evangelizar, se analisam e classificam os demais e, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a controlar. Em ambos os casos, nem Jesus Cristo nem os outros interessam verdadeiramente. São manifestações dum imanentismo antropocêntrico. Não é possível imaginar que, destas formas desvirtuadas do Cristianismo, possa brotar um autêntico dinamismo evangelizador.


Esse obscuro mundanismo manifesta-se em muitas atitudes, aparentemente opostas, mas com a mesma pretensão de «dominar o espaço da Igreja». Em alguns, há um cuidado exibicionista da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja, mas não se preocupam que o Evangelho adquira uma real inserção no povo fiel de Deus e nas necessidades concretas da história. Assim, a vida da Igreja se transforma numa peça de museu ou numa possessão de poucos. 

Noutros, o próprio mundanismo espiritual esconde-se por detrás do fascínio de poder mostrar conquistas sociais e políticas, numa vanglória ligada à gestão de assuntos práticos ou numa atração pelas dinâmicas de autoestima e de realização autorreferencial. Também se pode traduzir em várias formas de se apresentar a si mesmo envolvido numa densa vida social cheia de viagens, reuniões, jantares e recepções. 


Ou então desdobra-se num funcionalismo empresarial, carregado de estatísticas, planificações e avaliações, onde o principal beneficiário não é o povo de Deus, mas a Igreja como organização. Em qualquer um dos casos, não traz o selo de Cristo encarnado, crucificado e ressuscitado, encerra-se em grupos de elite, não sai realmente à procura dos que andam perdidos nem das imensas multidões sedentas de Cristo. Já não há ardor evangélico, mas o gozo espúrio duma autocomplacência egocêntrica.


 

Ser fiel


Nesse contexto, alimenta-se a vanglória de quantos se contentam com ter algum poder e preferem ser generais de exércitos derrotados antes que simples soldados dum batalhão que continua a lutar. Quantas vezes sonhamos planos apostólicos expansionistas, meticulosos e bem traçados, típicos de generais derrotados! Assim negamos a nossa história de Igreja, que é gloriosa por ser história de sacrifícios, de esperança, de luta diária, de vida gasta no serviço, de constância no trabalho fadigoso, porque todo o trabalho é “suor do nosso rosto”. 


Em vez disso, entretemo-nos vaidosos a falar sobre «o que se deveria fazer» – o pecado do «deveriaqueísmo» – como mestres espirituais e peritos de pastoral que dão instruções ficando de fora. Cultivamos a nossa imaginação sem limites e perdemos o contato com a dolorosa realidade do nosso povo fiel.


Quem caiu nesse mundanismo olha de cima e de longe, rejeita a profecia dos irmãos, desqualifica quem o questiona, faz ressaltar constantemente os erros alheios e vive obcecado pela aparência. Circunscreveu os pontos de referência do coração ao horizonte fechado da sua imanência e dos seus interesses e, consequentemente, não aprende com os seus pecados nem está verdadeiramente aberto ao perdão. É uma tremenda corrupção, com aparências de bem. 

Devemos evitá-lo, pondo a Igreja em movimento de saída de si mesma, de missão centrada em Jesus Cristo, de entrega aos pobres. Deus nos livre de uma Igreja mundana sob vestes espirituais ou pastorais! Este mundanismo asfixiante cura-se saboreando o ar puro do Espírito Santo, que nos liberta de estarmos centrados em nós mesmos, escondidos numa aparência religiosa vazia de Deus. 


Não deixemos que nos roubem o Evangelho!


Parágrafos 93 – 97