23/05/2017

Temperamento, personalidade e caráter são a mesma coisa?

Quando conhecemos o caráter do outro, notamos claramente a manifestação da personalidade e o temperamento da pessoa

O que podemos entender sobre personalidade? Existem muitas linhas de estudo na psicologia e cada uma delas mostra um conceito sobre o que é personalidade. Em linhas gerais, personalidade é definida pela totalidade dos traços emocionais e de comportamento de um indivíduo, ou seja, seu caráter. Seria como se traduzíssemos aquele jeito de ser da pessoa, o modo de sentir as emoções ou agir do outro.
É muito comum a confusão que fazemos com tantos termos utilizados nos meios de comunicação, entre amigos, nos bate-papos, feitos até mesmo de forma inadequada. Já pensou quanta coisa você já ouviu dizer? Temperamento, personalidade e caráter são palavras utilizadas, com frequência, há muito tempo, mas quase sempre de forma confusa ou mesmo errônea.

Foto: Andrew Rich by Getty Images


Qual a diferença, então, entre temperamento e personalidade?

Temperamento representa a peculiaridade e intensidade individual dos afetos psíquicos e da estrutura dominante de humor e motivação. Foi um dos primeiros estudos na medicina sobre a correlação entre os humores corporais com as reações humanas, divididos entre fleumático, colérico, sanguíneo e melancólico. Entende-se ainda como uma disposição inata e particular de cada pessoa, pronta a reagir aos estímulos ambientais; é a maneira interna de ser e agir de uma pessoa, geneticamente determinado.

A personalidade é formada durante as etapas do desenvolvimento psico-afetivo, pelas quais passa a criança desde a gestação. Para a sua formação, incluem tanto os elementos geneticamente herdados (temperamento) como também os adquiridos do meio ambiente no qual a criança está inserida.
Existe uma citação bibliográfica que comenta a complexidade de compreender os aspectos do comportamento humano, que vale a pena compartilhar: “Compreender os aspectos e a dinâmica da personalidade humana não é tarefa simples, vista a complexidade e variedade de elementos que a circundam, gerados por diversos fatores biológicos, psicológicos e sociais. Com relação aos aspectos sociais, quanto mais complexa e diferenciada for a cultura e a organização social em que a pessoa estiver inserida, mais complexa e diferenciada será a personalidade. Do ponto de vista biológico, a pessoa já traz consigo, em seus genes, diferentes tendências, interesses e aptidões que também são formados pela combinação dinâmica entre diversos fatores hereditários e uma infinidade de influências sócio-psicológicas que ela recebe do meio ambiente” (FERNANDES FILHO, 1992).

Leia mais:

.: O que determina a personalidade de uma pessoa?
.: Como conviver com alguém de temperamento difícil?
.: Uma personalidade harmoniosa é fruto de uma maturidade humana


A personalidade é única, adaptável, mutável, dinâmica e ligada numa estrutura biopsicossocial. Mesmo que tenhamos traços parecidos com os de outra pessoa, somos únicos, porque vivemos de forma diferenciada cada fase de nossa vida, somos apresentados a estímulos (escola, lazer, religião etc.) de uma forma particular, e isso, em sua totalidade, dá-nos essa vivência.
Alguns fatores, chamados de hereditários, determinam nossa forma de ser desde nossa concepção. Estatura, reflexos, temperamento e toda a herança genética dos pais colaboram com a personalidade. Mas, convivendo em sociedade, temos nossa personalidade influenciada por aspectos ambientais, ou seja, aqueles ligados à cultura, hábitos familiares, grupos sociais, escola, responsabilidade, moral, ética entre outros. Tais experiências vivenciadas pela criança, vão, portanto, formando sua personalidade.

Alguns aspectos diferenciam o que se percebe que está relacionado ao temperamento e à personalidade.

Alguns aspectos do temperamento

– É biologicamente determinado;
– Características temperamentais podem ser identificadas já cedo, na infância;
– Diferenças individuais com características temperamentais como ansiedade;
extroversão-introversão, também são observados em animais;
– Apresenta-se como estilo de pessoa; estilo do melancólico, colérico etc.

Alguns aspectos da personalidade

– É fruto de um ambiente social;
– É moldada durante os períodos do desenvolvimento infantil;
– É a prerrogativa de seres humanos;
– Contém aspectos do comportamento;
– Refere-se à função de integrativa do comportamento humano.

Compreenda o que é o caráter

Ao passo que as características temperamentais podem ser identificadas, já cedo, na infância, a personalidade é moldada durante os períodos de desenvolvimento infantil. Por meio do caráter de cada um, que é composto das atitudes habituais de uma pessoa e de seu padrão consistente de respostas para várias situações, que incluem aqui as atitudes e valores conscientes, o estilo de comportamento (timidez, agressividade e assim por diante) e as atitudes físicas (postura, hábitos de manutenção e movimentação do corpo), notamos o desenvolvimento humano. Ou seja, o caráter é a forma com que a pessoa se mostra ao mundo, com seu temperamento e sua personalidade; é a expressão do temperamento e da personalidade por meio das atitudes de uma pessoa. Quando conhecemos o caráter do outro, notamos claramente a manifestação da personalidade e o temperamento da pessoa; conhecemos, então, aquilo que essencialmente determina os atos de uma pessoa.

Compreenda o que é a maturidade

A maturidade se faz na personalidade quando o indivíduo é capaz de:
– Compreender sua história familiar, aceitando-a e convivendo com ela;
– Compreender suas emoções: saber distinguir entre certo e errado, sobre o que devo ou não fazer, sobre o fim de um relacionamento ou aquela paciência que se desenvolve entre os casais, entre as pessoas que se amam;
– Administrar suas responsabilidades e ter senso crítico sobre aquilo que assume, seja no trabalho, nos relacionamentos, no ambiente social do qual participa;
– Aceitar-se tal como você é: com seus talentos, com suas limitações, com sucessos ou insucessos, com as habilidades ou limitações físicas; isso permite conviver e desenvolver aquilo que for necessário;
– Autoconhecimento: chave para que todos os nossos conteúdos se integrem e que nossa vivência social se torne mais adequada em cada momento de nossa vida.
Para tudo isso, não há uma fórmula mágica, mas as experiências sociais, religiosas, vivência de modo geral, auxiliarão de modo particular nesse processo. E assim a maturidade, nossa percepção, crescerá gradualmente.


Autor: Elaine Ribeiro dos Santos
Fonte: Canção Nova

12/05/2017

Como devo lidar com o perfil de uma pessoa mentirosa?


Saiba como compreender e entender uma pessoa mentirosa

A mentira é algo tão estrutural na história da humanidade, que Deus precisou colocá-la no rol de suas proibições nos 10 mandamentos: “Não levantarás falso testemunho”. Adão e Eva, por exemplo, foram expulsos do paraíso, porque mentiram para Deus. Jesus intitulou o demônio como o autor e o ‘pai da mentira”. E nós, o que fizemos? Tragicamente, inventamos um dia do calendário (1º de abril) para celebrá-la.

A verdade, no entanto, é que a mentira acarreta uma série de transtornos em nossa vida prática, e não é fácil conviver com pessoas que têm o hábito de sempre inventar as coisas. Todos nós sabemos bem disso, pois já sofremos ou fizemos alguém sofrer por causa de uma mentira. Negar isso é recusar que somos parte da humanidade.



 
Foto: Jorge Ribeiro/cancaonova.com

Compulsivo X Consciente

Mas quem é o mentiroso? Por que ele mente? Podemos descrever dois tipos de mentirosos: o compulsivo e o consciente.

O mentiroso compulsivo é a pessoa que apresenta um transtorno de personalidade, e o comportamento de inventar histórias pode ser observado desde a sua infância. A mentira tornou-se um hábito em sua vida, as invenções ficam cada vez mais extravagantes com o passar do tempo e não existe culpa ou arrependimento quando suas fábulas são descobertas. Neste caso, a pessoa mente, porque precisa esconder uma angústia muito primitiva, como alguém que foi abandonado e rejeitado na infância e, através de invenções sobre si, pudesse ser aceito por todos. Algumas pessoas com problemas psíquicos podem usar a mentira como artifício para atingir seus objetivos, como é o caso dos psicopatas, pessoas com transtorno antissocial e borderline. O prognóstico não é positivo nestes casos pois se trata de algo da estrutura psíquica do sujeito. Conviver com pessoas assim requer uma boa dose de paciência e entendimento de que se está lidando com uma pessoa enferma; e dificilmente alguém conseguirá convencê-las de que tal comportamento deve ser mudado.

O mentiroso consciente é aquele onde eu, você e 99% da população se encontra. Aquela mentirinha para “sair bem na foto”, aquela história inventada para ser aceito no grupo ou “ficar por cima” nas situações do cotidiano, mas, no fundo, também esconde uma baixa-autoestima e um medo de ser rejeitado. A diferença é que, nesse caso, a pessoa tem consciência de que está fazendo algo errado e, na maioria dos casos, é invadida por um sentimento de culpa e desconforto quando a mentira é descoberta. É dessas pessoas que vamos falar abaixo.
Como lidar com pessoas mentirosas no meu dia a dia?

Essa não é uma tarefa fácil, pois lidar com pessoas que costumam mentir é sempre uma linha tênue entre o querer ajudar e o se distanciar para não ser prejudicado. Abaixo listo algumas dicas que podem preservá-lo dos embustes do mentiroso, ao mesmo tempo em que pode dar apoio para que busque ajuda.

Leia mais:
.: As pequenas mentiras nos tornam incapazes de falar a verdade
.: Quando as minhas mentiras se tornam minhas verdades
.: Mentira, germe que corrompe os laços
.: Rompa com a mentira no seu relacionamento


Dicas para questionar uma pessoa mentirosa

Não estabelecer vínculos profundo com quem mente: Relacionar-se com uma pessoa que mente precisa ter certos limites, e um deles é: não entregue-se a alguém que costuma usar máscaras o tempo todo. Estabelecer uma amizade profunda ou, pior, casar-se com alguém que tem histórico de ludibriar os outros é assinar uma promissória de problemas. Geralmente, relacionamentos que são marcados por mentiras sempre terminam de forma trágica, além de se conviver com fantasmas do tipo “será que ele está me enganando?”, “isso que ele está dizendo é verdade?”, “será que posso confiar?”. Convenhamos: quem aguenta viver uma vida assim?

Pergunte, questione e cheque os fatos: o ditado “a mentira tem perna curta” só se torna real quando usamos o questionamento como ferramenta para chegar à veracidade dos fatos. Partindo do pressuposto de que tal pessoa tem histórico de mentiras e você desconfia de que ela não diz a verdade é preciso perguntar e checar os fatos. Não se trata de viver desconfiado das pessoas, mas de zelar pelo que é verdadeiro. Tenha sempre registrado as mensagens, e-mails e documentos, até mesmo para que se proteja de eventuais falsas acusações.

Apresente a verdade com caridade: pegar alguém na mentira é sempre algo constrangedor, mas necessário para que a pessoa tome consciência de seus atos desordenados. No entanto, a acusação e a discussão raivosa não resolve o problema, pelo contrário, pode agravar o sentimento de culpa e baixa autoestima do sujeito. Cabe, nesses casos, chamar a pessoa em particular, apresentar as inverdades e questionar as reais intenções de ter mentido. Se, mesmo assim, a pessoa não se redimir, faça como nos diz o Evangelho: “Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas” (Mt 18,17)

Ofereça ajuda: Como dito acima, a mentira é sinal de que algo no interior da pessoa não vai bem. Tendo em conta que não se trata de um mentiroso patológico, ofereça ajuda a essa pessoa, indicando que esse comportamento pode prejudicá-la nos seus relacionamentos, na sua vida profissional e espiritual. Uma psicoterapia, por exemplo, ajuda a pessoa a voltar na sua história para enxergar que tipo de vazio ela quer preencher com suas fabulações.


Autor: Daniel Machado
Fonte: Canção Nova

10/05/2017

Não concordo com o que a Igreja ensina. O que faço?


Como a Igreja poderia ensinar algo errado ou inconveniente se o Espírito Santo lhe ensina sempre toda a verdade?

Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que quem não concorda com o que a Igreja ensina não conhece bem o que Jesus ensinou, fez e mandou que fizéssemos. Jesus fundou a Igreja sobre São Pedro e os apóstolos, para que ela fosse a “porta voz” d’Ele na Terra. Disse o Senhor a eles: “Quem vos ouve, a Mim ouve; quem vos rejeita, a Mim rejeita, e quem Me rejeita, rejeita Aquele que me enviou” (cf. Lc 10,16). Quer dizer, quem não a ouve não ouve Jesus! Quem não a obedece não O obedece.

Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com
Sacramento universal da salvação

Jesus ainda lhes disse: “Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino”. (São Lucas 12,32). E foi à Igreja que Jesus mandou: “Ide pelo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Marcos 16,15). Como, então, não concordar com a palavra da Igreja? E mais: “A quem vocês perdoarem os pecados, os pecados estarão perdoados” (João 20,22). O Pai mandou o Filho para salvar o mundo; o Filho enviou a Igreja. Ela é o “sacramento universal da salvação” (LG, 4), a Arca de Noé que nos salva do dilúvio do pecado.

Na Santa Ceia, na despedida dos apóstolos, Jesus fez várias promessas à Igreja, ali formada por Seus discípulos. Entre muitas coisas que São João narrou, em cinco capítulos do seu Evangelho (13 a 17), Jesus prometeu:

“Eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco. É o Espírito da Verdade que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós”. “Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (João 14,15.25). Ora, como a Igreja poderia ensinar algo de errado se o Espírito Santo permanece sempre com ela e lhe ensina todas as coisas?

Jesus ainda lhes disse: “Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade…” (João 16,12-13). Como a Igreja poderia ensinar algo errado ou inconveniente se o Espírito Santo lhe ensina sempre “toda a verdade”?
Coluna e fundamento da verdade

Além disso, o próprio Jesus está na Igreja, pois Ele prometeu, antes de subir ao céu: “Eis que Eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mateus 28,20). Foi a última palavra d’Ele aos discípulos. Ora, como poderia errar se Jesus está com ela todo tempo? É impossível! É por isso que São Paulo disse a São Timóteo: “A Igreja é a coluna e o fundamento da verdade” (1Tm 3,15). Então, ela detém a verdade que Jesus disse que nos liberta.

Leia mais:
:: O que é Doutrina Social da Igreja?
:: Qual é a verdadeira riqueza da Igreja?
:: O que é a tradição da Igreja?
:: Você sabe o que é o purgatório e o que a Igreja diz sobre ele?

É por causa de tudo isso que o nosso Credo tem 2 mil anos e nunca mudou nem vai mudar; porque é a expressão da verdade que salva. A mesma coisa acontece com os sacramentos, os mandamentos e a liturgia. A Igreja já teve 266 Papas e nunca um deles cancelou um ensinamento doutrinário que um antecessor tenha ensinado. Já realizou 21 Concílios universais, e nunca nenhum deles cancelou um ensinamento de um anterior. A verdade não muda, o Espírito Santo não se contradiz.

Logo, como não concordar com o que Igreja ensina? Isso seria por causa da ignorância de tudo o que foi relatado acima; ou, então, seria um ato de orgulho espiritual da pessoa, que pensa saber mais do que a ela, assistida por Jesus Cristo e pelo Espírito Santo. Longe de nós isso!

Podemos até não conseguir viver o que ela nos ensina e manda viver – isso é compreensível por causa de nossa fraqueza –, mas jamais poderemos dizer que ela está errada ou que não concordamos com o que ela ensina. A Igreja não ensina o que quer, mas o que o Seu Senhor lhe confiou.


Autor: Prof. Felipe Aquino
Fonte: Canção Nova