21/11/2016

Não quero abortar, mas não tenho condições de criar um filho...

Saiba o que fazer para não abortar seu filho


Em minha vida de padre, sobretudo de professor de bioética (por isso muitas situações que envolvem aborto vieram até mim), deparei-me com vários casos de mulheres que, estando grávidas, com consciência moral cristã, por várias circunstâncias eram “forçadas” a buscar pelo aborto. Dentre os motivos apresentados para pensar nessa possibilidade, um deles é a não condição de criar um filho: “Não quero abortar, mas não tenho condições de criar um filho”.


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Foto: Copyright: selvanegra


Procuram-me aquelas mães que, diante da gravidez e da falta de condições para criar um filho, sofrem a angústia da dúvida. Um detalhe que me preocupa é que, raramente, elas vêm acompanhadas por seus parceiros ou algum parente. Trata-se de um problema real e grave, que afeta a vida de milhares de mulheres que vivem o drama entre o aborto, a consciência moral e a criação do filho. Em muitas situações, a mãe tem consciência da moralidade do ato de abortar, estão grávidas e, por isso, já vivem o dom da maternidade; porém, vivem o medo da incapacidade, seja por motivos econômicos, afetivos ou sociais para criar o filho.


Minha experiência fez-me conhecer bem os condicionamentos que levaram muitas mulheres a tomar a decisão de abortar. Sei que é um drama existencial e moral. Encontrei muitas mulheres que traziam no seu coração a cicatriz causada por essa angústia sofrida e dolorosa.


Em uma mulher com convicções normais, seja com fé ou sem fé, a decisão de abortar é um processo complicado e doloroso. Existe uma tendência natural nas mulheres de continuar a maternidade começada com a concepção do novo indivíduo. A decisão de abortar pode gerar uma crise por diversos fatores externos e/ou internos, que conflitam o psicológico da mulher, como o peso que ela vê na criação do filho, especialmente se já tem outros filhos. Essa situação pode desembocar em um autêntico conflito interior enfrentado pela mulher com a necessidade de tomar uma decisão.


Se necessitar de conselho, o que lhe darão, em grande parte dos casos, a empurrará ao aborto, especialmente se, em seu caso, a lei civil o ampara, a medicina o garante e para a sociedade é indiferente.


O acompanhamento de mulheres nessa situação é uma arte a favor do bem e da vida. É assegurar para a mãe que o bebê é um dom de Deus, um sinal da providência, e que nunca deverá ser visto como um problema a mais na vida dela. O feto é um ser humano, igual a qualquer um de nós, e parte integral da comunidade humana, que tem dignidade. Agora, a destruição de uma vida humana não é solução para o que, basicamente, é um problema econômico e social. Consiste em ajudar essa mãe a perceber que nunca estará sozinha, a ser corajosa na decisão de não abortar.


Todas as experiências abortivas são automaticamente “estressantes” e angustiantes; e o que a mulher pensa ser a solução para um problema, no caso a situação econômica, acaba se tornando outro problema maior ainda: encarar a realidade da consciência de, um dia, ter provocado um aborto e que aquele filho poderia estar com ela na luta pela vida. O aborto de um filho nunca poderá ser olhado como solução para um problema social.


O aborto não é definitivamente uma “solução fácil” de um grave problema, mas um ato agressivo, que terá repercussões contínuas na vida da mulher; e é nesse sentido que ela é vítima da sua própria decisão. A maioria das mulheres que conheci, e que se submeteram a abortos, teriam preferido outra solução para o problema.


Muitas mulheres praticam o aborto em uma situação desesperadora de medo ou insegurança. Por mais “liberta” que a mulher esteja dos padrões morais e religiosos, por mais consciente da impossibilidade de levar a termo sua gestação, por mais indesejada que tenha sido a gravidez, abortar é uma decisão que, na grande maioria das vezes, envolve angústia e drama de consciência. Os fatos comprovam que o aborto não é uma solução para dificuldades psicossociais, pelo contrário, após o aborto persiste a crise e se acrescenta o risco de novas e mais graves consequências psíquicas.


Algumas atitudes práticas para ajudar uma mulher a não abortar e escolher a vida para o bebê é, primeiro, ter a mesma atitude de Jesus, aproximar-se sem julgar ou condenar. Acolher a mãe em sua história, angústia e conflito; demonstrar compaixão, sentir a dor daquela mãe, demonstrar confiança. Ouvir a história da mulher que pensa em abortar, porque ouvir é acolher, é respeitar e ter carinho. Procure saber como ela está, deixe a pessoa falar. Para ajudar é preciso ouvir; e foi dessa forma que Jesus agiu com os discípulos de Emaús, primeiro os escutou. Deixe a mãe contar o que está acontecendo, quais as razões que levam essa mulher a pensar em abortar. Por que ela pensa que o aborto vai solucionar o problema?


O apoio afetivo é muito importante. A mulher precisa perceber que não está sozinha. É preciso manifestar solidariedade para com ela. A mulher precisa perceber que alguém se importa com ela e está disposto em ajudá-la. Mostre que ela é forte e capaz de superar aquele momento, que ter um filho não é o fim do mundo; pelo contrário, é um dom de Deus, é uma notícia a ser celebrada com alegria. As tribulações passam, as crises se superam, mas para o aborto não existe volta, e ele pode marcar a vida da mulher para sempre. O filho que ela espera é uma vida a ser acolhida e cuidada. Nesse momento, uma amizade sincera e verdadeira é muito importante. Converse um pouco sobre o aborto, suas consequências e sequelas.


Busque exemplo nas mães que enfrentaram os dissabores da gravidez inesperada e hoje estão felizes, com paz de consciência por terem feito a opção de não abortar.


Para certas situações, não bastam somente palavras, é preciso ter propostas concretas. Busque, em sua cidade e comunidade, formas de ajudar essa mulher que pensa no aborto. Ela pode estar precisando de ajuda médica, material, psicológica e espiritual. De imediato, você pode não saber onde encontrar esses serviços, mas se prontifique a procurar e entrar em contato com ela o mais rápido possível.


O drama pessoal pelo qual passa a gestante não pode ser superado com a eliminação do mais “fraco”, “não se pode tentar resolver o que é dramático com o trágico! No dramático existe a possibilidade de uma positividade, no trágico só a destruição”. A vida deve ser acolhida como dom e compromisso. Como afirma o Papa Bento XVI, “o amor de Deus não faz diferença entre o neoconcebido, ainda no seio de sua mãe, e a criança, o jovem, o homem maduro ou o idoso. Não faz diferença, porque em cada um deles vê a marca da própria imagem e semelhança” (cf. Gn 1,26).


“Tu modelaste as entranhas do meu ser e formaste-me no seio de minha mãe. Dou-te graças por tão espantosas maravilhas; admiráveis são as tuas obras. Conhecias até o fundo da minha alma”, como reza um Salmo (Sl 139 [138], 13-14), referindo-se à intervenção direta de Deus na criação de cada novo ser humano.



Autora: Fernanda Soares Zapparoli
Fonte: Canção Nova

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