Padre Roger Luis
Foto: Fotos CN/ Maria Andreia
Hoje
é um dia de silêncio e recolhimento. Neste dia, voltemo-nos para o
Santo Sepulcro: aquela voz que havia acalentado a tantos, agora já não
mais existia, aquele Corpo que visitara a tantos, agora estava inerte,
aquele Coração que acolhera aos pecadores e aos que sofrem, agora já não
batia mais, aquele olhar que curara a tantos, já não brilhava mais... O
Corpo de Cristo estava sepultado.
Já ouviu falar em silêncio “sepulcral”? Pois é! É deste silêncio que estamos falando.
Mas eu acredito que, dentre todos aqueles que estavam tristes pela
morte de Jesus, havia alguém que estava num silêncio repleto de
esperança: Maria Santíssima. Ela vivia num silêncio profundo! De forma
alguma um silêncio superficial.
Quero apresentar a Virgem Maria como este modelo de uma fé profunda, jamais superficial.
Este dia de silêncio fecundo é um tempo oportuno para amadurecermos na fé e não desistirmos quando vier o sofrimento e a dor. A palavra desse Sábado Santo, para cada um de nós, chama-se:
esperança.
Desistir jamais! Este silêncio, daqui a pouco, será substituído pelo
som festivo da Ressurreição de Jesus! Mas, no momento, precisamos
silenciar e aguardar, a exemplo de Maria.
Em Lucas 24, 17- 24 vemos como aqueles homens [discípulos de Jesus] se encontravam ante a notícia da morte de Cristo:
“Então
Jesus perguntou: 'O que é que vocês andam conversando pelo caminho?'
Eles pararam, com o rosto triste. Um deles, chamado Cléofas, disse: 'Tu
és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que aí aconteceu nesses
últimos dias?' Jesus perguntou: 'O que foi?' Os discípulos responderam:
'O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em
ação e palavras, diante de Deus e de todo o povo. Nossos chefes dos
sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte, e o
crucificaram. Nós esperávamos que fosse ele o libertador de Israel, mas,
apesar de tudo isso, já faz três dias que tudo isso aconteceu! É
verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos deram um susto. Elas
foram de madrugada ao túmulo, e não encontraram o corpo de Jesus. Então
voltaram, dizendo que tinham visto anjos, e estes afirmaram que Jesus
está vivo. Alguns dos nossos foram ao túmulo, e encontraram tudo como as
mulheres tinham dito. Mas ninguém viu Jesus'”. Veja: eles
estavam tão cegos por causa da morte de Jesus, tão vazios de esperança,
que não se recordavam mais das palavras que o Mestre havia dito, e nem
mesmo O reconheceram naquele primeiro momento.
Precisamos viver a experiência do silêncio que produz a esperança.
É engano, viver como certas “Igrejas” que afirmam: “Venha para cá e não
sofra mais!” Meus irmãos, o sofrimento faz parte da nossa experiência
enquanto seres humanos. Infelizmente, não sabemos usar com sabedoria o
nosso livre arbítrio. Um exemplo disso é um jovem que entra para o mundo
das drogas: ele acaba se viciando porque é livre. “Ah! Mas Deus poderia
controlar essa pessoa!”, pensamos. Mas não é essa a vontade de Deus:
Ele nos criou livres. Infelizmente, usamos mal a nossa liberdade.
É
no seu sofrimento, meu irmão, que Deus se faz presente ao seu lado. Ele
nos carrega no colo nas horas de dor. Mas não enxergamos isso. Achamos
que Ele nos abandonou diante da experiência do Seu silêncio.
Mas Ele nunca nos abandona e jamais nos abandonará! Em Mateus 16,21 está escrito:
“E
Jesus começou a mostrar aos seus discípulos que devia ir a Jerusalém, e
sofrer muito da parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos
doutores da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar ao terceiro dia”. Veja: Jesus havia dito isso aos seus discípulos. Mas eles não se lembravam mais dessas palavras do Mestre. A tristeza os cegou.
Meus irmãos, precisamos compreender este silêncio de Deus. Compreender que este silêncio está inserido num desígnio divino.
Jesus tentou educar aqueles discípulos para compreender que, após sua
morte, a sua ressurreição permitiria agora que Ele se fizesse ainda mais
presente na vida daqueles homens.
"Não existe experiência com Cristo sem experiência com a Igreja", afirma padre Roger
Foto: Fotos CN/ Maria Andreia
Essas
palavras do Mestre, no dia de hoje, devem encher o nosso coração de
esperança. Quando vier o silêncio, a dor, a morte, aquele sentimento de
que “tudo está perdido”, você precisa alimentar a sua alma com a
esperança da Ressurreição. “No terceiro dia Eu ressuscitarei”,
disse Jesus. Estas palavras precisam ecoar em nosso coração no momento
do sofrimento. Que durante este dia de silêncio, esta Palavra ecoe em
nosso coração e alimente a nossa fé e esperança.
Ore comigo: “Eu
creio, Senhor! Eu creio nesta grande esperança que a Igreja vive neste
dia. Eu creio que o Senhor jamais me abandona e, no silêncio, trabalha
por mim, para a minha salvação”.
Quero trazer uma boa notícia a você:
nesses
dias de Semana Santa, Deus está trabalhando intensamente a seu favor.
Se você abrir o seu coração, saiba que você nunca mais será a mesma
pessoa. Eu me recordo de quando participei pela
primeira vez (anos atrás) do Acampamento de Semana Santa na Canção Nova.
O silêncio de Deus, naquele acampamento, mudou o meu coração. E eu lhe
digo – pois um dia estive sentado aí nessa cadeira como você: “Eu abri
meu coração a Cristo durante aquele acampamento, e Ele mudou meu
coração. O mesmo Ele fará a você, no dia de hoje, se você se deixar
converter pelo silêncio fecundo desse dia”.
Quantas vez muitos
de nós, sem fé - quando perdemos alguém que amamos - entramos numa
depressão, nos desesperamos. E por quê? Porque nos esquecemos desta
Palavra:
“No terceiro dia Eu ressuscitarei”. Meus
irmãos, o pecado dispersa. E a Igreja veio para congregar. Esta palavra
“congregar” é uma palavra católica. Sabia disso? Temos medo de usá-la,
pois achamos que estamos falando como nossos irmãos evangélicos. Mas
não. A Igreja existe para congregar, enquanto o pecado dispersa as
criaturas humanas.
É por isso que a Igreja tem tantos inimigos, meus irmãos!
Muita gente trabalha para afastar os filhos de Deus da Igreja.
Há uma verdadeira “Cristofobia”. Trabalham para gerar essa dispersão,
para você não estar “congregado”. Compreende isso? Querem a qualquer
custo, gerar uma insegurança, um medo, uma incerteza em relação à
Igreja.
Satanás odeia a Igreja. E dizem por aí
que a Igreja é uma instituição que caminha para sua decadência... Pois
bem, quero trazer alguns dados a você: se a Igreja fosse uma “empresa de
educação”, ela seria a maior empresa do mundo por causa de suas escolas
e universidades. Se fosse uma “empresa de saúde”, também seria a maior
do mundo devido a seus hospitais. E se a Igreja fosse uma “ONG”, ela
seria a maior ONG que existe, devido a tantos serviços de cunho social
que ela promove.
Meus irmãos,
não existe experiência com Cristo sem experiência com a Igreja.
Criticam tanto a nossa Igreja... Mas eu dou é risada, minha gente!
Numa sociedade de tantos tablets, smartphones, celulares, etc, o mundo
inteiro ficou parado diante de uma chaminé esperando pela fumaça branca!
A Igreja é forte. Perseguem tanto a Igreja Católica, porque ela não
volta atrás em seus princípios. Ela não se deixa levar pela opinião
daqueles que a julgam e nem pela pressão da mídia.
Desculpe
quebrar o silêncio desse dia... Mas eu peço que você aplauda com força o
nosso Papa emérito Bento XVI, pois ele merece!
Depois que ele
renunciou, Deus então nos concedeu o Papa Francisco. O mundo inteiro se
surpreendeu com a sua eleição (inclusive eu). E o que o Papa Francisco
fez logo
em sua primeira aparição
na Praça de São Pedro? Num gesto belíssimo, ele pede que a multidão,
num instante de silêncio, ore por ele e pelo seu pontificado.
Ali, meus irmãos, Deus disse a todos nós católicos:
“Sou eu, o Senhor, que caminho à frente da Minha Igreja”. Permaneça nessa Igreja até o fim. Esta Igreja nos foi dada por Jesus para que, nela, façamos a experiência da Salvação.
Concluo com as palavras de Bento XVI
em sua última catequese,
no dia 27 de fevereiro de 2013: “O Senhor nos doou tantos dias de sol e
de leve brisa, dias no qual a pesca foi abundante; houve momentos
também nos quais as águas eram agitadas e o vento contrário, como em
toda a história da Igreja, e o Senhor parecia dormir. Mas sempre soube
que naquela barca está o Senhor e sempre soube que a barca da Igreja não
é minha, não é nossa, mas é Sua. E o Senhor não a deixa afundar; é Ele
que a conduz, certamente também através dos homens que escolheu, porque
assim quis. Esta foi e é uma certeza, que nada pode ofuscá-la”.
Assumamos o compromisso de jamais abandonar a essa Igreja. A Igreja de Jesus Cristo, a Igreja Católica.
Quem permanece na Igreja, permanece com Cristo! E as forças do inferno jamais vencerão aquele que permanece na Igreja.
Transcrição e adaptação: Alexandre Oliveira (@alexandrecn)
Fonte: Canção Nova