Nela, os fiéis devem encontrar o Cristo Ressuscitado
A 51ª Assembleia Geral Ordinária da CNBB, em Aparecida, tem como tema central a questão paroquial. Depois de examinarmos a realidade religiosa em nosso país, na análise da conjuntura, nós nos debruçamos sobre a necessidade de encontrar meios de fazer com que as paróquias sejam comunidade de comunidades ou rede de comunidades como dizemos. O documento ainda não sairá, nesta Assembleia, pois o texto, depois de corrigido, discutido e aprovado, irá para reflexão nas comunidades para depois, em outra Assembleia, ser aprovado como documento de nossa Conferência Episcopal.
A paróquia é a casa, por excelência, de todos os fiéis, onde eles devem encontrar o Cristo Ressuscitado. A paróquia é lugar de acolhida, de orientação, de ajuda espiritual e material. É a partir da paróquia que se podem descobrir os espaços não evangelizados de um território ou as situações que demandam atenção especial: escolas, hospitais, prisões, invasões, migrantes, favelas. A paróquia deve atingir o meio cultural e proporcionar ação pastoral que alcance o mundo da cultura e das artes.
A partir das paróquias pode acontecer uma renovada evangelização. Assim sendo, nossas paróquias devem ser acolhedoras, missionárias, fomentando redes de comunidades vivas e atuantes, que sejam irradiadoras de vida e, portanto, evangelizadoras. Acolhimento e missão formando discípulos de Cristo Ressuscitado que vivam na unidade.
Devemos apostar na presença da Igreja, em forma de pequenas comunidades, em todos os cantos e recantos do território paroquial, naquilo que se chama capilaridade. As pequenas comunidades bem orientadas e unidas na caminhada de Igreja podem ser um bom caminho de renovação da paróquia, porque possibilitam responder à vocação cristã que se realiza sempre em comum.
A renovação da paróquia é fundamental para a Igreja enfrentar os desafios pastorais, a missão... Enfim, evangelizar, levar a Boa Nova de Jesus Cristo a todas as pessoas, formando pequenos núcleos pastorais, como células vivas da grande mãe, chamada paróquia. As migrações arrancaram as pessoas de suas raízes e trouxeram-nas para as cidades. Hoje, a nossa vida em geral é urbana.
Na paróquia, temos três compromissos fundamentais, os quais provêm da essência da Igreja e do ministério sacerdotal. O primeiro é o serviço sacramental. Entre os sacramentos, o que se destaca, é claro, é a Eucaristia, centro e fonte de nossa vida cristã. Porém, temos dois sacramentos que merecem uma atenção especial devido às atuais circunstâncias. Um deles é o sacramento do batismo, a sua preparação e o compromisso de dar continuidade às recomendações batismais, e que já nos colocam também em contato com quantos não são muito crentes. Temos, nesse trabalho, a importante iniciação cristã. O compromisso de preparar o batismo, de abrir as almas dos pais, dos parentes, dos padrinhos e das madrinhas à realidade do sacramento, já pode e deveria ser um compromisso missionário, que vai muito além dos confins das pessoas já "fiéis". Ao preparar o batismo, procuramos fazer compreender que este sacramento é inserção na família de Deus, pois Ele vive e se preocupa conosco. Esse sacramento nos faz aprofundar em toda a vida cristã.
Outra preocupação paroquial a ser considerada diz respeito ao sacramento do matrimônio. Também ele se apresenta como uma grande ocasião missionária, porque, hoje, graças a Deus, temos muitos que desejam se casar na Igreja, inclusive tantos que, mesmo batizados, não a frequentam muito. É uma ocasião para levar estes jovens a confrontar-se com a realidade, que é o matrimônio cristão, o matrimônio sacramental. A preparação para o matrimônio é uma ocasião de grandíssima importância, de missionariedade para anunciar, de novo, no sacramento do matrimônio, o sacramento de Cristo. Aqui se insere toda a questão da vida e família.
O segundo compromisso fundamental da paróquia é o anúncio da Palavra, com os dois elementos essenciais: a homilia e a catequese. Urge redescobrirmos que a homilia deve ser a "ponte" entre a Palavra de Deus, que é atual, e deve chegar ao coração das pessoas. Devo dizer que a exegese histórico-crítica com frequência não é suficiente para nos ajudar na preparação da homilia. Observemos que o próprio Papa Francisco, na sua celebração cotidiana na Capela da Casa Santa Marta, onde está residindo, de maneira muito atual para a vida da Igreja e de todos os batizados, está atualizando a Palavra de Deus para vivermos a nossa vocação batismal. Ele assim também se expressou à comissão bíblica internacional nestes dias.
O terceiro compromisso fundamental da paróquia é a questão social: a “charitas”, a “diakonia”. “Somos sempre responsáveis pelos que sofrem, pelos doentes, pelos marginalizados e pobres”. Pelo retrato da diocese, vejo que são numerosos os que têm necessidade da nossa diakonia e esta também é uma ocasião sempre missionária. Assim, tenho a impressão de que a ‘clássica’ pastoral paroquial se autotranscenda nos três setores e se torne pastoral missionária.
Por isso, não podemos nos descurar do respeito que devemos dar aos nossos agentes de pastoral. O pároco não tem como fazer tudo! É impossível! Hoje, quer nos movimentos, quer nas pastorais, nas associações ou nas novas comunidades que existem, temos agentes que podem ser colaboradores para a constituição de uma verdadeira rede de comunidades, para que a paróquia atinja a todos os que não são tocados pela nossa pastoral clássica.
O trabalho paroquial será enriquecido com as ideias que o documento de nossa Assembleia Geral traz para ser aprofundado e colocado em prática. É um tema necessário e atual. Tenho certeza de que nos ajudará a dinamizarmos ainda mais nossa missão de discípulos de Jesus Cristo nestes tempos de tantas necessidades.
Dom Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebatião do Rio de Janeiro (RJ)
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