30/04/2011

A felicidade vem do essencial

"Certa vez, um urso faminto perambulava pela floresta em busca de alimentos. A época era de escassez, porém, seu faro aguçado sentiu o cheiro de comida e o conduziu a um acampamento de caçadores. Ao chegar lá, o urso, percebendo que o local estava vazio, foi até a fogueira ardendo em brasas e dela tirou um panelão de comida. Quando a tina já estava fora da fogueira, o animal a abraçou com toda a sua força e enfiou a cabeça dentro dela, devorando tudo. Enquanto abraçava a panela, começou a perceber algo o atingindo. Na verdade, era o calor da tina... Ele estava sendo queimado nas patas, no peito e em todos os lugares em que a panela encostava.

O urso nunca tinha experimentado aquela sensação. Então interpretou as queimaduras por seu corpo como uma coisa que queria lhe tirar a comida. Começou a urrar muito alto. E quanto mais alto rugia, mais apertava a panela quente contra seu imenso corpo. Quando os caçadores chegaram ao acampamento, encontraram o urso recostado a uma árvore, próximo à fogueira, segurando a tina de comida. O animal tinha tantas queimaduras por seu corpo que, mesmo morto, ainda mantinha a expressão de estar rugindo".

Esta mensagem foi muito importante, pois eu percebi que isso se dá também conosco. Por muitas vezes, abraçamos certas coisas que julgamos ser muito importantes para nossa sobrevivência, mas que, na verdade, são riscos para nossa própria felicidade. Algumas delas nos fazem gemer de dor, nos queimam por fora e por dentro e, mesmo assim, nos agarramos a elas, julgando-as essenciais.

Ficamos com medo de abandoná-las, e esse medo nos coloca em uma situação de sofrimento e de desespero. Apertamos essas coisas contra nossos corações e terminamos derrotados por algo que tanto protegemos, acreditamos e defendemos. Tirei uma lição dessa história: para que tudo dê certo em nossa vida, é necessário reconhecermos, em certos momentos, que nem sempre o que parece ser salvação vai nos dar condições de prosseguir.

Como diz São Paulo: "Examinai tudo e ficai só com o que é bom". Tenhamos a coragem e a visão que o urso não teve. Tiremos de nosso caminho tudo aquilo que faz o coração arder de dor e não de amor. Solte a "panela"!

Que Deus nos abençõe!

29/04/2011

Jesus expressa a vontade de Deus


“Senhor, aquele que amas está doente”. Foi o que disseram a Jesus quando deram-lhe a notícia de que seu amigo Lázaro estava doente. É palavra de grande consolação! Diz-se para alguém que é realmente amado! “Ora, havia um doente, Lázaro, de Betânia, do povoado de Marta e de Maria, sua irmã. (Maria é aquela que ungiu o Senhor com perfume e enxugou seus pés com os cabelos. Lázaro, seu irmão, é quem estava doente.) As irmãs mandaram avisar Jesus: ‘Senhor, aquele que amas está doente’” (Jo 11,1-3).

Para este recado, Jesus tem uma resposta: “Esta doença não leva à morte, mas é para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela” (Jo 11,4).

Deus, por nos amar, chama-nos a crer nesta grande verdade. Jesus expressa a vontade de Deus. Seja qual for a doença ou situação que apresentamos a Deus, servirá para a sua glória, porque desta forma o Filho de Deus será glorificado.

Deus te abençõe!

(Trecho do livro "Um milagre aos nossos olhos" de Monsenhor Jonas Abib)

28/04/2011

O demônio existe?


Ele é o inimigo oculto que semeia erros e desgraças

Não há dúvida sobre isso, ele existe. A Igreja diz que sim; e esta realidade é atestada pela Bíblia, pela Tradição dos Apóstolos e pelo Magistério sagrado da Igreja. Os santos confirmam a existência dele também. Não há um só santo que não tenha acreditado no demônio. Seria preciso destruir a Igreja e o Cristianismo, desde as suas raízes, para negar a existência do demônio.

No entanto, inacreditavelmente, ainda encontramos pessoas na Igreja, mesmo sacerdotes e teólogos que, em oposição ao que a Igreja ensina, têm a coragem e a desonestidade de ensinar que satanás não existe. É uma grande e terrível heresia. Por isso mesmo, em 15/11/1972 em uma Audiência, Papa Paulo VI fez a famosa Alocução "Livrai-nos do mal", na qual falou da existência do demônio e de sua ação perversa.

O saudoso Sumo Pontífice começou perguntando: “Atualmente, quais são as maiores necessidades da Igreja?” E ele mesmo responde: “Não deveis considerar a nossa resposta simplista, ou até supersticiosa e irreal: uma das maiores necessidades é a defesa daquele mal, a que chamamos demônio”. Paulo VI mostra que a realidade do pecado é uma ação perversa deste mal; “o efeito de uma intervenção, em nós e no nosso mundo, de um agente obscuro e inimigo, o demônio. O mal já não é apenas uma deficiência, mas uma eficiência, um ser vivo, espiritual, pervertido e perversor. Trata-se de uma realidade terrível, misteriosa e medonha”. E deixou claro que estão em desacordo com o ensinamento da Igreja todos aqueles que negam a existência do demônio:

“Sai do âmbito dos ensinamentos bíblicos e eclesiásticos quem se recusa a reconhecer a existência desta realidade; ou melhor, quem faz dela um princípio em si mesmo, como se não tivesse, como todas as criaturas, origem em Deus, ou a explica como uma pseudo-realidade, como uma personi­ficação conceitual e fantástica das causas desconhecidas das nossas desgraças”.

O mesmo Papa afirma que o demônio é a origem de todo o pecado que entrou no mundo: “O demônio é a origem da primeira desgraça da huma­nidade; foi o tentador pérfido e fatal do primeiro pecado, o pecado original (cf. Gn 3; Sb 1,24). Com aquela falta de Adão, o demônio adquiriu um certo poder sobre o homem, do qual só a redenção de Cristo nos pode libertar”.

“Ele é o pér­fido e astuto encantador, que sabe insinuar-se em nós atra­vés dos sentidos, da fantasia, da concupiscência, da lógica utópica, ou de desordenados contatos sociais na realização de nossa obra, para introduzir neles desvios, tão nocivos quanto, na aparência, conformes às nossas estruturas físicas ou psíquicas, ou às nossas profundas aspirações instintivas”.

“Ele é o inimigo número um, o tentador por excelência. Sabemos, portanto, que este ser mesquinho, perturbador, existe realmente e que ainda atua com astúcia traiçoeira; é o inimigo oculto que semeia erros e desgraças na história humana”.

Paulo VI ensina que nem todo pecado é obra direta do demônio, mas lembra-nos que “aquele que não vigia, com certo rigor moral, a si mesmo (cf. Mt 12,45; Ef 6,11), se expõe ao influxo do “mysterium iniquita­tis”, ao qual São Paulo se refere (2Ts 2,3-12) e que torna pro­blemática a alternativa da nossa salvação”.

O maior serviço que alguém pode prestar ao demônio é ensinar que ele não existe; assim, os fiéis não se defendem contra ele, e se tornam suas vítimas fáceis.

27/04/2011

Nunca é tarde para lembrar

Os recursos que a bondade divina nos apresenta

Somos seres irrequietos, com uma curiosidade insaciável. Isso nos permite encontrar respostas para os mistérios do universo. Somos sem descanso nos nossos porquês. Até os meninos querem abrir os brinquedos, para saber como funcionam. (E nós achamos que eles estão estragando os presentes...). Mas a pergunta suprema é de cunho metafísico: qual o sentido da vida? O cristão se pergunta: de que meios posso me valer para crescer na fé? Como posso ter respostas para os anseios da alma? O que pode alimentar a minha espiritualidade? Mesmo com caridosas advertências dos bispos, muitos fiéis se aproximam de águas contaminadas pelas fantasias humanas, ou de alimentos que não contêm nenhuma substância para nos fortalecer. Refiro-me ao duvidoso apelo às visões e manifestações particulares.


"Dei leite a vocês, não alimento sólido" (I Cor 3,2).

Se numa região existem 1.000 aparições, seguramente 999 são falsas, provenientes de pessoas ingênuas, visionárias, ou até de má fé. Mas então, o que realmente pode nos ajudar à abertura para uma fé robusta?

Os recursos que a bondade divina nos apresenta são infindáveis. Começo pela Eucaristia, verdadeiro “pão do céu”, seja para adultos e até para crianças. Esse é o maná que nos sacia. Fortalece a fé e a caridade. Põe-nos em contacto com Aquele que pode encher nossa vida de esperança.

Outra ajuda estupenda é a vida em comunidade. Esta nos mostra que a “ovelha que anda sozinha, será pega pelo lobo”. Jesus, desde o começo da vida pública, juntou a Seu redor uma pequena comunidade, para a qual transmitia Seus ensinamentos e Sua graça salvadora. Hoje ainda é assim. Junto com os demais irmãos de caminhada superamos grandes dificuldades. Não esqueçamos a Sagrada Escritura, fonte perene de transmissão das bondades divinas. Ela é a alma da Teologia.


Mas, especialmente, ela nos faz entrar em contacto com a pessoa divina. O Espírito Santo de Deus nos ilumina para superarmos os entraves da nossa missão. Sem excluir muitos outros modos de nos fortalecermos no bem, falemos ainda da prática da caridade. Ajudar aos outros não faz só um enorme bem ao semelhante, mas dá um retorno benfazejo ao próprio praticante.

Enfim, vamos nos ocupar com revelações particulares somente se sobrar muito tempo. Nós vivemos preferencialmente desses 4 grandes dons.

26/04/2011

Harmonia com a natureza


É uma questão de fidelidade a valores

A harmonia com a natureza para preservação e promoção da vida no planeta é uma questão de fidelidade a valores. Fidelidade que tem um santuário próprio, o da interioridade. A consciência dita a dinâmica da conduta pessoal e social para tecer o cenário que revela a vida vivida com dignidade, e o consequente respeito à criação, dom de Deus para o bem de todos. Portanto, é indispensável ser fiel a valores que norteiam e mantêm condutas no horizonte e nas dinâmicas da pretendida harmonia com a natureza. E também as relações dignas e cidadãs, tanto no que é pessoal quanto na família e nas instituições, que organizam e configuram a sociedade contemporânea.


As reviravoltas surpreendentes da natureza são desafios que suscitam sérios questionamentos, com as indagações religiosas e os entendimentos científicos. Essas permitem planejamentos e apontam na direção de ações e atitudes que possam garantir o indispensável respeito à natureza e ao mais recôndito de sua gênese, com propósito de evitar catástrofes e dolorosos sofrimentos.

Semelhante a placas tectônicas, a consciência coletiva de indivíduos, que pautam suas vidas no compromisso com a verdade e na fidelidade aos valores que balizam a vida, se remexem. Não pode ser desconsiderado, nos muitos movimentos da história política e cultural da humanidade, o que recentemente tem merecido atenção de cientistas políticos, de lideranças mundiais, e de todos os que vivem sua vida e exercem suas responsabilidades. Trata-se de insurreições significativas do mundo árabe, alavancadas pela iluminação que vem de valores irrenunciáveis como democracia, participação cidadã, condições dignas de vida para todos, em contraposição às fortunas ajuntadas por dirigentes de governos e outros, o que perpetua situações injustas de exclusão e de miséria.


Essas insurreições, contracenando com tantos descalabros políticos, empresariais e outros, é sinal de que está reavivada na consciência cidadã a necessidade de pautar a vida na fidelidade e na vivência de valores. Valores que balizem mudanças em cenários inaceitáveis de arbitrariedades e de usurpações no exercício do poder e no usufruto dos bens da criação. Isso causa descontentamento e provoca reações que urgem e impõem mudanças mais rápidas na direção dessa terapêutica fidelidade.

Nesse mesmo horizonte localiza-se o adiamento da aplicação da Lei da Ficha Limpa, agora, apenas considerada como lei do futuro. O processo de sua interpretação merece considerações, tratando-se da Suprema Corte, que avalia, configurando um empate, decidido por um voto que considera sua imediata aplicação um desrespeito à Constituição. Cinco ministros não votaram assim, revelando que o caminho da interpretação é importante e dele se esperam avanços na direção de uma aplicação, não retardada, de normas que corrijam, imediatamente, sem delongas, os desvarios políticos, as falcatruas financeiras e as condutas de corrupção.

Insurreições do povo no mundo árabe, lutas dos movimentos populares, empenhos por normas como a Ficha Limpa, avanços jurídicos que coíbem desmandos e imoralidades e outras bandeiras, como a defesa da vida em todas as suas etapas - desde a fecundação até a morte com o declínio natural -, vão tornando patente que há um anseio, até muitas vezes adormecido no coração humano. Anseio exigente e convencido de moralização, de encaminhamentos pautados em valores com força de ressurreição e configurações novas de dinâmicas da vida. É preciso dar passagem larga a essas demandas, deixando espaços estreitos, ou quase nenhum, para entendimentos tacanhos que atrasam conquistas de instituições sociais, políticas e religiosas.

Tais sinais nos desejos de mudança têm pouco a ver com uma obsoleta compreensão de reivindicações. Especialmente aquelas, cujo discurso tem teor ultrapassado, que parecem projetar o presente num tipo de passado que teve sua vez e não atende mais às demandas contemporâneas. Entre as dinâmicas que atrasam sonhos e comprometimentos - frutos de fidelidades a valores - há uma visão estreita de interesses e necessidades de instituições e grupos sobre projetos importantes para os avanços da sociedade, fecundado por uma falta de espiritualidade e de humanismo, aprisionando pessoas que poderiam, com um pouco mais de altruísmo, suportar pesos e ajudar a levar em frente a abertura de novos horizontes para a cultura, a sociedade e as instituições todas.


É hora de gestos mais corajosos, ancorados na clarividência e na fidelidade a valores que qualificam as condutas. Gestos descolados de protestos por razões de pequenez, ou de propostas, que têm o tamanho diminuto da compreensão, fruto de um fechamento que mantém a esterilidade de determinados discursos e a função inócua de certas propostas e intervenções.

A fidelidade a valores é a meta da Campanha da Fraternidade 2011. O horizonte rico do Evangelho de Jesus Cristo é a condição indispensável para compreender o alcance e a medida justa que a vida no planeta depende dessa vivência, permitindo e mantendo o que é harmonia com a natureza.

25/04/2011

O amor é o nosso tempero, a nossa medida


A Palavra meditada hoje está em Romanos 13, 8–14:

8. Não fiqueis devendo nada a ninguém… a não ser o amor que deveis uns aos outros, pois quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei. 9. De fato, os mandamentos: “Não cometerás adultério”, “Não matarás”, “Não roubarás”, “Não cobiçarás”, e qualquer outro mandamento, se resumem neste: “Amarás o próximo como a ti mesmo”. 10. O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei. 11. Sabeis em que momento estamos: já é hora de despertardes do sono. Agora, a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé. 12. A noite está quase passando, o dia vem chegando: abandonemos as obras das trevas e vistamos as armas da luz. 13. Procedamos honestamente, como em pleno dia: nada de glutonerias e bebedeiras, nada de orgias e imoralidades, nem de contendas e rivalidades. 14. Pelo contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não atendais aos desejos e paixões da vida carnal.

A primeira coisa que a Palavra de hoje nos faz é nos despertar para tudo aquilo em que estamos em falta a alguém. Não devemos nada a ninguém, pois quem deve algo esta sob o “domínio” dessa pessoa. E se devemos e não pagamos, estamos lesando aquela pessoa que um dia o ajudou, fazendo o mal para quem nos fez o bem. Hoje a Palavra de Deus nos chama a despertar para a maneira como estamos pagando aqueles que um dia nos foram providência, seja num conselho, seja numa ajuda financeira, entre outros.

Em outras ocasiões, por causa de um cartão de crédito, muitas pessoas acabam se predendo a inúmeras dívidas, porque estão mergulhadas num espírito consumista. Há coisas que são indispensáveis, como o nosso sustento, mas há outras que podemos deixar para outra ocasião. Quem está vivendo envolvido nas dívidas precisa despertar para essa realidade e pedir a Deus a graça e a disposição para retomar a vida e providenciar a quitação dos credores.

A Palavra de Deus diz que não fiquemos devendo nada a ninguém, exceto o amor. Quem ama, não rouba, não cobiça, não oprime. Nós amamos quando não destruímos o outro, seja por meio de palavras, seja por meio de atos de humilhação. O amor não faz nenhum mal ao próximo, mesmo nos momentos de descontentamento, nem trama o mal contra alguém. Quem faz isso, tira a pessoa da vida social. Hoje, Deus quer nos alertar sobre tudo aquilo que tem nos anestesiado para coisas que nos levam a uma dormência.

Perdemos a sensibilidade espiritual quando caímos numa vida desregrada, tanto na gulodice como nas coisas imorais, nas contendas, etc... Tudo isso nos leva à morte. O amor é o nosso tempero, a nossa medida.

O amor nos mantém de pé e quando estamos vivendo algum desregramento, podemos ter certeza de que ali não há amor.

Podemos estar assumindo uma série de práticas que não preenchem o nosso coração. Trazemos coisas que não nos edificam, mas que nos fazem sofrer e, consequentemente, acabam por ferir aqueles que estão ao nosso lado. O objetivo da Palavra de Deus é nos levar à salvacão. E quando lemos as listas de advertência não é para colocar um jugo sobre nossos ombros, mas sim para nos despertar. Da mesma forma, Deus quer nos atentar para os nossos erros. Isso leva à inquietação e esta conduz à libertação porque você se tornou capaz de percerber que algo não estava bem em sua vida. Tudo isso se consegue pela intimidade com Deus, pela maturidade capaz de perceber a salvação cada vez mais próxima.

A salvação está mais perto de nós hoje do que estava naquele dia em que abraçamos a fé. De um modo ou de outro, teremos o encontro com Jesus Cristo. Quando perdemos alguém próximo, dói a nossa alma, mas precisamos nos conter para não questionar a Deus ou planejar vinganças. A Divina Providência nunca nos abandona e isso não se limita às coisas materiais, mas também às providências relacionadas ao amor, aos sentimentos, ao amparo e ao conforto de alguém que vive algumas tribulações.

Quem está na fé precisa sempre estar a caminho. Na vida espiritual quem não avança recua. Sabemos que os peregrinos, aqueles que estão acostumados a fazer grandes caminhadas, levam poucas coisas. Tudo aquilo que levamos a mais numa viagem longa se torna um peso desnecessário. Da mesma forma, na nossa vida não podemos colocar na nossa "mochila" a glutonaria, a contenda, a raiva, a depravação, os vícios, pois tudo isso torna a nossa existência pesada.

Disponha das coisas que são ruins, mas não abra mão do seu caráter nem das coisas que levaram tanto tempo para se conquistadas. Nesse tempo de renúncia, se desfaça das coisas que somente pesam no nosso coração. Hoje, em nome de Cristo, queremos nos revestir sem atender as paixões da vida carnal, querendo fazer apenas o bem. Não podemos fazer o mal. É o bem que devemos uns aos outros.

24/04/2011

Ressuscitou... Páscoa de Cristo, nossa Páscoa


“Entender a Páscoa é entender o cristianismo; ignorar a Páscoa é ignorar o cristianismo” (Papa Paulo VI)

Vem aí a celebração da nossa festa cristã mais importante: a Páscoa. Por isso mesmo, antes de celebrá-la todos os anos, a Igreja nos propõe um “tempo favorável”, um longo período de preparação espiritual – 40 dias – que chamamos de Quaresma. A liturgia quaresmal nos convida à conversão sincera, ouvindo com mais freqüência a Palavra de Deus e entregando-nos à prática de oração, penitência, caridade fraterna, entre outros atos de fé e piedade cristã.

Depois dessa intensa preparação, celebramos o mistério de Jesus Cristo morto, sepultado e ressuscitado, que é comemorado durante o Tríduo Pascal, tendo como centro a Vigília Pascal e terminando com o Domingo da Ressurreição, a Páscoa.

Páscoa quer dizer “passagem”. O verdadeiro sentido da Páscoa tem a ver com a renovação, passagem, libertação e salvação operada por Deus em favor do povo de Israel e extensivamente, em favor de toda a humanidade. Deste modo, na Páscoa celebra-se a renovação da natureza, que acontece durante a primavera, manifestando-se o triunfo da vida sobre a morte, comemorando-se, deste modo, a “passagem” de Deus que liberta e salva seu povo, e o faz “passar” da opressão do Egito à liberdade. Essa recordação, associada a nossa vida e história no tempo atual, significa também a nossa libertação de todas as formas de opressão, bem como a preanunciação da salvação eterna.

Para nós, cristãos, Cristo uniu a Páscoa judaica com a Sua própria Páscoa e nossa. Ele realizou plenamente a Páscoa, com Sua Vida, Morte e Ressurreição. Jesus Cristo protagonizou um evento salvífico, morrendo por nós e estabelecendo a nova aliança em Seu sangue, deixando-nos o memorial eucarístico: “Façam isso em memória de mim.” Na Páscoa, nós celebramos a vitória de Cristo, que ressuscitou, vencendo a morte. A Ressurreição do Nosso Senhor é o fundamento da nossa fé e esperança na própria ressurreição.

Ao celebrarmos a Páscoa do Senhor, vivo e ressuscitado, somos também convidados a renovar a nossa fé, que é Ressurreição e Vida, e a viver como pessoas ressuscitadas. O Senhor nos envia a anunciar, pela Palavra e pelo exemplo, esta mensagem de vida e esperança a todos(as).

Também, por isso, a celebração da Páscoa não acontece só uma vez por ano, pois toda a celebração litúrgica da Igreja e celebração do mistério pascal – além de recordar o que aconteceu no passado – é atualizada por meio desse evento e é anunciado, enquanto aguardamos com jubilosa esperança a sua plena realização no futuro. A nossa vida é e, deve ser, uma Páscoa permanente: uma passagem da vida de pecado para a graça; da morte para a vida nova em Cristo.

FELIZ PÁSCOA A TODOS VOCÊS EM FAMÍLIA!

23/04/2011

Sábado Santo: Esperança da Ressurreição

Alinhar ao centro
O Sábado Santo é a passagem misteriosa da morte para a Vida Eterna

As primeiras comunidades cristãs honravam a sepultura de Jesus, passando o Sábado Santo no descanso e na espera, na oração silenciosa e num rigoroso jejum. Nenhum alimento deveria ser ingerido, a fim de não quebrar o jejum que antecedia a comunhão na noite de Páscoa. Hoje, o jejum não é tão rigoroso, nem o silêncio tão absoluto, mas é um dia de serena e alegre espera.

O Sábado Santo, com o Jejum e com a Oração silenciosa, expressa também nossa inquebrantável esperança na ressurreição final e na Segunda vinda do Senhor. A terra, grávida de Cristo, está para dar à luz o Senhor ressuscitado, como primícias da nova criação.

A Vigília Pascal é densa e grande. A Celebração da Vigília Pascal é o centro da Semana Santa. Toda a quaresma e os dias santos preparam-nos para o momento culminante: o da ressurreição. A celebração compreende quatro partes: A liturgia da Luz – a primeira parte desta Vigília celebra a Cristo, Luz que ilumina a todo homem, simbolizado no Círio Pascal, imagem de Cristo Ressuscitado.

Com a benção do fogo e do Círio, a Igreja às escuras na entrada do Círio lembra que o Cristo Ressuscitado é a luz do mundo, quebra a escuridão e enche de luz a todos aqueles que se aproxima dele com fé viva. É o triunfo da luz sobre as trevas do mal. Essa primeira parte termina com a ação de graças ou proclamação da Páscoa ( Exultet) , que exprime o caráter cósmico da vitória de Cristo.

A Liturgia da Palavra – as leituras do Antigo e Novo Testamento mostram em grandes pinceladas o amor maravilhoso de Deus. Desde a criação do mundo, todas as promessas e a aliança até a sua realização plena na morte e ressurreição de Cristo, mediador da Nova Aliança.

A Liturgia BatismalNa terceira parte da Vigília, tudo o que é anunciado se faz realidade através dos sacramentos, dos quais, o batismo é o primeiro. O sinal sacramental do batismo é a água. O celebrante, enquanto mergulha o Círio Pascal na água, benze-a e consagra-a, pedindo a deus para que envie o Espírito Santo sobre ela, para torná-la fecunda e, assim, dessa água poderem nascer os filhos de Deus.

A Liturgia Eucarística - é a expressão de viver a nova vida de ressuscitados junto com Jesus . A eucaristia é o ponto alto da noite pascal. O encontro pessoal com o ressuscitado, na comunhão, torna-nos participantes do triunfo sobre a morte e sobre o mal. A Páscoa de Cristo é a nossa Páscoa, a Páscoa da Igreja (Rm 6, 9).

O centro da Semana Santa é a Vigília Pascal. Muitas coisas nos alegram na vida, assim como outras nos entristecem. Nenhuma nos pode alegrar tanto como a Ressurreição do Senhor. Desde que Cristo ressuscitou, a vida não é um caminho que fatalmente desemboca na morte, mas a morte é um caminho que fatalmente desemboca na vida.

22/04/2011

Sexta-feira Santa: Paixão e Morte de Jesus

A tarde de Sexta-feira Santa apresenta o drama imenso da morte de Cristo no Calvário. A cruz erguida sobre o mundo segue de pé como sinal de salvação e de esperança. Com a Paixão de Jesus segundo o Evangelho de João contemplamos o mistério do Crucificado, com o coração do discípulo Amado, da Mãe, do soldado que lhe traspassou o lado.

São João, teólogo e cronista da paixão nos leva a contemplar o mistério da cruz de Cristo como uma solene liturgia.

Tudo é digno, solene, simbólico em sua narração: cada palavra, cada gesto. A densidade de seu Evangelho agora se faz mais eloqüente. E os títulos de Jesus compõem uma formosa Cristologia.

Jesus é Rei. O diz o título da cruz, e o patíbulo é o trono onde ele reina. É a uma só vez, sacerdote e templo, com a túnica sem costura com que os soldados tiram a sorte. É novo Adão junto à Mãe, nova Eva, Filho de Maria e Esposo da Igreja. É o sedento de Deus, o executor do testamento da Escritura. O Doador do Espírito. É o Cordeiro imaculado e imolado, o que não lhe romperam os ossos. É o Exaltado na cruz que tudo o atrai a si, quando os homens voltam a ele o olhar.

A Mãe estava ali, junto à Cruz. Não chegou de repente no Gólgota, desde que o discípulo amado a recordou em Caná, sem ter seguido passo a passo, com seu coração de Mãe no caminho de Jesus. E agora está ali como mãe e discípula que seguiu em tudo a sorte de seu Filho, sinal de contradição como Ele, totalmente ao seu lado. Mas solene e majestosa como uma Mãe, a mãe de todos, a nova Eva, a mãe dos filhos dispersos que ela reúne junto à cruz de seu Filho.

Maternidade do coração, que infla com a espada de dor que a fecunda.

A palavra de seu Filho que prolonga sua maternidade até os confins infinitos de todos os homens. Mãe dos discípulos, dos irmãos de seu Filho. A maternidade de Maria tem o mesmo alcance da redenção de Jesus. Maria contempla e vive o mistério com a majestade de uma Esposa, ainda que com a imensa dor de uma Mãe. São João a glorifica com a lembrança dessa maternidade. Último testamento de Jesus. Última dádiva. Segurança de uma presença materna em nossa vida, na de todos. Porque Maria é fiel à palavra: Eis aí o teu filho.

O soldado que traspassou o lado de Cristo no lado do coração, não se deu conta que cumpria uma profecia realizava um último, estupendo gesto litúrgico. Do coração de Cristo brota sangue e água. O sangue da redenção, a água da salvação. O sangue é sinal daquele maior amor, a vida entregue por nós, a água é sinal do Espírito, a própria vida de Jesus que agora, como em uma nova criação derrama sobre nós.

A Celebração

Hoje não se celebra a missa em todo o mundo. O altar é iluminado sem mantel, sem cruz, sem velas nem adornos. Recordamos a morte de Jesus. Os ministros se prostram no chão frente ao altar no começo da cerimônia. São a imagem da humanidade rebaixada e oprimida, e ao mesmo tempo penitente que implora perdão por seus pecados.

Vão vestidos de vermelho, a cor dos mártires: de Jesus, o primeiro testemunho do amor do Pai e de todos aqueles que, como ele, deram e continuam dando sua vida para proclamar a libertação que Deus nos oferece.

Ação litúrgica na Morte do Senhor

1. A ENTRADA

A impressionante celebração litúrgica da Sexta-feira começa com um rito de entrada diferente de outros dias: os ministros entram em silêncio, sem canto, vestidos de cor vermelha, a cor do sangue, do martírio, se prostram no chão, enquanto a comunidade se ajoelha, e depois de um espaço de silêncio, reza a oração do dia.

2. Celebração da Palavra

Primeira Leitura

Espetacular realismo nesta profecia feita 800 anos antes de Cristo, chamada por muitos o 5º Evangelho. Que nos introduz a alma sofredora de Cristo, durante toda sua vida e agora na hora real de sua morte. Disponhamo-nos a vivê-la com Ele.

Segunda leitura

O Sacerdote é o que une Deus ao homem e os homens a Deus… Por isso Cristo é o perfeito Sacerdote: Deus e Homem. O Único e Sumo e Eterno Sacerdote. Do qual o Sacerdócio: o Papa, os Bispos, os sacerdotes e dos Diáconos unidos a Ele, são ministros, servidores, ajudantes…

Versículo antes o Evangelho

Cristo, por nós, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso Deus o sobreexaltou grandemente e o agraciou com o Nome que é acima de todo nome.

Como sempre, a celebração da Palavra, depois da homilia conclui-se com uma ORAÇÃO UNIVERSAL, que hoje tem mais sentido do que nunca: precisamente porque contemplamos a Cristo entregue na cruz como Redentor da humanidade, pedimos a Deus a salvação de todos, crentes e não crentes.

Adoração da Cruz

Depois das palavras passamos a um ato simbólico muito expressivo e próprio deste dia: a veneração da Santa Cruz é apresentada solenemente a Cruz à comunidade, cantando três vezes a aclamação:

"Eis o lenho da Cruz, onde esteve pregada a salvação do mundo. Ó VINDE ADOREMOS", e todos ajoelhados uns instantes de cada vez, e então vamos, em procissão, venerar a Cruz pessoalmente, com um genuflexão (ou inclinação profunda) e um beijo (ou tocando-a com a mão e fazendo o sinal da cruz ); enquanto cantamos os louvores ao Cristo na Cruz :

A comunhão

Desde de 1955, quando Pio XII decidiu, na reforma que fez na Semana Santa, não somente o sacerdote - como até então - mas também os fiéis podem comungar com o Corpo de Cristo. Ainda que hoje não haja propriamente Eucaristia, mas comungando do Pão consagrado na celebração de ontem, Quinta-feira Santa, expressamos nossa participação na morte salvadora de Cristo, recebendo seu "Corpo entregue por nós".

21/04/2011

Semana Santa:O mistério da nossa fé

Continuando a Semana Santa. Semana na qual celebramos a centralidade da nossa fé, que teve início na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, ou seja, a Paixão – subida de Jesus Cristo ao Monte Calvário, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo para a nossa salvação; para nos resgatar das mãos do demônio e nos transferir para o mundo da luz, para a liberdade dos filhos de Deus. Jesus morre na cruz para reconciliar o homem com Deus.

É a semana da nossa reconciliação com Deus. É a semana da vitória da vida sobre a morte. Do pecado sobre a graça. Quando os fiéis são batizados, aplica-se a cada um deles os efeitos redentores da Morte e Ressurreição de Cristo. Por isso, o cristão católico convicto celebra com alegria a cada função litúrgica da Semana Santa, que começa hoje e termina na celebração do Tríduo Pascal e da Páscoa.

Assim recomenda a Santa Mãe Igreja que todos os seus filhos se confessem para que correndo com Cristo do pecado possam com Ele ressuscitar, na madrugada do Domingo da Páscoa, para a vida eterna.

O tempo da Quaresma se prolonga até a Quinta-feira da Semana Santa. A Missa Vespertina da Ceia do Senhor é a grande introdução ao Santo Tríduo Pascoal. E este [Tríduo Pascoal] tem início na Sexta-feira da Paixão, prossegue com o Sábado de Aleluia e chega ao ponto mais alto na Vigília Pascoal terminando com as Vésperas do Domingo da Ressurreição.

O Evangelho proposto, neste primeiro dia, para a Semana Santa é o de Jesus que volta a Betânia seis dias antes da Páscoa, para manifestar Seu amor e carinho pelos amigos. Comove ver como o Senhor tem essa amizade, tão divina e tão humana, manifestada num convívio frequente. Nessa visita de Cristo a Lázaro, Maria e Marta, vejo-me também na condição de acolhê-Lo e de recebê-Lo em minha casa e vida. Jesus me vem visitar hoje e eu quero recebê-Lo com o coração aberto, alegre e agradecido por merecer Sua amizade e confiança, assim como sempre foi muito bem recebido por esses amigos de Betânia, em qualquer dia e a qualquer hora, com alegria e afeto. Como havia grande respeito, atenção e caridade entre eles, assim me comprometo a fazê-lo.

São milhares os que negam hospedagem para Cristo Jesus em seus corações, mas para o mundo e suas vaidades escancaram-nos; esses vivem com a alma cheia de vícios: a alma, sem a presença de seu Deus e dos anjos que nela se jubilavam, cobre-se com as trevas do pecado, de sentimentos vergonhosos e de completa ignomínia.

“Ai da alma se lhe falta Cristo, que a cultive com diligência, para que possa germinar os bons frutos do Espírito! Deserta, coberta de espinhos e de abrolhos terminará por encontrar, em vez de frutos, a queimada. Ai da alma, se seu Senhor, o Cristo, nela não habitar! Abandonada, encher-se-á com o mau cheiro das paixões, virará moradia dos vícios”, diz São Macário.

Era costume da hospitalidade do Oriente honrar um hóspede ilustre com água perfumada depois de se lavar. De forma que, mal se sentou Jesus, Maria tomou um frasco de alabastro que continha uma libra de perfume muito caro, de nardo puro. Aproximou-se por detrás do divã onde estava o Mestre recostado e ungiu os pés e secou-lhes com os seus cabelos: Trata-se de Maria Madalena que, pela segunda vez, unge o Corpo Santíssimo do Nosso Divino Salvador. O nardo era um perfume raríssimo, de grande valor, que ordinariamente se encerrava em pequenos vasos, de boca estreita e apertada. Quebrá-lo e derramar o conteúdo sobre a cabeça de alguém era, entre os antigos, sinal de grande honra e distinção.

Maria ofereceu o melhor para Cristo Jesus. Ela não ofereceu um perfume barato, e sim, o melhor e o mais caro. E você? O que tem oferecido ao seu Senhor? Façamos também nós o mesmo; ofereçamos para Nosso Senhor aquilo que temos de melhor e mais precioso: o melhor cálice, a mais bela patena, o mais piedoso ostensório, os melhores paramentos, a nossa vida, tudo o que somos e temos. Pois, todo o luxo, majestade e beleza são poucos, perante a tamanha grandeza de Jesus, nosso Mestre.

Acolhendo o mistério redentor de Cristo e Sua Palavra, meditando os acontecimentos da nossa redenção, só poderemos crescer na alegria e na paz do Deus que nos ofertou a vida. Deixemos, pois, que o Espírito de Deus tome conta de nossa existência, para que sejamos conduzidos à eterna alegria da salvação e da ressurreição.

Acolhendo o mistério central da nossa fé desejo boa Semana Santa para você e a toda a sua família.

20/04/2011

Semana Santa e dinheiro

Quando na economia se instala o demônio da exploração

Com o Domingo de Ramos se conclui a Campanha da Fraternidade, culminando com a sugestão de um gesto que simbolize as boas motivações despertadas por ela. Desta vez o tema destacou a economia, e o lema advertiu que o dinheiro não pode usurpar o lugar de Deus.

Agora entramos na Semana Santa. Poderia parecer que é hora de esquecer o dinheiro e pensar só em Cristo. Mas para nossa surpresa, em cada dia da semana, o dinheiro comparece, mostrando como ele pode ser usado com intenções bem diferentes.

A liturgia da segunda-feira traz a narrativa do óleo derramado sobre os pés de Jesus, por Maria, que os enxugava com seus cabelos. Maria, irmã de Lázaro, enternecida de amor e de gratidão por seu Mestre. Judas, frio e calculista, fazendo suas contas, cotando o desperdício em trezentos denários. Instado, o Mestre toma posição e acrescenta ao amor de Maria um preço ainda maior para o óleo que ela tinha derramado: serviria para a Sua sepultura!

Na verdade, Jesus estava colocando critérios para o uso de dinheiro. Depende das causas a serviço das quais ele é posto. Daí ele adquire o seu verdadeiro valor.

Na terça-feira o Evangelho descreve Judas, partindo para a traição, amparado nas aparências das boas intenções do seu ofício. Pensavam que ele fosse comprar alguma coisa para a festa ou dar alguma coisa para os pobres. Na verdade, com os olhos fixos no dinheiro que lhe fora prometido, partia resoluto para a traição.

De novo, a destinação [do dinheiro] faz a diferença. Se o dinheiro serve para a festa da vida ou para a ajuda aos pobres, ele é abençoado. Se usado para trair inocentes, ele vira perverso.

Quantos ainda hoje se valem das boas aparências das administrações, ou do seu ofício, para desviar dinheiro e impedir que ele seja colocado a serviço da vida.

Na quarta-feira o Evangelho mostra Judas negociando a traição. Acertou o preço em trinta moedas. Entenderam-se no valor da traição. Mas ignoraram o valor da vida, que não tem preço e que estava sendo sacrificada em nome do dinheiro.

Na quinta-feira a liturgia destaca o contraste entre o amor total de Cristo e a fria traição de Judas. O Evangelho observa que o demônio já tinha seduzido Judas e suas ações eram inexoráveis.

A fidelidade ao contrato de trinta moedas eximia Judas da fidelidade ao amor gratuito do Mestre.

Quando na economia se instala o demônio da exploração, ela adquire uma lógica perversa sacrificando vidas humanas em nome da inexorabilidade de suas leis.

Na Sexta-feira Santa, no final do solene relato da Paixão do Senhor, comparecem, quem sabe tardiamente, Nicodemos e José de Arimatéia, homens de posses, trazendo uma quantia muito grande de perfumes, para ungir o Corpo do Senhor morto. Se tivessem, em tempo, pago um advogado, ao menos para apontar as inúmeras irregularidades jurídicas do processo sumário contra Cristo, talvez o dinheiro deles teria valido mais. Quantas vezes o dinheiro acumulado perde oportunidade de estar a serviço da vida.

No Sábado Santo a liturgia se detém ao redor do túmulo, onde fora depositado o Senhor. Era um túmulo emprestado, provisório, destinado a testemunhar que o Corpo nele depositado sairia de lá ressuscitado, para mostrar que a vida tem muito mais força do que a morte, quando impregnada do mesmo espírito que levara Jesus a morrer por nosso amor. Assim deveriam ser os empréstimos, para permitir que as pessoas saiam depressa da dependência que as explora. E não serem túmulos definitivos, de onde os pobres nunca mais conseguem sair.

O Domingo de Páscoa mostra o túmulo vazio, mas os corações cheios de alegria. Em vestes simples de jardineiro, ou de viandante, com um pouco de pão, Jesus restituiu a felicidade inaudita a quem tinha mergulhado na tristeza incomensurável. Com poucos recursos, mas com muito amor, é possível descobrir a verdadeira felicidade da vida e a esperança na futura ressurreição.

Assim, em cada dia da Semana Santa, poderíamos nos deter na reflexão que o Evangelho nos sugere. Associada à Páscoa, esta campanha refaz o caminho de Emaús, no qual podemos descobrir que o Senhor Ressuscitado caminha conosco e se revela nos gestos de nossa partilha fraterna.

19/04/2011

Semana Santa dias de grandes riquezas


Estes dias que rememoram e celebram a Paixão e Mor

Estes dias que rememoram e celebram a Paixão e Morte de Cristo são de uma extraordinária riqueza. Para usufruí-la convenientemente, faz-se mister uma reflexão sobre as lições que nos advêm do sofrimento redentor. O Concílio Vaticano II, no documento “Gaudium et Spes” (nºs 37 e 38) contém valiosas considerações sobre a vida corrompida pelo pecado e elevada à perfeição no mistério pascal.

Todos os males que nos afligem tiveram início com o mau uso da liberdade: “perturbada a hierarquia de valores e misturando-se o bem com o mal, indivíduos e grupos amiúde olham somente os próprios interesses e não os dos outros” (nº 37). Em conseqüência, a fraternidade é violentamente atingida pelo egoísmo, que se faz presente em toda a atividade humana. A única solução é purificá-la pela Cruz e Ressurreição de Cristo, aliás indicada nos episódios celebrados na Semana Santa: Sofrendo a morte por todos nós, pecadores, ensina-nos com o seu exemplo, que deve ser também carregada a cruz colocada pela carne e pelo mundo sobre os ombros daqueles que procuram a paz e a justiça (nº 38), isto é, todos nós que não nos conformamos com o clima reinante em vários setores da sociedade.

A Semana Santa nos confronta com a Paixão e Morte de Jesus, o Inocente. E nos questiona sobre o sentido do sofrimento. Este é uma condição inelutável de cada ser humano, pecador ou não. Trata-se de um componente do nosso ser, ou, ao menos, uma permanente ameaça. A fé cristã não permite uma atitude de simples conformismo passivo, como se fosse resultado de um determinismo trágico. Devemos recordar que Deus colocou sua criatura no mundo para dominá-lo. Portanto, sem diminuir em nada o valor salvífico da dor, o ensinamento de Jesus nos encaminha para o grave dever de minorar o sofrimento, nosso e de nossos irmãos. Jamais o cristão deve cruzar os braços diante o padecimento físico e psíquico.

Jesus exige que aliviemos nosso semelhante, de modo particular o desamparado ou desprotegido: O que tiverdes feito ao mais pequenino é a mim que o fizestes” (Mt 25,40).Portanto, o discípulo de Cristo não sofre meramente por sofrer. Ele crê no extraordinário significado, na riqueza que nasce da Redenção, em união aos padecimentos de Cristo. Na ignomínia da Cruz, Cristo morreu em favor dos pecadores, transformou em vitória definitiva e glória eterna o que, aos olhos do mundo, parecia uma derrota.

A Sagrada Escritura nos fala de misteriosa relação entre o sofrer do cristão e a Paixão salvadora de Jesus. Diz São Paulo (2 Cor 4,11): “Com efeito, embora nós vivamos, somos sempre entregues à morte, por causa de Jesus, a fim de que, também a vida de Jesus, seja manifestada em nossa carne mortal”. E aos Romanos, escreve (8,17): “Se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, pois sofremos com Ele para também com Ele sermos glorificados”. Esta conclusão é princípio fundamental da vida cristã.

Pelo batismo nascemos em Cristo e, pela fé, vivemos com Cristo. Há um íntimo vínculo com nosso Redentor, tanto na ignomínia do Madeiro como no esplendor da Ressurreição. Ele nos convida a “vestirmos sua identidade”. É São Paulo que nos ensina (Gl 3,27): Todos vós que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo”. A Semana Santa se apresenta como uma excelente oportunidade de aprofundarmos estas verdades, de modo particular participando das cerimônias sacras e meditando as conseqüências dessa doutrina. Assim, os critérios velhos de um mundo pecador devem ser abandonados. E paulatinamente assumida a transformação do homem novo, que é moldado pelo Cristo morto e gloriosamente ressuscitado.

Em contraste com essa realidade que nos é oferecida por Jesus, o que vemos é o Senhor, cada dia, sendo crucificado nos comportamentos opostos à sua doutrina. Pessoas que não receberam ou rejeitaram o dom da fé, advogam posições fortemente divergentes à mensagem cristã. Às vezes, raiam à insensatez! Sim, são propostas, projetos de lei apresentados ou defendidos, decisões tomadas que ferem ou deturpam com falsas interpretações a mensagem salvífica de Cristo. Fazem refletir nas palavras do alto da Cruz: Eles não sabem o que dizem, o que fazem!” (Lc 23,34).

O mundo de hoje vive em um contraste radical com uma visão cristã. O bem estar, certamente um grande valor para o indivíduo e a sociedade, torna-se cada vez mais o princípio determinante para tudo: a moral, a política e o comportamento, mais e mais pervertidos, por quem vive distanciado de Deus. Felicidade momentânea e passageira não pode ser fim último da ética humana. Para quem não possui uma perspectiva de eternidade é óbvio que o gozo facilmente se torna norma de agir. De tal modo avassalador é esse procedimento formador da opinião pública, que parte do povo aceita como critério principal de vida: o comportamento malsão, prazer, o lucro, a vantagem.

O sofrimento de Cristo não foi apenas um acidente de percurso, mas faz parte de um plano divino para salvar a Humanidade. Por seus valores devemos orientar a nossa existência. No hedonismo, tudo pára no egoísmo, tudo se esgota e cai no abismo do absurdo, do nada. Não guardemos destas palavras um travo de pessimismo. Ao lado dos escravos da droga, há uma multidão de fiéis a Cristo. Convivendo na mesma cidade com os que atacam a Igreja, tripudiando sobre suas falhas humanas, verdadeiras ou caluniosas, há uma multidão inumerável de servidores de Cristo e sua Igreja. Eles, mesmo no silêncio, glorificam o Senhor.

Por isso, sempre após a tragédia no Calvário brilhará a glória da sepultura aberta, a Ressurreição de Jesus. E Ele, somente Ele e seus servidores, cantarão a vitória final, definitiva!

18/04/2011

Viver a Semana Santa


Nós queremos acompanhar os passos de Cristo

Semana Santa, tempo da misericórdia do Pai, da ternura do Filho e do amor do Espírito Santo.

Esta semana chama-se Santa porque nos introduz diretamente no mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Cada um desses acontecimentos tem um conteúdo eminentemente profético e salvífico.

O fiel cristão – verdadeiramente apaixonado por Jesus Cristo – não pode deixar de acompanhar ativamente a Liturgia da Semana Santa. Infelizmente, a maioria dos católicos tem outras preferências na semana mais santa do ano. Não são capazes de “vigiar e orar” uma só hora com Jesus (cf. Mc 14, 37-38).

Nós queremos acompanhar os passos de Cristo e sentir de perto o que vai acontecer a nosso melhor Amigo e Salvador, procurando sentir o que Jesus sentia em seu coração ao se aproximar a Hora decisiva de glorificar o Pai. Ele viveu esses dias com mansidão e serenidade na presença do Pai. Seu coração estava inundado por uma imensa ternura para com todos os filhos e filhas de Deus dispersos.

Mostremo-nos, pois, solidários a Jesus. Passemos esta última semana de sua vida terrena com Ele, num último gesto de amor e amizade, recolhidos em oração fervorosa e contemplação profunda, de modo que a Páscoa do Senhor seja um dia verdadeiramente “novo” para nós.

Ao participarmos da bênção e procissão de ramos, queremos homenagear a Cristo e proclamar publicamente a sua Divina Realeza.

No Evangelho lido na Segunda-feira Santa, contemplamos Maria de Betânia ungindo os pés do Mestre com o perfume do amor e da gratidão. Na Terça-feira, Cristo revela o que se passa no coração de Judas Iscariotes. Na Quarta-feira, Mateus relata Cristo celebrando com os Apóstolos a festa da Páscoa judia e a traição de Judas.

Na Quinta-feira Santa, pela manhã, é celebrada a Missa Crismal. Esta celebração, que o Bispo concelebra com o seu presbitério e dentro da qual consagra o santo crisma e benze os óleos usados no Batismo e na unção dos enfermos, é a manifestação da comunhão dos presbíteros com o seu Bispo.

No período vespertino, inicia-se o Tríduo Sacro. Com a celebração da Missa da Ceia do Senhor (cerimônia do Lava-pés), recordamos a instituição da Eucaristia e do sacerdócio católico, bem como o mandamento do amor com que Cristo nos amou até o fim (cf. Jo 13, 1).

A Sexta-feira Santa é o grande dia de luto para a Igreja. Não há Santa Missa, mas celebração da Paixão do Senhor que consta de três partes: liturgia da Palavra, adoração da Cruz e sagrada Comunhão. Vivamos este dia em clima de silêncio e de extrema gratidão, contemplando a morte de Jesus na cruz por nosso amor.

O Sábado Santo é dia de oração silenciosa e de profunda contemplação junto ao túmulo de Jesus. São horas de solidão e de saudade... É ocasião para acompanharmos Nossa Senhora da Soledade e as santas mulheres junto ao túmulo de Jesus, sentindo com elas a medida do amor que Cristo suscita nos corações que O conhecem de perto.

A Vigília Pascal, “a mãe de todas as vigílias”, na qual a Igreja espera, velando, a Ressurreição de Cristo, compõe-se da liturgia da Luz, da liturgia da Palavra, da liturgia Batismal e da liturgia Eucarística.

A participação no Mistério redentor de Cristo leva-nos a ser – no mundo descrente – testemunhas autênticas da Ressurreição de Cristo. Não podemos retardar o anúncio da ressurreição. Que a alegria de Cristo ressuscitado penetre nosso ser, domine nosso pensamento, tome conta de nossos sentimentos e ações. Precisamos de gente que tenha feito experiência da ressurreição. Existe uma única prova de que Cristo tenha ressuscitado: que as pessoas vivam a Sua vida e se amem com o amor com que Ele nos ama...

Guiados pela luz do círio pascal, e ressuscitados para uma vida nova de fé, esperança e amor, sejamos testemunhas vivas da Ressurreição do Senhor Jesus.

Que a Mãe do Ressuscitado nos aponte o caminho para Jesus Cristo, nosso único Salvador.

15/04/2011

O peso de uma realização


Quando a esposa não deseja assumir uma ocupação profissional
O papel dos cônjuges no casamento está em dividir as responsabilidades. Até pouco tempo, parecia convencionado que era função do marido suprir as necessidades financeiras do lar, e à esposa cabia a administração da casa.
Já há algumas décadas, com a participação da esposa no orçamento doméstico, os papéis entre marido e mulher se misturaram na intenção de prover o conforto familiar. As questões financeiras, dentro da vida conjugal, sempre serão um fator estressante, especialmente, quando os rendimentos não suprem as despesas necessárias para a manutenção da casa.
Sabemos que todo rendimento adicional, para a família, faz com que os planos e sonhos do casal se realizem mais rapidamente, melhorando o estilo de vida, entre outras coisas. Acredito, ainda, que a vantagem para todos aqueles que estão envolvidos em outras esferas sociais, além do ambiente familiar, está numa maior integração social. Com isso, expande-se o círculo de amizades, tornam-se mais informados a respeito dos acontecimentos e, consequentemente, ganha-se na elevação da autoestima.
Apesar de o trabalho trazer para todos a oportunidade da realização profissional, para as esposas, essa proposta vem acompanhada de um peso adicional. A mulher que trabalha fora vive algumas dificuldades, dentre as quais podemos mencionar o estresse em função das jornadas múltiplas que acontecem entre o trabalho, a casa, o marido, além da preocupação em deixar as crianças com babás ou com algum parente próximo.
Por necessidade ou por uma questão de realização profissional, a compensação para as esposas que ingressam no mercado de trabalho está na segurança financeira, na sensação de cooperarem efetivamente para a concretização de um projeto de vida, além da autonomia de adquirirem um objeto ou um bem importante de consumo, entre outras coisas. Para alguns casais, no entanto, essa questão gera um impasse quando o marido deseja que a esposa volte ao mercado de trabalho e ela, por sua vez, não se sente impulsionada a isso.
Algumas esposas se sentem realizadas em seus afazeres domésticos, mesmo entendendo que a jornada em casa, quase sempre, extrapola as 8 horas diárias de trabalho. Por isso, relutam em acolher a proposta de se desvincularem de sua rotina. Outras se sentem inferiorizadas em voltar ao mercado de trabalho por terem interrompido os estudos prematuramente ou por estarem há muito tempo fora do mercado de trabalho. Dessa maneira, reviver a experiência de uma ocupação profissional, a qual, anteriormente, foi tão comum, será tão desafiante quanto foi para elas conseguirem o primeiro emprego.
Antes que o marido faça de sua vontade uma atitude imperativa, seria importante destacar, em conjunto com a esposa, as razões pelas quais ele acredita ser necessária a contribuição dela no orçamento doméstico. Longe de qualquer imposição, o marido passaria a conhecer as razões pelas quais a esposa não manifesta interesse em assumir uma ocupação profissional. Nessa conversa, será importante, para ambos, apontar os benefícios e as desvantagens sobre a possibilidade da mulher deixar as ocupações domésticas. Pois, com a saída da esposa para o mercado de trabalho, outras despesas certamente surgirão, visto que alguém precisará realizar os trabalhos, antes feitos por ela.
Sem hesitação e sem qualquer troca de acusações sobre quem gasta de maneira exagerada, o casal deve conversar sobre os benefícios que a família passaria a ter com a força do trabalho da esposa. E o caminho que pode facilitar o entendimento sobre a realidade econômica familiar seria, por exemplo, com a participação dela na elaboração da planilha de orçamentos domésticos.
Uma vez conhecidos os motivos da resistência da esposa ao retorno ao mercado de trabalho, o casal precisa encontrar um meio de contornar esse impasse, para que as possíveis providências sejam tomadas e uma nova proposta seja aceita com maior tranquilidade, adequada para a realidade dos cônjuges.

14/04/2011

As ameaças contra a família!

A mentalidade consumista e antinatalista é uma ameaça

No Sínodo dos Bispos, em 1980, sobre a família, os Bispos apontaram os pontos mais preocupantes: "A proliferação do divórcio e do recurso a uma nova união por parte dos mesmos fiéis; a aceitação do matrimônio meramente civil, em contradição com a vocação dos batizados 'a casarem-se no Senhor' (1 Cor7, 39), a celebração do matrimônio sem uma fé viva, mas por outros motivos; a recusa das normas morais que guiam e promovem o exercício humano e cristão da sexualidade no matrimônio" (Familiaris Consórtio,7).

Na Carta às Famílias, escrita em 1994, no Ano da Família, o Papa João Paulo II afirmou:

"Nos nossos dias, infelizmente, vários programas sustentados por meios muito poderosos parecem apostados na desagregação da família. Muitas vezes até parece que se procura, de todas as formas possíveis, apresentar como 'regulares' e atraentes, conferindo-lhes externas aparências de fascínio, situações que, de fato, são 'irregulares' [...]. Fica obscurecida a consciência moral, aparece deformado o que é verdadeiro, bom e belo, e a liberdade acaba suplantada por uma verdadeira e própria escravidão" (CF, 5).

Mostrando que a mentalidade consumista e antinatalista é uma ameaça à família, o saudoso Pontífice declara:

"(...) uma civilização, inspirada numa mentalidade consumista e antinatalista, não é uma civilização do amor e nem o poderá ser nunca. (FC 13).

Mostrando os riscos que o "amor livre" e o "sexo seguro" representam hoje para a família, o Santo Padre adverte:

"O chamado 'sexo seguro', propagandeado pela civilização técnica, na realidade é, sob o perfil das exigências globais da pessoa, 'radicalmente não seguro', e mais, gravemente perigoso.

"Sem dúvida, contrário à civilização do amor é o chamado 'amor livre', tanto mais perigoso por ser habitualmente proposto como fruto de um sentimento 'verdadeiro', quando, efetivamente destrói o amor. Quantas famílias foram levadas à ruína precisamente por causa do 'amor livre! [...]. Mas não se tomam em consideração todas as consequências que daí derivam, especialmente, quando além do cônjuge, devem pagá-los os filhos, privados do pai ou da mãe e condenados a serem, de fato, 'órfãos de pais vivos' " (CF, 14).

Quando, em 1994, justo no Ano da Família (pasmem!), o Parlamento Europeu, tristemente, reconheceu a validade jurídica dos matrimônios entre homossexuais, até admitindo a adoção de crianças por eles, João Paulo II reagiu de maneira forte e imediata:

"Não é moralmente admissível a aprovação jurídica da prática homossexual. Ser compreensivos para com quem peca, e para com quem não é capaz de libertar-se desta tendência, não significa abdicar das exigências da norma moral [...]. Não há dúvida de que estamos diante de uma grande e terrível tentação" (20/02/94).

O pior problema, hoje, das famílias desestruturadas, não é de ordem financeira, mas moral. Quando os pais têm caráter, fé, ou como o povo diz: "tem vergonha na cara", por mais pobre que seja, será capaz de impedir a destruição do seu lar. São inúmeros os casais pobres, mas que com uma vida honesta, de trabalho e honradez, educaram muitos filhos e formaram bons cristãos e honestos cidadãos.

Não consigo aceitar a desculpa de um pai ao afirmar que a sua família se destruiu por causa da sua pobreza. Sempre haverá alguém com o coração aberto para ajudar um pai trabalhador, especialmente quando este tem filhos para criar.

Na Exortação Apostólica Familiaris Consórtio (Sobre a Família), o Papa João Paulo II apontou os graves perigos que ameaçam hoje a família:

"Não faltam sinais de degradação preocupante de alguns valores fundamentais: uma errada concepção teórica e prática da independência dos cônjuges entre si; as graves ambiguidades acerca da relação de autoridade entre pais e filhos [...]. O número crescente dos divórcios; a praga do aborto; o recurso cada vez mais frequente à esterilização; a instauração de uma verdadeira e própria mentalidade contraceptiva" (FC, 6).

A Declaração do Rio de Janeiro sobre a Família, que traz as conclusões do Congresso Teológico-Pastoral, realizado em 3 de outubro, denunciou:

"A família está sob a mira de ataque em muitas nações. Uma ideologia antifamília tem sido promovida por organizações e indivíduos que, muitas vezes, não obedecem a princípios democráticos" (1.1).

"Temos testemunhado uma guerra contra a família, em nível tanto nacional quanto internacional. Nesta década, em Conferências das Nações Unidas, têm sido vistas tentativas para 'desconstruir' a família, de forma que o sentido de 'casamento', 'família' e 'maternidade' é agora contestado. Tem sido estabelecida uma falsa posição entre os direitos da família e os de seus membros individuais. Sob o nome de liberdade, têm sido promovidos 'direitos sexuais' espúrios e 'direitos de reprodução'. Entretanto, estes direitos estão, de fato, principalmente, a serviço do controle populacional. São inspiradas em teorias científicas em descrédito, num feminismo ultrapassado e numa mal direcionada preocupação com o meio ambiente" (1.2).

"Uma linha social-materialista, ao lado do egoísmo e da responsabilidade, contribui para a dissolução da família, deixando uma multidão de vítimas indefesas. A família está sofrendo com a desvalorização do casamento através do divórcio, da deserção e da coabitação [...]. Tanto a violência contra as mulheres aumenta, como a violência do aborto; o infanticídio e a eutanásia calam fundo no coração da família. Na verdade, as famílias de hoje estão ameaçadas por uma sub-reptícia cultura da morte" (1.4).

"A dissolução da família é uma das maiores causas da pobreza em muitas sociedades [...]" (1.5).

"A família é o 'santuário da vida'. Seu compromisso com a proteção e a nutrição da vida, desde o momento da concepção, é preenchido verdadeiramente com a paternidade responsável" (3.3).

Esses alertas do Papa e do Congresso Teológico são seríssimos e devem colocar cada cristão em prontidão para uma verdadeira cruzada em defesa da família, ameaçada até pela ONU!