Isolamento, mudanças comportamentais e apatia podem indicar risco
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De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, 800 mil pessoas tiram a própria vida a cada ano. Entre os que tentam o suicídio, os números são ainda mais alarmantes. Apesar de ser considerado um problema de saúde pública, o silêncio em torno do suicídio é grande. Por medo, desconhecimento ou tabu, muitas pessoas ainda evitam tocar no assunto, o que dificulta a oferta de ajuda e informação àqueles que mais precisam.
Porém, falar abertamente sobre o tema e identificar sinais de alerta são a melhor forma de desestigmatizar e prevenir o suicídio. E ao contrário do que muitos acreditam, como explica o psiquiatra José Paulo Fiks, professor e pesquisador do PROVE (Serviço de Assistência e Pesquisa em Violência e Estresse Pós-Traumático, abordar o suicídio não é um estímulo àqueles que têm algum tipo de pensamento ou ideação do tipo.
"O suicídio ainda é um grande tabu, tanto para quem sofre por esse pensamento quanto para amigos e entes queridos, que percebem a ideação suicida e nada conseguem fazer para amenizá-la. Assim, o silêncio impera. É comum pensarmos que falar sobre suicídio pode estimular o ato propriamente, mas não é o caso. É necessária uma escuta apropriada e acolhedora", explica o especialista.
Nessas horas, também é importante lembrar que o suicídio não é um fato isolado: a perda é capaz de afetar familiares, amigos próximos, companheiros e todos os demais que conviviam ou conheciam a pessoa em questão. Por isso, não se trata de um problema restrito a quem cogita e tenta o suicídio, mas um fenômeno complexo e multifacetado, capaz de impactar a sociedade como um todo.
Quem está mais em risco?
Existem diferentes fatores de risco para o suicídio, que podem variar de acordo com o histórico do indivíduo, contexto social, diagnóstico de transtorno mental, dependência química, doenças físicas, condições crônicas e outros. Aprender a reconhecê-los, sem minimizar ou menosprezar a angústia alheia, é o primeiro passo para entender os gatilhos da ideação suicida e prevenir o acontecimento.
"O suicídio é mais frequente em portadores de transtornos mentais. Depressão e transtornos de personalidade fazem o grupo de maior risco. Mas o maior agravante é ter tentado suicídio anteriormente. É o grupo mais vulnerável para tentar novamente", explica o psiquiatra José Paulo Fiks. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, estima-se que 50% daqueles que se suicidaram já haviam tentado o suicídio previamente.
Outros fatores de risco para o suicídio que merecem destaque são: desesperança, desespero, desamparo e impulsividade; idade; gênero; eventos adversos na infância e na adolescência; história familiar e genética; e solidão. Por meio de uma avaliação clínica periódica, é possível identificar o risco do suicídio e fazer o devido manejo desse paciente, orientando a melhor alternativa de tratamento para ele.
Sinais de alerta do suicídio
Apesar de ser um fenômeno silencioso, é possível reconhecer alguns sinais de alerta do comportamento suicida, o que é fundamental para a prevenção do ato drástico e impulsivo. Vale reforçar que aqueles que revelam o desejo de tirar a própria vida estão, na maior parte das vezes, falando a verdade, e não só tentando chamar a atenção ou blefando. São pessoas com pensamentos ambivalentes, que têm um forte desejo de viver e também de se livrar permanentemente da dor.
Os principais sinais do comportamento suicida, de acordo com o psiquiatra José Paulo Fiks e o Manual de Prevenção ao Suicídio da Organização Mundial da Saúde, são:
- Comportamento retraído
- Isolamento
- Alcoolismo
- Mau desempenho no trabalho, estudos e vida, em geral
- Olhar distante e dificuldade em manter contato
- Mudança na personalidade, irritabilidade, pessimismo ou apatia
- Mudança no hábito alimentar e na rotina de sono
- Sentimento intenso de culpa ou vergonha
- Cartas de despedida
- Menção repetida de morte ou suicídio
- Frases como: 'seria melhor não acordar amanhã', 'a vida não vale a pena', 'os outros vão ser mais felizes sem mim', 'eu sou um perdedor e um peso para os outros', 'eu não aguento mais' e outras
Buscando e oferecendo ajuda
Ao perceber qualquer um dos sinais descritos acima, bem como os fatores de risco, é importante ficar alerta e acolher aquele que enxerga no suicídio o único caminho para se livrar da dor e angústia de viver. Oferecer ajuda é algo simples, nesse primeiro momento; basta se mostrar disponível e livre de julgamentos, sem desprezar o sofrimento de quem pensa em suicídio ou fazer aquele problema parecer trivial, sem importância.
"Pessoas próximas devem acolher, antes de tudo. E isso pode ser uma tarefa muito mais tranquila do que parece. Explicar que o pensamento suicida pode ser causado por uma doença mental, que tem tratamento, é um bom começo. Também é importante não julgar, não tentar oferecer esperanças falsas e não amenizar o sofrimento com frases motivacionais que nunca trazem alívio", orienta José Paulo Fiks.
Se alguém próximo revelar a intenção de tirar a própria vida, o primeiro cuidado, segundo o psiquiatra, é não entrar em pânico e não deixá-la sozinha. Tente se manter calmo, mostrar empatia e, acima de tudo, ouvir o que a pessoa tem a dizer. Ajude-a a explorar outras alternativas, que não o suicídio, e identifique formas de criar uma rede de apoio, com ajuda especializada de um psicólogo e/ou psiquiatra.
"A escuta e o estímulo para a fala são importantes: a teoria da comunicação ensina que falamos para tentar confirmar ou modificar nossas ideias. O suicida geralmente foge disto. Ele tem certeza que a morte é a solução para seu mal-estar. Neste aspecto, um estímulo para a fala e escuta do suicida podem dar luz para ele, mas com a orientação de um profissional treinado", reforça.
Fonte: Minha Vida
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