Saiba o que fazer para não abortar seu filho
Em minha vida de padre, sobretudo de professor de bioética (por isso
muitas situações que envolvem aborto vieram até mim), deparei-me com
vários casos de mulheres que, estando grávidas, com consciência moral
cristã, por várias circunstâncias eram “forçadas” a buscar pelo aborto.
Dentre os motivos apresentados para pensar nessa possibilidade, um deles
é a não condição de criar um filho: “Não quero abortar, mas não tenho
condições de criar um filho”.
Procuram-me aquelas mães que, diante da gravidez e da falta de
condições para criar um filho, sofrem a angústia da dúvida. Um detalhe
que me preocupa é que, raramente, elas vêm acompanhadas por seus
parceiros ou algum parente. Trata-se de um problema real e grave, que
afeta a vida de milhares de mulheres que vivem o drama entre o aborto, a
consciência moral e a criação do filho. Em muitas situações, a mãe tem
consciência da moralidade do ato de abortar, estão grávidas e, por isso,
já vivem o dom da maternidade; porém, vivem o medo da incapacidade,
seja por motivos econômicos, afetivos ou sociais para criar o filho.
Minha experiência fez-me conhecer bem os condicionamentos que levaram
muitas mulheres a tomar a decisão de abortar. Sei que é um drama
existencial e moral. Encontrei muitas mulheres que traziam no seu
coração a cicatriz causada por essa angústia sofrida e dolorosa.
Em uma mulher com convicções normais, seja com fé ou sem fé, a
decisão de abortar é um processo complicado e doloroso. Existe uma
tendência natural nas mulheres de continuar a maternidade começada com a
concepção do novo indivíduo. A decisão de abortar pode gerar uma crise
por diversos fatores externos e/ou internos, que conflitam o psicológico
da mulher, como o peso que ela vê na criação do filho, especialmente se
já tem outros filhos. Essa situação pode desembocar em um autêntico
conflito interior enfrentado pela mulher com a necessidade de tomar uma
decisão.
Se necessitar de conselho, o que lhe darão, em grande parte dos
casos, a empurrará ao aborto, especialmente se, em seu caso, a lei
civil o ampara, a medicina o garante e para a sociedade é indiferente.
O acompanhamento de mulheres nessa situação é uma arte a favor do bem
e da vida. É assegurar para a mãe que o bebê é um dom de Deus, um sinal
da providência, e que nunca deverá ser visto como um problema a mais na
vida dela. O feto é um ser humano, igual a qualquer um de nós, e parte
integral da comunidade humana, que tem dignidade. Agora, a destruição de
uma vida humana não é solução para o que, basicamente, é um problema
econômico e social. Consiste em ajudar essa mãe a perceber que nunca
estará sozinha, a ser corajosa na decisão de não abortar.
Todas as experiências abortivas são automaticamente “estressantes” e
angustiantes; e o que a mulher pensa ser a solução para um problema, no
caso a situação econômica, acaba se tornando outro problema maior ainda:
encarar a realidade da consciência de, um dia, ter provocado um aborto e
que aquele filho poderia estar com ela na luta pela vida. O aborto de
um filho nunca poderá ser olhado como solução para um problema social.
O aborto não é definitivamente uma “solução fácil” de um grave
problema, mas um ato agressivo, que terá repercussões contínuas na vida
da mulher; e é nesse sentido que ela é vítima da sua própria decisão. A
maioria das mulheres que conheci, e que se submeteram a abortos, teriam
preferido outra solução para o problema.
Muitas mulheres praticam o aborto em uma situação desesperadora de
medo ou insegurança. Por mais “liberta” que a mulher esteja dos padrões
morais e religiosos, por mais consciente da impossibilidade de levar a
termo sua gestação, por mais indesejada que tenha sido a gravidez,
abortar é uma decisão que, na grande maioria das vezes, envolve angústia
e drama de consciência. Os fatos comprovam que o aborto não é uma
solução para dificuldades psicossociais, pelo contrário, após o aborto
persiste a crise e se acrescenta o risco de novas e mais graves
consequências psíquicas.
Algumas atitudes práticas para ajudar uma mulher a não abortar e
escolher a vida para o bebê é, primeiro, ter a mesma atitude de Jesus,
aproximar-se sem julgar ou condenar. Acolher a mãe em sua história,
angústia e conflito; demonstrar compaixão, sentir a dor daquela mãe,
demonstrar confiança. Ouvir a história da mulher que pensa em abortar,
porque ouvir é acolher, é respeitar e ter carinho. Procure saber como
ela está, deixe a pessoa falar. Para ajudar é preciso ouvir; e foi dessa
forma que Jesus agiu com os discípulos de Emaús, primeiro os escutou.
Deixe a mãe contar o que está acontecendo, quais as razões que levam
essa mulher a pensar em abortar. Por que ela pensa que o aborto vai
solucionar o problema?
O apoio afetivo é muito importante. A mulher precisa perceber que não
está sozinha. É preciso manifestar solidariedade para com ela. A mulher
precisa perceber que alguém se importa com ela e está disposto em
ajudá-la. Mostre que ela é forte e capaz de superar aquele momento, que
ter um filho não é o fim do mundo; pelo contrário, é um dom de Deus, é
uma notícia a ser celebrada com alegria. As tribulações passam, as
crises se superam, mas para o aborto não existe volta, e ele pode marcar
a vida da mulher para sempre. O filho que ela espera é uma vida a ser
acolhida e cuidada. Nesse momento, uma amizade sincera e verdadeira é
muito importante. Converse um pouco sobre o aborto, suas consequências e
sequelas.
Busque exemplo nas mães que enfrentaram os dissabores da gravidez
inesperada e hoje estão felizes, com paz de consciência por terem feito a
opção de não abortar.
Para certas situações, não bastam somente palavras, é preciso ter
propostas concretas. Busque, em sua cidade e comunidade, formas de
ajudar essa mulher que pensa no aborto. Ela pode estar precisando de
ajuda médica, material, psicológica e espiritual. De imediato, você pode
não saber onde encontrar esses serviços, mas se prontifique a procurar e
entrar em contato com ela o mais rápido possível.
O drama pessoal pelo qual passa a gestante não pode ser superado com a
eliminação do mais “fraco”, “não se pode tentar resolver o que é
dramático com o trágico! No dramático existe a possibilidade de uma
positividade, no trágico só a destruição”. A vida deve ser acolhida como
dom e compromisso. Como afirma o Papa Bento XVI, “o amor de Deus não
faz diferença entre o neoconcebido, ainda no seio de sua mãe, e a
criança, o jovem, o homem maduro ou o idoso. Não faz diferença, porque
em cada um deles vê a marca da própria imagem e semelhança” (cf. Gn
1,26).
“Tu modelaste as entranhas do meu ser e formaste-me no seio de minha
mãe. Dou-te graças por tão espantosas maravilhas; admiráveis são as tuas
obras. Conhecias até o fundo da minha alma”, como reza um Salmo (Sl 139
[138], 13-14), referindo-se à intervenção direta de Deus na criação de
cada novo ser humano.
Autora: Fernanda Soares Zapparoli
Fonte: Canção Nova