11/06/2013

É na família que tudo começa (ou termina?)

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Uma profunda reflexão sobre nossa responsabilidade
Um adolescente de 17 anos entra na casa do vizinho e mata um menino de seis anos. Dois dias depois, é preso juntamente com a namorada, de 19 anos, grávida de três meses, quando tentava fugir para outro Estado. Na entrevista que, em seguida, deu à imprensa, revelou que, quando chegou à casa da vítima, foi recebido com alegria pela criança: «Ela me ofereceu pão e maçã, dizendo que, se eu quisesse mais, podia entrar e pegar».

Uma mãe de 42 anos e seu filho de 20 contratam os serviços de um “matador de aluguel” para assassinar o marido e padrasto de 63 anos e ficar com os seus bens. Armando uma emboscada ao idoso, chamaram-no para conversar em local insuspeito e, quando aparece, é friamente assassinado pelo criminoso, que mal completou 17 anos.

Um adolescente de 15 anos mantém a “esposa” de 25 sob a ameaça de um facão durante varias horas. Chamada ao local, a polícia detém ambos: o rapaz por violência e a moça por desacato à autoridade.

Os três fatos aconteceram em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, mas poderiam ter ocorrido em qualquer outra cidade. O que impressiona – se é que ainda impressiona – é que, em todos eles, os protagonistas são adolescentes e os delitos se sucederam no espaço de três dias, de 4 a 6 de abril de 2013.

O que esperar de uma sociedade que, depois de escancarar as portas ao materialismo, ao permissivismo e ao relativismo finge se escandalizar com suas consequências e abarrota as prisões com jovens, cujo pecado foi seguir seus ensinamentos? Se querem extirpar ou diminuir a violência que se propaga entre eles, mais do que diminuir-lhes a maioridade penal é preciso investir na formação de sua consciência ética por meio da família. Foi o que lembrou a CNBB, em “nota” publicada, no dia 16 de maio: «O debate sobre a redução da maioridade penal, colocado em evidência mais uma vez pela comoção provocada por crimes bárbaros cometidos por adolescentes, conclama-nos a uma profunda reflexão sobre nossa responsabilidade no combate à violência, na promoção da cultura da vida e da paz, e no cuidado e proteção das novas gerações de nosso país.

A delinquência juvenil é, antes de tudo, um aviso de que o Estado, a sociedade e a família não têm cumprido adequadamente com seu dever. Criminalizar o adolescente com penalidades no âmbito carcerário seria maquiar a verdadeira causa do problema, desviando a atenção com respostas simplórias, inconsequentes e desastrosas para a sociedade».

É na família que se inicia a renovação ou a perdição da sociedade. Nesse sentido, só deveria casar – e, mais ainda, gerar filhos – quem está preparado e maduro para assumir os compromissos que o ato comporta. É o que tenta transmitir uma estória que, há poucos dias, recebi via internet. Em sua simplicidade, ela tem muito a ensinar.

Certo dia, a professora pediu aos alunos que fizessem uma redação, expressando um pedido que gostariam de fazer a Deus. Em casa, ao corrigir os trabalhos escolares, ela se deparou com um escrito que a deixou abalada. Entrando na sala e vendo-a soluçar, o marido perguntou: «O que aconteceu?». Como resposta, ela lhe repassou a oração que uma aluna redigira: «Senhor, transforma-me numa televisão! Quero ocupar o espaço dela. Ter um lugar especial para mim e reunir a família ao redor. Ser levada a sério quando falo. Quero ter a mesma atenção que ela recebe quando não funciona. Ter a companhia do meu pai quando chega em casa, apesar de cansado. Que minha mãe me procure quando estiver sozinha e aborrecida, em vez de me ignorar. Que meus irmãos “briguem” para estar comigo. Quero sentir que a minha família deixa tudo de lado para passar alguns momentos comigo». Ao ouvir a leitura, o marido exclamou: «Pobre dessa menina! Que família ela tem!». A professora baixou os olhos e sussurrou: «É nossa filha!».

A estória confirma o que escreveram, em 2007, os bispos latino-americanos em sua reunião de Aparecida: «Os meios de comunicação invadem todos os espaços, inclusive a intimidade do lar. A sabedoria das tradições vê-se obrigada a competir com a informação do último minuto, a distração e as imagens de “vencedores” que sabem usar a seu favor as ferramentas tecnológicas, levando as pessoas a buscarem, afoitamente, um sentido para a vida onde nunca poderão encontrá-lo».

Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo de Dourados (MS)
E-mail para contato: redovinorizzardo@gmail.com

Fonte: Canção Nova

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