19/01/2012

Amar não é fácil

Não se ama por ser fácil, ama-se porque é preciso!

Se amar fosse fácil, não haveria tanta gente amando mal, nem tanta gente mal-amada.
Se amar fosse fácil, não haveria tanta fome, nem tantas guerras, nem gente sem sobrenome.
Se amar fosse fácil, não haveria crianças nas ruas sem ter ninguém, nem haveria orfanatos, porque as famílias serenas adotariam mais filhos, nem filhos mal concebidos, nem esposas mal-amadas, nem mixês, nem prostitutas. E nunca ninguém negaria o que jurou num altar, nem haveria divórcio, nem desquite, jamais...

Se amar fosse tão fácil, não haveria assaltantes e as mulheres gestantes não tirariam seu feto, nem haveria assassinos, nem preços exorbitantes, nem os que ganham demais, nem os que ganham de menos.

Se amar fosse tão fácil nem soldados haveria, pois ninguém agrediria, no máximo ajudariam no combate ao cão feroz. Mas o amor é sentimento que depende de um 'eu quero', seguido de um 'eu espero'; e a vontade é rebelde, o homem, um egoísta que maximiza seu 'eu' por isso, o amor é difícil.

Jesus Cristo não brincava quando nos mandou amar. E quando morreu, amando, deu a suprema lição. Não se ama por ser fácil, ama-se porque é preciso!

Pe. José Fernandes de Oliveira - Pe. Zezinho, scj

18/01/2012

Nossos milagres de cada dia

De fé, de amor, de transformação, de vida cristã.

Existe uma ambiguidade que caracteriza aos sinais e milagres de Jesus Cristo. Por um lado, os Evangelhos estão cheios de milagres. O caminho de Jesus está marcado por acontecimentos prodigiosos: os cegos recobram a vista, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os mortos ressuscitam. Por outro lado, Cristo é reticente com os milagres. Multiplica os sinais, mas não pretende apresentar-se como taumaturgo. Vem para trazer a salvação, não para fazer milagres. Evita todo sensacionalismo, se nega decididamente ao espetacular.

Se miramos atentamente o Evangelho, podemos dizer que existem duas coisas que são capazes de Lhe arrancar milagres: a fé dos que pedem e a miséria dos homens.

1. A fé de quem pede. Um rosto que implora com fé é um espetáculo diante do qual Cristo não pode resistir. É Seu ponto "débil". Deixa escapar expressões de admiração: “Mulher, que grande é tua fé!” E não pode evitar realizar o milagre: “Faça-se segundo teus desejos...”

2. A miséria humana. Quando Jesus se encontra pelo caminho com a miséria, sente-se quase obrigado a regalar o milagre. Em muitos casos, nem sequer é necessário que formulem um pedido explícito. Basta a presença da dor, como por exemplo, as lágrimas de uma mãe que acompanha o sepulcro de seu único filho. E Cristo responde imediatamente. Não pode ver como os homens sofrem. Tratando-se de nós, há cristãos que querem ver milagres a todo custo.

Como se sua fé estivesse pendente, mais que da Palavra de Deus, dos milagres. Sua vida se desenvolve sob o signo do extraordinário, do excepcional, às vezes, até do extravagante. Não compreenderam que a fé é o que provoca o milagre. E não o contrário. Alteraram o procedimento de Jesus. No Evangelho aparece com claridade que o Senhor ressalta a liberdade, deixa a porta aberta, sem obrigar ninguém a entrar, sem golpes espetaculares. Ele é vencido só pela fé dos homens.

Mas existe também uma postura contrária, também fora de sintonia. São cristãos que têm medo, que quase se envergonham do milagre. Pretendem impedir que Deus seja Deus. Gostariam de aconselhar-Lhe que não é oportuno, que é melhor, para evitar complicações, deixar em paz o campo das leis físicas. Como se Deus estivesse obrigado a pedir-lhes conselho antes de manifestar Sua onipotência.

Esquecem que os milagres são a expressão da liberdade de Deus. Nossos milagres. Por cima destas atitudes diante dos milagres e sinais de Deus, está a obrigação precisa para todos nós: Cristo nos deixou a recomendação de fazer milagres. É o “sinal” de nossa fé. Mais ainda, havemos de “converter-nos” em milagres: Milagres de coerência, de fidelidade, de misericórdia, de generosidade, de compreensão.

Uma vez mais esta “geração perversa pede um sinal”. E tem direito de esperá-lo de nós, os que nos chamamos cristãos. Que sinal podemos oferecer-lhes? Que milagre podemos apresentar-lhes? Uma resposta ao mundo que nos rodeia. Nosso caminho passa por um mundo que tem fome, fome de pão e fome de amor. Um mundo enfermo de desilusões. Um mundo cego pela violência. Um mundo assolado pelo egoísmo.

Não podemos passar por esse caminho limitando-nos a contar aos demais os milagres de Jesus. Não podemos contar com seus milagres. Havemos de contar com os nossos.

O que buscam os homens deste mundo são nossos milagres de cada dia: nossos milagres de fé, de amor, de transformação, de vida cristã.

Padre Nicolás Schwizer
Movimento apostólico Shoenstatt

17/01/2012

O inacabado que há em mim


Quem não se ama não sabe amar ninguém

Eu me experimento inacabado. Da obra, o rascunho. Do gesto, o que não termina. Sou como o rio em processo de vir a ser. A confluência de outras águas e o encontro com filhos de outras nascentes o tornam outro. O rio é a mistura de pequenos encontros. Eu sou feito de águas, muitas águas. Também recebo afluentes e com eles me transformo.

O que sai de mim cada vez que amo? O que em mim acontece quando deparo com a dor que não é minha, mas que pela força do olhar que me fita vem morar em mim? Eu me transformo em outros? Eu vivo para saber. O que do outro recebo leva tempo para ser decifrado. O que sei é que a vida me afeta com seu poder de vivência. Empurra-me para reações inusitadas, tão cheias de sentidos ocultos. Cultivo em mim o acúmulo de muitos mundos.

Por vezes o cansaço me faz querer parar. Sensação de que já vivi mais do que meu coração suporta. Os encontros são muitos; as pessoas também. As chegadas e partidas se misturam e confundem o coração. É nessa hora em que me pego alimentando sonhos de cotidianos estreitos, previsíveis.

Mas quando me enxergo na perspectiva de selar o passaporte e cancelar as saídas, eis que me aproximo de uma tristeza infértil. Melhor mesmo é continuar na esperança de confluências futuras. Viver para sorver os novos rios que virão. Eu sou inacabado. Preciso continuar.

Se a mim for concedido o direito de pausas repositoras, então já anuncio que eu continuo na vida. A trama de minha criatividade depende deste contraste, deste inacabado que há em mim.

Um dia sou multidão; no outro sou solidão. Não quero ser multidão todo dia. Num dia experimento o frescor da amizade; no outro a febre que me faz querer ser só. Eu sou assim. Sem culpas.

Quem sou eu? Eu, visto pelo outro, nem sempre sou eu mesmo... Quem sou eu? Eu vivo para saber. Interessante descoberta que passa o tempo todo pela experiência de ser e estar no mundo. Eu sou e me descubro ainda mais no que faço. Faço e me descubro ainda mais no que sou. Partes que se complementam.

O interessante é que a matriz de tudo é o "ser". É nele que a vida brota como fonte original. O ser confuso, precário, esboço imperfeito de uma perfeição querida, desejada, amada.

De vez em quando, eu me vejo no que os outros dizem e acham sobre mim. Uma manchete de jornal, um comentário na internet ou até mesmo um e-mail que chega com o poder de confidenciar impressões. É interessante. Tudo é mecanismo de descoberta. Para afirmar o que sou, mas também para confirmar o que não sou.

Há coisas que leio sobre mim que iluminam ainda mais as minhas opções, sobretudo quando dizem o absolutamente contrário do que sei sobre mim mesmo. Reduções simplistas, frases apressadas que são próprias dos dias em que vivemos.

O mundo e suas complexidades. As pessoas e suas necessidades de notícias, fatos novos, pessoas que se prestam a ocupar os espaços vazios, metáforas de almas que não buscam transcendências, mas que se aprisionam na imanência tortuosa do cotidiano. Tudo é vida a nos provocar reações.

Eu reajo. Fico feliz com o carinho que recebo, vozes ocultas que não publico, e faço das afrontas um ponto de recomeço. É neste equilíbrio que vou desvelando o que sou e o que ainda devo ser, pela força do aprimoramento.

Eu, visto pelo outro, nem sempre sou eu mesmo. Ou porque sou projetado melhor do que sou ou porque projetado pior. Não quero nenhum dos dois. Eu sei quem eu sou. Os outros me imaginam. Inevitável destino de ser humano, de estabelecer vínculos, cruzar olhares, estender as mãos, encurtar distâncias.

Somos vítimas, mas também vitimamos. Não estamos fora dos preconceitos do mundo. Costumamos habitar a indesejada guarita de onde vigiamos a vida. Protegidos, lançamos nossos olhos curiosos sobre os que se aproximam, sobre os que se destacam, e instintivamente preparamos reações, opiniões. O desafio é não apontar as armas, mas permitir que a aproximação nos permita uma visão aprimorada. No aparente inimigo pode estar um amigo em potencial. Regra simples, mas aprendizado duro.

Mas ninguém nos prometeu que seria fácil. Quem quiser fazer diferença na história da humanidade terá que ser purificado nesse processo. Sigamos juntos. Mesmo que não nos conheçamos. Sigamos, mas sem imaginar muito o que o outro é. A realidade ainda é base sólida do ser.

Eu tomo posse daquilo que sou. Quem não se ama não sabe amar ninguém. Ser pessoa é, antes de tudo, ter consciência: "Eu sei quem sou eu. Tenho diante de mim minhas dificuldades, mas eu me aceito!" Conversão é tomar posse daquilo que se é. Por isso, Deus não pode trabalhar com uma pessoa mascarada, que não se aceita.

Não existe cristão se ele não se aceitar do jeito que é. Você é o que é, e a sua conversão passará por aquilo que você é!
Jesus quando viu Maria Madalena fez com que ela voltasse a ver aquilo que ela era, não uma prostituta, mas uma filha de Deus projetada por Ele; não aquilo que a sociedade criou.

Nós caímos muito nos artifícios que nos são apresentados. Nossa vida se ilumina por novidades e gostamos muito do estético. E seguimos aquilo que é diferença, não somos fãs da disciplina. Corremos atrás de coisas e duas semanas depois vemos que realmente aquilo não era tão bom como parecia.

Por que os artistas não permanecem muito tempo casados? É por causa disso. Querem respostas rápidas, românticas, buscam o brilho eterno e acabam desanimando. Então, o outro começa a decidir por nós e ficamos perdidos. Muitas pessoas, ora dão um testemunho de que acreditam em Deus, ora, passado um tempo depois, já dizem acreditar em Buda, depois em Maomé, e mais tarde na energia [cósmica]... Não ficam presas a nada.

Cuidado para não seguir somente as vaidades. Somos vaidosos, mas não podemos ser levados pela vaidade. Não invente um personagem, seja aquilo que você é. Seja autêntico, assim você provoca autenticidade nas pessoas a seu redor. Procure ser aquilo que Deus o fez. Se você está correndo atrás de porcaria cuidado para não acabar deixando de ser aquilo que Deus fez de você.

Deus acontece plenamente no nosso coração quando nós nos permitimos ser aquilo que somos. A nossa divindade só acontece na participação.

Não seja aquilo que dizem que você é. Parece estranho, mas não podemos dar aquilo que não temos. Se você não descobrir que você é sagrado, você não vai perceber a sacralidade que o outro é!

Quem não se ama não sabe amar ninguém. É uma pessoa ausente de si mesma. Os amores estragados que passaram minaram aquilo que ela era. Há pessoas que vemos que não têm amor-próprio; mas nós não temos o direito de perder esse amor.
Tome posse do que você é para depois dar-se ao outro.

Padre Fábio de Melo

16/01/2012

Desumanos julgamentos


Uma sociedade que julga a pessoa pelo que ela tem!

Infelizmente vivemos em uma sociedade que julga a pessoa pelo que ela tem! Se você nasce em um berço de ouro, você já é muito bem visto pela sociedade: “Olha lá! Fulano é filho de Dr. X!” Agora, se nascemos em um casebre, as frases são as seguintes: “Aquele lá! Coitado! Não tem onde cair morto!” Verdade ou mentira? Julgam-nos pelo que temos, não pelo que somos. Julgam-nos pela nossa origem! Quem nunca presenciou uma cena, como as que foram aqui descritas, algum dia na sua vida? Todos nós já presenciamos algo semelhante.

No tempo de Jesus não era diferente! Cristo, pelo que sabemos, veio de uma família humilde, que lutava no seu dia a dia para se sustentar! O Evangelho de hoje nos diz que José era carpinteiro: profissão simples! Aquelas pessoas conheciam a origem de Jesus Nazareno. Sabiam de onde Ele havia vindo! Sabiam quem eram o pai, a mãe e os parentes d'Ele. Sabiam a profissão de Seu pai. E por saberem que Jesus era de origem humilde, não podiam aceitar que Ele fosse um Profeta, ou melhor ainda: o Filho de Deus. A sabedoria de Jesus espantava aqueles judeus! Ao questionarem a origem de Jesus, era o mesmo que falar: “Aquele ali, que está pregando, é pobre! Coitadinho! Não tem onde cair morto! Trabalha hoje para comer amanhã! O pai dele é um coitado!”

Quem disse que quem nasceu pobre não pode se tornar alguém na vida? Onde está escrito isso? Não é a nossa condição social que traça o nosso destino! Somos nós quem construímos a nossa história! Quantas pessoas que nós conhecemos que não tinham nada e hoje estão bem na vida! Lutaram, cresceram, mudaram a sua história. Jesus nasceu num lar pobre. Mas ser pobre não é sinônimo de burrice! Ele foi educado com amor, com paciência, com compreensão! Cresceu cercado de amor. Era Filho de Deus. Mas teve que aprender a falar, a andar, a trabalhar...

Não podemos nos deixar levar por uma sociedade que julga a pessoa pelo que ela tem, não pelo que ela é. Os judeus julgavam Jesus pela Sua condição social, não pelo que Ele era: Filho de Deus! Não aceitavam que uma pessoa simples pudesse falar tão bem, curar, realizar milagres, profetizar... Viam apenas o exterior... Não permitiam que seus corações fossem além das aparências!

Vivemos em meio a uma crise mundial. Milhares de pessoas têm sido demitidas diariamente. Aumentam o desemprego, a fome... E isso gera na sociedade uma maior onda de crimes, roubos, violência...

Hoje somos convidados a valorizar o nosso trabalho. Não importa qual seja o nosso emprego: pedreiro, carpinteiro, pintor, lavrador, professor, médico, advogado... O importante é que o realizemos com amor. Agradeçamos a Deus por estarmos empregados, pois quantos não têm um emprego, ou estão sendo demitidos. E aqueles que procuram um emprego são chamados a redobrarem sua confiança em Deus!

Ninguém nasceu marcado para ser infeliz na vida! Nossa história deve ser marcada pela luta por um mundo e uma vida melhores. Somos importantes não pelo aquilo que temos, mas por aquilo que somos. Não sejamos juízes de nossos irmãos e irmãs! Ajudemos a fazer deste mundo um lugar melhor! Construímos hoje o nosso amanhã. Plantemos sementes de amor no chão da nossa história.

Padre Flávio Sobreiro

13/01/2012

Quem tem medo de sexta-feira 13?

Há quem sinta calafrios...

Há quem sinta calafrios ao verificar que no amanhecer do novo dia o calendário marca sexta-feira 13. A superstição faz parte do folclore e existem muitas acerca desta data.

Como ingrediente folclórico, tais superstições foram ricamente utilizadas para ilustrar as histórias contadas por nossos avós.

Algumas pessoas têm medo de gato preto, de passar debaixo de escadas, sair da cama pisando com o pé esquerdo e, há outras ainda que acreditam que uma pata de coelho possa trazer-lhes sorte. Se isso fosse verdade, o coelho seria o animal de mais sorte na face da terra! Afinal, se uma pata de coelho trouxesse sorte, imaginemos quão "afortunado" deveria ser este animal tendo quatro delas!

Alguns tentam, a partir de seus apegos exagerados, projetar o futuro fundamentado em eventos ou em sinais casuais. Para aqueles que temendo o desconhecido, buscam personagens folclóricos, podem correr o risco de encontrar sacis-pererês no centro dos rodamoinhos ou sair numa caça sem precedente aos gatos pretos.

Falamos de um dia específico, em que a crença do mau agouro o teria escolhido para habitar. Muitas situações de dificuldades foram vividas e tampouco foram marcadas pela sexta-feira 13. Dentro dessa perspectiva teria este "dia de azar" se confundido na matemática dos cálculos, quando aconteceram os ataques de 11 de setembro contra o World Trade Center? Estaria ainda o gato preto atordoado ou perdido, que ainda circula nas regiões de conflitos no Oriente?

Buscamos por dias melhores, protegidos de todos as maldades e dificuldades que nos rodeiam, mas cremos não em uma proteção depositada em amuletos, mas na confiança da certeza de que "Como Jerusalém está toda cercada de montanhas, assim o Senhor envolve Seu povo, agora e sempre" (Salmo 125:2).

Assim, a sexta-feira 13 poderá no máximo, continuar contribuindo para a elaboração de cenários das histórias que, embalados pelo brilho da "lua cheia", fluirão nas imaginações de alguns contadores de fantásticas fantasias.

Que Deus abençoe todos os seus dias!

12/01/2012

Perdoar sempre faz bem: saiba mais sobre essa atitude

Perdão é expressão do amor de Deus e exige espiritualidade, maturidade e fraternidade


Perdoar e aceitar o perdão sempre faz bem. Pode até ser um pouco difícil – dependendo da situação que gerou atritos –, mas tenha a certeza de que vale a pena.

A lista de benefícios inclui melhor condição de saúde física e mental, segundo o doutor em psicologia e líder do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre o Perdão (GEPP) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Júlio Rique Neto.

"O perdão é uma atitude voluntária e é mais do que simplesmente desculpar, pois está relacionado ao pensamento de justiça. Devemos perdoar por amor incondicional ao outro, mas esse amor não substitui a obrigação que temos com a justiça. Quem ama verdadeiramente o outro busca ser justo!", salienta.

O mestre em Pedagogia e Bispo de Palmares (PE), Dom Genival Saraiva, recorda que sempre há algo - intencional ou não - que afeta a ordem normal dos relacionamentos.

"O perdão vai além de uma conduta respeitosa entre as pessoas, das 'boas maneiras'. É algo mais profundo, expressão do amor de Deus. Nesse sentido, é importante que cada um se veja sendo perdoado por Deus ao perdoar seu semelhante. Os benefícios dessa atitude são de natureza espiritual, psicológica e social, pois sempre crescemos em maturidade".

Rancor

Se o perdão traz uma série de benefícios, alimentar o rancor pode levar ao surgimento de doenças psicossomáticas, ao mal estar na presença do outro, à depressão e à alta ansiedade, bem como o evitar de ambientes sociais.

Então, o que explica o fato de tantas pessoas preferirem alimentar o rancor, muitas vezes ao longo de toda uma vida? O primeiro passo para a resposta é lembrar que o rancor e a vingança são respostas naturais às injustiças sofridas, embora a compaixão também seja uma energia que nasce da mesma fonte que a vingança e o rancor.

"É preciso aplacar o rancor e o desejo de vingança pelas razões corretas, que ajudarão a compaixão a surgir e a se unir ao sentimento de justiça, fazendo com que a pessoa possa ser justa em seus julgamentos e ações e, ao mesmo tempo, misericordiosa e cuidadosa com relação ao bem-estar geral (dela própria, do outro a quem ofendeu e dos que são próximos aos relacionamentos)", explica o doutor Júlio.

Como o rancor é resposta natural – cultivada pela raiva que a lembrança de uma injustiça provoca –, as pessoas acreditam serem justas se mantiverem o rancor. Essa "justiça da vingança" – o tão conhecido "olho-por-olho e dente-por-dente" – é primitiva e precisa ser superada. Mas como fazer isso?

"Precisa-se entender que a justiça requer razões adequadas para ser justa e não é a raiva ou o rancor que vão prover essas razões. A compaixão surge e a pessoa passa a compreender o ato de outra forma e pode vir a ser capaz de perdoar, desde que se busquem razões a partir de perguntas como: quem é o outro que ofendeu, o que levou ele(a) a cometer a injustiça, como ele(a) vê a situação", complementa Júlio.

Perdão e a Igreja

A Igreja defende sempre o perdão, mesmo quando esse parece uma atitude tão difícil de se concretizar. "A Igreja é Mãe e Mestra. Assim, fiel ao ensinamento e à prática de Jesus, vai ao encontro de seus filhos, para nutri-los e alimentá-los com a graça do Sacramento da Reconciliação. Como é Mestra, ensina que o perdão é a via da humanização e da santificação", explica Dom Genival.

Perdoar é difícil porque a tendência é prevalecer a autoafirmação, o egoísmo e o individualismo, ao passo que o perdão supõe e exige espiritualidade, maturidade e fraternidade.

Nessa perspectiva, a Bíblia presta-se como um catálogo de bons exemplos para o perdão: Davi é um exemplo vivo de quem pede perdão, como o vemos na oração dos salmos 31 (32) e 50 (51); José, do Egito, é um exemplo tocante de quem concede perdão (cf. Gn 42, 1-24); Jesus é o modelo de perdão, no momento crucial de sua vida, ao pedir ao Pai por seus algozes: 'Pai, perdoa-lhes: não sabem o que fazem' (Lc 23,34); Estevão, o primeiro mártir da Igreja, nos instantes finais de seu apedrejamento, rezou: “Senhor, não leves em conta este pecado” (At 7,60). Na história da Igreja, são muitos os santos e santas que encarnam o perdão como experiência de comunhão com Deus e com o próximo.

"Esses exemplos muito contribuem para que a busca humilde do perdão e a concessão generosa do perdão tornem-se uma realidade na vida das pessoas e, particularmente, dos discípulos e discípulas de Jesus Cristo. A cultura do perdão, mais do que prática humana e social, é, antes de tudo, ação da graça de Deus em nossas vidas", ressalta o Bispo de Palmares.


Você só tem a ganhar

– Perdoar é um processo e pode levar tempo!

– Baixa ansiedade, menor depressão, pressão sanguínea e batimentos cardíacos regulares;

– Quem perdoa: não evita encontrar com seus ofensores; não sente medo ou vergonha por ter sido ofendido; melhora a auto-estima;

– No plano das relações interpessoais, pedir desculpa ou perdão por algo que atingiu a natureza da convivência humana é uma atitude de educação doméstica e educação social;

– Crescimento na maturidade como ser humano;

– Pessoas que perdoam conseguem manter relações sociais mais próximas com maior comprometimento, ou seja, as relações com a família e os amigos permanecem com maior grau de satisfação;

– É preciso paciência. Perdão dado apressadamente faz mal para a pessoa a quem você magoou. Dê tempo para que ela perceba que você a respeita e mantenha atitudes de cuidado, conforme sugere um recente estudo feito pela Northwestern University e que incluiu pesquisadores da University of Tennessee e da University of London.


Arquivo
Perdoar é um processo e pode levar tempo!
E o que fazer quando a pessoa deseja perdoar e receber o perdão, mas tem dificuldades nesse sentido? Eis um passo a passo:

– Aceitação da raiva e da vergonha sofridas com a injustiça;

– Comprometer-se a querer resolver a questão pelo perdão, ou considerar que o perdão pode ser uma saída para o conflito;

– Adotar a perspectiva do outro e, com isso, verificar se surge a empatia com essa condição;

– Ver o evento da injustiça pela perspectiva do outro e, assim, começar a trabalhar a possibilidade de perdoar ou de receber o perdão;

– Comprometer-se a esperar que a vítima tem o direito de perdoar no seu próprio tempo.

Fonte: Canção Nova

11/01/2012

O tempo de Deus

Nenhum daqueles que esperam no Senhor serão confundidos

As notícias chegam para nós de maneira muito rápida. É tudo muito rápido e por causa disso, muitas vezes, queremos que as coisas de Deus sejam da mesma forma: rápidas. Pedimos ao Senhor uma resposta e já a queremos agora.

Às vezes, as pessoas que moram na roça sabem esperar mais, mas os habitantes da “cidade grande” são agitados, correm o dia inteiro. Por causa da velocidade com que as coisas acontecem, vivemos um grande conflito com o Senhor. É aí que entra o tentador, dizendo, "Deus não te ouve"...

Entramos em um grande descrédito de Deus, pois queremos a resposta de imediato. Com isso, pode acontecer de um dia qualquer você ver em algum poste um cartaz que prometa resolver seus problemas de imediato. Veja no Salmo 24,3: "Nenhum daqueles que esperam em vós será confundido". Talvez você esteja confuso, achando que Deus não o escuta. Saiba, Deus não se confunde. Se Ele se confundisse, não seria Deus. "No Senhor eu espero sempre". Sabemos em quem colocamos a nossa confiança! Eu não vou desanimar. “O que espera em Deus possuirá a Terra” (Sl 36,9).

Como ser humano, o que você está esperando em Deus? O seu filho? Seu marido ou esposa? Um emprego? A cura de alguma doença? Deus lhe diz: “Os que esperam no Senhor terão emprego, serão perdoados, curados”. Há pessoas que acham que, porque pecaram, não serão perdoadas, mas isso não é verdade, o nosso Deus é um Deus de perdão, de misericórdia.

Hoje, a depressão se tornou o mal do século, porque as pessoas não esperam mais no Senhor. Elas esperam apenas por um tempo, mas como não conseguem o que querem de imediato, acabam entrando numa tristeza profunda e "caindo" em depressão.

Eu fico admirado com o livro do Apocalipse, que diz assim: "Apesar de tudo o Senhor reina, apesar de tudo, Ele já venceu, apesar de tudo a vitória de Jesus é certa". Existem muitas pessoas gritando que não aguentam mais; é assim quando perdemos a esperança em Deus. Não é fácil, mas é algo que precisamos treinar: "Deus está cuidando de nós, eu sei em quem coloquei a minha confiança!".

Saiba aguardar n'Aquele que tem o domínio e o poder sobre todas as coisas. Davi estava sendo perseguido por Saul, então ele disse: "Para os montes levanto os olhos, de onde me virá socorro?" Respirando fundo Davi disse "o meu socorro virá do Senhor, criador do céu e da terra" (Sl 90). O Senhor não está “dormindo” na situação em que você vive, Ele é Seu guarda e está sempre ao seu lado! O livro dos Salmos diz: “[...] a sua indignação dura apenas um momento, enquanto sua benevolência é para toda a vida. Pela tarde, vem o pranto, mas, de manhã, volta à alegria” (Sl 29). Talvez, hoje, você viva o pranto, o sofrimento. Talvez nada tenha dado certo em sua vida, mas o Senhor lhe diz: "Tenha esperança!". Aqueles que esperam em Deus passam pelo sofrimento, pela dor. Eles passam pelo pranto à tarde, mas esperam a alegria ao amanhecer. Não é brincadeira. Quantas pessoas que esperaram em Deus e hoje colhem a vitória? A cada dia o Senhor manifesta o Seu amor por nós. O sol vem; Ele nunca deixará de vir! Saiba esperar n'Aquele que é o seu Senhor.
Aguarde, Ele está sentado no trono! Espere no Senhor e tenha coragem!

Padre José Augusto
Comunidade Canção Nova

10/01/2012

Nossas escolhas e suas consequências

Sentir o peso das próprias escolhas é profundamente pedagógico
É interessante perceber como, atualmente, a maioria das pessoas tem uma grande dificuldade para lidar com as consequências de suas escolhas. Sim, vivemos uma concreta crise no senso de responsabilidade, em que muito se escolhe e pouco se quer arcar com as consequências do que se escolhe.

É notória a necessidade manifestada por muitos de, consciente ou inconscientemente, sempre procurar culpados para justificar os próprios sofrimentos, não aceitando que estes, muitas vezes, são diretas consequências das más escolhas que nós fizemos em nossa trajetória pela vida.

É muito mais fácil culpar a alguém por nossos infortúnios – principalmente a Deus –, contudo, ancorado em tal prática o coração nunca poderá verdadeiramente crescer, pois ficará encarcerado em um imaturo – e infantil – sistema de autodefesa e justificação, que retirará do ser toda a responsabilidade pelas escolhas realizadas, fazendo-o descarregar sobre os outros as suas consequências.

Precisamos, mais do que nunca, aprender a arcar com as consequências de nossas escolhas, sabendo que somos os reais protagonistas de nossa existência e que esta só poderá acontecer com qualidade, se por ela (qualidade) decidirmos em cada fragmento que compõe o nosso todo.

Faz-se real em nosso tempo a necessidade de fortalecer a própria vontade. Sim, de resgatar a capacidade de escolher com clareza, tendo diante de si a consciência concreta das consequências do que se escolhe. Nossa vontade precisa ser forte, pois só assim ela poderá acontecer com liberdade e segurança, sem ser condicionada por vícios e más paixões que a deixem opaca e fragmentada.

A maturidade só poderá fazer-se presença na história de quem tiver honestidade o bastante para lidar com as reais consequências do que escolheu, pois, ao contrário, a infantilidade será uma contínua companheira que fará o olhar – sempre e em tudo – contemplar a vida sob uma ótica imprecisa e autopiedosa.

Diante disso, acredito que os pais precisam permitir aos filhos enfrentarem todos os sofrimentos causados por suas más escolhas, pois, se os ausentarem disso, eles nunca conseguirão crescer e acabarão aprisionados a uma intensa imaturidade: mimados e sem uma reta consciência das consequências daquilo que na vida eles realizaram o ofício de escolher.

Sentir o peso das próprias escolhas é profundamente pedagógico e formativo para toda e qualquer pessoa, é experiência que nos faz mais autônomos e livres, para assim podermos nos construir com responsabilidade e consciência, como autênticos seres humanos.

É extremamente necessária esta compreensão: Muito em nossa história dependerá de Deus e dos outros, contudo, muito também depende somente de nós e das escolhas que fizermos e, culpar os outros pelo que em nossa vida não é tão bom não eliminará definitivamente as dores e problemas que configuram nossos dias.

Enfrentemos nossa história e suas consequências sem medo, e, aprendamos com os erros passados a verdadeiramente construir as vitórias e realizações que o futuro reserva para cada um de nós.

Foto
Padre Adriano Zandoná

09/01/2012

Corrigir um comunicador

No ardor do sucesso nem todos entendem este valor

Tarefa ingrata. Uma das tarefas mais ingratas da comunicação cristã é convencer um comunicador cristão que ele prega errado, sua doutrina tem graves desvios e lacunas e que ele deve mudar o conteúdo e a forma. Ele esperneará, estalará um muxoxo, dará de ombros, ignorará e, se ficar muito ofendido, não falará mais com você e jogará seus discípulos contra você. Se ele tem mais sucesso e reúne e agrada a mais gente que seu bispo e seus colegas padres juntos, ou, se for pastor, atinge mais fiéis do que atingem 100 pastores, por que haveria de mudar?

Saber criticar. Se o crítico tiver 50 anos de púlpito e mostrar realização semelhante à do pregador vitorioso, ainda assim o moderno e novo pregador alegará que atinge mais gente e que os tempos mudaram. Não aceitará orientações ou críticas de quem teve sucesso ontem, mas não teria hoje. Isso silencia qualquer professor de homilética ou de comunicação. Valem os novos instrumentos, os novos métodos, as novas alianças e os novos tempos. Equivaleria a dizer que médicos criadores de hospitais não têm o que ensinar ao novo médico inundado de aplausos e versado em novas técnicas. Além da técnica existe a ética, mas no ardor do sucesso nem todos entendem esses valores! O sucesso tende a pôr a realização acima dos valores.

Os fatos. Os fatos se encarregam de mostrar a realidade. Há tintas novas e brilhantes que chamam atenção, mas desbotam mais depressa do que as tintas não tão chamativas que, porém, duram décadas. Dirão que não é a mesma coisa. Os arquitetos e decoradores sabem que vai depender muito da tinta e não da ênfase das cores. Isso de durar mais tempo é algo inerente à tinta, às camadas e ao ato de pintar.

Comunicar dói. Aí entra, de novo, o crítico da comunicação de quem se comunica para multidões. Ir longe nem sempe é ir certo. Hitler e Fidel Castro empolgavam multidões. Reuniram milhões. É de se perguntar se pregaram a justiça. Elvis Presley, os Beatles e Michael Jackson empolgaram milhões de fãs, mas aquilo durou o tempo que durou, com enormes estragos para a sua personalidade. Tão poderosos e tão dependentes… Os Papas reúnem milhões de pessoas em virtude do cargo, mas olhemos o conteúdo deles e o dos comunicadores famosos que usam a mídia de agora. As chaves mestras são o conteúdo, a ética do comunicar e a representatividade do falar.

Correção fraterna. Quando, pois, algum irmão na fé chama a atenção para o conteúdo e a forma de catequese do outro é melhor que o crítico prove que tem este conteúdo e esta serenidade e que o criticado prove que também os tem.
Marketing danoso. Em matéria de púlpito há sempre o perigo do deslumbramento e do pouco vislumbre. O imediatismo é um grande inimigo dos que agora mergulham em cheio na mídia moderna. Abraçar o marketing sem reservas não é boa escolha. Talvez isso explique tantos milagres e curas, tantos novos demônios, tantas respostas rápidas e urgentes e tantas promessas de fé eficaz. O marketing da fé tem esse inconveniente. Por ser marketing tem pressa e precisa superlativar fatos, pessoas e igrejas, caso contrário não empolgará nem trará novos adeptos. Maquia-se o que não vai bem e acentua-se o que parece vitorioso. Por isso o microfone é facilmente colocado nas mãos do fiel que acaba de receber a cura de um tumor, ali mesmo, no templo. Mas o mesmo microfone não será posto nas mesmas mãos quando o fiel voltar dizendo que o tumor voltou… Atrapalharia o marketing daquele pregador e daquela igreja. Já vi este filme diversas vezes. Não havendo Procon da fé o fiel não curado não tem a quem recorrer. Ou teria?

Crítica construtiva. O crítico da comunicação religiosa há de admitir críticas à sua atuação, pedir perdão quando errar e aceitar corrigir seus textos e suas posturas. Se quiser ter autoridade começará por si mesmo. Mas não deve ter medo de falar claro com quem está na "crista da onda". Quem já surfou tem todo o direito de chamar a atenção dos novos surfistas, desde que aceite que os novos surfistas lhe mostrem as novas técnicas desse perigoso e bonito esporte.

Pregar não é esporte, mas é tão perigoso quanto surfar ondas em mar revolto. Os cursos de comunicação existem, não apenas para quem começa a surfar as ondas, mas também para quem domina pranchas e já ganhou prêmios internacionais. E daí? Até o Papa e os reis são orientados por assessores!

Cantei doante do beato João Paulo II duas vezes e lembro-me do cuidado com que preparava os papéis e os dois microfones antes de falar. E de comunicação ele entendia! Na enfermidade perdeu o brilho, mas não a mística. Vi-o pregar dias antes de sua morte. Passava credibilidade!

Hoje, quando vejo cantores e compositores se negando a corrigir textos errôneos, sem o menor desejo de corrigir suas celebrações, seguros de que o que fazem é o melhor para o povo de Deus, interrogo-me sobre as novas tintas, os novos métodos e as novas iluminuras. Parecem melhores e mais vistosas. Tomara que sejam. Uma igreja inteira está questionando nosso conteúdo, nossa maneira de pregar e presidir a Eucaristia, os holofotes e os protagonismos de agora. Outra vez, tomara que estejamos todos errados e que os que atingem multidões estejam certos. Afinal, é a eles que as multidões ouvem. Os mestres dessa gente são eles. Seus ouvintes não ouvem os professores universitários nem os bispos. Se eles se desviarem na doutrina e no testemunho, o estrago será maior. Pede-se mais daquele a quem mais foi concedido. Pelo volume de pessoas que tingem deveriam ler dez vezes mais que os outros colegas. Espero que o façam!

Padre Zezinho
Escritor, compositor e cantor. Congregação Dehonianos

06/01/2012

Dizer 'sim' e dizer 'não'

Quando dizemos "não" a nós mesmos aprendemos a autodisciplina
Você já notou como lida com seus impulsos, com aquela vontade irresistível de fazer algo? Controlar nossos impulsos significa o quanto conseguimos ser capazes de adiar a gratificação por algo e, com isso, fazer escolhas mais inteligentes ou adaptáveis. Sabe o que é mais interessante: o controle dos impulsos se dá em nossa infância, quando lidamos com as primeiras frustrações e gratificações.

Quando dizemos “não” a nós mesmos, aprendemos a autodisciplina, palavra tão conhecida entre nós e citada em revistas, artigos, programas de TV. Essa habilidade é capaz de gerar felicidade e sucesso.

Nisso começa o desafio dos pais, cuidadores, professores, pois crianças nunca aprendem a autodisciplina sozinhas, mas também não aprendem na escola ou na sala de aula. Não há curso para isso [autodisciplina]. Aí entra a habilidade dos pais em dar limites aos filhos e ensiná-los que, para cada ato, há uma consequência, que as escolhas levam a determinados caminhos, positivos ou negativos.

Ao deixar claro para uma criança quais as expectativas que se tem sobre algo ou os limites e o resultado sobre aquilo que não se cumpriu, tudo fica mais claro. Ou seja, a criança aprende, desde pequena, que, se optar por algo errado, receberá sua escolha em troca, experimentando o resultado negativo das escolhas feitas.

O que é mais complicado quando é necessário dizer “não” para seu filho? Muitos pais podem dizer que a dificuldade está em ver que o filho ficou infeliz, ficou triste, desapontado. Claro que, como pais, o que se tenta fazer muitas vezes é, de fato, evitar o sofrimento, mas isso se torna uma forma enganosa de proteger. Será muito mais produtivo dar aos filhos formas de lidar com a perda e, com isso, criar formas de “amortecer” as situações e lindar com os obstáculos da vida.

Dizer “não” é muito mais complicado do que dizer “sim”; porém, olhando para o futuro os resultados de um “sim” e um “não”, no tempo certo, fazem toda a diferença quando seu filho for adolescente ou adulto. Não diga “sim” para acalmar o choro ou a irritação do seu filho, mas diga “sim” quando é necessário e “não” sempre que preciso, para que não colha dificuldades em longo prazo.

Na autenticidade e na democracia da relação pai e filho, nos dias atuais, cresce e liberdade em dizer o que se pensa e posicionar-se, porém, não podemos nos esquecer do papel de modelagem de comportamento que damos ao filhos. “Ninguém pode respeitar seus semelhantes se não aprender quais são os seus limites — e isso inclui compreender que nem sempre se pode fazer tudo que se deseja na vida. É necessário que a criança interiorize a ideia de que poderá fazer muitas, milhares, a maioria das coisas que deseja — mas nem tudo e nem sempre. Essa diferença pode parecer sutil, mas é fundamental.” (Zagury, T.)

Esse é o desafio da persistência, do amor, do cuidado e da certeza que um “sim” e um “não” bem colocados, e ao seu tempo, farão toda a diferença na construção de adultos saudáveis e resistentes aos embates da vida.

Veja mais:
:: A educação dos filhos
:: Como educar nossas crianças hoje?
:: Como evangelizar os meus filhos?

Foto Elaine Ribeiro
psicologia01@cancaonova.com

05/01/2012

Educação dos filhos e a palmada

O filho se educa pela fé e pela conquista...
Uma boa educação dos filhos não se impõe com leis, muito menos com uma lei das palmadas. Quem é que vai conferir se lá no fundo da roça um pais bate nos filhos? Quem vai levar a lei até uma mãe no meio do labirinto das favelas que dá uma palmada em seu filho? Esta lei me parece mais uma daquelas tristes “soluções fáceis para problemas difíceis”, de que tanto falou o Papa Paulo VI. Nunca precisei usar da palmada para educar meus cinco filhos; conversamos muito, coloquei-os de castigo muitas vezes, sem bater neles nem os humilhar. Não é uma lei que vai resolver isso.


Quanto menos educação tem um povo, tanto mais leis criam seus governantes, dizem os sociólogos. O que precisamos é educar os pais, colocar o amor de Deus no coração deles e ensinar-lhes que os filhos são dons preciosos que o Senhor lhes confiou para educá-los com carinho e modelá-los como preciosos diamantes. É preciso proteger a família, lutar contra toda a imoralidade que a destrói e desfigura. É assim que vamos assegurar aos filhos uma boa educação, sem violência e sem a intervenção do Estado.

O filho se educa pela fé e pela conquista, mesmo que hoje seja mais difícil educá-los, porque uma inundação de “falsos valores” entra em nossas casas pela mídia. No entanto, com um trabalho dedicado e atencioso os pais podem realizar uma boa educação. Mas, para isso, terão de “conquistar” os seus filhos, sem o que, eles não ouvirão a sua voz e não colocarão em prática os seus conselhos. Mas essa conquista não acontece com o que damos a nossos filhos, mas com o que “somos” para eles. Temos tempo para eles? Brincamos com eles? Conversamos com eles? Nós os ajudamos em suas dificuldades? Sabemos acolher seus amigos? Tornamos o lar um lugar agradável? Sabemos corrigi-los com delicadeza e firmeza, sem humilhá-los? Sabemos descer a seu nível de idade e de sentimentos? Sabemos valorizá-los, estimulá-los e elogiá-los?

Um dia, quando os meus cinco filhos ainda eram adolescentes, eu li uma frase atrás de um carro que me fez pensar muito: “Conquiste o seu filho antes que o traficante o faça”.

Antes de tudo os filhos precisam “ter orgulho” dos pais; sem isso a educação poderá ficar comprometida. Se o filho tiver mais amor ao mundo do que aos pais, então, ele ouvirá mais o mundo do que os genitores. É assim que os pais “perdem” os seus filhos e já não mais ouvem a voz deles.

Conclui-se daí que os primeiros a serem educados são os pais, para poderem educar os filhos. André Berge, pedagogo francês, dizia que “os defeitos dos pais são os pais dos defeitos dos filhos”.

Foi Deus quem nos criou; Ele nos conhece, portanto, até a mais profunda e escondida fibra do nosso ser, seja no campo biológico, seja no psicológico, no racional, sensitivo ou espiritual. Por isso, querer educar os filhos sem Deus e Suas santas leis, seria relegar o homem a um plano muito inferior ao que ele ocupa: o de filho de Deus, imagem e semelhança do seu Criador. Deixar Deus de fora da educação dos filhos seria algo comparável a alguém que quisesse montar uma bela é complexa máquina ou estrutura sem querer usar e seguir o projeto detalhado do projetista. É claro que tudo sairia errado.

Educar é uma bela e nobre missão, pela qual vale a pena gastar o tempo, o dinheiro e a vida; afinal, estamos diante da maior preciosidade da vida: os nossos filhos. Tudo será pouco em vista da educação deles. Por essa razão, não é preciso de palmadas nem de leis para isso.

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com