Viver é ser responsável, sim, mas também ser livre para ser quem é
Alguma vez, na vida, você já se esqueceu de viver? Eu já!
Gosto muito do clássico Pollyana’, de Eleanor Porter, que narra a história de uma menina, filha de um missionário pobre, que, após ficar órfã, vai morar em outra cidade com sua tia Polly Harrigton, uma madame que possuía muitos bens materiais e grande influência em todos os setores da sociedade, mas era infeliz. Na concepção de Pollyana, ela não sabia viver. Segundo a garota, viver era ter um tempo só seu, no qual pudesse fazer coisas de que gostava sem se preocupar com regras, horários e leis; e a tia Polly tinha regras, horários e leis para tudo.
O certo é que, com a chegada da menina, de uma hora para outra, tudo começou a mudar em Beldingsville, uma típica cidadezinha dos Estados Unidos. A tia Polly, aos poucos, tornou-se uma pessoa melhor, mais amável, e o mesmo acontece com praticamente todos os que conhecem aquela garota e seu incrível ‘Jogo do Contente’. É que Pollyanna não aceita desculpas para a infelicidade e empenha-se, de corpo e alma, em ensinar às pessoas o caminho para superar a tristeza e valorizar a vida.
A criança que ainda existe dentro de nós
Em muitos aspectos, concordo com ela; aliás, esse livro é um dos que mais marcaram minha vida até hoje. Assim como aquela garota, acredito que viver é ser responsável sim, mas também ser livre para ser quem é, sem precisar prestar contas, ao mundo, da roupa que se veste e de cada passo que se dá. É ter tempo para estar com as pessoas que se ama, ouvir o canto dos pássaros, contemplar as flores, correr no parque, fazer castelos na areia e rir de si mesmo quando sentir vontade.
Tempos atrás, levei um susto ao perceber que não estava “vivendo”. Envolvida em um exigente projeto dentro da missão evangelizadora que assumo, estava dedicando-lhe mais tempo do que deveria. Dormia e acordava pensando nas melhores chances de conquistar as metas do dia seguinte, e, quase sem perceber, minha vida estava girando em torno de tal projeto.
Era tudo com boa intenção, já que a meta era evangelizar, mas, certamente, estava indo por atalhos, não pelo caminho certo. Até que, ao voltar para casa, num fim de tarde, observei, no jardim do prédio onde moro, várias florzinhas – daquelas que soltam suas sementes e voam pelo ar quando as sopramos. Lembrei-me, rapidamente, do quanto gosto dessas flores e me admirei de não as ter enxergado antes, sendo que passava no mesmo lugar no mínimo duas vezes ao dia! Parei um pouco, sentei-me ali mesmo e fui soprando as flores, do jeito que eu fazia quando era criança e continuo repetindo o ato até hoje.
Parece que, quando vejo as sementinhas suspensas no ar, sendo levadas para o alto pelo vento, sinto-me mais livre, mais leve, mais perto de Deus; e a agitação e os problemas do dia a dia, por um instante, voam com elas. É uma sensação muito boa! Experimente fazer isso e você vai perceber que a criança que você era ainda está dentro de você e se alegra com coisas assim, bem simples.
O desafio do ativismo em nossa vida
Naquele fim de tarde, sentada no muro do canteiro, fui percebendo que havia dias em que eu me esquecia de fazer as coisas simples e descomplicadas, as quais me causam tanto bem. Eu havia permitido que o trabalho definisse minha rotina e roubasse-me a leveza da vida. Tudo foi passageiro e superado com sucesso, graças a Deus, mas não pretendo repetir a experiência!
Sei que não estou imune ao ativismo, porque me vejo, continuamente, diante de grandes desafios no exercício da missão assumida, mas continuo buscando o equilíbrio entre o fazer e o ser. Sei que o mais importante, diante de Deus, não é o que faço, mas quem realmente sou para Ele.
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Não é o caso de arranjar desculpas, mas a realidade de nosso tempo, considerado a “Era do Desenvolvimento”, põe-nos diante do grande perigo, que é passar pela vida sem sentir o prazer de viver.
Contemplamos uma sociedade “controlada” pela sede do saber, ter e poder, porém, mesmo “sabendo” e “tendo” tanto, não pode viver com liberdade usufruindo do que possui.
É preciso empenho para não se deixar levar por essa correnteza, e aí entram a fé e a fidelidade aos nossos princípios de vida para nos sustentar.
Tenha a coragem de parar um pouco
Precisamos pontualizar onde queremos chegar, de fato, e seguir em frente sem perder a inspiração inicial. O trabalho é importante e necessário, mas não tem o direito de nos escravizar, a não ser que lhe demos essa chance.
Hoje, se a vida está cheia de compromissos e lhe falta tempo para fazer as coisas de que você mais gosta, tenha a coragem de parar, nem que seja um pouco, e priorizar o que realmente é mais importante para você. Acredito que terá ótimas surpresas, como eu as tenho tido.
Lembre-se: a vida é o que temos de mais precioso! Não se esqueça de viver!
Autora: Dijanira Silva
Fonte: Canção Nova
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