Reflita sobre a beleza da criação e o plano de salvação do Senhor
“Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom” (Gn 1,31). Assim termina a primeira narrativa da criação do livro do Gênesis. A criação saída das mãos de Deus era maravilhosa! Ele a contempla e se alegra com Sua criação, e a narrativa repete esse deleite de Deus nos versículos 10, 12, 18, 21 e o citado acima, o 31. O homem, por sua vez, foi criado à “imagem se semelhança de Deus” (cf. Gn 1,26).
Obra mais perfeita, o homem é réplica e semelhança (do mesmo sangue). O homem, sem ser Deus, é uma réplica de Deus, porque possui inteligência e vontade, faculdades superiores, características próprias dos seres que são espírito. Sem ser filho, é tratado como um filho e capaz de receber o Espírito de Deus, o “sangue de Deus”, ou seja, a vida d’Ele.
A obra do Senhor não só era “muito boa”, como tudo vivia em harmonia com Ele. Especialmente o homem, que vivia em amizade e intimidade com o Criador, num contexto de paz e beleza, expresso pelo jardim do Éden. A intimidade é notável quando o texto bíblico, no capítulo 3,8 diz: “Eles (Adão e Eva) ouviram os passos de Deus, que passeava no jardim à brisa do dia”. Reconhecer alguém pelos passos, pelo o jeito de andar, é sinal de muita intimidade.
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
O que destrói a beleza criada por Deus?
A obra do pecado é a destruição de toda essa perfeição, ordem, beleza e harmonia. A serpente seduz os primeiros pais, então o caos é instalado na criação. Adão e Eva são expulsos do paraíso e da intimidade de Deus, a dor e a maldade entram na história da humanidade. O Capítulo 3, do livro de Gênesis, narra toda a destruição causada pelo pecado.
Diante desse caos instaurado na criação, o Criador faz um projeto de salvação, a fim de restituir a ordem e a beleza. Já o primeiro sacrifício narrado na Bíblia, o de Noé após o dilúvio que purifica a criação, parece querer restaurar aquela bondade, e Javé “respira o agradável odor” da oferta de Noé (cf. Gn 8,21) Esse projeto de salvação dá início quando Deus tira Abraão de sua terra para constituir um povo que prepararia a vinda do Salvador.
Jesus consuma a obra da salvação no Seu sacrifício na cruz e, “porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus” (Col 1,19-20).
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Em Cristo, toda ordem da criação é restaurada. Na vida da Igreja, existem tantos sinais dessa criação restaurada, mas um sinal contundente é a chamada “incorrupção dos corpos”. Trata-se da não degradação dos corpos (inteiros ou de uma parte) de alguns santos, observados após sua exumação.
Como exemplo, temos a garganta de Santo Antônio, braço e coração de Santa Tereza, coração de Cura Ars e São Vicente de Paulo, e o corpo inteiro de Santa Bernadete e Santa Catarina Laubouré. É notável que não existem relatos desses milagres, sem ajuda de técnicas de preservação, fora dos santos católicos. Milagres extraordinários, inexplicáveis, que testemunham que a criação submissa a Cristo não está sujeita à desordem do pecado.
No entanto, no tempos de neopaganismo que vivemos, o diabo continua a seduzir e a gerar caos na criação. É fácil ver, no mundo de hoje, leis que atentam contra a ordem da natureza, valores que tentam destruir a harmonia da criação e modas que expressam bizarrices, atentando contra o senso de beleza. A quem crê nesse Cristo, cabe fazer a experiência de uma existência submetida a Ele e, por isso, livre daquelas mazelas que o Diabo inseriu na criação.
Essa experiência de fé nos revela que “não são os elementos do cosmo, as leis da matéria que, no fim das contas, governam o mundo e o homem, mas é um Deus pessoal que governa as estrelas, ou seja, o universo; as leis da matéria e da evolução não são a última instância, mas razão, vontade e amor: uma Pessoa.
E se conhecemos essa Pessoa e Ela nos conhece, então verdadeiramente o poder inexorável dos elementos materiais deixa de ser a última instância; deixamos de ser escravos do universo e das suas leis, então somos livres”
(Bento XVI, Spe Salvi 5).
Autor: André Botelho
Fonte: Canção Nova
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