Para se referir ao ser existem três palavras, todas sinônimas, mas com usos específicos para cada situação: substância, essência e natureza. A primeira é utilizada em relação ao ser, a segunda ao conhecer e a terceira ao agir.
Portanto, a palavra natureza é a mais dinâmica, relacionando-se à moral, à ética e, justamente por isso, é usada para referir-se à finalidade do homem. Assim, quando se diz que algo é analisado a partir da teleologia, lê-se que está se referindo à sua natureza, ao o ser relacionado ao agir.
Ao se olhar para a natureza do ser humano, através de um esforço racional, é possível se chegar a um telos, a uma finalidade. Segundo Aristóteles, a finalidade do homem é a felicidade. Já o esforço teológico, por sua vez, diz que todos os seres humanos aspiram a felicidade, que pode ser definida como a realização do próprio ser, estando, portanto, inscrita nele. Por exemplo, a felicidade da lâmpada é iluminar, do microfone é captar o som e assim por diante. Isso acontece porque foram criados para isso. A finalidade deles é essa.
E o homem, para que foi feito?
Para responder essa questão fundamental é necessário um esforço teológico e filosófico. Existe, porém, um problema: o homem recebeu um acréscimo de Deus que é a Graça. O ser humano, conforme revelado através de Jesus Cristo, possui um destino, uma finalidade que supera a sua natureza. Todo aquele que possui natureza humana é chamado - por dom de Deus - para participar da natureza divina, que é o ser de Deus, a vida Dele.
Ora, mesmo que se faça a maior diligência não é possível concluir que um dia o homem, por si só, consiga participar da natureza divina. É impossível. Desse modo, estudar escatologia não é estudar a natureza humana e o seu destino humano (teleologia), mas sim, a natureza humana e o seu destino divino (escatológico), dado por Deus gratuita, superabundante e graciosamente, por pura liberdade.
Isso acaba por impossibilitar a dedução escatológica, pois o que aguarda o homem na vida eterna é muito maior do que se pode sonhar, imaginar ou conceber racionalmente. Supera o entendimento humano, portanto, não pode ser deduzido.
O esforço filosófico chega tão somente à conclusão de que o ser humano não encontra em si mesmo a satisfação de suas necessidades. Sendo assim, a filosofia pode postular que a alma é eterna, mas não consegue responder totalmente à questão.
O estudo da escatologia implica compreender que o homem é um ser que não encontra nele mesmo a sua resposta e, filosoficamente, é preciso obsecrar que Deus venha e resolva o problema, portanto, não como postulado, mas como REVELAÇÃO.
A abordagem adotada, avisamos desde o início, não será a de Karl Rahner e o seu tomismo transcedental, embora por uma questão de justiça, algumas opções dele deverão ser analisadas. A linha assumida será a chamada da “volta às fontes” ou “la nouvelle théologie” honrada e defendida por grandes teólogos como Henri de Lubac, Hans Urs von Balthasar e Joseph Ratzinger. E desejará tão somente responder à questão fundamental que todo homem em algum momento de sua vida já se fez: “o que será de mim depois da morte?”
Autor: Padre Paulo Ricardo
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