14/07/2016

Os filhos prediletos da Virgem Maria

Existem filhos prediletos de Maria? Por que a Virgem Santíssima amaria mais a alguns de seus filhos?

Ser filho predileto da Santíssima Virgem Maria é um privilégio reservado a poucos. De modo diverso, os outros modos de pertença a Nossa Senhora estão ao alcance de todos. Cada um de nós pode aspirar ser e fazer-se efetivamente escravo, apóstolo e vítima da augusta Rainha dos Céus. Devido ao seu alto grau de entrega, nós poderíamos até afirmar que ser vítima de Maria constitui a perfeição do amor. Além disso, o próprio Jesus Cristo, Filho de Maria, disse: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos” (Jo 15, 13). No entanto, a vida dos santos nos concede exemplos de profunda intimidade e de união muito maior com a Mãe de Deus.

São Domingos de Gusmão e Nossa Senhora do Rosário

Este título de predileto, ou esposo, da Virgem Maria pareceria um piedoso exagero, produto de um entusiasmo vazio, se ela própria não o tivesse confirmado por várias vezes na vida dos santos. Nossa Senhora, dizem os santos, é a “Esposa das almas puras – ‘Sponsa animarum sanctarum’. E cheios de amor para com esta doce Soberana, impotentes quase para traduzir e exprimir os sentimentos de sua alma, foram vistos estes ardentes apaixonados de Maria se prostrarem a seus pés, colocarem-lhe no dedo um anel, e lhe pedirem para chamá-la sua Esposa amada”1.

  
A Virgem Maria e a graça da união esponsal


Não foram somente os santos, mas a própria Maria Santíssima também dá esse nome abençoado e cheio de graça, que é o de “esposo”, a esses felizes privilegiados. Sem exageros, mas com filial piedade, vejamos, em toda a sua beleza e em toda a sua encantadora intimidade, esta nova relação com nossa Mãe e Rainha, estabelecendo, desde o princípio, se é ou não permitido a todas as almas aspirar o título de esposo, ainda que sob o impulso de uma graça particular e com a aprovação de um diretor espiritual esclarecido.

Ser esposo de Nossa Senhora é, e sempre será, uma exceção, uma graça de concedida a alguns escolhidos. Isto é assim simplesmente porque é a Virgem Maria quem faz essa escolha. Por isso, não podemos fazer desta graça esponsal algo comum. “Quando Ela quer elevar uma alma a estas alturas, Ela vem por si bater-lhe à porta do coração, convidar, instar, e sobretudo, pôr ali uma generosidade em arroubo, dignos do título que Ela quer dar, e em proporção com as relações que devem existir entre o esposo e a esposa”2.

A respeito desses privilegiados de Nossa Senhora, não há ensinamento mais convincente do que a vida dos santos. Pois, estes foram homens guiados pelo Espírito Santo, o Espírito do Deus da verdade. Estes gloriosos servos, filhos e escravos, pediam, por vezes, com tocante ansiedade, à humilde e condescendente Virgem Maria que fosse a sua Esposa imortal. Outras vezes, a própria Mãe de Deus toma esse nome abençoado e cheio de graça. A este respeito, poderíamos citar muitos exemplos. 

Para mencionar somente alguns dos grandes santos esposos de Maria, recordamos que São Bernardo, São Domingos, São Fulberto de Chartres, São Bernardino de Sena, São João Eudes e Padre Berthier, entre outros, forneceriam a nós material abundante a respeito destes místicos desponsórios. Destes, citaremos apenas este trecho de uma súplica a Nossa Senhora, do Padre Berthier, falecido em 1908:

Ó Maria, sempre Virgem!… Calcando aos vossos pés todas as coisas terrenas, escolho-vos por minha Mãe; quero ter-vos por minha única Amada, minha esposa, minha toda formosa. Eu vos suplico: sede a esposa de meu coração! Como símbolo de piedade trarei sempre sobre o coração a imagem da vossa Conceição Imaculada, para que, a toda hora do dia e da noite, me lembre de vós, ó dulcíssima esposa!
E como tudo é comum entre os esposos, tornar-me-eis participante dos dons celestes, de que Deus vos constituiu dispensadora, e eu me esforçarei por dar-vos honra e por estender vosso amor tanto em minhas palestras particulares, como no santo tribunal, como no santo ministério da pregação.3

 As consequências desta vida de entrega esponsal


Oh! Que inefável união! Que encantadora intimidade há entre a Virgem Maria e seus filhos prediletos! Que graça inefável é ter esta a doce Virgem como esposa e viver com ela as relações de ternura e de caridade que reinam entre duas almas que se amam!

Em uma união matrimonial, três coisas são necessárias: o amor mútuo; a intimidade de uma vida comum; e a comunhão dos bens. No amor mútuo, de nossa parte, amamos tão pouco e com tão pouco ardor, mas Maria Santíssima se contenta somente com os nossos desejos e esforços. No entanto, da sua parte, em retribuição ao nosso amor, tão escasso, ela nos ama com todas as ternuras de seu Coração materno, que não é um coração qualquer, mas de Mãe de Deus. Quanto à intimidade da vida comum, trata-se da mesma união existente sob o título de filhos de Maria. “E como a vida é agradável em tal companhia! Como a virtude é atraente, e os sofrimentos, invejáveis, quando partilhados por semelhante coração, impostos por tais mãos!”4 

Enfim, na comunhão de bens, é mister nada reservar para nos mesmos, mas tudo entregar: nosso coração, nosso espírito, nossa vontade, nossos sofrimentos, nossas lágrimas, nossos pecados e nossos próprios defeitos. “Doce Virgem, eu vos entrego tudo… E, em troca, eu vos peço que nunca, outro amor, a não ser o de Jesus, entre no meu coração… de Jesus só, em vós e por vós!”5

Oh! Mil vezes felizes são os que têm o coração puro, a alma grande o bastante e o espírito tão elevado, para aspirar uma tal aliança com a Virgem Maria, tão encantadora e formosa esposa! Não! Para estes esposos, a Terra não é mais a Terra, mas o Céu! Eles podem caminhar ainda nas trevas deste mundo, mas são luz! Há neles uma atmosfera celeste, que os envolve e transfigura. Certamente, este título é grande e sublime demais para ser compreendido e apreciado por todas as almas.


O caminho dos esposos da Santíssima Virgem Maria


Assim, dizer-se esposo da Rainha do Céu é um privilégio reservado àqueles que Deus chama para uma união mais íntima com sua Mãe Santíssima. No entanto, repetimos para as almas generosas, que desejam viver mais estreitamente unidas à sua amada Esposa, esta prática é permitida, contanto que seja fruto de um amor ardente e de um desejo sincero, de trilhar eficazmente o caminho da santidade. “Qui sapiens est, intelliget haec!6 – “Ele [o esposo] é sábio, entenderá isso”.

Para trilhar este caminho esponsal, antes, devemos expor nossa aspiração, bem como nossos esforços para agradar a Santíssima Virgem Maria, a um homem de Deus, a um bom diretor espiritual. Pois, sem obediência, a doação não será recebida por Nossa Senhora. Entretanto, se feita em espírito de submissão e aprovada pelo pastor de nossas almas, esta entrega será para nós um estímulo no dever, um pacto de amor, e um penhor de perseverança. Com a aprovação de nosso diretor, poderemos então dizer:

Ó Maria, ó doce Maria! Elevai nossos corações, elevai até vós nossas almas, e dai-nos a graça de compreender, de sentir, de provar, desde esta triste peregrinação, o que compreenderemos e apreciaremos tão clara e deliciosamente no Céu: que sois tudo… tudo para nossas almas, e que vos podemos amar com um imenso amor!7


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Referências:

1 PADRE JÚLIO MARIA LOMBAERDE. O segredo da verdadeira devoção para com a Saníssima Virgem: segundo São Luís Maria Grignion de Montfort, p. 69; cf. S. Anselmo, Sup. Salve Reg. S. A. Cret. in Orat. 2 de anu. B. V.
2 Idem, p. 70.
3 Idem, ibidem.
4 Idem, p. 71.
5 Idem, ibidem.
6 Idem, ibidem.
7 Idem, p. 72.



Autor: Natalino Ueda

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