Existem filhos prediletos de Maria? Por que a Virgem Santíssima amaria mais a alguns de seus filhos?
Ser filho predileto da
Santíssima Virgem Maria é um privilégio reservado a poucos. De modo
diverso, os outros modos de pertença a Nossa Senhora estão ao alcance de
todos. Cada um de nós pode aspirar ser e fazer-se efetivamente escravo,
apóstolo e vítima da augusta Rainha dos Céus. Devido ao seu alto grau
de entrega, nós poderíamos até afirmar que ser vítima de Maria constitui
a perfeição do amor. Além disso, o próprio Jesus Cristo, Filho de
Maria, disse: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida
por seus amigos” (Jo 15, 13). No entanto, a vida dos santos nos concede
exemplos de profunda intimidade e de união muito maior com a Mãe de
Deus.
Este título de predileto, ou esposo, da Virgem Maria pareceria um piedoso exagero, produto de um entusiasmo vazio, se ela própria não o tivesse confirmado por várias vezes na vida dos santos. Nossa Senhora, dizem os santos, é a “Esposa das almas puras – ‘Sponsa animarum sanctarum’. E cheios de amor para com esta doce Soberana, impotentes quase para traduzir e exprimir os sentimentos de sua alma, foram vistos estes ardentes apaixonados de Maria se prostrarem a seus pés, colocarem-lhe no dedo um anel, e lhe pedirem para chamá-la sua Esposa amada”1.
A Virgem Maria e a graça da união esponsal
Não foram somente os santos,
mas a própria Maria Santíssima também dá esse nome abençoado e cheio de
graça, que é o de “esposo”, a esses felizes privilegiados. Sem
exageros, mas com filial piedade, vejamos, em toda a sua beleza e em
toda a sua encantadora intimidade, esta nova relação com nossa Mãe e
Rainha, estabelecendo, desde o princípio, se é ou não permitido a todas
as almas aspirar o título de esposo, ainda que sob o impulso de uma
graça particular e com a aprovação de um diretor espiritual esclarecido.
Ser esposo de Nossa Senhora
é, e sempre será, uma exceção, uma graça de concedida a alguns
escolhidos. Isto é assim simplesmente porque é a Virgem Maria quem faz
essa escolha. Por isso, não podemos fazer desta graça esponsal algo
comum. “Quando Ela quer elevar uma alma a estas alturas, Ela vem por si
bater-lhe à porta do coração, convidar, instar, e sobretudo, pôr ali uma
generosidade em arroubo, dignos do título que Ela quer dar, e em
proporção com as relações que devem existir entre o esposo e a esposa”2.
A respeito desses
privilegiados de Nossa Senhora, não há ensinamento mais convincente do
que a vida dos santos. Pois, estes foram homens guiados pelo Espírito
Santo, o Espírito do Deus da verdade. Estes gloriosos servos, filhos e
escravos, pediam, por vezes, com tocante ansiedade, à humilde e
condescendente Virgem Maria que fosse a sua Esposa imortal. Outras
vezes, a própria Mãe de Deus toma esse nome abençoado e cheio de graça. A
este respeito, poderíamos citar muitos exemplos.
Para mencionar somente
alguns dos grandes santos esposos de Maria, recordamos que São
Bernardo, São Domingos, São Fulberto de Chartres, São Bernardino de
Sena, São João Eudes e Padre Berthier, entre outros, forneceriam a nós
material abundante a respeito destes místicos desponsórios. Destes,
citaremos apenas este trecho de uma súplica a Nossa Senhora, do Padre
Berthier, falecido em 1908:
Ó Maria, sempre Virgem!… Calcando aos vossos pés todas as coisas terrenas, escolho-vos por minha Mãe; quero ter-vos por minha única Amada, minha esposa, minha toda formosa. Eu vos suplico: sede a esposa de meu coração! Como símbolo de piedade trarei sempre sobre o coração a imagem da vossa Conceição Imaculada, para que, a toda hora do dia e da noite, me lembre de vós, ó dulcíssima esposa!E como tudo é comum entre os esposos, tornar-me-eis participante dos dons celestes, de que Deus vos constituiu dispensadora, e eu me esforçarei por dar-vos honra e por estender vosso amor tanto em minhas palestras particulares, como no santo tribunal, como no santo ministério da pregação.3
As consequências desta vida de entrega esponsal
Oh! Que inefável união! Que
encantadora intimidade há entre a Virgem Maria e seus filhos prediletos!
Que graça inefável é ter esta a doce Virgem como esposa e viver com ela
as relações de ternura e de caridade que reinam entre duas almas que se
amam!
Em uma união matrimonial,
três coisas são necessárias: o amor mútuo; a intimidade de uma vida
comum; e a comunhão dos bens. No amor mútuo, de nossa parte, amamos tão
pouco e com tão pouco ardor, mas Maria Santíssima se contenta somente
com os nossos desejos e esforços. No entanto, da sua parte, em
retribuição ao nosso amor, tão escasso, ela nos ama com todas as
ternuras de seu Coração materno, que não é um coração qualquer, mas de
Mãe de Deus. Quanto à intimidade da vida comum, trata-se da mesma união
existente sob o título de filhos de Maria. “E como a vida é agradável em
tal companhia! Como a virtude é atraente, e os sofrimentos, invejáveis,
quando partilhados por semelhante coração, impostos por tais mãos!”4
Enfim, na comunhão de bens, é mister nada reservar para nos mesmos, mas
tudo entregar: nosso coração, nosso espírito, nossa vontade, nossos
sofrimentos, nossas lágrimas, nossos pecados e nossos próprios defeitos.
“Doce Virgem, eu vos entrego tudo… E, em troca, eu vos peço que nunca,
outro amor, a não ser o de Jesus, entre no meu coração… de Jesus só, em
vós e por vós!”5
Oh! Mil vezes felizes são os
que têm o coração puro, a alma grande o bastante e o espírito tão
elevado, para aspirar uma tal aliança com a Virgem Maria, tão
encantadora e formosa esposa! Não! Para estes esposos, a Terra não é
mais a Terra, mas o Céu! Eles podem caminhar ainda nas trevas deste
mundo, mas são luz! Há neles uma atmosfera celeste, que os envolve e
transfigura. Certamente, este título é grande e sublime demais para ser
compreendido e apreciado por todas as almas.
O caminho dos esposos da Santíssima Virgem Maria
Assim, dizer-se esposo da
Rainha do Céu é um privilégio reservado àqueles que Deus chama para uma
união mais íntima com sua Mãe Santíssima. No entanto, repetimos para as
almas generosas, que desejam viver mais estreitamente unidas à sua amada
Esposa, esta prática é permitida, contanto que seja fruto de um amor
ardente e de um desejo sincero, de trilhar eficazmente o caminho da
santidade. “Qui sapiens est, intelliget haec!”6 – “Ele [o esposo] é sábio, entenderá isso”.
Para trilhar este caminho
esponsal, antes, devemos expor nossa aspiração, bem como nossos esforços
para agradar a Santíssima Virgem Maria, a um homem de Deus, a um bom
diretor espiritual. Pois, sem obediência, a doação não será recebida por
Nossa Senhora. Entretanto, se feita em espírito de submissão e aprovada
pelo pastor de nossas almas, esta entrega será para nós um estímulo no
dever, um pacto de amor, e um penhor de perseverança. Com a aprovação de
nosso diretor, poderemos então dizer:
Ó Maria, ó doce Maria! Elevai nossos corações, elevai até vós nossas almas, e dai-nos a graça de compreender, de sentir, de provar, desde esta triste peregrinação, o que compreenderemos e apreciaremos tão clara e deliciosamente no Céu: que sois tudo… tudo para nossas almas, e que vos podemos amar com um imenso amor!7
Links relacionados:
TODO DE MARIA. O que significa ser servo de Nossa Senhora?
TODO DE MARIA. O que significa ser filho de Nossa Senhora?
TODO DE MARIA. O que significa ser escravo de Maria?
TODO DE MARIA. O que significa sermos apóstolos de Maria?
TODO DE MARIA. O que significa sermos vítimas de Maria?
Referências:
1 PADRE JÚLIO MARIA LOMBAERDE. O segredo da verdadeira devoção para com a Saníssima Virgem: segundo São Luís Maria Grignion de Montfort, p. 69; cf. S. Anselmo, Sup. Salve Reg. S. A. Cret. in Orat. 2 de anu. B. V.
2 Idem, p. 70.
3 Idem, ibidem.
4 Idem, p. 71.
5 Idem, ibidem.
6 Idem, ibidem.
7 Idem, p. 72.
Autor: Natalino Ueda
Fonte: Canção Nova
Nenhum comentário:
Postar um comentário