Saiba como vencer a soberba, um pecado que se opõe à virtude da humildade, e é o maior mal do nosso tempo.
São Tomás de Aquino nos
ensina que o pecado da soberba é o amor desordenado da nossa própria
excelência e que este se opõe diretamente à virtude da humildade1.
A soberba foi o primeiro pecado, que aconteceu antes mesmo do pecado
original e foi decisivo para que este acontecesse. Dessa forma,
compreendemos a gravidade deste pecado para toda a humanidade, em todos
os tempos, e consequentemente também para cada um de nós em particular.
Para reconhecer a presença
da soberba em nossas vidas, precisamos perceber como ela se manifesta e
quais são aquelas ocasiões mais propícias para este pecado. A partir
deste conhecimento, podemos combater a soberba com a virtude da
humildade. Porém, este combate não é tão simples assim. Pois, a soberba
tem a seu favor aqueles três inimigos da nossa alma: a carne, o mundo e o demônio.
Então, não há outra alternativa senão buscar o auxílio da Virgem Maria,
aquela que foi escolhida por causa de sua humildade (cf. Lc 1, 48) e de
Jesus Cristo, aquele que é “manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).
A soberba: o primeiro mal e o pior de nosso tempo
A soberba foi o pecado de
Lúcifer, que se revoltou contra Deus (Ez 28, 11-19), e também o primeiro
pecado de Adão e Eva (cf. Gn 3, 1-15). Dessa forma, vemos que o pecado
da soberba está na raiz de todo o mal que está presente no mundo. O
pecado e a morte entraram no mundo e no coração de todos os homens por
causa de soberba de nossos primeiros pais no Paraíso. A soberba é também
considerada a raiz de todos os pecados capitais2,
que são assim chamados porque dão origem a muitos outros pecados. Além
disso, este pecado, que por si só já é um grande mal, em nosso tempo
este assume proporções alarmantes. Pois, a humanidade tem assumido a
soberba como se fosse virtude e como projeto de vida. Por todos estes
motivos, é muito necessário e conveniente que combatamos este grande mal
que é a soberba. Além disso, este pecado, que por si só já é um grande
mal, em nosso tempo este assume proporções alarmantes.
Pois, a
humanidade tem assumido a soberba como se fosse virtude e como projeto
de vida.
Hoje em dia, há uma
competição desenfreada pela excelência, para ser o melhor do que os
outros, para ser mais famoso, mais rico, mais poderoso, mais bonito,
mais elegante, que os outros. Não precisamos nem mesmo sair de casa para
ver que a ostentação do dinheiro, das riquezas, do poder estão na moda.
Vemos isto não somente nas ruas, mas também e principalmente através
das mais diversas mídias: televisão, internet, revistas.
Vemos a
ostentação na vida dos cantores e cantoras famosos, que mostram suas
mansões, seus apartamentos de luxo, seus carros importados. Os mesmo
acontece com atores e atrizes talentosos, com esportistas bem sucedidos,
como grandes milionários no mundo inteiro. Os atores globais estão
tornando-se ídolos para a grande massa, fazendo da soberba uma “virtude”
onipresente.
Esta busca pela excelência
manifesta-se também na vaidade, no culto da própria imagem, no culto ao
corpo. Muitas pessoas vivem uma vida quase “ascética” para manter a
beleza, a saúde, o corpo sarado e bem definido. Acordam de madrugada,
fazem seus lanches bem regrados e vão para as academias antes das
atividades do dia, para não perder a forma, numa verdadeira idolatria do
corpo. Também não são raras as pessoas que gastam horas e vultuosas
quantias de dinheiro em salões de beleza, cabeleireiros, clínicas de
estética e de cirurgia plástica, na tentativa de alcançar aquela
“perfeição divina” que jamais alcançarão neste mundo.
Como em outros tempos, até
mesmo no meio religioso há também o grande risco de querermos ser
melhores do que os outros, de ser o melhor pregador, o melhor escritor, o
melhor cantor, o melhor servo, tudo isso muitas vezes disfarçado por
uma falsa humildade. Em nossos dias, como no mundo secular, há
igualmente um agravante que não havia anteriormente: os meios de
comunicação de massa. Estes são particularmente perigosos para aquelas
pessoas que estão expostas ao “holofotes” especialmente da mídia
secular.
Corremos o risco, mais do que em outros tempos, de querer ser o
mais conhecido, o mais aplaudido, o mais admirado, o mais querido.
A virtude da humildade e a luta contra o pecado da soberba
Para superar este grande mau
que é a soberba, em nossos tempos ainda mais perigoso, precisamos
recorrer à virtude que lhe é oposta: a humildade. Esta nos foi dada
justamente para que vençamos as tentações da soberba. No entanto, para
que isto aconteça, é necessário que esta virtude seja verdadeira. Pois,
do contrário, a humildade será facilmente destruída pela soberba.
A virtude da humildade pode
ser atacada diretamente pela soberba, mas deixando intactas as outras
virtudes. Dessa forma, ainda que façamos atos bons em si mesmos, estes
perdem todo o seu valor porque são manchados pela soberba. Isto
aconteceu com o fariseu, que era um homem virtuoso, pois jejuava duas
vezes por semana e pagava o dízimo de tudo quem possuía (cf. Mt 18, 12).
Nisto, vemos que até mesmo as pessoas mais adiantadas espiritualmente
correm o risco de cair no pecado da soberba. Estas pessoas talvez sejam
até mais tentadas do que as iniciantes. Diante de Deus, faltou a
humildade ao fariseu e este pôs-se a vangloriar-se (cf. Mt 18, 11) e,
por isso, não foi justificado. O publicano, por sua vez, apesar de
faltar-lhe as outras virtudes, batia no peito pedindo perdão e foi
justificado por causa da sua humildade (cf. Mt 18, 14).
A soberba também pode agir
indiretamente, atacando as outras virtudes da nossa alma, sob a forma de
uma falsa humildade, impedindo que façamos as boas obras. Santa Teresa
d’Ávila viveu essa experiência no início de sua caminhada e, em
consequência, chegou a abandonar a vida de oração:
Que humildade tão soberba o demônio inventava em mim […]! Faço agora o sinal-da-cruz, e creio que não passei por perigo maior do que essa invenção que o demônio me ensinava como se fosse humildade. Ele me sugeria que, sendo eu uma coisa tão ruim e tendo recebido tantas graças, não podia dedicar-me à oração; bastava-me fazer as orações obrigatórias, como todas, e, como nem isso eu fazia bem, não podia querer fazer mais, pois, assim agindo, desrespeitava e desprezava os favores de Deus3.
O auxílio da humilde Virgem Maria para vencer a soberba
Para vencer o pecado da
soberba nestes tempos difíceis que vivemos, Deus nos concedeu um auxílio
providencial, que é a humilíssima Virgem Maria. Em um êxtase, foi dado a
conhecer à Venerável Paula de Foligno a grandiosa humildade de Maria
Santíssima:
Relatando essa graça a seu confessor, dizia-lhe atônita: A humildade de Nossa Senhora! Ó meu pai, a humildade de Nossa Senhora! Não existe no mundo, nem ainda no menor grau, humildade que se compare à de Maria. – O Senhor também mostrou um dia a S. Brigida duas mulheres: uma toda luxo e vaidade. Esta – disse ele – é a Soberba. Sobre a outra, disse: Contempla essa que tem a cabeça baixa, que é serviçal para com todos, pensando em Deus unicamente e convencida de seu nada: é a Humildade e chama-se Maria. Deus assim mostrava que sua bem-aventurada Mãe era tão humilde, como se fora a própria humildade4.
Para nossa natureza
corrompida pelo pecado, ensinava São Gregório de Nissa, provavelmente
não há virtude mais difícil de praticar do que a humildade. Entretanto,
nunca poderemos ser verdadeiros filhos de Maria, se não formos humildes.
Por isso, dizia São Bernardo: “Se não podes imitar a humilde Virgem em
pureza, imita ao menos a pura Virgem em sua humildade”5.
Pois, ela resiste aos soberbos e só chama a si os humildes. Sabendo
disso, Ricardo de São Lourenço clamava: Maria protege-nos sob o manto da
humildade. Nossa Senhora pediu esta atitude de refugiar-nos sob o seu
manto a Santa Brígida:
“Vem também tu, minha filha, e esconde-te debaixo
do meu manto, que é a humildade”6.
Pois, a meditação de sua humildade é um manto bom, que aquece. A este
respeito, a Virgem Maria explica: “Um manto aquece só quem o traz, não
em pensamento, mas em realidade. Assim também minha humildade aproveita
só àqueles que se esforçam por imitá-la. Oh! como são queridas de Maria
as almas humildes!”7
A Virgem Santíssima conhece e
ama todos os que a amam e está ao nosso lado quando a invocamos,
principalmente quando nos assemelhamos a ela pela pureza e humildade.
Esta presença amorosa de Maria é real, como vemos neste testemunho:
“Martinho d’Alberto, jesuíta, costumava varrer a casa e ajuntar o lixo
por amor da Virgem. Apareceu-lhe um dia a Mãe de Deus […]
agradecendo-lhe esse obséquio, dizendo: Como me é agradável a humilde
ação que praticas por amor de mim!”8
O tempo das humilhações como oportunidade de crescimento espiritual
Maria Santíssima foi a
primeira e mais perfeita discípula de Jesus Cristo em todas as virtudes,
especialmente na virtude da humildade. Aprendamos com a Santíssima
Virgem, que “tinha sempre o conceito mais baixo de si mesma, ocultava os
seus dons celestes e suportava com resignação todas as humilhações e
desprezos”9.
Que motivo de vergonha para nós, se nos gloriamos de ser filhos de
Maria e somos tão orgulhosos! Pensemos bem, pois se “continuarmos assim,
ficaremos sempre igualmente pobres de bens espirituais; porque a divina
Mãe, imitando Jesus Cristo, resiste aos soberbos e comunica suas graças
aos humildes”10.
Como fruto desta meditação,
passemos a imitar a Santíssima Virgem no exercício da humildade, que
consiste em nos reconhecer tão miseráveis como somos, incapazes de fazer
coisa alguma, a não ser o pecado; e em nos satisfazer com o desprezo da
parte dos outros.
Lembremo-nos que “’o tempo das humilhações é o tempo
de adquirirmos tesouros de merecimentos.’ Ganharemos talvez mais
aceitando em paz um desprezo, do que jejuando dez dias a pão e água”11.
Por fim, recorramos com
Santo Afonso Maria de Ligório a Virgem Maria e a seu Filho Jesus Cristo,
para que com seus auxílios possamos vencer o pecado da soberba e
crescer na virtude da humildade:
Ó minha Rainha, não poderei jamais ser vosso verdadeiro filho se não for humilde. Mas não vedes que os meus pecados, depois de me terem feito ingrato a meu Senhor, me têm tornado ainda soberbo? Ó minha Mãe, remediai isto; pelos merecimentos da vossa humildade, impetrai-me a graça de ser humilde e deste modo fazer-me vosso filho. – E Vós, ó meu Jesus humildíssimo, que, para me ensinar a suportar os desprezos e para mos tornar suaves e amáveis, quisestes ser o mais desprezado e humilhado até ser saturado de opróbrios e de Vos fazer o refúgio dos homens; remediai com a plenitude de vossas misericórdias as desordens de meu orgulho e fazei-me semelhante a Vós. † Ó Jesus, manso e humilde de coração, fazei meu coração semelhante ao vosso12.
Links relacionados:
PADRE PAULO RICARDO. A soberba.
PADRE PAULO RICARDO. Terapia da soberba.
TODO DE MARIA. A consagração e a humildade de Maria
Referências:
1 PERMANÊNCIA. Art. 2 – Se a soberba é um pecado especial.
2 Cf. PAPA JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica,
1866. Os pecados capitais segundo São João Cassiano e São Gregório
Magno, são: a soberba, a avareza, a inveja, a ira, a luxúria, a gula e a
preguiça ou negligência (acídia).
3 SANTA TERESA DE JESUS. Livro da Vida, XIX, 10. In PADRE PAULO RICARDO. Terapia da soberba.
4 SANTO AFONSO MARIA DE LIFÓRIO. Glórias de Maria, p. 414.
5 Idem, p. 415.
6 Idem, ibidem.
7 Idem, ibidem.
8 Idem, ibidem.
9 SÃO PIO V. Maria Santíssima, modelo de humildade.
10 Idem, ibidem.
11 Idem, ibidem.
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