A consagração a Jesus por Maria como auxílio extraordinário para vencer os três inimigos da alma: a carne, o mundo e o Demônio.
A consagração a Jesus Cristo
e a Virgem Maria é um auxílio muito eficaz para vencer os três inimigos
da alma: a carne, o mundo e o Demônio. Todos nós temos que combater
esses inimigos, primeiramente porque isto é dever de todos os católicos.
Todavia, lutar contra estes três inimigos da nossa alma torna-se ainda
mais importante quando queremos nos santificar, nos aproximar mais de
Deus.
Nesse caso, a consagração a Jesus por Maria tem se mostrado na
história da Igreja um auxílio de extraordinária eficácia para combater a
carne, o mundo e o Demônio e elevar as almas ao Senhor. Esta eficácia é
comprovada na vida de muitos os santos, que se valeram desta
consagração para combater esses três inimigos da alma e alcançar os
altos cumes da santidade.
Entre os mais conhecidos, podemos citar São João Bosco, Santa Teresinha do Menino Jesus, São Pio de Pietrelcina, Santo Antônio de Sant’anna Galvão.
Não menos importante é São Luís Maria Grignion de Montfort,
o grande apóstolo de Nossa Senhora, que transformou o legado de muitos
santos e santas, que já viviam esta espiritualidade antes dele, no
valiosíssimo tesouro que é o seu livro “Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem”. Este foi o livro de cabeceira do saudoso Papa São João Paulo II, que tinha como lema em latim “Totus Tuus”, que significa “Todo Teu”, ou “Todo de Maria”. No seu testamento espiritual, intitulado “Totus Tuus ego sum”, que quer dizer “Todo Teu eu sou”, São João Paulo II escreveu seis vezes o seu lema: “Totus Tuus”.
Numa dessas referências, expressou sua profunda devoção a Jesus por Maria nestes termos: “Na vida e na morte Totus Tuus mediante a Imaculada”1. O lema “Totus Tuus”
é a expressão abreviada do princípio fundamental que Karol Wojtyła,
ainda seminarista, assumiu para toda a sua vida e que o ajudou a
perseverar até a morte: “Totus tuus ego sum et omnia mea tua sunt. Accipio Te in mea omnia. Praebe mihi cor tuum, Maria – Sou todo vosso e tudo o que possuo é vosso. Tomo-vos como toda a minha riqueza. Dai-me o vosso coração, ó Maria”2.
O primeiro inimigo da nossa alma: a carne
O primeiro inimigo de nossa
alma somos nós mesmos, a nossa própria carne. “As nossas melhores ações
são ordinariamente manchadas e corrompidas pelo mau fundo que há em nós”3.
Por isso, “quando Deus infunde em nossa alma, corrompida pelo pecado
original e atual, as suas graças e orvalhos celestes, ou o vinho
delicioso do seu Amor, assim também os Seus dons são ordinariamente
manchados e estragados pelo mau fermento e mau fundo que o pecado deixou
em nós”4.
Para adquirir a perfeição,
que somente alcançamos pela nossa união com Jesus Cristo, devemos
esvaziar-nos do que há de mau em nós. Este despojamento de nós mesmos só
acontecerá se conhecermos bem, à luz do Espírito Santo, “o nosso fundo
mau, a nossa incapacidade para qualquer bem útil à salvação, a nossa
fraqueza em todas as coisas, a nossa permanente inconstância, a nossa
indignidade de toda a graça, a nossa iniquidade em toda a parte”5. Não foi sem razão que o Senhor mandou renunciar a nós mesmos6, pois, se amamos a nossa alma, a perdemos, mas, se a odiamos, a salvamos7.
Depois de reconhecermos o
nosso fundo mau, “para nos despojar de nós mesmos, é preciso morrer
todos os dias. Isto quer dizer que é preciso renunciar às operações das
potências da nossa alma e dos sentidos do nosso corpo”8.
Renunciar as faculdades da nossa alma significa nos desapegar da inteligência, da memória e da vontade.
A purificação destas se dá através das três virtudes teologais: fé,
esperança e caridade.
Quanto à purificação dos sentidos, esta se dá pela
mortificação do olfato, da visão, da audição, do paladar e do tato.
Como exemplos, podemos purificar: o olfato, deixando de usar perfumes ou
usar aqueles que não gostamos; a visão, abstendo-nos de assistir
filmes, novelas ou acessar conteúdos que transmitem sensualidade,
violência, futilidade, mundanidade; a audição, evitando ouvir músicas do
mundo, conversas tolas, piadas de mau gosto; o paladar, através de
penitências e jejuns de alimentos e bebidas que gostamos e/ou de comer
coisas que não gostamos; o tato, usando roupas ou calçados que não sejam
tão confortáveis e macios, que causem um certo incômodo.
Estas são
medidas simples que fazem toda a diferença na vida espiritual.
A nossa luta contra a carne
se faz ainda mais necessária em nossa vida de oração. Temos um exemplo
desta renúncia de nós mesmos na comunhão, como nos explica São Luís
Maria: “Mas recorda-te de que quanto mais deixares agir Maria na tua
comunhão, mais Jesus será glorificado. E deixarás agir tanto mais Maria
por Jesus e Jesus em Maria, quanto mais profundamente te humilhares e os
escutares em paz e silêncio, sem procurar ver, gostar ou sentir.
Pois o
justo vive, em tudo, da fé9, e particularmente na sagrada comunhão, que é um ato de fé”10.
Estas três operações: “ver, gostar e sentir” dizem respeito ao nosso
corpo. Isto significa que quando mais renunciamos aos nossos sentidos e
também a nossa inteligência, memória e vontade, mais crescemos na fé,
esperança e caridade e consequentemente mais nos aproximamos de Deus.
O segundo inimigo da nossa alma: o mundo
O segundo inimigo de nossa
alma é o mundo, corrompido pelo pecado, no qual vivemos. O mundo quer
nos escravizar de vários modos, através do materialismo, do dinheiro, do
poder, do prazer, das paixões, da moda, do álcool, do fumo, das drogas,
da televisão, da internet, da pornografia, do sexo fora do Matrimônio,
do “politicamente correto”, das ideologias, das falsas religiões.
O
resultado de tudo isso que o mundo oferece, com a falsa promessa de
felicidade, é a confusão, o desespero, a frustração, a depressão, a
neurose, a loucura, a degradação moral, as doenças, a escravidão, a
violência, as guerras, o suicídio, a morte.
Pelas consequências, vemos
que todas as coisas que o mundo nos oferece não nos darão felicidade. Ao
contrário, nos farão cada vez mais infelizes e distantes de Deus. Por
isso, devemos romper decididamente com o mundo. No entanto, o mundo
“está, presentemente, tão corrompido, que se torna quase inevitável
serem os corações religiosos manchados, senão pela sua lama, ao menos
pela poeira. Assim, é quase um milagre conservar-se alguém firme no meio
desta torrente impetuosa sem ser arrastado; andar neste mar tormentoso
sem ser submergido ou pilhado pelos piratas e corsários; respirar este
ar empestado sem lhe sentir as más consequências.
É a Virgem, a única
sempre fiel, sobre a qual a serpente jamais teve poder, quem faz este
milagre a favor daqueles e daquelas que a servem da melhor maneira”11.
A Virgem Santíssima obtém de
Deus a fidelidade e a perseverança para todos os que se dedicam a ela.
Por isso, a Mãe da Igreja pode ser comparada a uma âncora firme, que nos
retém e impede que naufraguemos no meio do mar agitado deste mundo,
onde tantos perecem por se não segurarem a esta âncora segura. “Nós
ligamos as almas à Vossa esperança, como a uma âncora firme”, dizia São
Boaventura. “Foi a Ela que os santos que se salvaram mais se amarraram e
mais amarraram os outros, para perseverar na virtude.
Felizes, pois,
mil vezes felizes os cristãos que agora se agarram fiel e inteiramente a
Maria, como a uma âncora firme”12. Dessa forma, as tempestades deste mundo não nos fará naufragar, nem perder os seus tesouros celestes.
O terceiro inimigo da nossa alma: Satanás
Este terceiro, não é somente
Inimigo de nossa alma, mas também de todos os escravos e filhos de
Nossa Senhora. Pois, desde o pecado de Adão e Eva13,
“Deus constituiu não somente uma inimizade, mas ‘inimizades’, não
apenas entre Maria e o Demônio, mas também entre a descendência da
Virgem Santa e a de Satanás”14.
Isto significa que Deus estabeleceu inimizades, antipatias e ódios
secretos entre os verdadeiros filhos e escravos da Santíssima Virgem e
os filhos e escravos de Satanás.
“Os filhos de Belial15, os escravos de Satanás, os amigos do mundo16,
até hoje perseguiram sempre, e perseguirão mais do que nunca, aqueles
que pertencem à Santíssima Virgem, como outrora Caim perseguiu seu irmão
Abel, e Esaú perseguiu Jacó, figuras dos réprobos e dos predestinados”17.
Apesar desta perseguição
infernal, não temos o que temer, pois a humilde Virgem Maria sempre
alcançará a vitória sobre este orgulhoso, e essa vitória será tão grande
que chegará a esmagar-lhe a cabeça, onde mora o seu orgulho.
Nossa
Senhora sempre descobrirá a sua malícia de serpente e nos mostrará as
suas tramas infernais. Ela destruirá os seus conselhos e protegerá os
seus servos fiéis contra as garras cruéis do Inimigo, até o fim dos
tempos.
O poder de Maria Santíssima
sobre todos os demônios brilhará particularmente nos últimos tempos, nos
quais “Satanás armará ciladas contra o seu calcanhar, ou seja, contra
os humildes escravos e pobres filhos, que ela suscitará para lhe fazer
guerra. Eles serão pequenos e pobres na opinião do mundo, humilhados
perante todos, calcados e perseguidos como o calcanhar o é em relação
aos outros membros do corpo.
Mas, em troca, serão ricos da graça de
Deus, que Maria lhes distribuirá abundantemente. Serão grandes e de
elevada santidade diante de Deus, e superiores a toda criatura pelo seu
zelo ardente. Estarão tão fortemente apoiados no socorro divino que
esmagarão, com a humildade de seu calcanhar e em união com Maria, a
cabeça do Demônio, fazendo triunfar Jesus Cristo”18.
O segredo para vencer a carne, o mundo e o Demônio
Assim, compreendemos que a
carne, o mundo e Satanás, são os três maiores inimigos da nossa alma. No
entanto, se formos fiéis filhos e consagrados da Virgem Maria, nossa
alma será forte e corajosa, para opor-se ao mundo com as suas modas e
máximas; à carne com suas angústias e paixões; e ao demônio com suas
astúcias e tentações.
Uma pessoa verdadeiramente devota da Santíssima
Virgem não é volúvel, melancólica, escrupulosa, nem medrosa. Entretanto,
isto não significa que não caia em pecado de modo algum, ou que não
mude algumas vezes na sensibilidade da sua devoção.
“Mas, se cai,
estende a mão à sua boa Mãe e levanta-se. Se perde o gosto e a devoção
sensível, não se perturba, porque o justo e fiel servo de Maria vive da
fé em Jesus e Maria, e não dos sentimentos do corpo”19.
Desse modo, os fiéis consagrados serão “um grande esquadrão de bravos e
valorosos soldados de Jesus e Maria, de ambos os sexos, que combaterão o
mundo, o demônio e a sua própria natureza corrompida, nos tempos
perigosos que mais do que nunca se aproximam!20
Façamos parte destes valorosos filhos e escravos, renunciemos ao
Demônio, ao mundo, a nós mesmos e consequentemente ao pecado, e entreguemo-nos inteiramente a Jesus Cristo pelas mãos de Maria. Santa Maria, Mãe de Deus, Rogai por nós!
“Ato de entrega dos jovens a Maria:
‘Eis aí a tua Mãe!’21
É Jesus, ó Virgem Maria, que da cruz nos quer confiar a Ti, não para atenuar,
mas para confirmar o seu papel exclusivo de Salvador do mundo.
Se no discípulo João, te foram entregues todos os filhos da Igreja,
Tanto mais me apraz ver confiados a Ti, ó Maria, os jovens do mundo.
A Ti, doce Mãe, cuja proteção eu sempre experimentei, os entrego, novamente, nesta tarde.
Todos, sob o teu manto, procuram refúgio na tua proteção.
Tu, Mãe da divina graça, fá-los brilhar com a beleza de Cristo!
São os jovens deste século, que na aurora do novo milênio,
vivem ainda os tormentos derivados do pecado,
do ódio, da violência, do terrorismo e da guerra.
Mas são também os jovens para os quais a Igreja olha com confiança,
na consciência de que, com a ajuda da graça de Deus,
conseguirão acreditar e viver como testemunhas do Evangelho no hoje da história.
Ó Maria, ajuda-os a responder à sua vocação.
Guia-os para o conhecimento do amor verdadeiro e abençoa os seus afetos.
Ajuda-os no momento do sofrimento.
Torna-os anunciadores intrépidos da saudação de Cristo no dia de Páscoa: a Paz esteja convosco!
Com eles, também eu me confio mais uma vez a Ti e, com afeto confiante, te repito: Totus tuus ego sum! Eu sou todo teu!
E também cada um deles Te dizem comigo: Totus tuus! Totus tuus! Amém”22.
Links relacionados:
PADRE PAULO RICARDO. A Mãe do Salvador e a Nossa Vida Interior.
TODO DE MARIA. Mudar de vida com o Projeto Segunda Morada.
TODO DE MARIA. Purificar: inteligência, memória e vontade.
Referências:
1 PAPA JOÃO PAULO II. O testamento de João Paulo II: Totus Tuus ego sum.
2 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, 266.
3 Idem, 78.
4 Idem, ibidem.
5 Idem, 79.
6 Cf. Mt 16, 24.
7 Cf. Jo 12, 25.
8 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 81.
9 Cf. Hb 10, 38
10 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 273.
11 Idem, 89.
12 Idem, 175.
13 Cf. Gn 3, 15.
14 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 54.
15 Cf. Dt 13, 13
16 Segundo São Luís Maria, escravos de Satanás e amigos do mundo são
sinônimos, não há diferença entre eles.
17 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 54.
18 Idem, ibidem.
19 Idem, 109. Cf. Hb 10, 38.
20 Idem, 114.
21 Cf. Jo 19, 27.
22 PAPA JOÃO PAULO II. Ato de entrega dos jovens a Maria.
Autor e Estudo escrito por: Natalino Ueda
Fonte: Canção Nova
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