31/07/2015

O que não dizer para uma pessoa com câncer?


Saber o que não dizer a uma pessoa com câncer pode tornar mais leve o diálogo
O que não dizer para uma pessoa com câncer? “ Cabelo é o de menos!”, “O que você sentiu mesmo? Acho que estou sentindo o mesmo. Morro de medo de ter o que você tem!”, “Deus sabe o que faz. Eu não suportaria, é porque você é forte!”, “Deus dá o frio conforme o cobertor!”.
o que nao dizer para as pessoas que tem cancer    
 Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
Essas frases não tem nada de consoladoras! Portanto, se uma pessoa que você conhece descobrir que tem câncer, por favor, tire essas palavras da sua lista quando for conversar com ela. Especialmente se for uma mulher. Começo falando da frase sobre o cabelo. Sinto muito, mas cabelo não é o de menos! Para a mulher, muito mais do que apenas estética, o cabelo representa boa parte da identidade feminina dela; e algumas trazem uma história com suas madeixas; então, perdê-las de um dia para o outro não é tarefa simples, mas não é impossível também.
Lembro-me de quando soube que ia passar pela quimioterapia; fiquei pensando o que faria com meus cabelos. Na época, ele estava no meio das costas e aloirados, como eu tanto gostava. Meu esposo levou-me ao salão e, delicadamente, convenceu-me de que eu ficaria linda com um cabelo mais curto. Foi uma experiência estranha, mas, ao fim, senti-me bem. Porém, aquele corte duraria pouco; a quimioterapia logo começaria. Ganhei da minha mãe uma peruca moderna, daquelas que colam na cabeça e imitam couro cabeludo. Com ela eu passaria pela multidão e me livraria dos olhares de piedade do tipo: “Pobre moça, tão jovem e com câncer!”. Resolvi me “disfarçar”.
Um dia antes da primeira sessão, raspei a cabeça para colocar a peruca depois! Foi divertido ver a cara de espanto do meu marido me olhando careca. Aí falei: “O que foi? Nunca viu?”. Pergunta óbvia! E ele (para meu total espanto) falou: “Agora tenho certeza de uma coisa: você é realmente linda, porque, mesmo careca, você fica bonita. Como pode?”. Achei tão engraçado aquilo… Ele era mesmo apaixonado por mim! E eu fiquei ainda mais por ele.
Estou contando tudo isso para lhe dizer: não é tarefa simples para uma mulher perder os cabelos, eles não são “o de menos”. Por isso, sugiro que você, ao presenciar alguém perder os cabelos, especialmente uma mulher, lembre-se de que só ela sabe o que isso significa para ela. Então, frases do tipo “’Como você quer que eu a ajude se sentir melhor?’ ou ‘O que você acredita que vai combinar com você? Uma peruca, um lenço? Quer experimentar antes?’” podem fazer mais efeito. Se não souber o que falar, o silêncio não é sinônimo de vazio, ele pode falar mais do que palavras.
As demais frases que citei acima se referem, naturalmente, ao fato de que quando uma pessoa passa por um câncer, ela se torna um “para-raio” de informações sobre a doença. As pessoas têm medo de ter o que você teve e algumas querem, com uma ideia hipotética de controlar a própria vida, saber detalhes do que aconteceu para prevenir a doença em si mesmo. Até certo ponto, isso é bom, e eu mesma tenho alegria em ajudar e alertar as mulheres. O ruim é sempre o exagero, quando olham para você e fazem o sinal da cruz, com medo. Elas se esquecem de que o sofrimento é inerente ao ser humano, e que, no dia anterior ao meu diagnóstico, eu também lia nas revistas as histórias de mulheres com câncer e, igualmente, não imaginava que um dia seria um delas. Creio que falta para alguns mais naturalidade à percepção de que somos mortais.
Dizer “Eu não suportaria, é por que você é forte” é uma verdadeira falácia! Ninguém gosta de sofrer e ninguém se programa para isso, mas quando o sofrimento bate à nossa porta, temos de fazer uma escolha: deixamos que ele defina quem somos, esmagando-nos e nos vitimando, ou decidimos que ele só reforçará o que temos de melhor, e aproveitaremos a vida após essa experiência de uma maneira muito mais sábia e interessante. Então, ninguém nasce forte para sofrer, mas escolhe não se enfraquecer diante das dores, porque escolhe a vida.
Lembro-me de que as frases que mais me faziam bem eram: “Comunguei por você hoje na Missa!” ou “Lá em casa, um mistério do terço é em sua intenção”. Nossa! Ouvir isso era como um bálsamo. Primeiro, porque a força da oração é capaz de nos sustentar em situações humanamente impossíveis de suportar; segundo, porque saber que alguém se lembrou de nós numa oração, mesmo com tantas outras intenções em sua vida, é prova de que, realmente, ela se importa conosco, e isso faz com que nos sintamos amadas; e o amor cura.
Apesar de ter citado essas frases, entendo perfeitamente que o sofrimento assusta a todos nós. Quantas vezes, diante de uma pessoa que sofria, fiquei sem palavras e até falei besteiras! Então, ouvi frases felizes e infelizes durante meu tratamento, mas não trago nenhum rancor, porque olhei para mim mesma e vi o quanto sou despreparada para lidar com o sofrimento alheio. Assim, não tenho o direito de exigir de ninguém as melhores palavras. Hoje, quando lembro de algumas situações, até me divirto e tento me rever quando me aproximo de algum sofredor. Mas, de qualquer forma, fica a partilha da minha experiência.
Autora: Renata Vasconcelos – Jornalista. Atualmente trabalha com conteúdo de direção artística da TV Canção Nova

30/07/2015

Amizade que tem raiz nunca morre

As sementes de amizade estão guardadas no solo fértil e generoso do nosso coração
Imagine aquele amigo que, durante anos, conviveu com você, dividiu sonhos, brincadeiras, sorrisos, lutas e conquistas. Enfim, essa pessoa que deu mais cor e brilho à sua vida, mas, por algum motivo, precisou partir. O tempo foi passando, alimentado por boas lembranças e algumas vagas notícias. Falta de iniciativas, descuido pelo afeto, respeito ao processo que cada um precisou viver? Talvez um pouco de tudo isso, mas o certo é que uma amizade verdadeira nunca morre, ela é como a boa semente que, guardada na terra dos corações, espera silenciosa o tempo de germinar e voltar a florir. Então, quando o vento dos acontecimentos sopra e o sol da primavera desperta essa amizade, ela rompe o silêncio do tempo e revela a força que jamais deixou de possuir.
Amizade que tem raiz nunca morre
Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com 
Dias atrás, reencontrei uma amiga depois de vários anos distantes. Aliás, anos que foram marcados por grandes acontecimentos em nossas vidas. Casamento, mudança de país, perda de parentes, conclusão da faculdade, conquista de títulos… Enfim, muitas coisas se passaram sem partilharmos. Aos poucos, o contato que era diário passou a ser semanal, mensal, depois anual e quase deixou de existir.
Sinceramente, até duvidei de que aquela amizade ainda tivesse muita importância. Porém, o reencontro ocasional me provou o contrário. De braços abertos, minha amiga veio em minha direção sorrindo como se não existisse espaço de tempo entre o ontem e o agora. Enquanto me abraçava fortemente, disse-me uma frase que define o sentimento: “Onde há raiz, a gente pode descansar. Que bom te encontrar de novo!”.
A amizade estava ali vivinha, pronta para florescer e embelezar tudo à sua volta. Alegramo-nos ao recordar nossas aventuras, brincadeiras diversas e nosso jeito simples, talvez até ingênuo de nos aprofundar na fé. Vivíamos tudo como um sinal de Deus, e tentar agradá-Lo era sempre nossa meta. Ouvindo as histórias, pensei em silêncio: “Preciso continuar vendo os sinais de Deus em todas as coisas. Ele não mudou!”. Lembramo-nos também do quanto ríamos à toa por qualquer motivo. A vida parecia mais leve e os compromissos eram outros, sorríamos tanto que, às vezes, dependendo do ambiente, era preciso disfarçar o olhar das situações engraçadas para não dar um boa gargalhada e sermos incompreendidas. Pensando sobre isso, constatei também que preciso sorrir mais.
Sorrir é uma das melhores coisas da vida, traz inúmeros benefícios a nós e a quem está ao nosso redor, e o melhor é que não custa nada. Por que nos tornamos tão sérios em nossos dias? Dizem que um amigo que sempre nos faz rir merece o céu como recompensa. Bom, lembrei-me ainda das nossas orações em comum. Combinávamos de uma rezar pelas intenções da outra e oferecer sacrifícios diversos, até alcançarem a graça desejada. Percebi que tenho rezado pouco por meus amigos e estou retomando essa prática.
Reencontrar aquela amiga ajudou-me a reencontrar-me também, e esse, aliás, é um dos papéis primordiais da verdadeira amizade, pois nos coloca diante de nós mesmos, faz com que sejamos quem realmente somos e nos instiga a sermos melhores do que imaginávamos ser. Certamente, é por isso que a Palavra de Deus afirma em Eclesiástico 6, 14: “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, encontrou um tesouro”. Como sou grata a Deus por cada tesouro que Ele me permitiu encontrar!
Pelo bem que a experiência me fez, proponho-lhe hoje pensar com carinho nas sementes de amizade que estão guardadas no solo fértil e generoso do seu coração. Essas sementes podem germinar e voltar a florescer para embelezar sua vida e influenciar tudo a sua volta.
Provavelmente, hoje seja um dia oportuno para manifestar aos seus amigos o quanto eles são preciosos e importantes em sua vida. Então, não perca tempo e vá ao encontro deles seja como for. Dessa forma, estará alimentando as sementes de vida e alegria que chamamos de amizade.

29/07/2015

As três fases para formação da amizade

A amizade é um processo contínuo e dividido em fases, as quais nos ajudarão a compreender melhor esse relacionamento
A amizade é uma construção, por isso existem três fases para sua formação.
As três fases para formação da amizade
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
1. Primeira fase: Iniciação
2. Segunda fase: Manutenção
3. Em alguns casos, há uma terceira fase: Dissolução
A amizade tem um início que corresponde aos primeiros encontros, os quais são entendidos como um tempo para o conhecimento do outro. Esse período inicial é de suma importância, pois é aqui que a confiança se inicia e, aos poucos, o envolvimento se torna mais profundo. Muitas pessoas não conseguem se aproximar de uma outra por dificuldades pessoais, como uma introversão excessiva ou mesmo uma baixa autoestima que o faz acreditar que nenhuma outra pessoa poderia o escolher como amigo.
Esses comportamentos podem dificultar a fase inicial, uma vez que a pessoa não se aproxima de uma outra para estabelecer os primeiros laços. Nesta fase, é importante permitir que o outro possa nos conhecer para então o relacionamento amadurecer e avançar para a manutenção da amizade, que é a próxima fase.
Para manter uma amizade é preciso cultivá-la, cuidar dela diariamente. Esse período é chamado de manutenção. Nessa fase, é importante disponibilizar o mínimo de tempo para conversas, diálogos, trocas de experiências, partilhas, carinhos, demonstrações de amor, ajuda concreta etc., porque quem ama oferece tempo. É fundamental empenho contínuo e cuidados que amadureçam o relacionamento. Esse tempo pode ser muito longo, como anos, décadas ou mesmo toda a vida. Os níveis de atenção ou negligência para o relacionamento são fatores que determinam se a relação se aprofundará ou caminhará em direção à fase de dissolução, ou seja, o fim da amizade.
Existem amizades que duram uma vida inteira, como dissemos anteriormente. Nesses relacionamentos, os amigos são verdadeiros, demonstram afeto e respeito, estão sempre atentos às necessidades do outro e dispostos a ajudá-los, consideram o amigo como alguém importante em sua vida.
Existe ainda a dissolução. Essa fase pode ser o resultado da falta de atenção com o outro, falta de interesse pela vida do amigo, falta de respeito com as diferenças, quando os amigos traem um acordo de sigilo ou mesmo quando um dos membros morre. No entanto, a morte não tem significado de término da amizade; na maioria dos casos, um amigo normalmente não morre para o outro, pois ele passa a existir vividamente na memória.
A amizade, portanto, é um processo contínuo que depende dos envolvidos para crescer, amadurecer, durar a vida toda ou diminuir até a extinção.
João Carlos Medeiros é membro do segundo elo da Comunidade Canção Nova. É psicólogo clínico e familiar, logoterapeuta, sexólogo e mestre em sexologia humana.
Maria Luíza da Silva Medeiros é membro do segundo elo Comunidade Canção Nova. É psicóloga clínica e familiar, pós-graduada em psicoterapias cognitivas e neuropsicologia.

28/07/2015

Qual o valor da amizade para Deus?

Os laços de amizade são tão fortes, que são estudados por filósofos, cientistas e representados nas artes
Na recente visita do Papa Francisco ao Paraguai, um dos eventos mais aguardados foi o Encontro com a Juventude, em Assunção. O Santo Padre ouviu relatos de três paraguaios: Liz, Orlando e Manuel. Diante do que ouviu, Francisco falou de maneira espontânea, colhendo ensinamentos para todos a partir da vida desses jovens. No entanto, vale a pena enfatizar alguns trechos do discurso preparado por ele, publicado pelo Vaticano, em seguida. “A amizade é um dos presentes maiores que uma pessoa, um jovem pode ter e pode oferecer. É verdade. Como é difícil viver sem amigos! Vede se esta não é uma das coisas mais belas que Jesus disse: ‘Chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai’ (Jo 15,15)”.
Qual o valor da amizade para Deus
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com 
Os laços de amizade são tão fortes, que são estudados por filósofos, cientistas e representados nas artes. No século quarto antes de Cristo, Aristóteles afirmava que a amizade é uma virtude essencial e necessária à vida. Na atualidade, o tema continua a ser fonte de análises. Estudo recente, de 2010, ‘How Many Friends Does One Person Needs? Dunbar’s number and other evolutionary quirks’ (em tradução livre: ‘Quantos amigos uma pessoa precisa? O número de Dunbar e outras peculiaridades evolucionárias’), afirma que biologicamente o ser humano é capaz de manter uma rede de 150 amigos. Diante de perfis de redes sociais que ultrapassam os três mil amigos, a lista de Dunbar pode parece pessimista. Pessoalmente, considero-a até otimista, já que meu hall de amizades soma ao máximo dez pessoas.
Quantas vezes me emocionei ao ouvir o hino à amizade que se tornou célebre na voz de Milton Nascimento! “Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração. Assim falava a canção que na América ouvi. Mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir”. Esses sentimentos expressados na música refletem nossas conexões com pessoas que podemos contar nos dedos e a quem definimos amigos.
O livro mais vendido do mundo, a Bíblia, é repleto de relatos sobre amizade. O fato de ser a Palavra de Deus, podemos considerá-la uma Carta de amor do Amigo de Céu, que toma a iniciativa de falar com Seus filhos. “E falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala com o seu amigo”, conforme vemos no capítulo 33, de Êxodo. Ainda no Antigo Testemunho, há relatos de amizade como Davi e Jônatas, que apesar de seu pai Saul perseguir e tentar matar Davi, foi fiel ao amigo (I Sm 18-20). Há ainda relatos sobre a presença amiga de anjos, como Rafael que acompanhou Tobias em uma viagem.
Presenças preciosas são os amigos. “Amigo fiel é refúgio seguro: quem o encontrou encontrou um tesouro. Amigo fiel não tem preço: é um bem inestimável. Amigo fiel é um elixir de longa vida: os que temem o Senhor o encontrarão. Quem teme o Senhor dirige bem sua amizade: como ele é, tal será seu companheiro” (Eclo 6, 14-17).
No Novo Testamento, a morte do amigo leva Jesus às lágrimas. O Evangelista João dedica um versículo ao evento da morte de Lázaro: “Então Jesus chorou” (Jo 11, 35). Talvez, a partir dessa experiência, Cristo afirma que “não há maior amor do que dar a vida pelo amigo” (Jo 15, 13).
Papa Francisco destaca ainda a necessidade de cultivarmos a amizade com Cristo. “Jesus nunca nos deixa caídos por terra. Os amigos se apoiam, fazem-se companhia, protegem-se. Assim procede o Senhor conosco. Serve-nos de apoio.”
Ao longo da história, muitas pessoas percorreram o caminho de Jesus alcançando a santidade. Nesse caminho, foram presenteados com amigos como Clara e Francisco, Bento e Escolástica, Teresa e João. “Os Santos são nossos amigos e modelos (…), indispensáveis para quem sempre se olha a fim de dar o melhor de si mesmo”, ensina. A amizade proposta por Jesus é verdadeira e nos proporciona a fazer mais amigos. “Contagiar com a amizade de Jesus, onde quer que esteja, no trabalho, no estudo, na noitada, por WhastApp, no Facebook ou no Twitter. Quando saem para dançar ou estão a tomar um bom tereré. Na praça ou jogando uma partida no campo do bairro. É aí que estão os amigos de Jesus”, conclui o Papa Francisco.
Rodrigo Luiz dos Santos – Comunidade Canção Nova

27/07/2015

Como discernir o que é sinal de Deus?

Deus se utiliza de vários meios para transmitir Seus sinais e Sua pessoa 
Desde o início, Deus se comunica com o ser humano de forma a não somente transmitir mensagens, mas fazendo doação de Si mesmo a nós. “Por uma vontade absolutamente livre, Deus revela-se e dá-se ao homem” (Catecismo da Igreja Católica, art. Nº 50).
O Senhor usa de vários meios para nos transmitir Seus desígnios e Sua Pessoa. Temos como exemplo os anjos, que são Seus mensageiros; os dons do Espírito Santo; a Sagrada Escritura e também a Eucaristia, sacramento de máxima entrega.
Como discernir o que é sinal de Deus?
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com 
Não bastasse tudo isso, ainda há a “comunicação do amor de Deus” por meio de sinais. São acontecimentos que significam algo mais que o simples andamento ou consequência de fatos. Deus nos fala nas entrelinhas das ocorrências incomuns ou da rotina. Até mesmo Jesus percebeu cada passo de Seu ministério em eventos comuns que poderiam passar despercebidos, desde a falta de vinho numa festa de casamento (cf. Jo 2,1-12) até quando se aproximava o tempo certo da “Sua entrega na cruz”. Porém, é necessário ter cuidado e discernir sinceramente se estamos diante do que é um apontamento do Senhor ou se estamos nos aproveitando de um acontecimento qualquer para justificar algo que temos no coração.
Preferimos nos enganar, nomeando forçosamente simples ocorrências como resposta do Alto, dada a grandiosidade do desejo. Desviamo-nos de uma verdadeira leitura da orientação divina, deixando-nos levar por ideias fixas e obstinação de coração. Quando estamos com a mente e os sentimentos tomados, parece que tudo conspira e confirma na direção tanto do objeto de desejo como para traumas, complexos e impressões que trazemos. Assim, no futuro, só nos decepcionaremos com o Senhor e buscaremos culpar os homens que não nos pareceram favoráveis.
Para interpretar corretamente a fala de Deus, é importante, primeiramente, desfazermo-nos dos nossos apegos e conceitos tendenciosos, estarmos livres para aceitar aquilo que não nos é agradável, as exortações e a direção do que Ele quer consertar em nossa vida.
Outro ponto é cultivar uma íntima amizade com o Senhor. Peça a graça de amá-Lo independente dos favores, gaste tempo em Sua companhia e saiba que a iniciativa de sinais será sempre d’Ele; o que não nos isenta da necessidade de termos uma constância na oração e de nos relacionarmos com o Senhor.
Depois que Deus mesmo se encarrega do sucesso do empreendimento e da graça que Ele quer conceder, Jesus ordena a dois de Seus discípulos: “Ide a essa aldeia que está defronte de vós. Entrando nela, achareis um jumentinho atado, em que nunca montou pessoa alguma; desprendei-o e trazei-mo. Partiram os dois discípulos e acharam tudo como Jesus tinha dito”(Lc 19,30-32). Os fatores do outro lado, no campo da missão, encontram elementos correspondentes à ordem dada por Jesus, mas isso não significa que essa providência se manifeste no primeiro momento. Deus enviou Moisés ao faraó, mas o soberano do Egito foi resistente em libertar o povo do Senhor. Podemos encontrar barreiras que o Altíssimo sinaliza como sendo Sua vontade para nós.
Na verdade, aprenderemos a interpretar corretamente os sinais com um treinamento. Com o passar do tempo, se mantivermos uma amizade verdadeira com Deus e nos exercitarmos nesse processo de intuir, empreender na ordem divina e prestar atenção aos resultados, aprenderemos a olhar um fato, desde o início, e saber se é realmente um sinal do Senhor.
O Deus a quem seguimos é bondoso e quer fazer aquilo que é o melhor para nós, por isso está em constante comunicação.
Ele é fiel e nos conduz. “Se o seu projeto ou a sua obra provém de homens, por si mesma se destruirá” (At 5, 38).

26/07/2015

São Joaquim e Sant'Ana, pais de Nossa Senhora

São Joaquim e Sant'AnaCom alegria celebramos hoje a memória dos pais de Nossa Senhora: São Joaquim e Sant’Ana. Em hebraico, Ana exprime “graça” e Joaquim equivale a “Javé prepara ou fortalece”.
Alguns escritos apócrifos narram a respeito da vida destes que foram os primeiros educadores da Virgem Santíssima. Também os Santos Padres e a Tradição testemunham que São Joaquim e Sant’Ana correspondem aos pais de Nossa Senhora. Sant’Ana teria nascido em Belém. São Joaquim na Galileia. Ambos eram estéreis. Mas, apesar de enfrentarem esta dificuldade, viviam uma vida de fé e de temor a Deus.
O Senhor então os abençoou com o nascimento da Virgem Maria e, também segundo uma antiga tradição, São Joaquim e Sant’Ana já eram de idade avançada quando receberam esta graça. A menina Maria foi levada mais tarde pelos pais Joaquim e Ana para o Templo, onde foi educada, ficando aí até ao tempo do noivado com São José.
A data do nascimento e morte de ambos não possuímos, mas sabemos que vivem no coração da Igreja e nesta são cultuados desde o século VI.
São Joaquim e Sant’Ana, rogai por nós!

25/07/2015

Os quatro tipos de casais e as estações do ano


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Padre Chrystian Shankar. Foto: Arquivo Canção Nova
Jesus ensina, por meio do Evangelho, que há quatro tipos de casais 
Deus quer fazer algo grande no seu casamento, esteja aberto e atento à graça de Deus. Esteja atento àquilo que Deus quer dizer a você.
Quero dividir a minha fala em dois pontos. Primeiramente, o Evangelho e o segundo ponto, as estações do ano. Ouvimos Jesus explicando, no Evangelho de hoje, sobre a parábola do semeador que todos conhecem muito bem. Esta é uma parábola para os casais e Jesus ensina que há quatro tipos de casais.
O primeiro deles é o casal cabeça dura. A pessoa que tem cabeça dura ouve a Palavra, mas ela não entra. A terra batida à beira do caminho simboliza o casal duro de coração que não tem sensibilidade para as coisas de Deus.
Quando experimentamos algo bom, queremos que o outro também experimente. Portanto, uma das coisas difíceis no relacionamento é quando um dos dois é quente e o outro é frio.
O segundo é o casal superficial que tem uma atração pela Palavra, ouve e acolhe com alegria, mas não deixa ela entranhar na sua vida, não permite com que a Palavra crie raiz.
O terceiro tipo é o casal secular que é muito arraigado no mundo e não caminham para o reino dos céus. A semente cai na terra, vai germinando, mas quando chega a hora dela crescer vem a preocupação com o shopping, com a posição social e com tantas outras coisas. Esse tipo de casal tem tempo para tudo, mas não tem tempo para Deus.
Não se reza quando sobra tempo, é preciso reservar tempo para estar na presença de Deus. Casal que reza unido, permanece unido e na presença de Deus. Vocês precisam rezar juntos! Caso contrário vão se tornando um casal cabeça dura, em que um não entende o outro ou se tornarão um casal superficial, que vive de aparências. Sendo ainda pior o casal secular que conversa somente sobre carros, negócios, falam apenas sobre coisas.
Os casais ‘cabeça dura’, ‘superficiais’, ‘seculares’, ouvem a Palavra de Deus, mas não assumem a Palavra.
O quarto é o casal com espiritualidade. A semente é a mesma, mas o terreno é que faz a diferença acolhendo a Palavra e tomando posse daquilo que foi dito. A comunhão com o Espírito Santo fornece sol, umidade e todos os elementos necessários para que a semente germine e cresça dando frutos. Deus espera isso de nós.
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“A comunhão com o Espírito Santo fornece sol, umidade e todos os elementos necessários para que a semente germine e cresça dando frutos”, disse padre Chrystian. Foto: Arquivo Canção Nova
Para a semente germinar, crescer e dar frutos é preciso saber em qual estação plantar, esperar e colher. Em Cântico dos Cânticos 2, 11-13 lemos: “Eis que o inverno passou, cessaram e desapareceram as chuvas. Apareceram as flores na nossa terra, voltou o tempo das canções. Em nossas terras já se ouve a voz da rola. A figueira já começa a dar os seus figos, e a vinha em flor exala o seu perfume; levanta-te, minha amada, formosa minha, e vem.”
Primavera, verão, outono e inverno são as estações do ano. Com qual estação você e seu esposo se parecem?
primavera está representada no versículo 12, “Apareceram as flores na nossa terra, voltou o tempo das canções. Em nossas terras já se ouve a voz da rola”. É a estação marcada pelas flores e cântico dos pássaros, dia de sol e muito perfume. Todos os relacionamentos começam com uma primavera romântica que é vivida pelo casal romântico que não perdeu o carinho um pelo outro ou que é vivida pelos recém casados. Primavera é o romantismo e ela sempre volta. Ainda há flores no seu casamento?
Terminando a primavera vem o verão que é marcado pelo calor, pelas chuvas, tempo de férias e temporais inesperados. Os problemas, enfermidades, dívidas, aparecem. No entanto, assim como a chuva que começa e termina, são também as dificuldades. É o tempo de passear, tirar férias, tempo do casal se curtir e manter não somente a relação quente, em termos sexuais, mas quente com a presença do Espírito Santo. Você é um casal quente de Deus?
Depois do verão vem o outono que é o tempo das frutas e tempo em que as folhas caem. O ar torna-se árido e é preciso tomar mais água. Os filhos chegam, que são os frutos.
E a quarta estação é o inverno que pode ser um tempo ruim se seu casamento esfria. Quando, por exemplo, a esposa diz ao marido, “vá dormir na sala!”. Mas, o inverno não é tempo do casal se distanciar, pelo contrário, é tempo de aproximação.
Há muitos casais que buscam filmes pornográficos para esquentarem a relação, transformando a cama conjugal em um leito de perdição. Há casais que não procuram Deus, não procuram a Palavra. Quando o inverno chega é preciso que vocês busquem um ao outro e busquem Deus. E se você não colocar limites no seu casamento, o inverno não passará.
Não sei em qual estação você está, mas Deus quer fazer algo em você, Ele quer fazer algo em seu casamento.
Transcrição e adaptação: Míriam Bernardes

23/07/2015

Deus nos criou com o dom maravilhoso e desafiador que é a liberdade

Deus se arrisca a encontrar inclusive respostas negativas ao seu projeto de amor e felicidade para a humanidade. Seu contato com a humanidade, expresso em toda a História da Salvação, inclui um elemento importante, o chamado, apelo, a vocação. A aventura humana pede este confronto de duas liberdades, que podem construir, ao longo dos anos, fecundo relacionamento, cujos frutos contribuem para o crescimento do Reino de Deus, sem excluir as possíveis crises de amadurecimento, já que somos respeitados nos passos a serem dados.
Um homem de nome Amós, vindo do ambiente rural (Am 7, 12-15), cuja experiência é descrita pela Liturgia neste final de semana, é convocado por Deus, para exercer a missão de profeta, com palavras provocadoras e exigentes, em tempos de crise política e religiosa. Deus chama quem ele quer e do jeito que quer, desenraizando, quando necessário, a pessoa do próprio ambiente, concedendo-lhe palavras acertadas que suscitam mudança e conversão. A resposta ao chamado poderia ser negativa, mas a hombridade do homem simples e corajoso pede um compromisso corajoso. Não dá para voltar atrás!
Jesus chamou doze (Mc 6, 7- 13), setenta e dois, centenas e milhares para o seguirem e serem enviados. Houve gente que disse não (Cf. Mc 10, 17-22), entre os que o seguiram houve deserções, traição, negação vergonhosa, pecados! A todos ele faz propostas semelhantes e desproporcionais às capacidades humanas: não levar nada para o caminho, despojamento total, expulsar demônios, curar os enfermos, anunciar a chegada do Reino de Deus. Até hoje é assim, nos diversos dons, ministérios e carismas que são concedidos a todo o povo de Deus. Existe o chamado e as pessoas continuam respondendo, mesmo em meio a tantas mudanças no mundo. E quem o segue deve acolher condições exigentes: “Entrai pela porta estreita! Pois larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram! Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram” (Mt 7, 13-14). O que acontece? Por que este “incômodo” que é seguir Jesus continua a se realizar, malgrado toda uma onda que aparentemente conduz a estradas diversas?
É claro que nosso ângulo de visão é fruto de nossa fé. Estamos convencidos de algumas realidades fundamentais! Fomos feitos por Deus, não somos obra do acaso, por ele somos amados e o mundo não é o espaço dominado pela maldade, mas terra de Deus, pensada por ele para a nossa felicidade, tanto que a Bíblia descreve poeticamente a Criação, falando de um Paraíso! Num mundo de pessoas que apenas pensam em vestir-se bem, outras querem a ociosidade, tantas rejeitam a verdade ou querem criticar todas as coisas, há gente que prefere os valores do Paraíso e o preferem, como santos do porte de um São Filipe Neri, sobre o qual é muito conhecido um filme chamado “Prefiro o Paraíso”.
Renunciam a grandes carreiras, homenagens, sucesso a qualquer custo. Agrada-lhes outra coisa, o Paraíso! É que o projeto de Deus contempla valores diferentes dos que costumeiramente encontramos como a partilha, a sensibilidade diante das situações dolorosas dos outros, a atenção, a coragem para tomar iniciativas de serviço à sociedade, a superação da impureza e da ganância. Trata-se de preferir o Paraíso, o jeito de Deus ver as coisas!
O Apóstolo São Paulo usa expressões que podem abrir os horizontes de nossa compreensão da realidade humana e dos desígnios de Deus para todos: “Deus nos escolheu em Cristo, antes da fundação do mundo, para sermos santos e imaculados diante dele, no amor. Conforme o desígnio benevolente de sua vontade, ele nos predestinou à adoção como filhos, por obra de Jesus Cristo, para o louvor de sua graça gloriosa, com que nos agraciou no seu bem-amado” (Ef 1, 4-6). Nós fomos escolhidos, antes do mundo ser criado, para sermos santos e imaculados, diante dele, no amor. Ninguém foi feito para o egoísmo ou para o pecado. Optar pela maldade é possível, mas é processo de autodestruição, e Deus não fez ninguém para ser infeliz!
Aqui tocamos num ponto delicado. Há um destino traçado, do qual não podemos fugir? Será que não posso escolher jogar tudo para o alto, considerando-me livre para fazer o que quiser? Só posso ser feliz em Deus? São perguntas desafiadoras e incômodas! Só Deus é capaz de propor aos seres humanos um caminho de felicidade e continuar a amá-los, se manipular sua liberdade, mesmo se eventualmente voltarem as costas para ele. Só o Pai do Céu é capaz de enviar seu Filho amado, que foi até o mais profundo da rejeição de Deus, quando, em nome da humanidade arrasada, gritou na Cruz o abandono: “Quando chegou o meio-dia, uma escuridão cobriu toda a terra até às três horas da tarde. Às três da tarde, Jesus gritou com voz forte: “Eloí, Eloí, lemá sabactâni? – que quer dizer “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste” (Mc 15, 33-34). Tendo descido por amor ao ponto mais baixo, Jesus Cristo nos abriu o caminho da vida e da liberdade, visitando todas as situações humanas, para preenchê-las apenas de amor.
Nesta “viagem”, com a qual conheceu tudo o que é humano, concedeu capacidades às pessoas, chamou, convocou, atraiu e enviou: “A cada um de nós foi dada a graça conforme a medida do dom de Cristo. Por isso, diz a Escritura: ‘Subindo às alturas, levou cativo o cativeiro e distribuiu dons aos seres humanos’. Que significa ‘subiu’, senão que ele desceu também às profundezas da terra? Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, a fim de encher o universo” (Ef 4, 7-10). Para resgatar o escravo, fazendo-o livre e fiel, ele se fez escravo, entregou-se até à morte, e morte de Cruz!
O caminho da liberdade passa pela entrega. Só se liberta quem se doa, quem transforma sua vida em oferta a Deus e ao próximo! Quem se guarda condena a si mesmo à esterilidade e à tristeza, e este não é o plano de Deus! O dom da liberdade se efetiva quando as pessoas saem de si mesmas. Pode acontecer que alguém até esteja preso, como ocorreu e ocorre com tantos homens e mulheres que se sacrificam por Deus e pelo próximo, mas estas são pessoas livres, porque são fiéis a Cristo. Acima das eventuais circunstâncias, “pela fé, conquistaram reinos, exerceram a justiça, foram contemplados com promessas, amordaçaram a boca dos leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, recobraram saúde na doença, mostraram-se valentes na guerra, repeliram os exércitos estrangeiros. Mulheres reencontraram os seus mortos pela ressurreição. Outros foram torturados ou recusaram ser resgatados, para chegar a uma ressurreição melhor.
Outros ainda sofreram a provação dos escárnios, experimentaram o açoite, as cadeias, as prisões, foram apedrejados, serrados ou passados ao fio da espada, levaram vida errante, vestidos com pele de carneiro ou pelos de cabra, oprimidos, atribulados, sofrendo privações. Eles, dos quais o mundo não era digno” (Hb 11, 33-38). 
Que Deus continue a chamar, em nosso meio, pessoas desse quilate!

22/07/2015

Causas que podem tornar nulo um casamento

Muitas são as causas que podem tornar nulo o matrimônio sacramental
É preciso deixar claro que a Igreja não anula uniões sacramentais validamente contraídas e consumadas; mas pode, após processo do Tribunal Eclesiástico, reconhecer que nunca houve casamento, mesmo nos casos em que todos o tinham como válido.
Causas que podem tornar nulo um casamento
Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com
Leva-se muito em conta as capacidades e limitações psíquicas dos noivos para contrair obrigações matrimoniais para sempre. Não basta analisar o comportamento externo de alguém para o conhecer; às vezes, muitos atos das pessoas são irresponsáveis, assumidos sem consciência plena porque podem faltar o senso de responsabilidade, a maturidade ou a liberdade necessárias para que o ato tenha valor plenamente humano e jurídico.
Pode acontecer que o vínculo matrimonial nunca tenha existido, se houver um erro que torne o consentimento dos noivos inválido.
E quais são os motivos pelos quais um casamento pode ser nulo? Há, segundo o Código de Direito Canônico da Igreja, dezenove motivos:
A. Falhas de consentimento (cânones 1057 e 1095-1102)
1. Falta de capacidade para consentir (cânon 1095)
2. Ignorância (cânon 1096)
3. Erro (cânones 1097-1099)
4. Simulação (cânon 1101)
5. Violência ou medo (cânon 1103)
6. Condição não cumprida (cânon 1102)
B. Impedimentos dirimentes (cânones 1083-1094)
7. Idade (cânon 1083)
8. Impotência (cânon 1084)
9. Vínculo (cânon 1085)
10. Disparidade de culto (cânon 1086,- cf cânones 1124s)
11.. Ordem Sacra (cânon 1087)
12. Profissão Religiosa Perpétua (cânon 1088)
13. Rapto (cânon 1089)
14. Crime (cânon 1090)
15. Consangüinidade (cânon 1091)
16. Afinidade (cânon 1092)
17. Honestidade pública (cânon 1093)
18. Parentesco legal por adoção (cânon 1094)
C. 19. Falta de forma canônica na celebração do matrimônio (cânones 1108-1123)
Vamos colocar a seguir os Cânones do Código de Direito Canônico sobre cada item; um artigo explicativo de cada item pode ser lido em nosso livro “Família, Santuário da Vida” (Ed. Cléofas).
A. Falhas de consentimento (cânones 1057 e 1095-1102)
«Cânon 1057 – § 1º- 0 matrimônio é produzido pelo consentimento legitimamente manifestado entre pessoas juridicamente hábeis, e esse consentimento não pode ser suprido por nenhum poder humano.
§ 2º- 0 consentimento matrimonial é o ato de vontade pelo qual o homem e a mulher, por aliança irrevogável, se entregam e se recebem mutuamente para constituir matrimônio».
0 consentimento matrimonial assim exigido pode ser impedido ou impossibilitado por:
1. Falta de capacidade para consentir (cânon 1095)
«Cânon 1095 – “São incapazes de contrair matrimônio:
1º- os que não têm suficiente uso da razão;
2º- os que têm grave falta de discrição de juízo a respeito dos direitos e obrigações essenciais do matrimônio, que se devem mutuamente dar e receber;
3º- os que não são capazes de assumir as obrigações essenciais do matrimônio por causas de natureza psíquica».
2. Ignorância (cânon 1096)
«Cânon 1096 – § 1. Para que possa haver consentimento matrimonial, é necessário que os contraentes não ignorem, pelo menos, que o matrimônio é um consórcio permanente entre homem e mulher, ordenado à procriação da prole por meio de alguma cooperação sexual.
§ 2º Essa ignorância não se presume depois da puberdade».
3. Erro (cânones 1097 e 1099)
«Canôn 1099 – 0 erro a respeito da unidade, da indissolubilidade ou da dignidade sacramental do matrimônio, contanto que não determine a vontade, não vicia o consentimento matrimonial».
Para evitar o erro de direito e os problemas daí decorrentes, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu a seguinte norma:
«Cuidem os sacerdotes de verificar se os nubentes estão dispostos a assumir a vivência do matrimônio com todas as suas exigências, inclusive a de fidelidade total, nas várias circunstâncias e situações de sua vida conjugal e familiar. Tais disposições dos nubentes devem explicitar-se numa declaração de que aceitam o matrimônio tal como a lgreja o entende, incluindo a indissolubilidade» (Orientaçôes Pastorais sobre o Matrimônio, nº 2.15).
Cânon 1097, § 1º: «O erro de pessoa torna inválido o matrimônio».
«O erro de qualidade da pessoa, embora seja causa do contrato, não torna nulo o matrimônio, salvo se essa qualidade for direta e principalmente visada» (cânon 1097 § 2º).
Cânon 1098: «Quem contrai matrimônio, enganado por dolo perpetrado para obter o consentimento matrimonial, a respeito de alguma qualidade da outra parte, qualidade que, por sua natureza, possa perturbar gravemente o consórcio da vida conjugal, contrai-o indevidamente».
4. Simulação (cânon 1101)
«Presume-se que o consentimento interno está em conformidade com as palavras ou os sinais empregados na celebração do matrimônio» (§ 1º).
«Contudo, se uma das partes ou ambas, por ato positivo de vontade, excluem o próprio matrimônio, algum elemento essencial do matrimônio ou alguma propriedade essencial, contraem invalidamente» (§ 2º).
5. Violência ou medo (cânon 1103)
«É inválido o matrimônio contraído por violência ou por medo grave proveniente de causa externa, ainda que não dirigido para extorquir o consentimento, e quando, para dele se livrar, alguém se veja obrigado a contrair o matrimônio».
6. Condição não cumprida (cânon 1102)
«§ 1. “Não se pode contrair validamente o matrimônio sob condição de futuro.
§ 2. 0 matrimônio contraído sob condição de passado ou de presente é válido ou não, conforme exista ou não aquilo que é objeto da condição”.
B. Impedimentos dirimentes (Can. 1083-94)
7. A idade mínima para a validade de um casamento sacramental é 14 anos para as moças e 16 anos para os rapazes. Os Bispos podem dispensar dessa condição, mas rarissimamente o fazem. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil exige dois anos mais para os casamentos no Brasil, ou seja, 16 e 18 anos respectivamente; todavia esta exigência incide sobre a liceidade, não sobre a validade do casamento [4]. Cf. cânon 1083.
8. A impotência (ou incapacidade de praticar a cópula conjugal) anterior ao casamento e perpétua, absoluta ou relativa, é impedimento dirimente. Cf. cânon 1084.
9. O vínculo de um matrimônio validamente contraído, mesmo que não consumado. Cf. cânon 1085.
10. A disparidade do culto: é inválido o casamento entre um católico e uma pessoa não batizada, se a parte católica não pede dispensa do impedimento.
11. A ordenação diaconal, presbiteral ou episcopal. Cf. cânon 1087.
12. A profissão religiosa perpétua. Cf. cânon 1088.
13. Rapto; cf. cânon 1089. Uma mulher levada pela força não se pode casar validamente com quem a está violentando dessa maneira.
14. Crime; cf. cânon 1090. Os que matam seu ou sua consorte, para facilitar um casamento posterior estão impedidos de realizar validamente esse casamento. Da mesma forma, se um homem e uma mulher, de comum acordo, matam o esposo ou a esposa de um deles, não se podem casar validamente entre si.
15. Consangüinidade; cf. cânon 1091. Não há dispensa na linha vertical (pai com filha, avô com neta… ); na linha horizontal, o impedimento (dispensável) vai até o quarto grau, isto é, atinge tio e sobrinha e primos irmãos.
16. Afinidade na linha vertical; cf. cânon 1092. Não há matrimônio válido entre o marido e as consangüíneas da esposa e entre a esposa e os consangüíneos do marido, suposta a viuvez previamente ocorrida. (Nota do Autor: Por exemplo, um viúvo não pode casar-se com a mãe ou filha da ex-esposa). Na linha horizontal não há impedimento: um viúvo pode casar-se com uma irmã (solteira) de sua falecida esposa.
17. Honestidade pública; cf. cânon 1093. Quem vive uma união ilegítima, está impedido de se casar com os filhos ou os pais de seu (sua) companheiro (a).
18. Parentesco legal; cf. cânon 1094. Não é permitido o casamento entre o adotante e o adotado ou entre um destes e os parentes mais próximos do outro. Este impedimento, como outros desta lista, podem ser dispensados por dispensa emanada da autoridade diocesana.
19. Falta de forma Canônica na celebração (Can. 1108-23)
«Forma canônica» é o conjunto de elementos exigidos para a celebração ritual do casamento. Requer-se, com efeito, que a cerimônia se realize perante o pároco do lugar e, pelo menos, duas testemunhas (padrinhos).
«Cânon 1116 – § 1. Se não é possível, sem grave incômodo, ter o assistente competente de acordo com o direito, ou não sendo possivel ir a ele, os que pretendem contrair verdadeiro matrimônio podem contrai-lo válida e licitamente só perante as testemunhas:
1º- em perigo de morte ;
2º- fora do perigo de morte, contanto que prudentemente se preveja que esse estado de coisas vá durar por um mês.
§ 2. Em ambos os casos, se houver outro sacerdote ou diácono que possa estar presente, deve ser chamado, e ele deve estar presente à celebraçâo do matrimônio, juntamente com as testemunhas, salva a validade do matrimônio só perante as testemunhas».
Dissolução do matrimônio não consumado
Cânon 1142: «O matrimônio nâo consumado entre batizados ou entre uma parte batizada e outra não batizada pode ser dissolvido pelo Romano Pontífice por justa causa, a pedido de ambas as partes ou de uma delas, mesmo que a outra se oponha».