A Igreja classifica este pecado [ganância] como "capital". São Paulo chama a avareza de idolatria: "Mortificai, pois, os vossos membros terrenos: fornicação, impureza, paixões, desejos maus, cupidez e a avareza, que é idolatria” (Cl 3,5).
A  razão do apóstolo ver como idolatria o apego aos bens materiais,  sobretudo ao dinheiro, é que isto faz a pessoa amá-lo como a um deus.  Torna-se escrava da riqueza. Desde o princípio, Jesus alertou os  discípulos para este perigo já no Sermão da Montanha: "Ninguém pode  servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou  dedica-se a um e desprezará o outro. Não podeis servi a Deus e a  riqueza” (Mt 6,24).
O que importa é que a pessoa não seja escrava  do dinheiro e dos bens. É claro que todos nós precisamos de dinheiro; o  próprio Jesus tinha um “tesoureiro” no grupo dos apóstolos. São Paulo  diz a Timóteo que “a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro” (1Tm  6,10). Veja, portanto, que o mal não é o dinheiro em si, mas o “amor” a  ele; isto é, o apego desordenado que faz a pessoa buscá-lo como um fim,  não como um meio.
É importante notar que não  são apenas os ricos que podem se tornar avarentos, embora sejam mais  levados a isto. Não é raro encontrar também pobre avarento. Por isso, no  mesmo Sermão da Montanha, Jesus alerta:
"Não ajunteis para vós  tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões  furam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem  nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furam nem roubam" (Mt  6,19-20).
Se Jesus recomenda "não ajuntar tesouros na terra", é  porque esta riqueza e segurança são ilusórias e não podem nos satisfazer  por mais que o mundo nos diga que sim.
É justo e necessário ter o  dinheiro que precisamos para nossas despesas. O próprio Jesus manda  pedir ao Pai, todos os dias, "o pão nosso de cada dia"; o que se condena  é a obsessão pelo dinheiro, que faz com que a pessoa sacrifique no  altar desse "deus" os verdadeiros valores.
Por causa do dinheiro  muitos aceitam praticar a mentira, a falsidade e a fraude. Quantos  produtos falsificados! Quantos quilos que só possuem 900 gramas! Quanta  enganação e trapaças nos negócios!
Não é verdade que mesmo entre os cristãos, tantas vezes um engana o outro, o "passa para trás" em algum negócio, compra e venda?
Poderemos  constatar que toda a corrupção, tráfico de drogas, armas, crimes,  prostituição, comércio de mulheres, poluição da terra, do ar e da água  tem, por detrás, a sede pelo dinheiro. O próprio domingo, dia do Senhor,  está se transformando, para muitos, num dia de ganhar dinheiro.
Por  amor ao dinheiro muitos pais perdem os próprios filhos e muitos  casamentos acabam. Por causa da ganância vemos o mundo numa situação de  grande injustiça e miséria para muitos. Como disse o papa Paulo VI, os  ricos estão cada vez mais ricos às custas dos pobres cada vez mais  pobres. O nosso Catecismo diz:
"Uma teoria que faz do lucro a  regra exclusiva e o fim último da atividade econômica é moralmente  inaceitável. O apetite desordenado pelo dinheiro não deixa de produzir  seus efeitos perversos. Ele é uma das causas dos numerosos conflitos que  perturbam a ordem social (GS. 63,3). Toda prática que reduz as pessoas a  não serem mais do que meros meios que têm em vista o lucro, escraviza o  homem, o conduz à idolatria do dinheiro e contribui para difundir o  ateísmo" (CIC § 2424).
"Guardai-vos escrupulosamente de toda  avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância,  não depende de suas riquezas" (Lc 12,15).
A Igreja nos ensina que  somos apenas administradores de todos os bens e riquezas que Deus põe  em nossas mãos, para que com eles façamos o bem aos outros. Deveremos  prestar contar a Deus de tudo, como Jesus mostrou na parábola dos  talentos (Mt 25,14s).
O apego aos bens desse mundo é algo muito  forte em nós, quase que uma "segunda natureza" e, portanto, só com o  auxílio da graça de Deus poderemos vencer esta tentação forte. Desde  pequenos fomos educados para “ganhar a vida”. Será preciso a força do  Espírito Santo em nossa alma para nos “convencer” da necessidade de uma  vida de desprendimento e pobreza.
Para dominar este forte impulso  que age dentro de cada um de nós é preciso oração, meditação e grande  esforço de nossa parte; sobretudo, no sentido de convencermos a nós  mesmos da grandeza do desprendimento. Mais do que nunca o Espírito Santo  terá que vir em auxílio da nossa fraqueza.
A liturgia nos ensina a “caminhar por entre as coisas que passam, abraçando somente as que não passam”. Seja senhor de suas posses, não seu escravo. Santo Agostinho dizia: “não andes averiguando quanto tens, mas o que tu és”. E ainda: “A verdadeira felicidade não consiste em ter muito, mas em contentar-se com pouco”.
Profº- Felipe AquinoComunidade Canção Nova



 
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