"Uma religião da Palavra de Deus, não do livro", diz biblista
Mirticeli Medeiros
Da Redação Canção Nova

“O cristianismo não é a religião do livro”, afirma Bento XVI na exortação apostólica pós-sinodal  Verbum Domini,  publicada em 30 de setembro de 2010, dia de São Jerônimo. O que o Santo  Padre quis dizer com uma frase tão forte e ao mesmo tempo tão  desafiadora?
O biblista italiano que participou do Sínodo dos  bispos sobre a Palavra de Deus em 2008, padre Giorgio Zevini, responde a  este questionamento detalhando o que o Santo Padre considera a essência  da relação entre Igreja e Sagrada Escritura.
“O cristianismo é a  religião da Palavra de Deus, e não do livro, não de uma palavra escrita  e muda, mas do Verbo encarnado e vivente. No início do cristianismo não  existia uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um  acontecimento, com uma Pessoa que dá vida e horizonte e, com isto, a  direção decisiva”, explicou.
“Ler além do que está escrito”
A  difusão de uma doutrina fundamentalista que diz basear-se na Sagrada  Escritura sempre preocupou a Igreja Católica. O Papa Bento XVI durante o  discurso proferido aos luteranos, na sua ultima viagem apostólica  internacional à Alemanha chegou a afirmar: “Trata-se de um cristianismo  de escassa densidade institucional, com pouca bagagem racional, sendo  ainda menor a bagagem dogmática, e também com pouca estabilidade”.  (Discurso de Bento XVI aos membros da Igreja Evangélica Alemã, 23 de  setembro de 2011). O biblista também fez referências ao que o Pontífice  considera uma verdadeira hermenêutica da fé, ou seja, a interpretação da  fé.
“O papa, falando da interpretação da Sagrada escritura  insistiu muito sobre a exegese teológica, que valoriza não somente o  sentido literal do texto, mas também o sentido espiritual, através do  Espírito Santo, o verdadeiro exegeta das Sagradas Escrituras. È decisivo  colher a passagem entre letra e espírito, sublinhando uma unidade  interna de toda a Escritura, para uma correta hermenêutica da fé”,  salientou.
Anunciar a Palavra: missão de todos
A  missão da Igreja Católica é anunciar a Palavra de Deus. Não existe um  “grupo restrito de anunciadores”, mas aquilo que é tarefa dos bispos,  padres e diáconos é também tarefa de cada cristão. Padre Zevini fala  como na terceira parte do documento chamado de Verbum Ecclesia, o  Pontífice traz orientações precisas sobre a evangelização.
“A  palavra de Deus envolve todos os cristãos: todos somos servos e  anunciadores da Palavra. Não somos só destinatários da revelação divina,  mas também portadores aos outros da Palavra de Salvação, já que esta é  para todos. Naturalmente isto exige que nos deixemos envolver  pessoalmente pela Palavra de Deus, conhecendo-a e fazendo-a germinar  dentro de nós sob a direção do Espirito Santo”, disse.
 
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