
Não existe arte sem amor, quadro sem pintor, vaso sem oleiro…
A Sagrada Escritura utiliza-se de inúmeras figuras e expressões para   revelar Deus e o Seu modo peculiar de agir na história. Entre estas   descrições quero destacar a imagem do oleiro, fortemente acentuada pelo   profeta Jeremias (cf. Jer 18,1-6ss).
Nestes versículos apresentados  pelo profeta, a manifestação divina é  expressa com a figura de um  oleiro, que molda como a argila aqueles que Lhe pertencem. Esta  descrição é rica em expressão e em significado, pois  desvela a ação e o  amor do Eterno, possibilitando-nos compreender o "singelo jeito" com  que Ele nos acompanha e faz crescer.
Este Oleiro sabe, melhor que nós mesmos, do que realmente precisamos e o que nos fará essencialmente felizes. Sua ternura nos convida ao abandono total aos Seus cuidados, os quais sempre nos proporcionarão o melhor, mesmo quando não formos capazes de compreender Seu distinto modo de agir. Por isso, para caminhar no território da fé, a confiança se estabelece como realidade mais necessária do que a compreensão… Uma confiança "filial" de alguém que se descobre amado e cuidado e que, por isso, crê que o Oleiro está sempre agindo e realizando o que é melhor para seus dias.
De fato, este Oleiro enxerga além. Ele contempla as surpresas que ao futuro pertencem e, na Sua Divina Providência, cuida de nós: ora retirando de nosso caminho o que nos é prejudicial, ora acrescentado algo àquilo que nos falta. Isso nos desautoriza a pretensão de querer condicionar a ação de Deus à nossa limitada maneira de enxergar e compreender as coisas, antes, nos confessa que é preciso confiar naquilo que Ele faz e em Seu modo particular de fazê-lo.
A confiança nos abre à percepção de que Deus sabe retirar  excessos e  acrescentar às ausências no momento certo. Sabe o que  realmente nos fará  crescer e amadurecer (e crescer às vezes dói).  E maduro é quem sabe  perder sem apegos, para que assim possa ser  despojado do que não lhe é  essencial e acrescentado no que realmente  lhe falta.
Não existe arte sem amor, quadro sem pintor,  vaso sem oleiro… Obra  mais bela é a que se constrói pelas mãos do  artista, do Oleiro. Só Ele  traz em Seu coração os belos sonhos que  poderão retirar um rude barro de  sua "não existência".
O barro não pode se moldar a si mesmo. Para vir a ser, ele  precisa  confiar-se aos sonhos e à sensibilidade do oleiro, pois as mãos  dele  comportam a medida certa, entre firmeza e delicadeza, para  trabalhar  esta substância abstrata transformando-a em uma linda obra de  arte.
Da mesma forma, não existe parto sem dor, maturidade sem  perdas, felicidade sem se  ater ao essencial. É necessário confiar  n’Aquele que nos molda, e  mesmo quando a firmeza de Suas mãos parecer  pesar demais sobre nós,  confiemo-nos à Sua iniciativa e criatividade,  que sempre realizará em  nós o que é melhor.
A felicidade faz morada em nosso coração à medida que nos assumimos como aquilo que realmente somos: “Barro, apenas barro, nas mãos do Oleiro!”

 
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