Entre um atendimento e outro no confessionário da Canção Nova, o padre salvista Rafael Pereira de Lemos recebeu a equipe do cancaonova.com para falar sobre os passos fundamentais de uma boa confissão. O sacerdote explicou a necessidade de preparar-se para este momento e também esclareceu uma dúvida muito comum: a diferença entre confessar-se com um sacerdote ou diretamente com Deus. Para ouvir esta entrevista na íntegra, clique no play abaixo. Ao ir para a página do Podcast Entrevistas, você encontrará, abaixo de cada post, uma seta; ao clicar nela você conseguirá baixar o arquivo em MP3.
cancaonova.com: Qual o primeiro passo para uma boa confissão?
Padre Rafael: O primeiro passo é o arrependimento, ou seja, a consciência que diz "errei e preciso voltar para casa", lembrando-se sempre de que a referência é o filho pródigo, que cai em si e volta para casa, como diz a Palavra de Deus. Então, para uma boa confissão eu tenho de me arrepender e ter consciência de que fiz algo de errado contra o Senhor, contra meus irmãos e contra mim mesmo.
cancaonova.com: Qual a necessidade de uma preparação?
Padre Rafael: Sem a devida preparação não há como ir ao encontro da misericórdia do Senhor. O que eu vou apresentar a Ele? As minhas misérias, aquilo que eu fiz de errado. A partir do momento em que eu tenho uma boa preparação e que confronto a minha vida com a Palavra de Deus, com a vontade d'Ele, eu tenho a coragem de voltar. O “fundo do poço” não é o nosso lugar, mas sim, junto de Deus, no grande banquete que Ele preparou para nós.
cancaonova.com: O que fazer para se lembrar de todos os pecados e estar preparado para a confissão?
Padre Rafael: Aqui, na Canção Nova, realizamos um rito, que é um exame de consciência com os Dez Mandamentos. Não é uma regra, pois há várias maneiras de fazer um exame de consciência: pelos Dez Mandamentos, pelas virtudes teologais (fé, esperança e caridade), pelos sacramentos, os mandamentos da Igreja. Existe também uma regrinha básica, uma criação minha, que é como uma pedrinha no sapato. Se você está com uma “pedra no sapato”, eu digo que isso é um pecado grave ou mortal. Você tem que parar, porque aquilo está gerando uma ferida, machucando o seu pé e, consequentemente, a sua vida. Mas, vez por outra, nós colocamos uma meia e deixamos a costura dela no lugar errado; aquilo fica nos incomodando. Eu chamo isso de pecados veniais, ou seja, que precisam só de um ajuste. Lembrando que para esse tipo de pecado eu tenho o perdão na Santa Missa, na qual peço perdão diretamente a Deus. A oração do Pai-Nosso já nos dá esse perdão.
cancaonova.com: Por que é importante confessar-se com um sacerdote e não diretamente com Deus?
cancaonova.com: É uma boa prática levar os pecados anotados em um papel no momento da confissão?
cancaonova.com: Por que é importante confessar-se com um sacerdote e não diretamente com Deus?
Padre Rafael: A Palavra é clara quando nos diz que só Deus pode perdoar os pecados, só Ele é justo, só Ele não tem pecado. Quando você decide confessar-se com um padre o seu perdão já começa nesse momento, porque você já se apresentou diante de Deus, mas você vai diante do sacerdote para confirmar aquilo que já está sendo realizado no seu coração. Perdão dos pecados só existe no sacramento da confissão; por isso os padres da Igreja o chamam de “segunda tábua de salvação” (a primeira é o batismo), porque ali eu tenho a garantia de que Deus me perdoou. Mas há pecados, como um pensamento, um sentimento, que eu posso ir diretamente ao Senhor e dizer a Ele: “Olha, eu fiz isso, Senhor. Perdão, porque foi uma coisa sem pensar, eu não queria, foi um momento de tentação, mas eu estou entregando meus pecados diante do Senhor”. O próprio Jesus nos deu esse mandato: “Tudo o que ligares na Terra, será ligado no Céu; tudo o que desligares na Terra, será desligado no Céu” (Mateus 16,19).
cancaonova.com: É uma boa prática levar os pecados anotados em um papel no momento da confissão?
Padre Rafael: Eu faço isso, porque nós temos a tentação de esconder algumas coisas por vergonha de apresentá-las ou talvez porque o padre seja muito jovem e acreditamos que ele não compreenda bem o que queremos falar. Mas quando você coloca isso no papel, você monta um roteiro, não tem como escapar. Mesmo que o nosso coração esteja arrependido, temos a tentação de querer escondê-los [os pecados]. Sempre digo aos meus penitentes que é muito difícil falar de nós mesmos, principalmente de nossas misérias. Mas quando tenho um roteiro, sei por onde vou começar, quais são os pontos que precisam de mais ajuda e onde Deus precisa tocar com mais misericórdia.
cancaonova.com: Se, ao confessarmos, não contarmos ao sacerdote, por vergonha, um pecado do qual nos arrependemos, este será perdoado?
Padre Rafael: A contrição é o arrependimento perfeito, ou seja, eu tenho um coração contrito e humilhado, porque me arrependo dos meus pecados, vou até o padre, confesso, falo aquilo que eu tenho feito de errado e recebo perdão. Mas quando eu, conscientemente, omito minhas faltas, a confissão não é valida, porque eu tive apenas uma atrição, isto é, uma abertura para a conversão. O belo é que nós temos sempre essa experiência de pessoas que guardam um pecado por 20, 30 anos, mas não conseguem escondê-lo pelo resto da vida. A partir do momento em que você tem aquilo mexendo dentro de você, incomodando-o, você quer o perdão, mesmo que não tenha a coragem de pedi-lo. Mas quando chega o momento certo, você tem de apresentá-lo a Deus. Isso é o que o Catecismo da Igreja Católica chama de atrição, uma abertura do coração para o arrependimento, para a conversão.
cancaonova.com: De quanto em quanto tempo é necessário se confessar?
Padre Rafael: De acordo com a Igreja, uma boa confissão é de, ao menos, uma vez por ano. Mas eu creio que a regra básica é saber quantas vezes você comunga. Se você comunga todos os domingos, deve confessar-se uma vez por mês ou a cada dois meses. Mas se você tem uma frequência maior de comunhão, você tem de estar sempre se examinando. “Será que pequei? Será que falhei diante de Deus, dos meus irmãos ou de mim mesmo?” Mas não crie pecados, porque confissão é para aquilo que você realmente necessita.
A Bíblia diz que um justo peca sete vezes por dia; mas o segredo do justo é que ele recomeça todos os dias. Então, se um santo peca sete vezes por dia, eu tenho de me converter com mais frequência. Por isso que, no ato penitencial da Santa Missa, nós recordamos isso; e para nos aproximarmos do banquete precisamos estar purificados.
cancaonova.com: Ao confessarmos, precisamos entrar em detalhes sobre a falta cometida?
cancaonova.com: Qual a diferença entre confissão e direção espiritual?
cancaonova.com: Qual o significado do uso da estola e qual cor deve ser usada no momento da confissão?
A Bíblia diz que um justo peca sete vezes por dia; mas o segredo do justo é que ele recomeça todos os dias. Então, se um santo peca sete vezes por dia, eu tenho de me converter com mais frequência. Por isso que, no ato penitencial da Santa Missa, nós recordamos isso; e para nos aproximarmos do banquete precisamos estar purificados.
cancaonova.com: Ao confessarmos, precisamos entrar em detalhes sobre a falta cometida?
Padre Rafael: Detalhes, eu creio que não são necessários; mas, pelo menos, é preciso ser objetivo e claro naquilo que você está falando. Na Canção Nova, quando alguém vai se confessar, diz o seu estado de vida: se é casado ou solteiro.... Mas se você vai dizer que pecou contra o Sexto Mandamento [Não matarás], ele é uma imensidão de coisas. Como confessor, eu preciso saber o que você realmente fez, pois a partir do momento em que você tem essa delicadeza de dizer o que realmente cometeu, não precisa detalhar. O que você precisa é ser objetivo, claro e consciente do que está fazendo para não gerar dúvidas.
cancaonova.com: Qual a diferença entre confissão e direção espiritual?
Padre Rafael: A direção espiritual é mais detalhada. Na confissão, eu quero receber de Deus o perdão. A direção espiritual, como o nome já diz, é uma direção para a minha vida: os meus relacionamentos, o meu projeto de vida, santidade, os problemas familiares. Essa prática me dá dicas de como superar as dificuldades, de como olhar diferente, de como trabalhar para superar determinados pecados, vícios.
Em muitos lugares, às vezes, a pessoa vai se confessar e reclama que o padre foi muito seco, pois só a escutou e lhe deu a absolvição. Isso é a confissão clássica, ou seja, aquilo que a Igreja ensina desde todo o sempre. E, aqui, na Canção Nova, nós temos a graça de receber as pessoas para a confissão dando-lhes pistas de como se olharem de forma diferente. Há muitas pessoas que confundem culpa com sentimento de culpa, porque já confessaram o pecado, mas acham que não foram perdoadas, pois o sacerdote não lhes falou nada. O pecado já não existe mais, mas a pessoa, nesse caso, precisa de uma direção espiritual para superar o sentimento de culpa. É preciso recordar-se da confissão, do amor de Deus e da misericórdia d'Ele para seguir um novo rumo.
Em muitos lugares, às vezes, a pessoa vai se confessar e reclama que o padre foi muito seco, pois só a escutou e lhe deu a absolvição. Isso é a confissão clássica, ou seja, aquilo que a Igreja ensina desde todo o sempre. E, aqui, na Canção Nova, nós temos a graça de receber as pessoas para a confissão dando-lhes pistas de como se olharem de forma diferente. Há muitas pessoas que confundem culpa com sentimento de culpa, porque já confessaram o pecado, mas acham que não foram perdoadas, pois o sacerdote não lhes falou nada. O pecado já não existe mais, mas a pessoa, nesse caso, precisa de uma direção espiritual para superar o sentimento de culpa. É preciso recordar-se da confissão, do amor de Deus e da misericórdia d'Ele para seguir um novo rumo.
cancaonova.com: Qual o significado do uso da estola e qual cor deve ser usada no momento da confissão?
Padre Rafael: Dentro da liturgia, o roxo simboliza a conversão, a penitência. O sacramento da confissão também tem o nome de “sacramento da penitência”. Desde o Antigo Testamento, quando homens e mulheres pecavam contra Deus e reconheciam os seus pecados, pediam perdão ao Senhor e faziam penitência. Então, o roxo simboliza esse tempo de mudança para dizer “eu quero ressuscitar com Cristo”. É belo quando, no final da absolvição, nós [sacerdotes] dizemos: “Eu o absolvo dos seus pecados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. A estola relembra para o sacerdote e para o penitente que não é um simples mortal que está ali. O sacramento me configura a Cristo para trazer vida nova e salvação para aquela alma.
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