15/10/2009
A Farsa do Código da Vinci - Parte I
O livro “O Código Da Vinci” é um bestseller (já vendeu 40 milhões de exemplares), de autoria de Dan Brown, um romancista que não é historiador, norte-americano, que foi professor de inglês da Philips Exeter Academy de New Hampshire. O filme, com o mesmo nome, será lançado no mundo todo a partir de 19 de maio, por um milionário marketing; calcula-se que será visto por 800 milhões de pessoas. O seu efeito será muito maior do que o livro.
A trama do romance, que é uma ficção histórica, pretende mostrar que “o Cristianismo é uma falsidade e uma impostura”, uma invenção da Igreja Católica, mantida a preço de crimes e guerras ao longo dos séculos.
Vários objetivos são nitidamente visados pela obra, que deseja questionar: a veracidade histórica do Cristianismo, a verdadeira divindade de Jesus Cristo, a confiabilidade histórica da Bíblia, a origem e o desenvolvimento da fé católica e as reais atividades dos Apóstolos. Deseja-se mostrar que a cultura judaico-cristã é fundada em uma mentira misógina (aversão a mulheres).
Pretende-se, na verdade, aproveitar o escândalo que o livro e o filme provocam nas pessoas para fazer sucesso com um público carente de formação religiosa, mas ao mesmo tempo ávido de fantasia e de suspense religioso. O autor emprega a maliciosa tática de encher páginas e páginas com informações supostamente verdadeiras, mas que na verdade não têm nenhuma base religiosa, artística, histórica e cultural. Trata-se de uma ficção travestida de história.
A trama de Brown afirma que Jesus teria sido casado com Maria Madalena, com quem teria tido uma filha; ambas teriam fugido para a França por causa da perseguição dos Apóstolos, protegida porém por alguns defensores. Ali na França geraram uma descendência que teria no século V se casado com pessoas de sangue real francês dando origem à linhagem dos merovíngios, do qual surgiu o rei Godofredo de Bulhões. Este rei, descendente de Jesus e Madalena, teria fundado a sociedade secreta Irmandade do Priorado de Sião, para proteger a “verdade” sobre Madalena e a sua descendência. Esta entidade transmite seu segredos em códigos ocultos. Daí aparece a figura de Leonardo da Vinci (1452-1519), que teria sido membro do Priorado de Sião, assim como o fisico Isaac Newton e outros. As obras famosas de Da Vinci (Mona Lisa, Ultima Ceia, Homem vitruviano, etc.) conteriam sinais e símbolos secretos do Priorado de Sião.
Por exemplo, no quadro da “Santa Ceia”, pintado durante três anos numa parede do Convento de Santa Maria delle Grazie, em Milão, com nove metros de comprimento e quatro de altura, a figura junto a Cristo não seria de São João, mas de Madalena. No entanto, os peritos em arte afirmam que Leonardo quis retratar o momento no qual Cristo anuncia haver um traidor entre os discípulos. Jesus teria confiado a chefia da Igreja a Madalena, mas isto teria sido silenciado pela Igreja e pelos Apóstolos ao longo dos séculos, usando para isto crimes e guerras; algo que não tem fundamento histórico algum.
O autor prefere confiar mais no enredo do filme “A última tentação de Cristo” do que nos sérios relatos históricos de vinte séculos de estudos bíblicos.
Nem mesmo os evangelhos gnósticos, usados pelo autor, evangelho de Felipe e evangelho de Maria (Madalena) afirmam que Jesus era casado com Madalena e, muito menos, que teria deixado a chefia da Igreja com ela.
A Igreja Católica é mostrada na obra como uma grande mentira histórica, invenção do imperador Constantino (séc IV), que teria feito do Cristianismo uma religião para todo o império, com o objetivo de unificá-lo, transformando Jesus em Deus no Concilio de Nicéia, em 325, e substituindo o culto da deusa Vênus por Cristo.
O imperador Constantino teria fundido os ensinamentos cristãos com as tradições pagãs, para que fossem mais facilmente aceitos pelo povo. Para que tudo isso acontecesse o imperador teria mandado destruir todos os relatos evangélicos e reescrevê-los, para demonstrar a divindade e Cristo. Cerca de oitenta evangelhos teriam sido queimados. No entanto, nenhum registro dos paleontólogos e da história confirmam isto. Assim, teria sido suprimida a figura da “mulher de Jesus” nos quatro Evangelhos canônicos, e apresentada uma nova imagem de Madalena como prostituta.
A partir daí a Igreja Católica teria recusado o aspecto feminino e sexual da religião cristã. Há uma nítida tentativa do autor de jogar a mulher e o feminismo contra a Igreja, mostrando-a inimiga da mulher. Nesta ficção histórica o autor descreve a Igreja Católica, representada pelo Vaticano e pelo Opus Dei, capaz de todo tipo de crimes, chegando a assassinar cinco milhões de mulheres (bruxas) e hereges; o que é um absurdo histórico. Em oposição à mentira e impostura do Cristianismo, o autor apresenta como verdadeira a religião dos cultos pagãos anteriores ao Cristianismo, que adoravam a divindade feminina e praticavam o sexo sagrado.
O Opus Dei é apresentado como uma sociedade secreta a serviço da Igreja e que confronta o Priorado de Sião na busca do Santo Graal (sangue real), que seria o túmulo de Maria Madalena, onde estariam outros documentos preciosos escritos por Jesus e deixados para Madalena, escondidos sob as ruínas do templo de Herodes. Quem tivesse posse desses documentos seriam poderosos. Os Cruzados teriam tentado encontrar esses documentos mas não conseguiram porque foram impedidos por um grupo de “nobres cavaleiros da verdade” chamados de Cavaleiros Templários; que estavam a serviço do Priorado de Sião.
Os Templários teriam encontrado o Santo Graal e teriam negociado com o Vaticano enormes exigências. Saiba que nesta época a Igreja não tinha a sua sede no Vaticano e sim no Palácio do Latrão, doado pelo imperador Constantino. A residência do Papa no Vaticano só foi construída muito mais tarde. O livro é repleto de erros históricos. Os descendentes de Maria Madalena na França teriam sido protegidos contra a Igreja pela Irmandade secreta chamada Priorado de Sião, desde o século IV. No entanto, a primeira instituição com este nome só surgiu no ano 1100; uma Ordem monástica católica (Mosteiro de Nossa Senhora de Sião), em Jerusalém, que deixou de existir em 1617.
O livro quer levar a entender que é necessário a Igreja Católica reconhecer a sua impostura e os seus crimes, voltando a adorar a divindade feminina, e assim mudar a sua doutrina moral sobre a sexualidade, inclusive aceitando o sacerdócio de mulheres e outras coisas. Há muita invenção, maldade e perversão na obra. No entanto, os leitores mais despreparados podem ficar com a idéia de que a Igreja Católica, e em particular o Vaticano e o Opus Dei, é uma Instituição que não é digna de confiança. Visa-se, portanto, desprestigiar a Igreja.
Se de um lado o livro e o filme de Brown atacam pesadamente a Igreja e o Cristianismo, por outro lado abre as portas para uma evangelização junto àqueles que gostarão de saber a verdade. Por isso é necessário estarmos preparados para apresentar as devidas explicações históricas e religiosas. Deus, como sempre faz, saberá tirar desse mal algum bem para a Igreja; ela é invencível, jamais as portas do inferno a vencerão (cf. Mt 16, 18).
Fontes:
- A Igreja ante o Código Da Vinci, Documento do Episcopado mexicano (29mar06).
- O Opus Dei e o próximo filme “O Código da Vinci”, zenit.org 13jan06
- A Verdade por trás de “O Código da Vinci”, Richard Abanes, Ed. Rideel. SP, 2004
- Decodificando Da Vinci, Amy Welborn, Ed. Cultrix, SP
- O Pensamento Vivo de Da Vinci, Martin Claret Editores, 1986, SP - O Código da Vinci, Dan Brown, Ed. Sextante, SP, 2005
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