Ao falar do matrimônio, São Paulo diz que “é grande este mistério” (Ef 5,32). E o Apóstolo explica que é grande porque “se refere a Cristo e à Igreja”. Jesus referiu-se a Ele como o Esposo, presente entre os convidados daquela bodas: “o Esposo está com eles” (Mt 9,15). Com esta imagem, Ele indicava quanto o amor de Deus para com o homem se reflete no amor de um homem e uma mulher, unidos em matrimônio.
Jesus se apresenta como o Esposo, na sua Pessoa ele revela Deus como o Esposo do povo, de Israel no Antigo Testamento e da Igreja na Nova Aliança. João Paulo II dizia que “o amor humano é a grande analogia para se falar do amor de Deus”. E também a relação sexual do casal assim unido significa algo muito além da mera genitalidade, é transcendente, pois não existe na terra nenhuma outra relação que exprima mais fortemente a intimidade que Deus deseja ter com cada um de nós hoje e sempre. Por isso, o prazer do ato sexual foi dado por Deus e é legítimo e licito para o casal unido pelo matrimônio; esse prazer é uma amostra, um sinal, um indício, do que será a alegria da união eterna com Deus.
Esse prazer estonteante é como que uma porta aberta para “o que Deus tem preparado para os que amam”, como disse S. Paulo (1Cor 1,9).
Uma vez que a união conjugal foi transformada em um sacramento por Jesus, a sua união envolve o próprio Deus, que dá grande sentido ao ato sexual. O Concilio Vaticano II disse que “o legítimo amor conjugal é assumido no amor divino” (GS).
O casal nunca pode esquecer que o ato sexual é a celebração do seu amor; por isso ele vai sempre além das aparências e do prazer; por isso, deve ser um ato sem pressa, respeitando o ritmo do outro e seus limites. Cada um deve ter a liberdade de comunicar ao outro as suas dificuldades, seus desejos, sem fingimento e sem constrangimento, para aprimorar esta “celebração do amor conjugal”. Isso faz com que a relação sexual do casal mude com o tempo, e vá se ajustando às necessidades de cada um.
Se houver alguma dificuldade, aquele que mais ama, ou tem mais facilidade, deve logo iniciar o diálogo amigo para superar algum problema. Não permitam que o silêncio sepulcral os enterre na tristeza e na frieza. Muitas vezes uma relação sexual pode significar o recomeço de uma nova vida, o reinício de uma comunhão interrompida por algum problema. É preciso estar disposto a sempre recomeçar, isso significa amar primeiro. O amor não é somente um ato de sentimento, mas também um ato de vontade, de domínio, que quer o bem do outro. É preciso buscar fazer da existência um ato contínuo de amor ao longo do tempo.
Muitas vezes o casal terá que se perdoar; e isso não quer dizer simplesmente esquecer o erro cometido pelo outro. Perdoar não é um ato de fraqueza e nem considerar sem importância a ofensa recebida; o perdão não é um gesto de indiferença; é um ato de vontade; é um decisão lúcida e livre de quem sabe o valor que tem de acolher o outro apesar de nos ter ofendido ou prejudicado.
O Papa nos ensina, na Carta às Famílias, que a presença de Jesus nas Bodas de Caná, com a Mãe e os seus discípulos, realizando ali o “primeiro” milagre, “pretende assim demonstrar quanto a verdade da família esteja inscrita na Revelação de Deus e na história da salvação” (CF,18).
S. Paulo ensina que o amor do casal é o reflexo do amor de Cristo para com a Igreja, e sua união sinaliza na terra, esta “Aliança” eterna e indissolúvel. Nesta lógica, o Apóstolo exige:
“Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la , purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5,25-27).
Essas palavras mostram que a Igreja é a Esposa de Cristo, objeto de todo o seu amor. Ele fez dela o seu próprio Corpo, que chamamos de Místico. Cristo tornou-se, então, “uma só carne” com a Igreja, fez-se a sua Cabeça. Isto levou o Apóstolo a dizer:
“As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o Chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador.” (Ef 5,22)
Esta “submissão” só pode ser bem entendida quando se olha para a submissão da Igreja a Cristo. Longe de ser uma anulação ou escravidão, é uma cooperação amorosa com a cabeça que dirige o corpo. É, na verdade, uma submissão recíproca. A palavra submissão significa estar “sob missão”, quer dizer, a esposa deve ajudar o esposo a cumprir a usa difícil missão de manter o lar e educar os filhos.
Santo Ambrósio, bispo de Milão, que batizou Santo Agostinho, já dizia aos maridos no século IV:
“Não és o senhor, mas o marido; não te foi dada como escrava, mas como mulher… Retribui-lhe as atenções tidas para contigo e sê-lhe agradecido por seu amor.” (Exameron, V,7,19)
A experiência mostra que os casais e as famílias mais felizes, são aquelas em que a esposa coopera docilmente com o marido na sua difícil tarefa de dirigir o lar. Aquelas mulheres que querem assumir o comando do lar, anulando o marido, muitas vezes experimentam a solidão e a insegurança. O perfil psicológico da mulher está muito mais para ser apoiada e protegida, do que para mandar.
Só conseguimos entender bem o mistério do casamento à luz da Aliança de Deus com a humanidade, desde Adão, até a nova e eterna Aliança de Cristo com a Igreja. O matrimônio cristão tem estas três características: Indissolubilidade, Fidelidade e Fecundidade, exatamente porque essas são as características do amor de Cristo para com a Igreja. É uma Aliança indissolúvel, eterna, celebrada uma vez para sempre no sangue do Cordeiro; é uma Aliança que não admite traição de ambas as partes; e é uma Aliança fértil de onde renascem os filhos de Deus pelo Batismo.
O Catecismo da Igreja mostra bem esta verdade:
“O amor conjugal comporta uma totalidade na qual entram todos os componentes da pessoa – chamada do corpo e do instinto, força do sentimento e da afetividade, aspiração do espírito e da vontade; o amor conjugal dirige-se a uma unidade profundamente pessoal, aquela que, para além da união numa só carne, não conduz senão a um só coração e a uma só alma; ele exige a indissolubilidade e a fidelidade da doação recíproca definitiva e abre-se na fecundidade” (CIC, 1643).
A aliança de Deus para com Israel apresenta-se sob a imagem de um amor conjugal exclusivo e fiel. Na Antiga Aliança, o Esposo é o próprio Deus, Javé, que se apresenta como o Esposo de Israel, povo eleito: um Esposo fiel e ciumento, terno e exigente. Todas as traições de Israel, deserções e idolatrias, dramaticamente descritas pelos Profetas, não conseguem acabar com o amor deste Deus-Esposo, que em Jesus Cristo, finalmente, “ama até o fim” (Jo 13,1), este povo que o rejeita e o leva à Cruz.
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