A nossa alma também está à espera, nesta expectativa pela vinda do Senhor; uma alma aberta que chama: “Vem, Senhor”
Quando falamos do mês de dezembro, vem logo à nossa mente a celebração do natal. Este mês de dezembro inteirinho, a liturgia nos prepara para a grande festa, o nascimento do Menino Jesus. As quatro semanas que antecedem o
Natal, geram em nossos corações a feliz expectativa para a vinda do Senhor que irá nascer.
Foto: Gama5 / by Getty Images
Tendo em vista esta função do Advento: preparar para o Senhor Jesus que virá; vale recordar as maneiras que Cristo vem até nós.
São Bernardo define em três. “A primeira, quando Ele veio por Sua Encarnação; a segunda é cotidiana, quando Ele vem a cada um de nós, pela sua graça; e a terceira, quando virá para julgar o mundo” (São Bernardo de Claraval, Obras completas de São Bernardo, Madrid: BAC, 1953, p. 177).
Vejamos então, a partir do pensamento de São Bernardo em consonância com o Magistério da Igreja sobre as “vinda do Senhor”.
Encarnação
A primeira vinda do Senhor é a mais conhecida, por se tratar do Natal. “Revestido da nossa fragilidade, ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação”. (prefácio do Advento I). Esta oração rezamos no tempo do Advento como forma de celebrar o mistério da encarnação. Deus totalmente Espírito, assume um corpo humano, uma alma humana. É um Deus que não quis permanecer inacessível; não restringiu-se à sua Glória celestial, mas quis passar pela experiência humana, a ponto de ser em tudo igual a nós, exceto no pecado (Hb 4, 15).
O Concílio de Nicéia acontecido no século IV esclareceu essa realidade. Jesus possui duas natureza, a humana e a divina. Jesus é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem.
Podemos nos perguntar, por qual razão ele se fez homem? Poderíamos nomear várias razões pelas quais Deus se fez homem e veio habitar no meio de nós, mas uma merece destaque particular, para nossa salvação.
No Credo Niceno-Constantinopolitano rezamos: “Por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos Céus e se encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem”.
Como vimos, essa é a principal razão: à nossa salvação. Por isso, na Solenidade de Natal somos convidados a mergulhar nossa vida neste mistério. Deus por seu imenso amor se humanizou para nos divinizar.
Cotidiano
A segunda vinda do senhor, conforme São Bernardo, é aquela que acontece no cotidiano da vida, em especial, por meio dos sacramentos.
Nos ensina o Papa Francisco: “O Senhor todos os dias visita a sua Igreja! Visita cada um de nós e, também, a nossa alma. Ela se assemelha à Igreja, a nossa alma se assemelha a Maria. Os Padres do deserto dizem que Maria, a Igreja e a nossa alma são femininas e o que se diz sobre uma, analogamente, se pode dizer da outra. A nossa alma também está à espera, nesta expectativa pela vinda do Senhor; uma alma aberta que chama: ‘Vem, Senhor’ ”.
A segunda vinda dá-se cotidianamente. Podemos dar, aqui, um destaque todo particular para três realidades: a
Eucaristia, a escuta atenta da Palavra de Deus e Santa Missa.
Sobre essa segunda vinda podemos falar de um “Natal permanente”.
Vinda gloriosa
A terceira vinda do Senhor deve ser compreendida no plano escatológico, isto é, na consumação dos tempos onde Jesus virá revestido de poder e glória para julgar os vivos e os mortos. “Ao celebrar cada ano a liturgia do Advento, a Igreja atualiza esta espera do Messias: comungando com a longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo de sua Segunda Vinda”. (CATECISMO, n. 524).
Nos recorda o prefácio do Advento que, Jesus “revestindo de Sua glória, Ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos, que hoje, vigilantes esperamos” (Prefácio do Advento I).
Portanto, a vigilância assume um papel importante no advento definitivo do Senhor.
É preciso estar vigilante, porque o senhor pode chegar a qualquer instante.
Em cada Santa Missa, quando respondemos a Oração Eucarística, recordamos esta realidade escatológica: “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda!”. (Oração Eucarística IV).
Os sinais dos últimos tempos
O Papa Francisco, no dia 15 de Novembro de 2015, no Angelus disse: “Sobre quando acontecerão os
sinais dos últimos tempos não devemos nos preocupar, mas sim nos prepararmos diariamente para nos encontrarmos com Jesus. O núcleo central em torno do qual gira o discurso de Jesus é Ele mesmo, o mistério da sua pessoa e da sua morte e ressurreição, e o seu retorno no fim dos tempos. A nossa meta final é o encontro com o Senhor ressuscitado”.
Em complemento a essas palavras sua Santidade, o Papa, ainda fez algumas perguntas: “Gostaria de perguntar-lhes quantos de vocês pensam nisso? Haverá um dia em que eu encontrarei o Senhor face a face. Esta é a nossa meta, esse encontro. Não esperamos um tempo ou um lugar, mas caminhamos ao encontro de uma pessoa: Jesus.”
Portanto, explicou o papa, “o problema não é ‘quando’ acontecerão esses sinais premonitórios dos últimos tempos, mas o fazer-se encontrar preparados para o encontro. E não se trata nem mesmo de saber ‘como’ se darão essas coisas, mas ‘como’ devemos comportar-nos, hoje, à espera desse encontro”.
Por fim, vale recordar que a segunda vinda, conforme São Bernardo, por meio dos sacramentos nos preparam para a terceira e definitiva vinda de Jesus.
Aqueles que vivem santamente os sacramentos estão preparados para se encontrarem com Jesus na sua vinda gloriosa.
Neste Advento, que nosso coração esteja preparado para receber Jesus que vai nascer, com a certeza que Ele já está no meio de nós por meio dos sacramentos, porém, esperançoso de sua vinda definitiva, onde virá com poder e glória para julgar os vivos e os mortos.
Juntos possamos rezar:
Maranatha, vinde Senhor Jesus!
Autor: Elenildo Pereira