A série ’13 Reasons Why’ trouxe o tema suicídio para debate
Nas últimas semanas, o tema suicídio ganhou destaque nos principais noticiários do mundo e Brasil devido ao jogo da “Baleia Azul” e da série produzida pela Netflix ’13 Reasons Why’ (os 13 porquês). Até então, tocar no tema suicídio era algo proibido e nefasto, apesar dos números oficiais mostrarem que há uma crescente mundial no ato de tirar a própria vida, sobretudo entre os adolescentes. A cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo, e essa é a segunda maior causa de morte entre os jovens.
Se podemos tirar algo de positivo desse perverso cenário, é que hoje as pessoas estão falando sobre o suicídio, e só quando encaramos o problema, sem reducionismos ou ideias simplistas, é que podemos chegar a soluções mais efetivas e preventivas.
Por que os adolescentes são vulneráveis?
Antes de tudo, cabe esclarecer aos pais que a temática da morte é algo muito comum – e diria natural – na adolescência. Nessa fase do desenvolvimento, o jovem passa por transformações radicais no seu físico e no seu psiquismo, as quais vão influenciar diretamente no seu comportamento. O cérebro será o comandante de todas as transformações físicas, emitindo sinais (hormônios) a todo o corpo, para que ele se transforme. Há uma enxurrada de novas informações que precisam ser processadas em um curto espaço de tempo, o que provoca tédio, angústia e depressão.
Em termos psíquicos, a criança é chamada a abandonar o mundo infantil, e a “morte” simbólica deste mundo interno também será, de alguma forma, manifestada no mundo externo. Nessa fase, é muito comum o adolescente manifestar terrores noturnos, sonhar com a morte dos pais, vestir-se de preto, curtir músicas barulhentas e depreciativas, identificar-se com as gangues, ter predileção por filmes de terror, acompanhados de uma agonia e tristeza que nem eles mesmos sabem dar nome. É nesse vácuo de tristeza e luto do mundo infantil que jogos macabros e séries com temáticas suicidas ganham espaço e, no pior dos casos, efetividade, principalmente se tal jovem estiver sendo negligenciado pelos seus cuidadores.
Sobre a série ’13 Reasons Why’
Sem entrar nos pormenores da obra, a série – inspirada em um livro homônimo de Jay Asher (2007), no Brasil lançado com o título “Os 13 Porquês” – trata de uma jovem adolescente que tirou a própria vida depois de sofrer vários tipos de bullyng por seus colegas na escola. Antes, porém, de tirar a própria vida, a personagem principal grava 13 fitas k7 e as endereça a 13 pessoas que estão relacionadas aos motivos do seu suicídio.
A maior crítica sobre a obra é justamente o fato de ela exagerar na temática suicida, atribuindo um culpado (ou culpados) pela morte da personagem principal, e detalhando nas cenas os métodos que ela usou para tirar a própria vida, o que é desaconselhado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pois serve de gatilho para pessoas comprometidas mentalmente.
Por outro lado, a série acerta ao abordar temáticas dolorosas do cotidiano dos adolescentes como bullying, conflitos familiares, abusos sexuais e emocionais, dentre outras, que são vividas em silêncio pelos jovens, o que causa angústia e conflitos profundos, sobretudo porque não encontram adultos preparados para lidar com suas questões onde mais precisavam: na família e na escola. Para se ter uma ideia do tamanho da identificação, o Centro de Valorização da Vida (CVV) duplicou o número de atendimento de pessoas pedindo ajuda contra o suicídio, a maioria jovens citando a série.
Posso deixar o meu filho assistir?
Essa é uma pergunta difícil de se responder, pois, ao se tratar de adolescente, pode ser que, enquanto nós discutimos a “permissão x proibição”, ele já tenha assistido. De verdade, não acho que a restrição seja o melhor caminho, a não ser que seu filho seja menor de 16 anos, como pede a classificação etária da série.
Por outro lado, também não aconselho que os pais deixem os filhos trancados no quarto, com seus computadores pessoais, sem nenhum tipo de filtro ou visão crítica da obra. Se seu filho está assistindo ou manifestou interesse, essa é uma ótima oportunidade para você sentar com ele e, juntos, debater temáticas e tabus que nós adultos e pais insistimos em colocar para debaixo do tapete, fingindo que nossos adolescentes vivem numa redoma de vidro.
A série é também totalmente desaconselhada para jovens e adultos que estão em situação de vulnerabilidade psíquica. Nesse sentido, é preciso que os pais estejam bem próximos e avaliem os possíveis efeitos danosos que a série pode trazer se seu filho apresenta sinais de algum sofrimento psíquico ou se estiver em tratamento.
Série não mata ninguém. O preconceito e a indiferença sim. A morte por suicídio não pode ser atribuída a uma série ou a um jogo. Como li de um psiquiatra, “culpar uma série de TV pela morte suicida de alguém é como culpar o termômetro por medir a febre”. Não adianta malhar uma obra pela morte de ninguém, pois muitas outras questões complexas estão envolvidas no longo percurso que uma pessoa fez até o desesperador ato de tirar a própria vida.
Existe um culpado?
Em 90% dos casos de suicídio, esteve aí envolvido um transtorno mental que não foi levado em consideração, por negligência ou puro preconceito. Este sim, pode ser considerado o “culpado” pela angústia suprema de alguém que tira a própria vida. Um jovem que comete suicídio deixa claros vestígios de que a dor na alma está difícil de suportar, e, muitas vezes, os pais acham que é “frescura”. A indiferença, a negligência de afeto, a falta de atenção e escuta dos filhos também podem contribuir para desfechos trágicos.
É verdade também que muitos adultos não sabem como lidar diante de situações limites dos jovens, ora por falta de informação ora por não saber a quem e como recorrer. Em geral, o sinal de atenção deve ser aceso por pais e educadores quando notarem mudanças bruscas no comportamento do jovem. Por exemplo: se uma menina tem hábitos de vaidade como maquiar-se, arrumar-se, estar sempre bem vestida e, de repente, mostra-se desleixada com o seu visual, é sinal de que algo não vai bem.
Leia mais:
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Quando o abatimento, a tristeza, a reação antissocial e o isolamento tornam-se rotineiros no comportamento do adolescente, assim como qualquer outro sinal no corpo como cortes (automutilação) e perda de peso, os responsáveis não devem hesitar em procurar ajuda profissional como psicólogo ou psiquiatra. Vale lembrar também que existe o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece apoio emocional e prevenção do suicídio pelo telefone 141 ou pelo site http://www.cvv.org.br/
Aos pais, eu digo: “Não ponham a culpa na ‘Baleia Azul’ ou no ’13 Reasons Why’, eles só ampliaram o pedido de socorro que nossos jovens estão gritando há muito tempo. Perceba se, ao manifestar desejo por uma coisa ou outra, o seu filho não esteja clamando por auxílio e amparo. É hora de rever nossas prioridades e não procurar fantasmas.
Autor: Daniel Machado
Fonte: Canção Nova
Sem entrar nos pormenores da obra, a série – inspirada em um livro homônimo de Jay Asher (2007), no Brasil lançado com o título “Os 13 Porquês” – trata de uma jovem adolescente que tirou a própria vida depois de sofrer vários tipos de bullyng por seus colegas na escola. Antes, porém, de tirar a própria vida, a personagem principal grava 13 fitas k7 e as endereça a 13 pessoas que estão relacionadas aos motivos do seu suicídio.
A maior crítica sobre a obra é justamente o fato de ela exagerar na temática suicida, atribuindo um culpado (ou culpados) pela morte da personagem principal, e detalhando nas cenas os métodos que ela usou para tirar a própria vida, o que é desaconselhado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pois serve de gatilho para pessoas comprometidas mentalmente.
Por outro lado, a série acerta ao abordar temáticas dolorosas do cotidiano dos adolescentes como bullying, conflitos familiares, abusos sexuais e emocionais, dentre outras, que são vividas em silêncio pelos jovens, o que causa angústia e conflitos profundos, sobretudo porque não encontram adultos preparados para lidar com suas questões onde mais precisavam: na família e na escola. Para se ter uma ideia do tamanho da identificação, o Centro de Valorização da Vida (CVV) duplicou o número de atendimento de pessoas pedindo ajuda contra o suicídio, a maioria jovens citando a série.
Posso deixar o meu filho assistir?
Essa é uma pergunta difícil de se responder, pois, ao se tratar de adolescente, pode ser que, enquanto nós discutimos a “permissão x proibição”, ele já tenha assistido. De verdade, não acho que a restrição seja o melhor caminho, a não ser que seu filho seja menor de 16 anos, como pede a classificação etária da série.
Por outro lado, também não aconselho que os pais deixem os filhos trancados no quarto, com seus computadores pessoais, sem nenhum tipo de filtro ou visão crítica da obra. Se seu filho está assistindo ou manifestou interesse, essa é uma ótima oportunidade para você sentar com ele e, juntos, debater temáticas e tabus que nós adultos e pais insistimos em colocar para debaixo do tapete, fingindo que nossos adolescentes vivem numa redoma de vidro.
A série é também totalmente desaconselhada para jovens e adultos que estão em situação de vulnerabilidade psíquica. Nesse sentido, é preciso que os pais estejam bem próximos e avaliem os possíveis efeitos danosos que a série pode trazer se seu filho apresenta sinais de algum sofrimento psíquico ou se estiver em tratamento.
Série não mata ninguém. O preconceito e a indiferença sim. A morte por suicídio não pode ser atribuída a uma série ou a um jogo. Como li de um psiquiatra, “culpar uma série de TV pela morte suicida de alguém é como culpar o termômetro por medir a febre”. Não adianta malhar uma obra pela morte de ninguém, pois muitas outras questões complexas estão envolvidas no longo percurso que uma pessoa fez até o desesperador ato de tirar a própria vida.
Existe um culpado?
Em 90% dos casos de suicídio, esteve aí envolvido um transtorno mental que não foi levado em consideração, por negligência ou puro preconceito. Este sim, pode ser considerado o “culpado” pela angústia suprema de alguém que tira a própria vida. Um jovem que comete suicídio deixa claros vestígios de que a dor na alma está difícil de suportar, e, muitas vezes, os pais acham que é “frescura”. A indiferença, a negligência de afeto, a falta de atenção e escuta dos filhos também podem contribuir para desfechos trágicos.
É verdade também que muitos adultos não sabem como lidar diante de situações limites dos jovens, ora por falta de informação ora por não saber a quem e como recorrer. Em geral, o sinal de atenção deve ser aceso por pais e educadores quando notarem mudanças bruscas no comportamento do jovem. Por exemplo: se uma menina tem hábitos de vaidade como maquiar-se, arrumar-se, estar sempre bem vestida e, de repente, mostra-se desleixada com o seu visual, é sinal de que algo não vai bem.
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::Baleia Azul: o jogo que tem levado adolescentes ao suicídio
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::O peso e a força da palavra no mundo contemporâneo
::Jovem, não se contente com o que é passageiro
Quando o abatimento, a tristeza, a reação antissocial e o isolamento tornam-se rotineiros no comportamento do adolescente, assim como qualquer outro sinal no corpo como cortes (automutilação) e perda de peso, os responsáveis não devem hesitar em procurar ajuda profissional como psicólogo ou psiquiatra. Vale lembrar também que existe o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece apoio emocional e prevenção do suicídio pelo telefone 141 ou pelo site http://www.cvv.org.br/
Aos pais, eu digo: “Não ponham a culpa na ‘Baleia Azul’ ou no ’13 Reasons Why’, eles só ampliaram o pedido de socorro que nossos jovens estão gritando há muito tempo. Perceba se, ao manifestar desejo por uma coisa ou outra, o seu filho não esteja clamando por auxílio e amparo. É hora de rever nossas prioridades e não procurar fantasmas.
Autor: Daniel Machado
Fonte: Canção Nova