31/10/2014

Não ao mundanismo espiritual

Deus nos livre de uma Igreja mundana sob vestes espirituais ou pastorais!
O mundanismo espiritual, que se esconde por detrás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja, busca, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal. É aquilo que o Senhor censurava aos fariseus: «Como vos é possível acreditar, se andais à procura da glória uns dos outros, e não procurais a glória que vem do Deus único?» (Jo 5,44). É uma maneira sutil de procurar «os próprios interesses, não os interesses de Jesus Cristo» (Fl 2,21). Reveste-se de muitas formas, de acordo com o tipo de pessoas e situações em que penetra. Por cultivar o cuidado da aparência, nem sempre suscita pecados de domínio público, pelo que externamente tudo parece correto. Mas, se invadisse a Igreja, «seria infinitamente mais desastroso do que qualquer outro mundanismo meramente moral».
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Esse mundanismo pode alimentar-se sobretudo de duas maneiras profundamente relacionadas. Uma delas é o fascínio do gnosticismo, uma fé fechada no subjetivismo, onde apenas interessa uma determinada experiência ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada na imanência da sua própria razão ou dos seus sentimentos.
A outra maneira é o neopelagianismo autorreferencial e prometeuco de quem, no fundo, só confia nas suas próprias forças e se sente superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico próprio do passado. É uma suposta segurança doutrinal ou disciplinar que dá lugar a um elitismo narcisista e autoritário, onde, em vez de evangelizar, se analisam e classificam os demais e, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a controlar. Em ambos os casos, nem Jesus Cristo nem os outros interessam verdadeiramente. São manifestações dum imanentismo antropocêntrico. Não é possível imaginar que, destas formas desvirtuadas do Cristianismo, possa brotar um autêntico dinamismo evangelizador.
Esse obscuro mundanismo manifesta-se em muitas atitudes, aparentemente opostas, mas com a mesma pretensão de «dominar o espaço da Igreja». Em alguns, há um cuidado exibicionista da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja, mas não se preocupam que o Evangelho adquira uma real inserção no povo fiel de Deus e nas necessidades concretas da história. Assim, a vida da Igreja se transforma numa peça de museu ou numa possessão de poucos. Noutros, o próprio mundanismo espiritual esconde-se por detrás do fascínio de poder mostrar conquistas sociais e políticas, numa vanglória ligada à gestão de assuntos práticos ou numa atração pelas dinâmicas de autoestima e de realização autorreferencial. Também se pode traduzir em várias formas de se apresentar a si mesmo envolvido numa densa vida social cheia de viagens, reuniões, jantares e recepções. Ou então desdobra-se num funcionalismo empresarial, carregado de estatísticas, planificações e avaliações, onde o principal beneficiário não é o povo de Deus, mas a Igreja como organização. Em qualquer um dos casos, não traz o selo de Cristo encarnado, crucificado e ressuscitado, encerra-se em grupos de elite, não sai realmente à procura dos que andam perdidos nem das imensas multidões sedentas de Cristo. Já não há ardor evangélico, mas o gozo espúrio duma autocomplacência egocêntrica.
Nesse contexto, alimenta-se a vanglória de quantos se contentam com ter algum poder e preferem ser generais de exércitos derrotados antes que simples soldados dum batalhão que continua a lutar. Quantas vezes sonhamos planos apostólicos expansionistas, meticulosos e bem traçados, típicos de generais derrotados! Assim negamos a nossa história de Igreja, que é gloriosa por ser história de sacrifícios, de esperança, de luta diária, de vida gasta no serviço, de constância no trabalho fadigoso, porque todo o trabalho é “suor do nosso rosto”. Em vez disso, entretemo-nos vaidosos a falar sobre «o que se deveria fazer» – o pecado do «deveriaqueísmo» – como mestres espirituais e peritos de pastoral que dão instruções ficando de fora. Cultivamos a nossa imaginação sem limites e perdemos o contato com a dolorosa realidade do nosso povo fiel.
Quem caiu nesse mundanismo olha de cima e de longe, rejeita a profecia dos irmãos, desqualifica quem o questiona, faz ressaltar constantemente os erros alheios e vive obcecado pela aparência. Circunscreveu os pontos de referência do coração ao horizonte fechado da sua imanência e dos seus interesses e, consequentemente, não aprende com os seus pecados nem está verdadeiramente aberto ao perdão. É uma tremenda corrupção, com aparências de bem. Devemos evitá-lo, pondo a Igreja em movimento de saída de si mesma, de missão centrada em Jesus Cristo, de entrega aos pobres. Deus nos livre de uma Igreja mundana sob vestes espirituais ou pastorais! Este mundanismo asfixiante cura-se saboreando o ar puro do Espírito Santo, que nos liberta de estarmos centrados em nós mesmos, escondidos numa aparência religiosa vazia de Deus. Não deixemos que nos roubem o Evangelho!
Fonte: Canção Nova

30/10/2014

Depressão: quais caminhos seguir?

Os tratamentos existem, e acreditar na superação e na melhora é um passo essencial
Vivemos um ritmo de atividades e de exigências numa sociedade que cada vez mais corre por resultados e por sucesso. Num mercado de trabalho altamente competitivo e desafiador, doenças surgem no ambiente profissional e preocupam as organizações e a sociedade como um todo.
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Uma das doenças que chamam à atenção, neste cenário, é a depressão. Considerada uma das enfermidades que tem crescido de forma expressiva nos últimos anos, a depressão tem características próprias e não deve ser confundida com um estado de tristeza.
Podemos pensar na tristeza como um sentimento que nos leva a um processo de reflexão, de estarmos quietos; sentimento manifestado pela perda de alguém, por algo relacionado ao trabalho, pela decepção com alguém ou a frustração de expectativas irrealizadas. A grande diferença é que uma pessoa triste consegue manter sua rotina diária, seu cuidado pessoal e até mesmo experimentar alegrias que possam surgir neste período. Como fato passageiro, esse sentimento pode ser identificado em sua origem, ou seja, conseguimos descobrir o motivo pelo qual estamos tristes.
Quando falamos em depressão, os sinais aparentes de desmotivação, desinteresse, tristeza persistente, falta de desejo de cuidar de si e de dar seguimento às suas atividades cotidianas, bem como aquela sensação de ver o mundo “cinza”, sem cor e sem motivos, tornam-se mais prolongados. Nesses casos, a intervenção médica se faz necessária, bem como o apoio psicológico para que a pessoa possa reestruturar seus pensamentos e descobrir sua forma de lidar com a doença e com a vida. Sabemos ainda que a espiritualidade também tem um papel importante na superação de qualquer adoecimento, inclusive na depressão.
Não nos esqueçamos de que, muitas vezes, em nossa família, na sociedade e entre nossos amigos ainda existe uma dificuldade de compreender a situação pela qual uma pessoa deprimida está passando. Também para o deprimido não é uma tarefa fácil aceitar a doença e o tratamento. O mais importante é que os tratamentos existem, e acreditar na superação e na melhora é um passo essencial tanto para o paciente quanto para aqueles que convivem com ele. Os quadros depressivos podem ter duração de alguns meses ou serem mais persistentes; em ambos os casos, os doentes podem contar com a ajuda especializada, a fim de que as sensações causadas pelo quadro possam ser minimizadas e uma maior qualidade de vida possa ser obtida.
Por mais difícil que seja ou por maior que seja a vergonha ou o sentimento que o esteja impedindo de dar passos para a cura, não deixe de buscar ajuda. Um amigo, um familiar, aquele médico que já conhece um pouco de sua saúde podem ser os primeiros a quem você pode pedir auxílio quando perceber que esse quadro de tristeza está demorando um pouco mais para passar, dando sinais de que vão além do usual.
Fonte: Canção Nova

29/10/2014

Como superar a traição no relacionamento?

Apesar de ser tão doloroso e traumático, será que pode existir vida a dois após a traição?
Essa é realmente uma das situações mais difíceis que encontramos na vida a dois, e cada vez mais comum, seja por homens ou por mulheres. A traição gera marcas de desconfiança e de decepção muito fortes, que para sempre vão estar presentes na vida de toda a família. Quando alguém trai seu cônjuge, está distorcendo também a imagem de homem e mulher na visão de seus filhos, o que pode torná-los pessoas isoladas, com dificuldade para construir laços afetivos ou com tendência à traição posterior.
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Mas apesar de ser tão doloroso e traumático, será que existe vida a dois após a traição? Será possível reconstruir o laço de fidelidade após o adultério? Acredito que a melhor resposta seja: depende. Vários fatores vão interferir nisso.
O adultério aconteceu várias vezes? A pessoa traiu em seus relacionamentos anteriores? Acontecia desde o namoro? A sexualidade dele/dela está desequilibrada e há vícios sexuais? Existe uma herança familiar muito forte de traição? Se a resposta for afirmativa para algumas dessas perguntas, então essa pessoa provavelmente só irá mudar se experimentar uma grande transformação em sua vida – conversão radical, tratamento terapêutico/psicológico. Se a pessoa se fecha às ações de mudança, fica muito complicado ajudá-la. Em alguns casos extremos, deve-se pensar na possibilidade do afastamento, que pode ser até menos traumático do que o convívio instável. A separação, desde que seguida pela vivência da castidade individual, não é pecado (pode-se inclusive manter a comunhão Eucarística), e tende a garantir um ambiente menos agressivo para a criação dos filhos. Algumas vezes, ao sentir a perda concreta da família, o adúltero acaba encontrando o incentivo para buscar a mudança.
Por outro lado, são muito frequentes os casos de traição isolada, em casais que tinham como conduta moral a fidelidade. Em uma determinada fase da vida, o casamento deixa brecha e espaço para que uma terceira pessoa entre no meio (“a outra” pode ser também o trabalho, o serviço a Deus, os filhos…). A pessoa não tinha a intenção de trair, mas em um momento de fragilidade pessoal e de instabilidade do relacionamento, permitiu-se envolver com alguém externo. Essa traição pode sim ser superada, desde que ambos estejam muito dispostos a reconstruir.
O primeiro passo da reconstrução é o perdão. Sim, houve um erro concreto. Em determinado momento, o adúltero tomou a decisão errada de se envolver com outra pessoa. É preciso reconhecer o erro e pedir perdão (com muita sinceridade, humilhar-se mesmo). Nessa fase muito dolorosa, é preciso ser verdadeiro e esclarecer todas as dúvidas e perguntas. Acredite: na maioria das vezes, a imaginação do traído é muito pior do que a realidade da traição. Deve haver muita conversa, trazendo sinceridade e realidade ao pedido de perdão.
A segunda etapa é a decisão do perdão. Quem foi traído precisa decidir se vai tentar reconstruir ou se não consegue fazer isso. E a partir do momento que decidir, faça todo esforço para que dê certo. Claro que não é algo que será esquecido, e para sempre será um erro grave cometido pelo outro. Mas perdoar não é esquecer nem dizer que aquilo foi certo. O perdão só significa que você abre mão de ser o acusador daquela pessoa. Há o erro, mas não cabe a você cobrar a culpa e a justiça. Você abre mão de carregar as pedras que “teria o direito” de jogar na pessoa, todos os dias, para o resto da vida. O perdão é um processo, mas a decisão é um degrau indispensável.
A partir daí, é preciso voltar-se para o relacionamento. Se houve esse tipo de traição (por pessoas que tinham o propósito firme de fidelidade), é muito provável que ambos tenham construído um casamento onde ficou um vazio, uma falta de intimidade, permitindo que uma terceira pessoa tivesse a oportunidade de entrar. Apesar de, na prática, um só ter cometido o erro, esse desequilíbrio no relacionamento foi causado pelos dois, 50-50%. É preciso então, avaliar como cada um estava atuando na vida a dois. Deixo claro que essa avaliação é uma autoavaliação. Não é um julgamento do outro, mas meu. Quais foram as brechas que eu deixei? Em terapia, entendemos que o período mais importante a ser avaliado é o de seis meses que antecederam a traição. Como andava o carinho, o diálogo, o sexo? Dedicava tempo suficiente para o outro? Fazia com que ele/ela se sentisse amado, valorizado e especial? Permiti interferências externas excessivas (parentes, crises financeiras, trabalho)? Tornei nossa casa um ambiente desagradável e áspero – estresse, brigas e agressões? Descuidei do meu corpo, da higiene e da saúde, tornando difícil a intimidade física? Dei abertura excessiva (conversas muito íntimas, contato físico inconveniente) para pessoas externas, colocando-me em situações de risco?
Após o arrependimento, o perdão e a avaliação do relacionamento, ambos estão aptos a melhorar o que perceberam de ruim, e assim fechar as portas para outras pessoas. Ao longo dos anos, podem acontecer flashs na pessoa traída, com “ataques de ciúmes”. Mas, com o tempo e com a demonstração de confiança, ambos vão aprendendo a lidar com isso, os episódios se tornam menos frequentes e a convivência pode voltar a ser boa, e até mesmo melhor que antes.
Sim, é possível reconstruir um casamento após uma traição. Decida-se por ser feliz e por lutar por sua família. Todos os longos e bons casamentos passaram por fases difíceis. A diferença é que eles nem pensavam na possibilidade de desistir!
Fonte: Canção Nova

28/10/2014

Como curar o ressentimento?

A primeira coisa a fazer para curar um coração ressentido é um diagnóstico claro do problema que mais nos aflige
Como vamos tratar um problema se não conhecemos suas causas? Muitas vezes, para se chegar ao diagnóstico de alguma doença física gasta-se muito tempo, dinheiro, paciência, estudo e, acima de tudo, persistência e perseverança, tanto do médico como do paciente.
Como curar o ressentimento
Para a cura do ressentimento, o procedimento é bastante parecido. A primeira coisa a fazer é avaliar os sentimentos estragados. Que sentimentos são esses? Que tipo de estrago têm? O que está causando o estrago? De onde provêm os sentimentos negativos? Desde quando estou me sentindo assim? Lembro-me de algum fato relacionado ao sentimento estragado? É um sentimento racional ou irracional, isto é, mais instintivo do que real? Será que não estou olhando para o problema com lentes de aumento? Ou o problema é realmente sério e perturbador?Desejo realmente a cura ou prefiro manter o sentimento estragado como estratégia para ataques ou defesas futuras?
Essas são algumas das perguntas as quais precisamos responder para tentar formular um diagnóstico mais próximo da realidade. E nunca podemos nos esquecer de que aqui estamos falando de problemas íntimos, de feridas interiores, de mágoas nem sempre muito conscientes. Mas, na medida do possível, é preciso diagnosticar para fazer o prognóstico correto, o tratamento adequado, eficiente e eficaz.
É bom lembrar que essas perguntas deverão ser aplicadas às situações que realmente necessitam ser trabalhadas. Não adianta nada a pessoa querer achar sentimentos estragados nas águas do passado. Aí o problema já precisa de outro tratamento.
Outra coisa importante a fazer é parar de alimentar os sentimentos negativos. Para se tornar ressentimento, esses sentimentos precisam de pensamentos negativos, palavras torpes, indelicadezas, hostilidades e outras atitudes semelhantes.
Considere ainda algumas coisas simples, mas fundamentais, para curar esse mal que tanto nos atrapalha: não queira achar que você está sempre certo e que o outro está sempre errado. Ninguém é tão perfeito nem tão imperfeito assim. Então, não é correto a pessoa ceder sempre (como se o outro nunca errasse). Isso provocaria outro problema sério: o sentimento de vítima, que acabaria gerando um complexo de inferioridade. É preciso descobrir a justa medida para se chegar à concessão mútua. Isso parece difícil, mas não é tão complicado assim. Basta termos critérios justos e estarmos desejosos de resolver o problema e não de complicá-lo ainda mais.
É preciso também chegar a uma hierarquia dos sentimentos. Existem coisas que precisam ser resolvidas com urgência. Tente descobrir quais os sentimentos estragados mais propensos a se tornarem ressentimento. Estes deverão ser os primeiros a ser atacados pela oração e pela ação de cura.
Se no seu grupo você já brigou com a maioria das pessoas, seja humilde e reconheça que o problema está com você. Ou será que você é o único certo e todos os outros estão errados? Aí somos como a mãe que voltou do desfile da escola de seu e disse ao marido: “Só o Juninho marchou direito”. Todos os outros colegas marcharam errado. E, coincidentemente, todos erraram ao mesmo tempo. Eles treinaram o erro. O Juninho se manteve firme e marchou direitinho. Só ele! Ora, não queira ser o Juninho, ou, pior ainda, a mãe do menino.
Se você sempre briga com a pessoa mais próxima (marido, esposa, filho, amigo, colega de trabalho) pelo mesmo motivo, repetidamente, é sinal de que o ressentimento já se instalou e que precisa ser tratado com urgência “urgentíssima”. Essa é uma ferida que precisa de tratamento adequado e eficiente.
A partir da constatação da ferida, passamos a aplicar sobre ela o remédio do perdão. Além do perdão e do amor incondicional, precisamos cultivar atitudes que nos levem a viver curados. É preciso ter coragem de ser diferente, e não viver como os pagãos, com o entendimento obscurecido (jeito simpático de chamar alguém de anta!) e o coração empedernido. Leia Efésios 4, 17-25.
Tempos aí alguns elementos muito práticos para uma vida restaurada. Como o próprio texto sugere, a cura do ressentimento é um processo longo, mas se não for iniciado nunca será concluído. Não podemos ter pressa, mas é preciso começar! O único jeito de perceber se estamos sendo curados ou não é pela qualidade de nossos relacionamentos. Na convivência, especialmente com aqueles que mais nos provocam, é que aprendemos a testar nosso coração. Na superação dos pequenos conflitos do dia a dia vamos nos preparando para as grandes batalhas de nossa história.
É fundamental perceber que uma das mais lindas obras que o Espírito Santo pode fazer em nossa vida tem a ver com a cura de nosso coração. Quando nos deixamos conduzir por Ele, vamos pouco a pouco matando as obras da resistência em nossa vida. Essas obras de resistência são exatamente as externalizações de um coração ressentido: inimizades, brigas, ciúmes, superstição, ódio, ambição, discórdias, partidos, inveja, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes (cf. Gl 5,20).
Os frutos do Espírito, ou seja, aquilo que produzimos quando deixamos o Espírito conduzir nossa vida, são exatamente tudo aquilo a que aspiramos e o que conseguimos produzir quando experienciamos a graça da cura do ressentimento. O bonito é que a partir da experiência da cura os próprios frutos que essa cura produz serão usados para curas posteriores. E isso é fundamental, pois ninguém no mundo está para sempre imunizado contra o ressentimento. Qualquer novo relacionamento, qualquer novo contato com as pessoas com as quais nos relacionamos são sempre possibilidades para o ressentimento.
(Trecho extraído do livro “A Cura do Ressentimento” do saudoso padre Léo – SCJ).
Fonte: Canção Nova

25/10/2014

As propostas políticas precisam pensar na famílias

Não basta apenas dizer “que vai continuar” ou “dar uma melhorada” no que já é feito.
 
A partir de temas importantes da atualidade e da consideração de diferentes campos – político, acadêmico, econômico e religioso – a Igreja Católica, por convocação do Papa Francisco, debate e estuda a situação da família humana. A 3ª Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, em Roma, sobre esse tema, congrega representantes de todo o mundo. Contribui para o avanço e compreensão de aspectos cruciais de tudo o que se refere à família na contemporaneidade. O Sínodo indica a preocupação central da Igreja sobre a vida familiar. Sua organização começou há muito tempo e, certamente, esse significativo processo de escuta e reflexão deve continuar até a sessão ordinária do Sínodo dos Bispos, a ser realizada em outubro de 2015.
 
 
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Família humana é tema central, emoldurado por grande complexidade, principalmente quando se considera aspectos do presente e do futuro da sociedade. A atenção às famílias, sua compreensão e a definição de políticas emancipatórias em seu favor não podem se reduzir a aportes financeiros mínimos, de caráter compensatório. É preciso avançar na direção da justiça, além de compreender melhor o significado humanístico e o sentido ético-moral de família, uma insubstituível escola de humanidade. Trata-se de ambiente onde cada pessoa vive as experiências mais determinantes em sua trajetória. O sucesso de outras escolas tem íntima relação com as significativas experiências familiares. E as lacunas nestas experiências provocam prejuízos, atrasam processos e inviabilizam avanços culturais.
 
A família tem um evangelho próprio, que é sua maior riqueza. Compreendê-la inclui, pois, não apenas as definições sobre sua dimensão funcional e de sua sustentabilidade. Assim, quando se pensa a família, explicita-se a exigência importante de não apenas tratá-la como adjetivação de programas sociais. Evidentemente, ao reconhecer o seu amplo papel, deve-se empenhar na criação de condições mínimas para sua sobrevivência. Mas, além disso, governantes e gestores são desafiados a construir, de modo criativo, estratégias capazes de configurar garantias mais amplas aos grupos familiares.
 
Passou aquele tempo em que grande era o bombardeio contra a família, praticado por setores importantes da sociedade. Contudo, apesar de ter amainado a “guerra” contra essa instituição, continua desafiador o seu tratamento no atual contexto sociocultural, caracterizado por muitas nuances.
 
Exigente, pois, é a escuta e reflexão do evangelho da família, tesouro que guarda valores determinantes para a educação afetiva e humanística de cada pessoa, fonte do insubstituível sentido moral que a consciência cidadã não pode dispensar. Abdicar-se dessa tarefa é contribuir para processos degradantes, como a desumanização, que pode ser até irreversível. Sem dúvida, o ideal de família é um horizonte inspirador.
 
A compreensão de família cristã, por exemplo, inclui o balizamento de um desígnio de Deus. Constitui um complexo de relações interpessoais, em referência à vida conjugal, paternidade, maternidade, fraternidade, filiação, configurando a “pertença” à família humana e à família de Deus. Esta compreensão tem o seu nascimento no sacramento do Matrimônio. O contexto sociocultural, no entanto, desafia entendimentos e distinções que apontam no sentido de se considerar muitas exigências e necessidades humanitárias. O certo é que a importância global da família não dispensa, visando seu bem maior e a fecundidade de sua insubstituível tarefa na vida da sociedade, a abordagem das dimensões espiritual, humanística, educativa e social. Nesse sentido, as Igrejas têm, no seu serviço à família humana, uma tarefa própria. Também possuem atribuições nesse âmbito as diferentes instituições e instâncias da sociedade pluralista.
 
É pertinente, por exemplo, que empresas, ao definirem suas políticas de responsabilidade social, considerem investir nas famílias que sofrem com a miséria, falta de moradia, educação e saúde. No campo político, por que não instituir uma legislação, semelhante a que já existe, para incentivar projetos culturais, que estimule as empresas a investirem no amparo às famílias mais pobres? Talvez fosse um caminho para superar a dependência de alguns grupos familiares das ajudas esporádicas, com alcance muito limitado. No calor dos debates e programas eleitorais, entre outros anseios, espera-se dos candidatos a apresentação de propostas mais ousadas, com força de comprometimento social e político, para as famílias, especialmente as que necessitam de moradia, educação, saúde, lazer e tudo que represente um direito de todos. Não basta apenas dizer “que vai continuar” ou “dar uma melhorada” no que já é feito.
 
O momento eleitoral decisivo de agora não requer propagandas e debates caracterizados pelos ataques pessoais e promessas sem a indicação dos caminhos para sua concretização. É hora de escolher quem, de fato, é propositivo, capaz de mostrar o caminho real das mudanças. Exige-se um perfil com a competência para articular, em rede, a educação, a saúde, a segurança, o respeito aos direitos fundamentais, indo além de questões meramente partidárias. Especialmente, almeja-se que inovadoras políticas voltadas para a família sejam construídas, reconhecendo sempre a centralidade da instituição familiar para a vida em sociedade.
 

24/10/2014

A unção dos enfermos perdoa pecados?

O sacramento da unção dos enfermos é uma graça que o Senhor nos concede por meio da Igreja
 
“Alguém dentre vós está sofrendo? Recorra à oração. Alguém está alegre? Entoe hinos. Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da igreja, para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo no nome do Senhor. A oração feita da fé salvará” (Tg 5,13-15)
O sacramento da unção dos enfermos é uma graça que o Senhor nos concede por meio da Igreja. Para nós católicos, a oração de cura e a unção têm muito valor. Como lemos na carta de São Tiago, quando alguém está doente deve recorrer à oração, ao céu e, claro, aos médicos e tratamentos, como nos recomenda a Igreja, pois também estes são dons do Senhor para a cura.
 
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O sacramento da reconciliação é o primeiro sacramento de cura; depois dele, há a unção dos enfermos, que, antigamente, era chamada de “extrema unção”. O nome mudou. Ainda bem! Ficou mais suave. O nome antigo ainda espanta, porque parece um sacramento que “sela” a pessoa para a morte.
 
Na verdade, esse é um sacramento de vida, pois, como todos os outros sacramentos, tem a finalidade de sarar, de animar e perdoar os pecados. Sim, a unção dos enfermos perdoa os pecados, e isso foi mencionado na Escritura e confirmado pela Igreja. Segundo as normas de cada diocese, essa graça pode ser propagada nas celebrações individuais ou coletivas.
A unção pode ser ministrada para todos os doentes em perigo de morte e também para aqueles que farão uma cirurgia delicada. O óleo deve ser de oliveira ou extraído de plantas onde há dificuldades para encontrar essa matéria. Normalmente, o sacerdote leva consigo um recipiente com o óleo, para que, caso haja necessidade, faça uso dele. A unção é feita na fronte, nas mãos ou numa outra parte do corpo se não for possível nesses locais.
 
A fórmula desse sacramento diz: “Por essa santa unção e pela Sua infinita misericórdia, o Senhor venha em seu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que, liberto dos seus pecados, Ele o salve e, na Sua bondade, alivie os seus sofrimentos”. Que maravilha de sacramento, porque alivia os sofrimentos! E que grande sofrimento é o pecado! Que grande sofrimento passam tantos irmãos nossos no corpo e na alma! Recorramos ao Senhor para que Ele sare e salve os nossos irmãos doentes no corpo e na alma.

Nesse pouco tempo de sacerdócio, já vi Deus curar e restaurar a saúde de muitos, e também já O vi fortalecer pessoas na hora de morte, dando-lhes uma morte tranquila e em paz, porque foram perdoadas e ungidas.
 
Conhece alguém doente no corpo e na alma? Indique-lhe um sacerdote, verifique se na comunidade há celebração para os enfermos e avise esse doente ou um parente próximo dele. Não deixe essa graça passar.
 

23/10/2014

Sociedade laica não quer dizer sociedade ateia

Numa sociedade pluralista, a laicidade é lugar de comunhão e relacionamento entre diversas tradições espirituais e a nação
 
O Senhor Jesus se encontrou com os grupos mais diversos de pessoas, dos mais simples e machucados da sociedade até as altas autoridades que circulavam durante sua vida pública, pelos caminhos da Judeia e da Galileia. Muitos acorriam a ele com suas misérias e inquietações, buscando a força da mensagem libertadora do Evangelho e a cura das enfermidades. Tantos emergiam do meio da multidão para se fazerem seus discípulos. Outras pessoas observavam de longe os acontecimentos. Alguns grupos se aproximavam com questionamentos, alguns deles formulados como verdadeiras armadilhas, a fim de envolvê-lo em contradição. A sabedoria do Senhor lhes devolvia muitas das perguntas, remetendo sempre ao confronto vital com a verdade.
 
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Muito expressivo é o encontro com fariseus e herodianos (Cf. Mt 22, 15-21) a respeito do imposto devido ao Imperador. Pode-se imaginar o contexto do comprometedor diálogo que se travou, num ambiente em que a população vivia oprimida, pagando tributos a uma potência estrangeira, dinheiro que chegava a uma autoridade que se revestia de pretensos poderes divinos. A resposta de Jesus é muito conhecida: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus” (Mt 22, 21). Tal afirmação já foi indevidamente usada para separar fé e vida, negócios e devoção, quando o cerne da questão é justamente dar a Deus o que é de Deus. E a Deus pertence o coração humano e seu destino de vida e salvação.
 
A narrativa encontrada nas primeiras páginas da Bíblia indica justamente a convicção das pessoas de fé: “Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança” (Gn 1, 26). Somos criaturas de Deus, pensadas desde toda a eternidade para sermos felizes em comunhão com ele.
 
Pertencer a Deus e dar-lhe o devido e primeiro lugar em nossa vida é condição para a realização e a felicidade. O dever do amor e da adoração a Deus é o primeiro dos mandamentos, a primeira condição para o pleno desenvolvimento de todas as potencialidades humanas.
Em todas as épocas da história se fizeram sentir o indiferentismo, o relativismo e o ateísmo. Uma de suas formas ganha o nome de laicismo, diferente da laicidade. Se a justa laicidade do Estado não assume como oficial qualquer religião, a Igreja Católica propugna um mútuo respeito pela autonomia de cada uma das instâncias, a civil e a religiosa. Ao Estado cabe assegurar o livre exercício das atividades espirituais, culturais e caritativas das pessoas de fé. Numa sociedade pluralista, a laicidade é lugar de comunhão e relacionamento entre diversas tradições espirituais e a nação. Sociedade laica não quer dizer sociedade ateia!
 
Infelizmente, ensina o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, permanecem, inclusive em sociedades democráticas, expressões de laicismo intolerante, que hostilizam qualquer forma de relevância política e cultural da fé, procurando desqualificar o empenho social e político dos cristãos, porque se reconhecem nas verdades ensinadas pela Igreja e obedecem ao dever moral de ser coerentes com a própria consciência; chega-se também e mais radicalmente a negar a própria ética natural. Esta negação, que prospecta uma condição de anarquia moral cuja consequência é a prepotência do mais forte sobre o mais fraco, não pode ser acolhida por nenhuma forma legítima de pluralismo, porque mina as próprias bases da convivência humana. Neste quadro, a marginalização do Cristianismo seria uma ameaça para os próprios fundamentos espirituais e culturais da civilização (Cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, números 571 a 574).
 
Este laicismo, ideologia que pretende se impor no mundo ocidental, e cada vez mais no Brasil, como única admissível, tem livre trânsito na grande imprensa e deseja relegar a fé à esfera do privado e opondo-se à sua expressão pública (Cf. São João Paulo II, no dia 24 de janeiro de 2005). Em nome de tal ideologia se levantam os defensores das contradições correntes, como a defesa dos direitos dos animais a qualquer custo pelos mesmos partidários do aborto ou de eutanásia e da absoluta falta de princípios em assuntos de moral sexual. Podemos ampliar o horizonte, para identificar uma verdadeira cruzada que se espalha pelo mundo pela eliminação de todos os sinais religiosos em escolas ou outros espaços.
 
O Concílio Vaticano II, na Constituição sobre a Igreja no mundo Contemporâneo, Gaudium et Spes (Cf. número 36) já constatava que muitos parecem temer que a íntima ligação entre a atividade humana e a religião constitua um obstáculo para a autonomia dos homens, das sociedades ou das ciências. Se por autonomia das realidades terrenas se entende que as coisas criadas e as próprias sociedades têm leis e valores próprios, que o homem irá gradualmente descobrindo, utilizando e organizando, é perfeitamente legítimo exigir tal autonomia. Se, porém, com as palavras autonomia das realidades temporais se entende que as criaturas não dependem de Deus e que o homem pode usar delas sem ordená-las ao Criador, ninguém que acredite em Deus deixa de ver a falsidade de tais afirmações. Pois, sem o Criador, a criatura não subsiste. De resto, todas as pessoas de fé, de qualquer religião, sempre souberam ouvir a sua voz e manifestação na linguagem das criaturas. Antes, se se esquece Deus, a própria criatura se obscurece.
 
Vivemos uma grande batalha, na qual não nos é possível escolher, como cristãos, a não ser a dependência livre e realizadora de Deus e da força de sua Palavra. Os direitos de Deus se expressam magistralmente na palavra do Apóstolo: “Ninguém pode colocar outro alicerce diferente do que já está colocado: Jesus Cristo. Se então alguém edificar sobre esse alicerce com ouro, prata, pedras preciosas ou com madeira, feno, palha, a obra de cada um acabará sendo conhecida: o Dia a manifestará, pois ele se revela pelo fogo, e o fogo mostrará a qualidade da obra de cada um. Aquele cuja construção resistir ganhará o prêmio; aquele cuja obra for destruída perderá o prêmio – mas ele mesmo será salvo, como que através do fogo. Acaso não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo, e esse templo sois vós. Vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus” (I Cor 3, 11-17).
 

22/10/2014

A importância da oração do rosário em família

É fundamental que a família cristã reze o rosário todos os dias
 
Segundo uma tradição, São Domingos de Gusmão, espanhol, recebeu de Nossa Senhora a devoção do santo rosário, que ele rezava continuamente em suas caminhadas pela conversão dos hereges cátaros que agitavam a vida da Igreja na França.
 
Em suas aparições, em Fátima e Lourdes, Nossa Senhora pediu insistentemente aos videntes para que rezassem o terço sempre. Ela disse aos pastorinhos, em Fátima, que “não há problema de ordem pessoal, familiar, nacional e internacional, que o santo terço não possa ajudar a resolver”. Por isso, o terço e o rosário tornaram-se orações amadas pelo povo de Deus. O Papa João Paulo II disse que essa era “a sua oração predileta”; sempre o víamos rezando-a.
 
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Bento XVI o recomendou fortemente. Disse: “O rosário é oração bíblica, toda tecida da Escritura Sagrada. É a oração do coração, em que a repetição da Ave-Maria orienta o pensamento e o afeto para com Cristo, tornando-se súplica confiante na nossa Mãe”.
“O terço, quando rezado de modo autêntico, não mecânico ou superficial, mas profundo, traz paz e reconciliação. Contém em si a potência curadora do nome santíssimo de Jesus, invocado com fé e com amor no centro de cada Ave-Maria” (5 de maio de 2008 -ZENIT.org).
 
Na sua Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, de 2005, São João Paulo II disse: “Uma oração tão fácil e, ao mesmo tempo, tão rica merece verdadeiramente ser descoberta de novo pela comunidade cristã”.
 
Muitos Papas recomendaram o rosário: Leão XIII, em 1883, na Encíclica Supremi apostolatus officio, apresentou-o como “um instrumento espiritual eficaz contra os males da sociedade”. São Pio V, em 1571, estabeleceu a invocação a Nossa Senhora do Rosário, como agradecimento à Virgem pela vitória da cristandade, na batalha de Lepanto, contra os turcos otomanos muçulmanos que pretendiam destruir o Cristianismo na Europa.
 
Além dos inúmeros Papas, também muitos santos se destacaram pelo amor ao rosário: São Luís Maria Grignion de Montfort, Santo Afonso de Ligório, São Pio de Pietrelcina e muitos outros. Essa devoção tem como base o fato de que, do alto da cruz, Jesus Cristo, num ato de amor, nos deu Maria como Mãe (cf. Jo 19,26). Se Jesus no-la deu como Mãe, é porque precisamos dela para nossa vida e salvação. Então, cada cristão e cada família cristã precisa da proteção materna de Nossa Senhora para enfrentar a luta da vida, as tentações, provações etc. A Igreja sempre ensinou que “família que reza unida permanece unida”, sobretudo quando reza o terço.
 
Na oração do santo rosário, a Virgem Maria nos ensina e nos anima na vida de Cristo, partilhando conosco aquelas coisas que “ela guardava no seu coração” (cf. Lc 2,52). “É uma oração contemplativa, não pode ser apenas uma repetição mecânica de fórmulas”, disse o Papa Paulo VI na Exortação Apostólica Marialis cultus.
Lembro-me, com saudade, de que minha mãe, todos os dias, reunia seus nove filhos, às 18h em ponto, para rezar o terço. Era algo que não falhava. Hoje, vejo todos os meus irmãos na Igreja, todos casados, nenhum separado. Não me lembro de um dia de desespero em nosso lar, embora tivéssemos todos os problemas que toda família tem. O santo terço diário foi sempre a nossa força, o nosso consolo. Nunca o deixei de rezar, mesmo nos meus tempos de cadete do Exército, durante três anos na Academia Militar.
 
Sobretudo hoje, em que se multiplicam os problemas e os pecados, a ofensa a Deus, e os filhos estão muito mais sujeitos aos maus exemplos, é fundamental que a família cristã reze, todos os dias, o santo terço para se colocar debaixo da poderosa intercessão de Nossa Senhora. Então, terão paz, mesmo neste mundo tão conturbado.
 

21/10/2014

Namorar uma pessoa mais velha dá certo?

Muitas pessoas vivem em um namoro literalmente uma “neura” de seus desejos e aspirações.
O namoro é um tempo fantástico de conhecimento da pessoa com quem namoramos. Eu busco conhecê-la e ela o mesmo. Nisto de fato acontecerão pontos de convergência e divergência. Afinal são duas pessoas diferentes, de contextos diferentes, educação diferentes, as vezes de culturas diferentes e por ai vai. Quis até enfatizar a repetição da palavra “diferentes” pois um namoro para dar certo ele não pode ser a somatória do que se tem como “iguais” mas sim a capacidade de acordos frente aos “diferentes”.
 
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O que é igual raramente será um problema a ser resolvido entre vocês dois, a menos que o social exija isso de vocês e ai vocês dois terão que juntos buscar o “acordo”. O que “pega” são os diferentes. E ai onde mora a “caixa de pandora” da crise mas também se encontra o “pó de pirlimpimpim” para o sucesso a dois. Só pessoas capazes de fazer acordos livres e saudáveis entre os “diferentes” se beneficiam de maneira madura de uma relação afetiva! Ambos crescem!
Com base nisto que falei acima podemos pensar um pouco sobre a pergunta que intitula este texto:

Namorar uma pessoa mais velha dá certo?”

O simples fato de namorar uma pessoa mais velha não é caso de dar errado ou certo, o detalhe não está numa questão de idade mas na capacidade de lidar com os diferentes. E isto vale para até quem é da mesma idade!
A primeira coisa a desmitificar é que nem sempre sua idade cronológica bate com sua idade afetiva. Podemos perceber isso em pessoas com 30,40 anos que tem uma idade afetiva beirando os 15, 20 anos. Até mesmo um de 20,30 anos com idade afetiva beirando os 40, 50 ( nem por isso ele é maduro – maturidade é a idade afetiva compativel ao que se espera de sua idade cronológica +- isso) .

Então idade cronológica não define muita coisa!

A segunda coisa é “ o que de fato me impulsiona neste relacionamento?” Muitas pessoas vivem em um namoro literalmente uma “neura” de seus desejos e aspirações. Deposita no outro suas “esperanças” “expectativas” e “faltas” . Nesta hora te digo caminho a beira do suicídio da relação. Ai podemos pensar que pessoas de idades mais aproximadas tenham mais possibilidades de se encontrarem quando as aspirações e vivencias de vida e isso já é um ganho. Pessoas com vivencias diferentes terão que fazer muito mais acordos na relação. Por exemplo: Um rapaz no auge dos seus 20 anos pensando na faculdade, curso e intercâmbio namorando uma mulher de 30 anos já formada com doutorado nas mãos já pensando em ser mãe e se casar. Pode dar certo sim, mas terão que fazer muito mais acordos para solidificar a relação. Ai te digo o que dará sucesso ou não a relação serão o quanto as motivações de cada um forem em prol da relação e dos dois e nunca fechado no particular de cada um. (obs. usei o rapaz mais novo e mulher mais velha mas o mesmo diria de uma mulher mais nova e uma homem mais velho)

Terceira coisa não fazer do relacionamento um jogo de projeções. Isso pode acontecer quando a diferença de idade na verdade é um reflexo de uma busca louca em encontrar no outro o que não tive ou me falta. Por exemplo querer namorar uma menina mais nova para ser ter uma “sensação de permanecer o eterno garoto”. Ou namorar uma mulher mais velha querendo assim os cuidados mais “maternos” do que de fato de uma namorada .

Um quarto e último ponto que gostaria de tocar é o quanto neste namoro de pessoas de idades diferentes há uma cumplicidade e verdade frente ao que cada um sente. Pois se isto for uma aliança frágil, as pressões da família, da sociedade, dos amigos enfraquecerão a relação. Ou seja o que cada um sente é forte o bastante para que o relacionamento prossiga? Ou o olhar do outro sobre vocês será persecutório demais não fazendo vocês suportarem?

Enfim o sucesso de um relacionamento não depende muito das diferenças das idades mas sim no quanto as motivações, maturidade, projeções e desejos estão afinados. O quanto de fato esta relação de namoro enriquece ambos na construção de uma família sólida e feliz! Lógico é bom ficar atendo as discrepâncias tão grandes que possam surgir. Tipo um cara de 20 anos querer namorar uma mulher de 60, ou uma de 60 namorar um rapaz de 20 denuncia muita coisa não? Será que quero uma mulher ou avó para cuidar de mim? Termino este texto não querendo ser polêmico ou preconceituoso mas sim para fazer refletir o que de fato tem nos movimentado!

Fonte: Canção Nova

18/10/2014

Todos somos heterossexuais

A Igreja, que é mãe e mestra, acolhe cada pessoa como Jesus as acolhe, aceitando o pecador, mas não o pecado
A homossexualidade pode ser definida como uma atração sexual prevalente e estável por pessoas do próprio sexo. Sendo simplesmente uma atração (inclinação, tendência…), como outras tendências (musicais, esportivas, alimentares…), independente da identidade da pessoa, a homossexualidade não constitui o aspecto essencial e não é, portanto, a natureza, a condição ou o estado dessa pessoa.
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Pode-se afirmar, a rigor de lógica, que não existem homossexuais, mas pessoas com orientações homossexuais. É fundamental distinguir entre a tendência homossexual e a pessoa que prova essa tendência. Pode-se considerar a homossexualidade um problema, desaprovar as uniões homossexuais e considerar imoral tais atos; mas nos confrontos dessas pessoas são necessários compreensão e respeito. Do mesmo modo, uma atitude crítica em relação à homossexualidade não significa “homofobia” nem desprezo com pessoas que possuem essa tendência. A homossexualidade não é determinada pelo comportamento sexual. Existem, de fato, pessoas com tendências homossexuais absolutamente castas ou que possuem relações heterossexuais, assim como existem pessoas com uma orientação heterossexual, mas que, por diferentes motivos, experimentam comportamentos homossexuais, sem que estes modifiquem sua orientação sexual.
A homossexualidade não diz respeito apenas e exclusivamente à orientação sexual. Sua raiz se coloca como a identidade de gênero, ou seja, a consciência do papel que os indivíduos do próprio sexo desenvolvem na sociedade. O fundamento da homossexualidade – como evidenciou Alfred Abner (1870-1937) e foi confirmado mais recentemente por Irving Bieber (1908-1991) – é que os homens que provam tendências homossexuais não se percebem à altura dos outros homens, capazes de poder satisfazer as exigências que a sociedade faz aos representantes do próprio gênero, dotados daquelas características viris que, na realidade, cada homem deve fastidiosamente construir. Esses admiram, invejam e, portanto, sentem-se atraídos por outros homens que veem mais desejosos de si.
Isso implica que as pessoas com tendências homossexuais são, na realidade, heterossexuais com problemas de identidade de gênero. Não existem, portanto, “homossexuais latentes”, porque não existe uma natureza homossexual que possa não se manifestar, nem existe uma tendência homossexual se ela não é advertida; e mais ainda, pode-se afirmar que as pessoas com tendências homossexuais são, na realidade, “heterossexuais latentes”.
Outra distinção importante é aquela entre as pessoas com tendências homossexuais e os gays:enquanto a palavra “homossexualidade” indica simplesmente uma atração ou tendência, a palavra “gay” indica uma identidade sócio-política. Nem todas as pessoas com tendências homossexuais se reconhecem na identidade gay; a maior parte deles não é orgulhoso dessa inclinação e, por isso, sofrem muito, nem mesmo consideram a homossexualidade positiva para si e para a sociedade. Uma das questões mais debatidas sobre o argumento homossexual é se a homossexualidade é algo natural. A questão nasce de um equívoco de fundo: não é de fato natural tudo que existe, nem mesmo tudo que fazem os animais. O termo “natural” indica aquilo que deveríamos ser, aquilo que seremos se o nosso desenvolvimento não encontrasse obstáculos. Em uma palavra, é o nosso projeto vital.
Da mesma forma que a obesidade existe, mas não é natural, também a homossexualidade não é natural, porque todas as pessoas são heterossexuais, a não ser que algo intervenha, elimine a sua identidade de gênero e faça surgir um sentido de inferioridade, de diversidade e dificuldade em relação às outras pessoas.
Os ativistas gays fortemente sustentam a hipótese de que a homossexualidade tenha uma causa biológica. No imaginário comum, de fato, tudo aquilo que é biológico é facilmente identificado como alguma coisa de inelutável, e que, portanto, deve ser aceito. Todavia, estudos científicos excluem a possibilidade de uma causa biológica da homossexualidade: independente de títulos jornalísticos tanto de grande circulação como não tanto, não existe um “gene gay”, um “cérebro gay” ou um “hormônio gay”; no máximo – mas sem nenhuma certeza científica – pode-se fazer hipótese de uma predisposição biológica que é bem diferente de uma causa biológica. Mas, com certeza, há influências ambientais (familiar, social, experiência de vida etc.) que determinam um sentido de inferioridade em relação às pessoas do mesmo sexo, e, portanto, o desenvolvimento da homossexualidade.
A título de conclusão: é possível que uma pessoa com tendências homossexuais mude sua orientação sexual? Sim. Há testemunhos de experiências clínicas (Nicolosi, van den Aardweg, Bieber, Spitzer…) como também de associações de pessoas que mudaram sua orientação sexual. Existe também uma vastíssima bibliografia, seja em português ou em outras línguas, principalmente em inglês e francês, muito importantes, como a carta que Joseph Ratzinger escreveu: CARTA AOS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA SOBRE O ATENDIMENTO PASTORAL 
DAS PESSOAS HOMOSSEXUAIS.
Antes de darmos um juízo final sobre tal comportamento ou tendência, saibamos que por trás de cada um existe uma história, e que a Igreja, que é mãe e mestra, acolhe cada pessoa como Jesus as acolheu, aceitando o pecador, mas não o pecado. Ajudemos a cada um desses nossos irmãos e irmãs com nossa oração e caridade.

17/10/2014

Encontramos Jesus na oração da Ave-Maria


O Rosário é um método simples para contemplar o rosto de Jesus com Maria
Contemplar o rosto de Jesus Cristo com a Virgem Maria é, antes de mais nada, recordar os mistérios do Filho, o Verbo de Deus humanado. Essa recordação deve ser entendida no sentido bíblico de memória, do hebraico zikaron, que atualiza as obras realizadas por Deus na história da salvação.
Fazer memória das obras do Senhor era comum na religião do povo de Israel, ao qual Nossa Senhora pertencia. Por isso, os mistérios de Cristo que lhe eram apresentados em termos quase incompreensíveis, “Maria os conservava, meditando-os no seu coração”1. Dessa forma, a Santíssima Virgem foi a primeira a fazer memória, a meditar profundamente os mistérios do Filho de Deus feito Homem, tornando-se para nós Mestra por excelência na contemplação do rosto de Cristo e de Seus santos e divinos mistérios.
Contemplar o rosto de Cristo como Maria - 940x500
A Bíblia, toda ela intimamente ligada à religião judaica, é a narração dos acontecimentos salvíficos, que culminam no memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Esses mistérios não constituem somente um “ontem”, não são apenas recordações de fatos do passado, mas se atualizam no “hoje” da salvação. Essa atualização se realiza de modo privilegiado na Liturgia da Santa Missa. O que Deus realizou, há quase dois mil anos, alcançou não somente as testemunhas diretas dos mistérios de Cristo, mas também, pelo dom da graça, os homens e mulheres de todos os tempos. Todavia, essa atualização não se limita à liturgia, mas acontece nas devoções que têm ligação com esses mistérios. “Fazer memória deles, em atitude de fé e de amor, significa abrir-se à graça que Cristo nos obteve com os seus mistérios de vida, morte e ressurreição”2.
A atualização, o memorial dos mistérios de Jesus Cristo têm, no terço mariano, sua expressão popular mais profunda. Desde tempos imemoriais, rezou-se e tornou-se cada vez mais conhecida e valorizada essa oração tão querida pelo povo de Deus. Sua grande popularidade se deve, principalmente, ao fato de o Rosário ser um método simples para contemplar o rosto de Jesus com Maria. Como método de oração, ele deve ser utilizado para seu verdadeiro fim, ou seja, a contemplação de Cristo, e não como fim em si mesmo. Considerando que o Rosário é fruto da experiência de devoção dos cristãos, há séculos, esse método não deve ser subestimado, pois estão a seu favor a experiência de inumeráveis santos, como São Domingos de Gusmão, São Luís Maria Grignion de Montfort, São Pio de Pietrelcina e São João Paulo II, que praticaram e ensinaram essa piedosa devoção com abundantes frutos espirituais.
A Ave-Maria é o elemento mais encorpado do Rosário, que faz dele uma oração mariana por excelência. Entretanto, o carácter mariano da Ave-Maria não se opõe ao cristológico, mas até o sublinha e exalta. A primeira parte da Ave-Maria, tirada das palavras dirigidas a Maria pelo Anjo Gabriel e por Isabel3, é a contemplação adoradora do mistério de Cristo, que se realiza na Virgem de Nazaré. Essas palavras exprimem a admiração do Céu e da Terra, e transparecem o encanto do próprio Deus ao contemplar a Sua obra-prima – a encarnação do Filho no ventre virginal de Maria –, que nos remete ao olhar contemplativo do Criador4, daquele primordial “pathos com que Deus, na aurora da criação, contemplou a obra das suas mãos”5. “A repetição da Ave-Maria no Rosário sintoniza-nos com esse encanto de Deus: é júbilo, admiração, reconhecimento do maior milagre da história”6. A recitação dessa oração é também o cumprimento da profecia de Maria: “ Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada”7.
O “centro de gravidade” da Ave-Maria, uma espécie de “dobradiça” entre a primeira e a segunda parte dessa oração, é o nome de Jesus. Numa recitação precipitada e desatenta, perdemos esse centro e também a ligação com o mistério de Cristo que contemplamos. Dessa forma, deixamos de colher preciosos frutos, pois “é pela acentuação dada ao nome de Jesus e ao Seu mistério que se caracteriza a recitação expressiva e frutuosa do Rosário”8. Nesse sentido, em algumas regiões costuma-se realçar o nome de Cristo, acrescentando, logo depois, uma passagem bíblica que recorda o mistério meditado9. Esse costume é muito louvável, especialmente na recitação pública do Rosário, e exprime, de forma intensa, a fé em Jesus Cristo, aplicada aos diversos momentos da Sua vida. Repetir o nome de Jesus, o único nome do qual se pode esperar a salvação10, juntamente com o nome de Maria, deixando que seja a Mãe a nos levar para o Filho, é um caminho de assimilação que nos faz penetrar cada vez mais profundamente na vida de Cristo. “Dessa relação muito especial de Maria com Cristo, que faz d’Ela a Mãe de Deus, a Theotókos, deriva a força da súplica com que nos dirigimos a Ela depois na segunda parte da oração, confiando à sua materna intercessão a nossa vida e a hora da nossa morte”11.
Assim, a contemplação do rosto de Jesus Cristo com a Virgem Maria é o memorial, a atualização dos mistérios da salvação no hoje da nossa vida. A atualização desses mistérios acontece de modo privilegiado na liturgia, na celebração da Eucaristia, memorial do mistério pascal de Cristo, da Sua Paixão, Morte e Ressurreição. A atualização se dá também naquelas devoções em que são contemplados os mistérios de Cristo. Entre essas devoções, brilha de modo inigualável o Rosário, no qual meditamos com a Virgem Maria os mistérios da nossa salvação. Nele, contemplamos com Maria o rosto humano de Deus. Por meio do Rosário, a Mãe de Deus nos leva ao seu Filho, para contemplarmos Sua face e fazer a Sua vontade: “Fazei o que ele vos disser”12. Por fim, pela oração do Rosário nos confiamos à materna intercessão da Virgem Mãe de Deus junto ao seu amado Filho Jesus Cristo.
Nossa Senhora do Rosário, rogai por nós!
Leia mais:
Referências:
1. Lc 2, 19; cf. 2, 51.
2. PAPA JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, 13.
3. Cf. Lc 1, 28.42.
4. Cf. Gn 1, 31
5. PAPA JOÃO PAULO II. Carta aos Artistas (4 de Abril de 1999), 1: AAS 91 (1999), 1155.
6. PAPA JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, 33.
7. Lc 1, 48.
8. PAPA JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, 33.
9. Cf. PAPA PAULO VI. Exortação Apostólica Marialis cultus, 46.
10. Cf. At 4, 12.
11. PAPA JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, 33.
12. Jo 2, 5.