30/09/2014

UM ESPINHO NA CARNE

espinhos
É em nossa fraqueza que Deus vem em nosso auxilio com a sua graça. Basta-te a minha graça!
São Paulo teve uma experiência impressionante com Jesus. Ele relata na segunda Carta aos coríntios. Primeiro começa dizendo que “foi arrebatado ao paraíso e lá ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir”. Depois, relata o seguinte: “para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear e me livrar do perigo da vaidade. Três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim. Mas ele me disse: Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força. Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo”. (2 Cor 12,4-10).
Ninguém sabe ao certo o que era “esse espinho na carne” de São Paulo, mas certamente era algo que muito o incomodava. Alguns dizem que era uma doença nas vistas, outros dizem que ele tinha contraído malária; enfim, era algo que o fazia sofrer.
O mais interessante é que Paulo pediu a Jesus que retirasse dele esse espinho, mas o Senhor disse: Não! E ele entendeu porquê: para que “a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho”, uma vez que ele tinha sido “arrebatado ao paraíso e lá ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir”. Paulo podia ficar vaidoso, então o Senhor o impedia com o espinho na carne. Conosco também acontece o mesmo, especialmente quem se destaca.
Certamente cada um de nós tem esse espinho na carne, que pode ser de fundo físico ou espiritual. Certa vez eu experimentei um espinho desses, na alma, é pior do que no corpo. Sentia-me com uma brasa na alma ou uma flecha no coração. Roguei também ao Senhor, insistentemente, que me livrasse daquele espinho, mas Ele não me livrou. Então comecei a procurar a causa do Senhor me manter naquela situação. Deixei minha alma em silêncio, para tentar ouvir a Sua voz.
No silêncio da dor da alma, parece que uma voz falava no meu intimo: “Quanto maior for o sofrimento oferecido a Deus, com amor, mais nós o agradamos, mais temos méritos diante Dele e mais se apressa a nossa santificação”. Então entendi que o Senhor providenciava a minha salvação. Deixava-me naquele purgatório terreno, o tempo que for necessário, para me purificar.
Lembrei-me do Eclesiástico: “prepara a tua alma para a provação, humilha teu coração, espera com paciência, sofre as demoras de Deus, não te perturbes no tempo da infelicidade. Na dor permanece firme, na humilhação tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata e os homens agradáveis a Deus pelo cadinho da humilhação” (Eclo 2,1-6).
E a voz continuava a me dizer: “A prata e o ouro só ficam purificados no fogo quando começam a refletir neles o Rosto do ourives”.
Entendi que nossa purificação só termina quando o Rosto de Deus brilha em nossa alma; antes as escórias têm de serem queimadas.
Mas, muitas delas não as vemos; e por isso achamos que não as temos, mas Deus as vê, e quer remove-las de nós. Paciência!
São Paulo disse aos romanos que “Deus nos predestinou para sermos conforme a imagem do Seu Filho” (Rom 8,29). É a meta de Deus para cada filho, ver o Rosto de Jesus em nós. Então, nossa purificação só terminará – como o ouro e a prata – quando Jesus estiver formado em nós. Isto começa aqui e pode ser concluído na eternidade, no Purgatório.
Não desanimemos e nem desesperemos, é uma grande e bela obra de Deus. Todos os santos passaram por isso para chegar ao céu. No silêncio da meditação Deus me ensinava que é na paciência com este espinho na carne que temos a oportunidade de rezar mais.
Como disse João Paulo II, “quanto mais se sofre, mais é necessário rezar”. Além disso, é uma grande oportunidade de oferecer a dor pelos outros: a saúde e a salvação dos entes queridos, o sufrágio das almas do Purgatório, as lutas da Igreja, a santificação do clero, etc. É nisso que Deus nos liberta de nós mesmos, de nossos egoísmos, vanglória, apegos desordenados, busca de prazeres, maledicências, iras, invejas…
Entendendo a importância disso, São Paulo disse aos coríntios: “de mim mesmo não me gloriarei, a não ser das minhas fraquezas. Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,5).
É em nossa fraqueza que Deus vem em nosso auxilio com a sua graça. Basta-te a minha graça! Não entendemos bem porque Ele permite esse espinho em nossa carne; mas Ele nos conhece e nos ama, sabe qual é o remédio que nossa alma precisa.
É o Médico que deve prescrever o remédio, e não o doente.
Prof. Felipe de Aquino

29/09/2014

Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael


Santos Arcanjos Miguel, Gabriel, RafaelCom alegria, comemoramos a festa de três Arcanjos neste dia: Miguel, Gabriel e Rafael. A Igreja Católica, guiada pelo Espírito Santo, herdou do Antigo Testamento a devoção a estes amigos, protetores e intercessores que do Céu vêm em nosso socorro pois, como São Paulo, vivemos num constante bom combate. A palavra “Arcanjo” significa “Anjo principal”. E a palavra “Anjo”, por sua vez, significa “mensageiro”.

São Miguel
O nome do Arcanjo Miguel possui um revelador significado em hebraico: “Quem como Deus”. Segundo a Bíblia, ele é um dos sete espíritos assistentes ao Trono do Altíssimo, portanto, um dos grandes príncipes do Céu e ministro de Deus. No Antigo Testamento o profeta Daniel chama São Miguel de príncipe protetor dos judeus, enquanto que, no Novo Testamento ele é o protetor dos filhos de Deus e de sua Igreja, já que até a segunda vinda do Senhor estaremos em luta espiritual contra os vencidos, que querem nos fazer perdedores também. “Houve então um combate no Céu: Miguel e seus anjos combateram contra o dragão. Também o dragão combateu, junto com seus anjos, mas não conseguiu vencer e não se encontrou mais lugar para eles no Céu”. (Apocalipse 12,7-8)
São Gabriel
O nome deste Arcanjo, citado duas vezes nas profecias de Daniel, significa “Força de Deus” ou “Deus é a minha proteção”. É muito conhecido devido a sua singular missão de mensageiro, uma vez que foi ele quem anunciou o nascimento de João Batista e, principalmente, anunciou o maior fato histórico: “No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré… O anjo veio à presença de Maria e disse-lhe: ‘Alegra-te, ó tu que tens o favor de Deus’…” a partir daí, São Lucas narra no primeiro capítulo do seu Evangelho como se deu a Encarnação.
São Rafael
Um dos sete espíritos que assistem ao Trono de Deus. Rafael aparece no Antigo Testamento no livro de Tobit. Este arcanjo de nome “Deus curou” ou “Medicina de Deus”, restituiu à vista do piedoso Tobit e nos demonstra que a sua presença, bem como a de Miguel e Gabriel, é discreta, porém, amiga e importante. “Tobias foi à procura de alguém que o pudesse acompanhar e conhecesse bem o caminho. Ao sair, encontrou o anjo Rafael, em pé diante dele, mas não suspeitou que fosse um anjo de Deus” (Tob 5,4).
São Miguel, São Gabriel e São Rafael, rogai por nós!

25/09/2014

Quem é o Arcanjo Gabriel?

Gabriel Arcanjo é o anunciador por excelência das revelações divinas
De todos os anjos, de todas as hierarquias, Gabriel, Rafael e Miguel são os únicos que a Igreja os reconhece pelos nomes e estão revelados na Sagrada Escritura. Os Arcanjos pertencem à terceira hierarquia (Principados, Arcanjos e Anjos) e são responsáveis por executar as ordens de Deus, por isso estão mais perto de nós.
Quem é o Arcanjo Gabriel - 940x500
Gabriel Arcanjo é o anunciador por excelência das revelações divinas. Seu nome significa “Emissário do Senhor” ou “Deus é meu protetor” ou ainda “Homem de Deus”. O Antigo Testamento já retrata sua presença trazendo boas novas da parte do Altíssimo, explicando a Daniel a visão que este profeta teve (cf. Dn 8, 16ss), e depois o destino favorável ao povo de Israel quando este estava no exílio (cf. Dn 9, 21ss).
No Novo Testamento, é Gabriel quem anuncia ao sacerdote Zacarias que Isabel, sua mulher, lhe daria um filho profeta: João Batista (cf. Lc 1, 13ss). Coube ainda ao Arcanjo Gabriel proclamar a maior notícia de todos os tempos para nós, seres humanos, a encarnação e o nascimento do Filho de Deus em nosso meio (cf. Lc 1, 26ss) para nos salvar.
Gabriel, por ser conhecedor dos mais profundos mistérios de Deus, foi quem anunciou a Maria que ela era cheia de graças e a escolhida para ser a Mãe do Salvador. Pelas palavras do Arcanjo, Nossa Mãe e Senhora foi entendendo a ação do Espírito Santo nela e, assim, foi se preparando para sua missão. Também a saudação angélica, que temos hoje, é uma das orações mais difundidas e queridas do catolicismo, a Ave-Maria “Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo” (Lc 1, 28).
Então, diante de tudo isso, lhe pergunto: Você está precisando de boas novas vindas de Deus?Qual é a grande notícia que você aguarda ou que necessita para este tempo?
O próprio anjo diz sobre si mesmo: “Eu sou Gabriel, e estou sempre na presença de Deus. Eu fui enviado para falar contigo e anunciar-te esta boa nova” (Lc 1, 19). Creia nisso! Se você pedir, ele virá e comunicará o que Deus quer de você, pois é desejo do Senhor transmitir Seus planos a nós: “O Senhor não faz coisa alguma sem revelar seus planos aos profetas, seus servos” (Am 3, 7).
Deus quer entrar e interagir em sua vida, transmitindo-lhe sabedoria e discernimento, quer cuidar de você com carinho e amor. E para isso, usa de Seus mensageiros, os anjos. Como Arcanjo da revelação, Gabriel conhece a nossa realidade e os aspectos que nos envolvem.
Reze! E que as orações e devoções a este servo tão próximo do trono de Deus façam desprender do Céu uma chuva de promessas, profecias e mensagens do Senhor para sua vida! Que, a exemplo de Nossa Senhora e dos profetas, a força da revelação, proclamada por esse servo angélico, prepare e impulsione sua alma para a missão e as novidades que hão de vir.
São Gabriel Arcanjo, rogai por nós!

24/09/2014

Como ajudar um depressivo?

Como saber se alguém próximo a você está deprimido e como o ajudar?
Quem sofre de depressão tem 52% mais risco de morrer precocemente em relação a alguém que não apresenta a doença, indica uma análise feita – em 293 estudos sobre o tema – por cientistas da Holanda e China, publicada no American Journal of Psychiatry.
L’Wren Scott, estilista e modelo americana, os atores Fausto Fanti, do “Hermes e Renato”, e Robin Williams tiraram a própria vida. De acordo com a imprensa, as mortes teriam sido resultado de depressão. Por fora, ela parece apenas uma tristeza normal, mas é uma doença extrema. Os sintomas duram mais tempo do que os encontrados em quem sente tristeza e a rotina fica difícil de ser seguida.
Como ajudar um depressivo 940x500
Mas como saber se alguém próximo a você está deprimido? E como o ajudar?
Se perceber alguma mudança grande de comportamento na pessoa, converse com ela, pergunte-lhe como andam as coisas e mostre sua preocupação e carinho com o bem-estar dela. Ela pode desabafar. Mas tenha cuidado com o que você vai dizer a ela. O melhor é ouvir a pessoa e não tentar lhe dar conselhos nem tentar “consertá-la”. Se ela estiver deprimida, isso não vai ajudar.
O mais importante é demonstrar a ela que você está disponível para o que der e vier. Entre em contato com frequência com ela e não a force a admitir a depressão. Também não se sinta culpado de estar causando isso a quem você ama. Tente fazer com que a pessoa procure se informar sobre essa doença para que ela entenda que não deve sentir vergonha ou achar que isso é uma fraqueza. Ajude-a também a buscar um profissional como um psicólogo ou um médico psiquiatra. É muito importante dialogar com um psicanalista.
O pai da psicanálise, Dr. Sigmund Freud, disse: “O que se precisa para ser feliz? Trabalho e amor”. É preciso ter objetivos, focar num trabalho, colocar a fé em ação, amar com todo o poder da alma e deixar as surpresas acontecerem. E ter otimismo na vida e novidades maravilhosas nas coisas esperadas.
Unir a ciência psiquiátrica à espiritualidade é obter resultados cheios de curas e felicidades abissais. Devemos ajudar as pessoas a conhecerem o sentido real da vida e a saciarem a sede do prazer em práticas curativas e em progressos atos de amor.
Autor: Padre Inácio José do Vale

23/09/2014

São Pio de Pietrelcina fundador do hospital "Casa Alívio do Sofrimento''


São Pio de PietrelcinaEste digníssimo seguidor de S. Francisco de Assis nasceu no dia 25 de maio de 1887 em Pietrelcina (Itália). Seu nome verdadeiro era Francesco Forgione. Ainda criança era muito assíduo com as coisas de Deus, tendo uma inigualável admiração por Nossa Senhora e o seu Filho Jesus, os quais via constantemente devido à grande familiaridade. Ainda pequenino havia se tornado amigo do seu Anjo da Guarda, a quem recorria muitas vezes para auxiliá-lo no seu trajeto nos caminhos do Evangelho.
Conta a história que ele recomendava muitas vezes as pessoas a recorrerem ao seu Anjo da Guarda estreitando assim a intimidade dos fiéis para com aquele que viria a ser o primeiro sacerdote da história da Igreja a receber os estigmas do Cristo do Calvário. Com quinze anos de idade entrou no Noviciado da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos em Morcone, adotando o nome de “Frei Pio” e foi ordenado sacerdote em 10 de agosto de 1910 na Arquidiocese de Benevento. Após a ordenação, Padre Pio precisou ficar com sua família até 1916, por motivos de saúde e, em setembro desse mesmo ano, foi enviado para o convento de São Giovanni Rotondo, onde permaneceu até o dia de sua morte.
Abrasado pelo amor de Deus, marcado pelo sofrimento e profundamente imerso nas realidades sobrenaturais, Padre Pio recebeu os estigmas, sinais da Paixão de Jesus Cristo, em seu próprio corpo. Entregando-se inteiramente ao Ministério da Confissão, buscava por meio desse sacramento aliviar os sofrimentos atrozes do coração de seus fiéis e libertá-los das garras do demônio, conhecido por ele como “barba azul”.
Torturado, tentado e testado muitas vezes pelo maligno, esse grande santo sabia muito da sua astúcia no afã de desviar os filhos de Deus do caminho da fé. Percebendo que não somente deveria aliviar o sofrimento espiritual, recebeu de Deus a inspiração de construir um grande hospital, conhecido como “Casa Alívio do Sofrimento”, que se tornou uma referência em toda a Europa. A fundação deste hospital se deu a 5 de maio de 1956.
Devido aos horrores provocados pela Segunda Guerra Mundial, Padre Pio cria os grupos de oração, verdadeiras células catalisadoras do amor e da paz de Deus, para serem instrumentos dessas virtudes no mundo que sofria e angustiava-se no vale tenebroso de lágrimas e sofrimentos. Na ocasião do aniversário de 50 anos dos grupos de oração, Padre Pio celebrou uma Missa nesta intenção. Essa Celebração Eucarística foi o caminho para o seu Calvário definitivo, na qual entregaria a alma e o corpo ao seu grande Amor: Nosso Senhor Jesus Cristo; e a última vez em que os seus filhos espirituais veriam a quem tanto amavam.
Era madrugada do dia 23 de setembro de 1968, no seu quarto conventual com o terço entre os dedos repetindo o nome de Jesus e Maria, descansa em paz aquele que tinha abraçado a Cruz de Cristo, fazendo desta a ponte de ligação entre a terra e o céu.
Foi beatificado no dia 2 de maio de 1999 pelo Papa João Paulo II e canonizado no dia 16 de junho de 2002 também pelo saudoso Pontífice. Padre Pio dizia: “Ficarei na porta do Paraíso até o último dos meus filhos entrar!”

São Pio de Pietrelcina, rogai por nós!

20/09/2014

Anular o voto é pecado?

Anular o voto é pecado, é desprezar o direito sagrado de participar da vida pública.
Os últimos Papas têm insistido em que os católicos participem da vida pública, sobretudo da política, que é a ciência do “bem comum”, uma forma de fazer a caridade pública. Recentemente o Papa Francisco, ao falar sobre isso, declarou:
“Envolver-se na política é uma obrigação para o cristão. Nós não podemos fazer como Pilatos e lavar as mãos, não podemos. Temos de nos meter na política porque a política é uma das formas mais altas de caridade, porque busca o bem comum. Os leigos cristãos devem trabalhar na política. A política está muito suja, mas eu pergunto: está suja por quê? Por que os cristãos não se meteram nela com espírito evangélico? É a pergunta que faço. É fácil dizer que a culpa é dos outros… Mas, e eu, o que faço? Isso é um dever. Trabalhar para o bem comum é dever do cristão”.
Anular-o-voto-e-pecado
Note que o Sumo Pontífice enfatizou que a política é uma das “formas mais altas de caridade”, porque é por ela que um país é governado, atendendo especialmente os mais necessitados. Contudo, se os homens e mulheres públicos forem desonestos ou despreparados, essa caridade não existirá. E a culpa, acima de tudo, é do próprio povo, porque é ele quem escolhe pelo voto seus governantes.
São aqueles que exercem cargos públicos, eleitos pelo povo, que empregam o dinheiro de todos, arrecadado por intermédio dos impostos, para cuidar do povo, especialmente os mais necessitados, investindo na saúde, no transporte público, na educação, nas moradias, no saneamento básico, no fornecimento de água, de energia, telefone, internet, entre outros.
Na sua Encíclica “Evangelii Gaudium”, em português “A Alegria do Evangelho”, o Papa Francisco repetiu: “A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum” (EG, 205).
O Papa Bento XVI afirmou o seguinte sobre esse tema: “Reitero a necessidade e urgência de formação evangélica e acompanhamento pastoral de uma nova geração de católicos envolvidos na política, que sejam coerentes com a fé professada, que tenham firmeza moral, capacidade de julgar, competência profissional e paixão pelo serviço ao bem comum” (Vaticano, 15/11/ 2008).
O Concílio Vaticano II também já tinha se pronunciado sobre isso: “Lembrem-se, portanto, todos os cidadãos ao mesmo tempo do direito e do dever de usar livremente seu voto para promover o bem comum. A Igreja considera digno de louvor e consideração o trabalho daqueles que se dedicam ao bem da coisa pública a serviço dos homens e assumem os trabalhos deste cargo” (Gaudium et Spes, 75).
E o nosso Catecismo da Igreja Católica, no número 899, repete: “A iniciativa dos cristãos leigos é particularmente necessária quando se trata de descobrir, de inventar meios para impregnar as realidades sociais, políticas e econômicas com as exigências da doutrina e da vida cristãs”.
Na “Christifidelis laici”, no número 42, São João Paulo II disse: “Para animar cristãmente a ordem temporal [...], os fiéis leigos não podem absolutamente abdicar da participação na «política», ou seja, da múltipla e variada ação econômica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover orgânica e institucionalmente o bem comum”.
Infelizmente o demônio colocou na cabeça dos bons que a política é coisa de gente má; então, muitos maus a dominaram. É preciso acordar desse pesadelo. Os cristãos precisam ter uma participação ativa na política, não só como candidatos, como também na promoção dos bons políticos.
O povo precisa aprender a votar e a conhecer bem os candidatos. Alguns, no dia da eleição, pegam um papel de propaganda na rua e dão o seu voto a qualquer um. Pior ainda são os que anulam o voto ou votam em branco, jogando fora o direito e o dever sagrado de participar da vida da nação. E, ao agirem assim, acabam facilitando a eleição dos piores. Anular o voto é pecado, é desprezar o direito sagrado de participar da vida pública. O voto nulo ajuda o mau político a se eleger. Se não gostamos de nenhum candidato devemos votar no “menos ruim”, mas nunca em branco ou nulo, pois alguém será eleito.
Hoje com a internet, ficou mais fácil saber quem é político e quem é “politiqueiro”; quem quer trabalhar para o povo e quem quer trabalhar para si mesmo. Então, é fundamental que os cristãos informem seus irmãos e suas comunidades sobre quem não merece o voto deles.
Precisa ficar claro que a política é boa, o que não presta é a politicagem; e que o político é bom, o que não presta é o “politiqueiro”.
O pior problema hoje do nosso país é que grande parte da população é alienada da vida pública, não lê um jornal, uma boa revista sobre o assunto, limita-se a ver noticiários de televisão e se deixa, muitas vezes, enganar por um favor que recebe. São pessoas que votam com o estômago e não com a cabeça.
O voto é sagrado, é a arma da democracia se ele for dado com conhecimento de causa e com honestidade, sem se vender. Contudo, se não houver nada disso, a democracia ficará doente e poderá se tornar ditadura disfarçada.
O Brasil carece de uma reforma política séria, por meio da qual se implante, por exemplo, o voto distrital, se acabe com o tal “coeficiente eleitoral”, que faz com que muitos sejam eleitos com os votos de outros. Mas tudo isso só acontecerá quando houver uma mudança na qualidade dos nossos governantes.
Muitos que hoje são eleitos têm suas caríssimas campanhas políticas custeadas por grandes corporações: sindicatos, igrejas, cooperativas, empresários, entre outros. Depois de eleitos, vão trabalhar para o bem do povo? Não. Para o bem de quem os custeou. Desse modo, a política como caridade não existe e os lobbies a dominam. Então, é preciso termos governantes eleitos, de fato, pelo povo, conscientizado e não comprado com caros investimentos. Cabe a cada cristão se conscientizar a respeito disso e conscientizar seus irmãos para que não sejam manipulados, comprados e subjugados.

19/09/2014

Existem homens e mulheres criados para a política

Deus deu a alguns homens e mulheres os dons e as características necessárias para ocuparem cargos públicos.
No mês de agosto, a Igreja dedica um olhar especial às vocações. Entre as tantas vocações para as quais o Senhor convoca Seus filhos a servir, encontramos uma que sofre grandes golpes em nossa atualidade: a vocação à política. Talvez, soe como novidade para alguns encarar esse ramo como uma vocação, mas para a Igreja ela é real, tanto que, em suas orações litúrgicas, encontramos várias vezes a intercessão pelas autoridades e pelos governos.
O termo “política” denomina arte ou ciência de organização; muito mais que isso, o Papa Paulo VI afirmou que “a política é uma forma sublime do exercício da caridade”. Se observarmos, em todos os tempos, Deus suscitou homens para guiar Seu povo. Foi assim ao escolher Moisés, Elias, Eliseu, Samuel, Saul, Davi… Enfim, em cada etapa que o povo de Deus se encontra, detectamos um líder, e por que não dizer, um político.
Existem-homens-e-mulheres-na-politica---940x500
Claro que podemos encontrar diversas características que podem divergir na ideia de se comparar líderes do povo de Deus aos políticos da atualidade. Mas, ao fazermos tal comparação, podemos observar que o Senhor dá a alguns homens os dons e as características necessárias para organizar, dar diretrizes e criar normas para que os direitos de cada pessoa sejam atendidos e para que também os deveres sejam realizados. A partir disso, compreendemos o que Paulo VI disse ao ligar a vocação do político à virtude da caridade, ou seja, seu papel está em servir e não em ser servido.
No Evangelho de João 6,5-12, Jesus pergunta a Filipe: “Onde vamos comprar pão para que estes possam comer?”. Vemos, então, que o discípulo fica perdido, pois não sabe a solução para o problema. Como ele, pobre e sem alimento até mesmo para si, poderia alimentar aquela multidão? O Evangelho relata que Jesus disse isso para testar Filipe, pois Ele sabia muito bem o que ia fazer.
Esse Evangelho expressa a vocação do cristão: viver a caridade. A política constrói o cenário ideal para que esse Evangelho possa ser praticado. O desejo de Deus é que os líderes das nações tenham um espírito cheio de amor e compaixão pelo povo, de maneira especial pelos mais pobres, e que tragam o coração inclinado para a renúncia, prática sem a qual não conseguiriam viver com plenitude o papel que lhes cabe.
O que Deus espera de Seus líderes, comparado ao que vemos nos governos de hoje em nosso país, nos leva a perceber que nem sempre esse papel é bem exercido. Se existem pessoas portadoras de dons e características dadas pelo próprio Deus para exercer em tais funções, o que há de errado com esses cargos?
Podemos encontrar na frase do Papa Pio XII uma boa resposta: “Onde faltam homens honestos, outros vêm ocupar-lhes o lugar para fazer da atividade política arena das suas ambições, uma corrida aos ganhos próprios e de sua classe”. Vemos hoje uma política suja e vendida aos que corrompem e desonram o cargo que ocupam. Não são em sua totalidade, mas é notável a carência de opções na hora de escolher um candidato para ocupar um cargo público. Torna-se inaceitável que nós cristãos possamos escolher para o governo pessoas que discursam contra os princípios fundamentais da vida humana deixados por Cristo.
Papa Pio XII deixa claro, em sua frase, que há a necessidade de pessoas comprometidas com o Evangelho engajadas na política. Precisamos de representantes tementes a Deus, que possam se colocar a serviço do povo, com desejo de agradar ao Senhor. Também precisamos de eleitores que, na hora de escolher um candidato, sejam atentos e conscientes, pois um homem que não é movido pelo Espírito de Deus não tem a capacidade de conduzir uma nação para uma verdadeira caridade.
A omissão dos bons ocasionou o domínio dos corruptos. Os homens confiantes em Deus poderão levar para o meio do povo o milagre feito por Jesus.
Quem aí tem cinco pães e dois peixinhos para ofertar?

18/09/2014

A lógica da Cruz

A Igreja celebra a Exaltação da Santa Cruz como uma grande festa.
Recentemente apareceram notícias de pessoas sendo crucificadas! Em nosso tempo praças ficaram cheias de gente pregada na cruz, outras degoladas, levas de homens, mulheres e crianças, enfermos, anciãos, num roldão de intolerância impensável em tempos que se consideram civilizados. É a cruz que comparece de novo!
A-lógica-da-cruz--940x500
Percorrendo estradas, pelo Brasil afora, não é raro encontrar em algumas colinas a Cruz, elevada e imponente, muitas vezes iluminada, outras enfeitadas com os símbolos da paixão de Cristo, cravos, coroa, lençol ou lança. E a mesma Cruz é vista, como sinal de fé, em locais marcados por acidentes, nos quais homens e mulheres tiveram suas vidas ceifadas. É ainda a Cruz que comparece serena sobre as sepulturas cristãs, como identificação do tipo de pessoa ali plantada, no respeito ao corpo marcado pela graça do Batismo. Ela ainda é vista em salas de aulas, repartições públicas, tribunais e em nossas casas, trabalhada pela arte e pela devoção de gerações de cristãos, vista de diversas perspectivas. Muitos a trazem como enfeite precioso, outros a escolhem de lenho despojado, para declarar os rumos de suas opções de fé. O sinal da Santa Cruz, que nos livra dos inimigos estará sempre presente, onde quer que esteja um homem ou mulher de fé. E a Igreja celebra a Exaltação da Santa Cruz como uma grande festa, sabendo que a sabedoria nela escondida e revelada continuará atual e poderosa.
Contam-se histórias, inventadas com verdade e singeleza, como aquela da pessoa que julgava pesada a própria cruz. Deixada na liberdade da escolha, foi procurar num imaginado “depósito” de cruzes, a mais adequada às suas condições. Depois de muito analisar, não se apercebeu a mesma cruz deixada à porta, foi de novo abraçada e carregada. Outro personagem descobriu que a Cruz considerada muito grande era justamente a medida de uma ponte necessária à superação de um abismo. São formas simpáticas, criadas pelo imaginário popular, com as quais o Evangelho da Cruz, tão antigo e novo e, mais ainda, necessário, continua a ser anunciado nos púlpitos do cotidiano. Por mais que dela se pretenda escapar, a Cruz comparecerá nas curvas da vida, e não há exceções.
No entanto, é bom que se esclareça o sentido profundo e verdadeiro da Cruz. O sofrimento sozinho não deve e nem pode ser procurado, num gosto mórbido e destruidor da vida humana. Dificuldades, dores ou problemas têm a vocação de se transformarem em Cruz, quando se acrescenta o único ingrediente com o qual a vida ganha sentido, o amor. A cruz com a qual foram supliciadas tantas pessoas foi redimida e se transformou em sinal e caminho de salvação por aquele que nela se imolou para a salvação da humanidade. Só a entrega livre, a descida à condição de escravidão e liberdade, no amor eterno, feita por quem não se apegou à sua igualdade com Deus (Cf. Fl 2, 6-11), na morte de Cruz, dá sentido a tudo o que se faz, inclusive o sofrimento e a dor. Aí se joga com a liberdade humana!
Podemos ficar apenas com problemas, dores, angústias, enfermidades ou outras expressões com as quais qualificamos os desafios da vida humana, ou aproveitamos a graça de dar-lhes um nome sagrado, Cruz, unindo-nos a Cristo e escolhendo-o como Senhor e Salvador, para ter a vida eterna, não só depois de sermos apresentados diante da face de Deus, no limiar da eternidade, mas agora, no momento presente em que o Senhor nos quer realizados e felizes.
Vale a pena fazer um exercício, olhando para a Cruz de Cristo (Cf. Jo 3, 13-17). A Cruz aponta para o alto, para a grandeza do eterno. Mirar o relacionamento com Deus é resposta humana àquele que criou, por desígnio admirável, a maravilhosa aventura de estar nesta terra. Buscar as coisas do alto (Cf. Cl 3, 1-2) é atitude digna dos filhos de Deus. E pode iluminar o cotidiano de forma surpreendente. Pensa no que é melhor, no mais perfeito, naquilo que é mais santo, deixar-se envolver pela beleza com que Deus pensou a humanidade, ter sonhos de paraíso, sim! E a Cruz tem uma outra haste, horizontal, braços que se abrem e acolhem no amor tudo o que é humano. É a escolha do relacionamento amigo e verdadeiro com as outras pessoas, com a sensibilidade de quem olha ao redor e não deixa escapar qualquer possibilidade para amar e fazer o bem.
As duas hastes da Cruz se “cruzam” no coração humano! É lá dentro, no íntimo das escolhas inteligentes e livres simbolizadas justamente pelo coração é que se encontra a possibilidade de transformar dor, sofrimento, problemas ou incógnitas em caminho de salvação. Também as alegrias serão transformadas em Cruz e ganharão sentido, quando estes dois movimentos se fizerem presentes, olhar para o alto e abrir os braços no amor ao próximo. Sim, pois também gargalhadas dadas, ou outras expressões efusivas dos sentimentos humanos, sem o amor se esvaziam e esvaziam a vida. Só em Cristo e em seu mistério a história pessoal e a da humanidade encontram rumo e sentido.
Ainda a verdade da Cruz! É que ela é uma face do mistério, que tem o outro lado, a Ressurreição. Quando se abraça a vida e todos os seus desafios com amor, a força do Cristo, que venceu a morte e a dor, resplandece gloriosa. O convite à fé cristã faz de nós homens e mulheres pascais, capazes de passar continuamente da morte à vida. O segredo estará sempre na tomada de consciência, momento por momento, das infinitas possibilidades criadas pelo amor de Deus. Uma dificuldade na saúde será aproveitada para oferecer tudo o que se vive, sem deixar de lado os necessários cuidados, com os meios oferecidos pela ciência de nosso tempo. Uma crise familiar ressoará no coração como apelo a sair de si mesmo, para amar e servir com maior dedicação. As muitas situações sociais e econômicas, do emprego à política ou outros problemas, tudo haverá de ser enfrentado com maior serenidade, passando continuamente da morte à vida. Até as crises de fé poderão ser enfrentadas com paz pelas pessoas que começam a sair de si, para amar e servir ao próximo, entregando-se e confiando na força que brota da Cruz de Cristo, com a qual a luz comparece de novo nos caminhos da existência.

17/09/2014

O significado das dores de Nossa Senhora

As dores de Nossa Senhora têm seu sentido mais profundo no mistério pascal de Jesus Cristo.
Para entender o sofrimento e as dores de Nossa Senhora e a dureza com a qual ela é tratada por seu Filho Jesus Cristo nas narrativas bíblicas, é necessário compreender o sentido da constante iniciação à fé pura e o estar de pé junto à cruz. Maria esteve com Jesus, junto à cruz1, “não sem desígnio de Deus, sofrendo com o seu Filho único, e associando-se com coração de mãe ao Seu sacrifício, consentindo com amor no sacrifício da vítima por ela mesma gerada. Finalmente, pelo próprio Cristo Jesus moribundo na cruz foi dada como mãe ao discípulo com estas palavras: ‘mulher, eis aí o teu filho’”2, e depois ao lado daquele a quem Ele amava: “Eis a tua mãe!”3Todo o sofrimento da Mãe do Senhor, especialmente as dores pela crucifixão e morte do seu Filho, tem seu sentido mais pleno no mistério pascal, na obra da salvação do mundo.
Nossa-Senhora-das-Dores---940x500
Ficamos surpresos, sem saber a razão das palavras e do tratamento de Jesus para com a sua Mãe, tanto em Caná como no Calvário4, nos quais ela é tratada por “mulher”. Seu próprio Filho Jesus Cristo é “o primeiro a empunhar a espada que a deve trespassar”5. Maria estava sendo preparada, desde a profecia de Simeão6, passando pela forma dura com a qual Jesus a tratou em Caná7 e em outras narrativas bíblicas, para o momento decisivo aos pés da cruz. A providência divina usou dessa dura pedagogia com a Virgem Maria para o seu amadurecimento na fé, para que ela estivesse de pé junto à cruz de Cristo8.
No Calvário, manifestam-se o aparente fracasso do Filho e o seu abandono pelo Pai, aos quais a Mãe precisa dizer “sim”, pois ela havia aceitado todo o destino de seu Filho9. “E como para encher totalmente o cálice amargo, o Filho, ao morrer, abandona explicitamente sua mãe, na medida em que se lhe retira e lhe atribui um outro filho: ‘Mulher, eis o teu filho’”10. Nesta passagem bíblica, vemos o cuidado de Jesus com a sobrevivência de sua Mãe, e se “torna evidente que Maria manifestamente não tinha outros filhos segundo a carne, pois, senão, a sua entrega ao discípulo amado seria supérflua e inadmissível”11.
Entretanto, há um outro motivo para essa passagem, que não deve passar despercebido: “Tal como o Filho é abandonado pelo Pai, também ele abandona sua mãe, de forma que ambos estão unidos no mesmo abandono. Só assim ela está intimamente preparada para assumir a maternidade eclesial relativamente a todos os novos irmãos e irmãs de Jesus”12.
A obediência da Mãe do Salvador, a sua abertura à vontade do Pai, a fez livre para assumir esta maternidade espiritual sobre os crentes. O engrandecer Deus13, que está presente em Maria, significa tornar-nos livres para Ele, significa um verdadeiro êxodo, uma saída do ser humano de si mesmo, a passagem da oposição para a união das duas vontades, a vontade humana e a divina, que passa pela cruz da obediência. Este aspecto crucificante da graça, da profecia e da mística, encontramos referido em Lucas, no que diz respeito a Maria, em primeiro lugar no encontro com o velho Simeão. Ele diz profeticamente a respeito da Mãe de Jesus: “Uma espada traspassará a tua alma!”14. Esta profecia de Simeão nos remete à profecia de Natã a Davi, que havia mandado matar Urias: “A espada jamais se afastará de tua casa”15. “A espada que impende sobre a casa de Davi fere agora o coração de Maria. No verdadeiro Davi, que é Cristo, e em sua mãe, a Virgem pura, a maldição é executada e superada”16. A espada que transpassará o coração de Maria está ligada à paixão do Filho, que se tornará a sua própria paixão.
A paixão da Virgem Maria começa na sua visita ao Templo17. Nossa Senhora deve aceitar a primazia do verdadeiro Pai e do Templo, renunciando Àquele a quem deu à luz. Ela leva às últimas consequências o “sim” à vontade de Deus à medida que se retrai e liberta o Filho para sua missão. Nos momentos em que é repelida por Jesus, durante a sua vida pública, neste retraimento de Maria dá-se um passo importante, que se cumprirá na cruz com a palavra: “Mulher, eis o teu filho”18. Já não é Jesus, mas sim o discípulo amado que é seu filho. “A aceitação e a disponibilidade é o primeiro passo que lhe é pedido; o abandono e a renúncia é o segundo. Só assim a sua maternidade se torna perfeita”19: a bem-aventurança segundo a qual é dito “Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram”20 só se realiza, verdadeiramente, quando se torna outra bem-aventurança: “Felizes, sobretudo, são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”21. Dessa forma, “Maria é preparada para o mistério da cruz, que não termina simplesmente no Gólgota. O seu Filho permanece sinal de contradição e ela é mantida até o fim na dor da contradição, no sofrimento da maternidade messiânica”22.
Na imagem de Nossa Senhora das Dores, da Mãe sofredora, que tem o Crucificado nos seus braços, “nesta mãe compadecida os sofredores de todos os tempos viram a imagem mais pura da compaixão divina, que é a única verdadeira consolação. Pois toda a dor, todo o sofrimento é, na sua essência última, solidão, perda de amor, felicidade destruída pelo inaceitável. Só o ‘com’ da com-paixão pode curar a dor. […] Deus não pode padecer, mas pode compadecer-se”23. Há uma paixão muito íntima em Deus, que é a sua própria natureza: o amor. Por ser Amor, não é estranho a Deus o sofrimento sob a forma de compaixão. Nesse sentido, “a Cruz de Cristo é a compaixão de Deus pelo mundo”24.
No Antigo Testamento, a compaixão de Deus se expressa em hebraico pela palavra rahamim, que significa “seio materno”. Esta palavra hebraica exprime o estar “com” o outro, a aptidão humana de estar presente com o outro, recebê-lo, sustentá-lo, dar-lhe vida enquanto ser assumido. “Com uma palavra da linguagem do corpo, o Antigo Testamento diz-nos como Deus nos acolhe e nos sustenta com um amor de compaixão. […]. A imagem da Pietá, a mãe que chora o filho morto, tornou-se, na tradução viva desta palavra: nela se torna manifesto o sofrimento maternal de Deus”25.
Assim, na imagem da Mãe lacrimosa, imagem da rahamim de Deus, a imagem da cruz se cumpre inteiramente, porque a cruz é assumida, a cruz é compartilhada no amor que nos permite, na sua compaixão maternal, experimentar a compaixão de Deus. “A dor da mãe é dor pascal que já opera a abertura da transformação da morte à presença salvífica do amor”26. A alegria da anunciação está presente no mistério da cruz, pois a verdadeira alegria nos permite ousar o êxodo do amor até o íntimo da santidade ardente de Deus. Esta alegria verdadeira não é destruída pelo sofrimento, mas é levada por este à sua plena maturidade. Tal maturação possibilita uma nova maternidade. Esta “’nova maternidade de Maria’ […] gerada pela fé, é fruto do ‘novo’ amor, que nela amadureceu definitivamente aos pés da cruz, mediante a sua participação no amor redentor do Filho”27.
Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!