31/08/2012

Seguindo o exemplo da Virgem Maria

Imagem de Destaque
Tudo está submetido ao poder de Deus

Não sabemos para onde apontam os sinais da realidade brasileira em momentos de campanhas eleitorais e do cenário de julgamento do mensalão. Será que, em tudo isso, está a vitória do povo brasileiro? Quem sairá ganhando? Quem vai perder? É a grande incógnita de um país que não prima pela justiça.

A Festa da Assunção de Maria contempla a vitória de Jesus Cristo sobre todos os poderes que tentam impedir a construção do reino de Deus. Maria é sinal da Igreja, cuja missão é conduzir o povo para a condição de liberdade e de vida feliz. Isto acontece na prática da fraternidade e da partilha em gesto de justiça.

A fé e o compromisso com o reino da vida são fundamentais. Isto é condição para que a pessoa seja sinal e aponte para o bem de forma correta. A fé na Palavra de Deus gera compromisso e faz das pessoas discípulas e missionárias de uma cultura de paz. Isto supõe dizer nas palavras de Maria: “Eis a serva do Senhor” (Lc 1, 38).

Quando vamos ao encontro do outro, como fez Maria em relação a Isabel, algo de revelador acontece. A generosidade, o serviço, o querer ajudar os mais necessitados acaba sendo sinal da presença de Deus, fazendo a pessoa superar todo tipo de atitude egocêntrica, egoísta e alheia às carências dos marginalizados da comunidade.

Tudo na natureza e na história está submetido ao poder de Deus, mas é uma realidade também sujeita à ação do mal. O Apocalipse apresenta a figura do “dragão” que está, a todo momento, desarticulando os planos do Criador. É o retrato de quem sinaliza o poder destruidor, seja de autoridades ou de pessoas comuns.

Não podemos viver esperanças vãs nem uma fé inútil, porque deixamos de ser sinal de vida para o mundo. Maria, com muitos títulos, foi sinal de uma nova realidade. Ela é sinal da Igreja com a missão de levar Cristo para as pessoas.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba


Fonte: Canção Nova

30/08/2012

Desvencilhe-se do pecado!



Diga comigo: “Eu tenho origem divina. Eu vim de Deus”. Você precisa estar nos braços do Pai, – mas para chegar lá – precisa passar por uma transformação, como a criança que vai se transformando no ventre da mãe. Você não foi feito para ser “abortado” nesta vida, e esta é a audácia do inimigo, que vive nos pregando muitas mentiras. O demônio quer que existam muitos perdidos, desanimados e descaminhados na face da Terra, pessoas que acabaram ficando assim exatamente porque perderam a noção da origem divina.

O maligno está tentando nos matar no espírito e na alma. Ele nos colocou uma venda nos olhos para que não vejamos nada. Por isso, precisamos nos desvencilhar do pecado e de toda ligação com o mal. Temos muitas manifestações de morte. Veja quantas pessoas em depressão, enfermas, desanimadas.

E você não pode ser mais um, nem eu o posso! Foi justamente para isso que Jesus veio: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará", e a principal verdade é que nossa origem e nosso destino são divinos.

O Espírito Santo veio para nos formar para o Pai, isso é uma graça do Senhor, que O [Espírito Santo] enviou para assumir esta causa e nos ajudar a nos transformarmos na criatura nova. O Senhor quer derramar o Seu Espírito sobre todas as pessoas, lugares e situações. Por isso, clamemos para que Ele derrame sobre nós uma nova unção. A palavra de ordem que São Paulo deu a Timóteo é perfeitamente adequada aos nossos dias: "Reinflama o carisma que está em ti" (2Timóteo 1,6).

Deus o abençoe!

Monsenhor Jonas Abib
Fundador da Comunidade Canção Nova


Fonte: Canção Nova

29/08/2012

Você já errou na vida?

Imagem de Destaque
Reconheça a queda e levante a cabeça
Quero lhe falar sobre uma história real. Trata-se da vida de um jovem que, aos 25 anos de idade, não tinha mais nenhuma perspectiva, não conseguia ver esperança, apenas um vazio existencial.

Os dias iam passando e o desespero aumentava no coração dele por não avistar uma saída. A entrada para o mercado de trabalho lhe parecia muito difícil. Sem faculdade e sem currículo, quem o contrataria? Quanto ganharia? Quem ganha bem é quem tem um excelente currículo e uma boa formação acadêmica. Casar-se e formar família também era complexo, já que não conseguia administrar sua própria vida. Então, não conseguia mirar uma vida de fidelidade a uma única mulher; e outro ponto se tornava ainda mais distante de sua vida: ter filhos e dar a eles educação moral e cristã.

Situações que resultavam numa conclusão: não havia perspectiva profissional, não havia esperança de ser um bom esposo e um bom pai. Além desses fatos, ele havia jogado fora todas as oportunidades que estiveram em suas mãos, uma delas foi a carreira profissional de futebol de salão. O mais complicado para este jovem era pensar que não havia mais jeito de dar a volta por cima. Não existia esperança para sair do caos.

Não sei a sua idade nem o quais são suas perdas; só sei de uma coisa: em meio a uma situação de desesperança, é hora de tomar cuidado para não perder dois valores: a alegria e a esperança.

A letra de uma música diz: "reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima". Jovem, é preciso reconhecer a queda, reconhecer a perda, reconhecer-se pequeno, mas não desanimar.
Assista também: "Jovem, seja firme e corajoso", com o saudoso padre Léo

Consciente de que para levantar e dar a volta por cima é preciso o auxílio do Alto, do Céu, levante a cabeça e acredite, pois é possível começar um tempo novo. Levantar-se, porque sem Deus é arriscado. Levantar-se com Deus é humildade.

"A alegria do coração é a vida da pessoa, tesouro inesgotável de santidade; a alegria da pessoa prolonga-lhe a vida. Tem compreensão contigo mesmo e consola teu coração; afugenta para longe de ti a tristeza. A tristeza matou a muitos e não traz proveito algum" (Eclo 30,23-25).
Essa passagem bíblica nos apresenta um valor que deve ser cultivado: a alegria.

Jesus é o seu amigo e está junto de você nestes momentos tão difíceis. Ele é o único que não pode estar presente na Sua lista de perdas. “Eu vos chamo amigos” (Jo 15, 15). O lindo desafio para este dia é virar a folha e começar a escrever um tempo novo. Coloque, no início dessa folha, a frase "Jesus é meu amigo"; isso é o bastante para você dar a volta por cima.

Este jovem, hoje, tem 43 anos de idade, é casado há 15 anos e tem três filhos. Este jovem sou eu! Hoje, sou “semeador de alegria e esperança” e aprendiz na descoberta de valores em meio às perdas. Não canso de repetir: "Com Deus tem jeito!".


Cleto Coelho
http://blog.cancaonova.com/temjeito/

Fonte: Canção Nova

28/08/2012

Conselhos para ensinar os filhos a pensar

Imagem de Destaque
Os pais devem estimular os hábitos intelectuais dos filhos
1. Em primeiro lugar, é preciso agir conforme a verdade das coisas: ensinar os filhos a não se enganarem, a serem sinceros, a agirem com coerência. “Podemos conhecer a química cerebral que explica o movimento de um dedo, mas isso não explica por que esse movimento é usado para tocar piano e não para apertar um gatilho” (Marcus Jacobson). E também “não podemos baratear a verdade” (F. Suárez), rebaixando o seu valor, como se fosse uma liquidação.

2. Um segundo ponto é que “o treinamento é um privilégio da inteligência humana” (José Antônio Marina). É preciso enriquecer a linguagem, é preciso estimular o diálogo, o exercício mental de raciocinar, de defender uma causa, de ter argumentos para as próprias decisões, e não somente fazer o que fazem os outros, como os bois no pasto. Aprender a pensar é descobrir como é grande o poder da moda sobre o mundo inteiro, e saber sair da jaula em que a moda pode nos encerrar. O pensador livre não deve sacrificar a sua liberdade no altar da moda, pois essa é uma das perversões mais nocivas para um pensador. No entanto, é excessiva a frequência com que a razão fica presa na jaula da moda. Treinamento e cultivo, porque “a terra que não é lavrada, trará abrolhos e espinhos, ainda que seja fértil. Assim sucede com o entendimento do homem” (Santa Teresa de Ávila).

3. Já que é impossível não se equivocar nunca, pelo menos por utilidade e por dever temos de aprender com os nossos enganos. Se quisermos aprender a pensar, deveremos descobrir o mundo tão humano do erro. “Errar é humano”, diziam já os antigos. O erro é o preço que o animal racional tem de pagar.

4. Seremos mais inteligentes e mais livres quando conhecermos melhor a realidade, quando soubermos avaliá-la melhor e quando formos capazes de abrir mais caminhos novos. Seria um erro pensar – observa Leonardo Polo – que o homem inventou a flecha, porque tinha necessidade de comer pássaros. Também o gato tem essa necessidade, porém o ilustre felino nunca inventou nada. O homem inventou a flecha, porque a sua inteligência descobriu a oportunidade escondida no graveto.

5. Manter aberta a nossa capacidade de dirigir a própria conduta mediante valores pensados. É preciso passar do regime do impulso irracional para o regime da inteligência. Mais do que ensinar a pensar, a função dos pais há de ser a de motivar os filhos para que queiram pensar por sua própria conta. Com atitudes positivas, as crianças topam qualquer parada; com atitudes negativas, pensar parece-lhes uma coisa cansativa, e agir lhes parece uma coisa medíocre.

6. Ensinar a tomar decisões. A inteligência é a capacidade de resolver problemas vitais. Não é muito inteligente quem não seja capaz de se decidir, nem mesmo quem, dentro do seu refúgio isolado, consiga resolver facilmente problemas de trigonometria. Se admitirmos que educar é essencialmente ajudar a crescer na liberdade e na responsabilidade, então aprender a decidir bem acaba sendo um dos aspectos chave nessa tarefa: quanto maior a capacidade de decisão, maior liberdade.

7. Devemos recuperar e estimular nas crianças a sadia estratégia de perguntar continuamente. As três perguntas fundamentais são: “O que é?”, “Por que isso é assim?” e “Como é que você sabe?”. Aristóteles definia a ciência como “o conhecimento certo pelas causas”: portanto, é preciso habituar-se a perguntar os porquês. Os pais devem estimular, comentar e favorecer (criando o clima adequado) os hábitos intelectuais dos filhos.

8. A inteligência tem de saber aprender, mas sobretudo tem de desfrutar aprendendo. Trata-se de formular perguntas que levem à reflexão, a perguntar-se sobre o próprio pensamento: “Por que o homem pensa?”, “Você já se pensou por que lembramos das coisas?", "Pensamos quando estamos dormindo?”, “O que mais faz você pensar?”, “Você pode pensar duas coisas diferentes ao mesmo tempo?”. Leonardo Polo define o homem como um ser que não somente resolve problemas, mas que também os formula. Com efeito, o ser humano progride propondo a si mesmo novos problemas e tentando resolvê-los.

9. A inteligência deve ser eficazmente linguística. Graças à linguagem, não somente nos comunicamos com os outros, mas também com nós mesmos. A inteligência não se parece com uma coleção de fotografias, mas com um rio. Rio e inteligência “discorrem”. A nossa língua original – a língua materna – é um rio em que deságuam milhares de afluentes. “A pluma e a palavra são as armas do pensador” (J.A. Jauregui). Aprender a pensar é aprender a tocar os instrumentos do pensamento: a pluma e a palavra.

10. Fomentar a leitura e controlar o uso da televisão. Já que estamos falando do voo da inteligência, trata-se de “ser mais inteligentes que a televisão” (Jiménez). Os livros “tem de ser obras que alimentem a inteligência sem deixar o coração seco”, ou seja, devem “iluminar a mente com a verdade e não mergulhá-la nas névoas da dúvida ou na escuridão do erro” (F. Suárez).

11. Urge encontrar momentos para refletir, para pensar, coisa, aliás, muito menos trabalhosa do que muitas das necessidades que inventamos. Pensar sobre o sentido da vida, das coisas, do homem, de Deus. Quando Unamuno disse que costumava sair para passear com os pastores de ovelhas para aprender a pensar, para desprender-se dos preconceitos e dos dogmas de escola, muitos rasgaram as vestes. Unamuno, porém, estava sendo sincero. Um pastor de ovelhas tem tempo para pensar, para dar rédea solta à sua imaginação e para descobrir horizontes filosóficos que jamais foram vistos por nenhum outro pensador. Fernando Corominas diz que é preciso “instalar”, na mente e no coração dos filhos, as coisas boas antes que cheguem as nocivas. Esse “chegar antes” é educar pensando no futuro. Sempre que nos abandonamos, retornamos à selva.

Essa selva de que falo, metaforicamente, é sempre uma claudicação da inteligência.

Luis Olivera
http://www.quadrante.com.br/


Fonte: Canção Nova

27/08/2012

Não se deixe abater pelo desânimo!

"Paulo e Timóteo atravessaram a Frígia e a região da Galácia, pois o Espírito Santo os proibira de pregar a Palavra de Deus na Ásia. Chegando perto da Mísia, eles tentaram entrar na Bitínia, mas o Espírito de Jesus os impediu. Então atravessaram a Mísia e desceram para Trôade. Durante a noite, Paulo teve uma visão: na sua frente, estava de pé um macedônio que lhe suplicava: 'Vem à Macedônia e ajuda-nos!'" (At 16,6-9).

Para chegar até lá [Macedônia], eles tinham de atravessar o mar. Então, depois da visão que teve, Paulo partiu para anunciar a Boa Nova àquele povo.

Meus irmãos, isso vem nos dizer o quanto precisamos ser cheios do Espírito Santo. Paulo e Timóteo perceberam que Deus estava lhes indicando o caminho, porque eram pessoas cheias do Espírito Santo, eram pessoas de oração, decididas a fazer a vontade do Senhor. Então, o Espírito os conduziu para Filipos e, para lá eles foram sem conhecer nada, pois nunca tinham ido para aqueles lados.

"Para combater o desânimo precisamos ser cheios do Espírito Santo", exorta monsenhor Jonas


Uma coisa muito bonita é que Paulo, num dia de sábado, viu um lugar de oração à beira de um rio. Lá, ele encontrou um grupo de mulheres e ficou em oração com elas. Elas, certamente, estranharam a presença de homens naquele lugar. Mas foi ali que eles, a partir das Escrituras, falaram-lhes de Jesus. Entre aquelas mulheres estava Lídia, muito atenta e de coração aberto para receber a Palavra. Ela foi batizada e insistiu para que Paulo ficasse em sua casa. Tendo ela muita influência sobre as outras pessoas do lugar, Paulo teve a oportunidade de fazer a evangelização de muitos. O apóstolo estava na Ásia Menor e o Senhor o levou para a Europa, depois para o outro lado, na Grécia.

Estamos vindo de uma situação em que Paulo foi apedrejado pelos próprios judeus, de tal maneira que ele parecia estar morto. Mas as perseguições não o seguraram.

Deus não quer que desanimemos, e não podemos, realmente, desanimar. Quando assumimos nossa vida cristã, vivemos o Cristianismo radicalmente e, assim, começamos a trabalhar pelo Senhor – seja qual trabalho for – e nos tornamos "inimigos do inimigo". Então, ele [o inimigo] começa a nos perseguir. Mas não podemos desanimar, não podemos esperar que o demônio nos deixe à vontade, porque é uma luta e ele vai armar ciladas contra nós.

O demônio é covarde, ele é um vilão que "dá um tapa e esconde a mão", faz-nos pensar que é o Senhor quem está fazendo isso em nós.

Quantas vezes somos injustos com Deus e nos revoltamos contra Ele, pensando que é Ele quem nos está fazendo sofrer? Quando deixamos de ser radicais e voltamos atrás por causa dos sofrimentos, também deixamos de servir o Senhor. A partir daí, aquele que é ladino ataca a nossa saúde e a de nossos familiares; ele ataca nossas finanças, causa-nos desemprego, nos faz entrar em dívidas. Ele é covarde e faz tudo isso. Existe, meus irmãos, minhas irmãs, este tipo de perseguição. O inimigo quer nos derrotar. Tolos somos quando sedemos ao ataque dele.

Quantos de nós desanima na vida cristã por causa do sofrimento, das dores! São Paulo, na Carta aos Efésios, capítulo 6, nos diz: "Não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares" (Ef 6,12). Eles estão por aí em enorme quantidade e sabem onde nos atingir. Aquilo que mais nos atinge – pode ser filho, marido, esposa, mãe, pessoas que amamos muito – o inimigo usa para nos tirar do Senhor.

Hoje é um dia em que o Senhor está falando forte para mim e para você: "Meu filho, ser cristão para valer, como todos precisamos ser, e entrar na evangelização vai nos ocasionar perseguições, dores, sofrimentos".

Ore comigo: "Senhor, dá-nos a Sua graça. Se desanimamos, se largamos tudo, obrigado porque tens misericórdia e estás de braços abertos para nos acolher e perdoar os nossos pecados. Senhor, tem piedade de nossas fraquezas, principalmente se desanimamos. Obrigado, Senhor, porque me recebes. Eu estou voltando. São desencontros no serviço, injustiças que me desanimam. Senhor Deus, perdoa-me. Eu quero ser cristão, quero viver a vida cristã, quero trabalhar por Ti, sem voltar atrás. Obrigado, porque voltei! Obrigado, porque me acolhes, abraças-me. Eu recebo este abraço e lhe digo: Eis-me aqui, o Teu filho, a Tua filha, vou reassumir o meu serviço por Ti".

Deus o abençoe!

Monsenhor Jonas Abib
Fundador da Comunidade Canção Nova

Fonte: Canção Nova

24/08/2012

Será que sofro de complexo de inferioridade?


Sentirmo-nos inferiores é a mesma coisa que anular nossas qualidades para valorizar somente o que há de bom nos outros. É uma maneira sinistra de aniquilar nossa felicidade, simplesmente por não acreditarmos que somos capazes. Complexos são estados mentais, e cabe única e exclusivamente aos complexados reconhecer seus malefícios e lutar para deixar de tê-los.

Uma pessoa não deixa de ter sua importância pelo simples fato de ser diferente das demais. A beleza da vida está justamente na nossa capacidade de descobrir o novo, aquilo que nossos olhos ainda não viram. Se não temos a obrigação de nos parecer com os outros, também deveríamos evitar toda e qualquer comparação. Comparar-se é buscar as diferenças que nos separaram. O sábio, antes de reparar nas virtudes do outro, enumera suas qualidades com verdade e simplicidade.

Olhando ao nosso redor, vamos descobrir muita gente linda, mas que insiste em se achar feia. Vivem exaltando os defeitos e enxergando dor onde só há alegria e oportunidade de crescimento. Será que eu sofro deste mal? Como reconhecer uma pessoa complexada? Repare na maneira como você se trata, como você se enxerga.

Pessoas pessimistas não se permitirem errar, por isso se afastam dos outros, para que não percebam suas fragilidades. Complexo de inferioridade é um câncer da alma que precisa sarar.

“Só a verdade e a autenticidade nos libertam dos malefícios do complexo de inferioridade”

Reconhecendo-se assim, todo mundo precisa lutar para se enxergar por igual. É tolice insistir em se esconder atrás do palco, quando há um papel de destaque para encenar. Possuir-se é o primeiro passo para dar-se aos outros. Quando eu descobrir que sou capaz, serei capaz de passar adiante minhas capacidades até então adormecidas. Simples assim.

O exercício de ser gente consiste em amar o que temos, para só, então, valorizar o que o outro tem. Existe, dentro de cada um de nós, uma infinidade de coisas boas a serem descobertas. Pena que a timidez, o complexo de inferioridade ou até mesmo o pessimismo insistem em nos colocar no banco dos réus para nos acusar, dia e noite, de que não somos capazes. Permita-se errar. Seja você diante das outras pessoas.

Só a verdade e a autenticidade nos libertam dos malefícios do complexo de inferioridade. Devemos ser simples para compreender o outro, mas nunca abaixar nossa cabeça diante dele. A verdadeira humildade consiste em se colocar no lugar do outro sem nunca deixar de habitar no nosso próprio lugar.

Fonte: DESTRAVE

23/08/2012


Quantas vezes nos sentimos fracos frente a alguma situação? Quantas vezes nos sentimos caídos devido a um ato cometido? São diversas as lembranças que nos vêm à memória diante dessas perguntas, pois todos nós, em algum instante da vida, nos sentimos derrotados pelo inimigo, porque recorremos às alegrias do mundo, às coisas humanas.

Mas isso não nos faz indiferentes às coisas de Deus, pois são elas que devemos buscar sempre, porque, certamente, nos trará felicidade eterna. Nossas quedas nos fazem lembrar de nossa pequenez humana, nos fazem lembrar também que somos finitos e que o pecado está entre nós.

Mas uma queda ou um fracasso não deve ser a última história a ser contada em nossa vida. Em momento algum, na Bíblia Sagrada, Jesus pergunta a uma pessoa qual foi o pecado dela, o que de errado ela cometeu; pelo contrário, está escrito:

“Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1Jo 1,8).

Com a certeza da misericórdia de Deus, podemos levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima, buscando ser melhores em Deus para, assim, poder alcançar a glória que está em Nosso Senhor. Na Quarta-feira de Cinzas nos é dito:

“Convertei-vos e crede no Evangelho”.

Veja que, mais uma vez, Jesus lhe faz um convite sem olhar seu passado, sem olhar suas quedas, por isso Ele nos chama à conversão, pois sabe que, por sermos pecadores, precisamos nos arrepender de nossos pecados e nos converter, ou seja, deixar as coisas terrenas para encontrar sempre as coisas do Alto.

“Em momento algum, na Bíblia Sagrada, Jesus pergunta a uma pessoa qual foi o pecado dela” Ele ainda nos pede, novamente, que creiamos no Evangelho, pois o Senhor disse: “Mas buscai primeiro o reino de Deus, e a justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6,33).

Essa é a promessa de Cristo para nós. Creia na Sagrada Escritura, pois são Palavras de salvação e Deus sempre cumpre o que nos promete. Estamos, neste mundo, vulneráveis às investidas do maligno, mas este não é nosso lugar. Viemos e seremos provados; a nós será apresentado todo tipo de sedução, a fim de que nos desviemos do caminho de Deus. No entanto, temos de nos manter firmes na fé, superar os tombos e nunca aceitar a derrota. Fiéis a Cristo Jesus, sejamos confiantes!

Fonte: DESTRAVE

22/08/2012

Jesus nos ajuda a reescrever nossa história


Uma das coisas boas da vida começa com o prefixo “re”: reencontro, porque nele temos a possibilidade de relembrar fatos anteriores que marcaram nossa história. É o somatório daquilo que já foi bem vivido com a vida presente.

Todavia, os fatos ocorridos, no primeiro encontro, é o que marca a nossa vida e se torna referência para o nosso futuro. Isso mexe com nossos afetos; com isso, vamos nos descobrindo, percebendo ações e reações que, antes, não notávamos. Temos a alegria de nos conhecer ainda mais para sermos melhores. É a vida nos reapresentando a nós mesmos: autoconhecimento.

É salvífico descobrir que, ao olhar para nossa história, podemos reescrevê-la, reordenando nosso passado para o amor e, por meio dele, escrever uma nova história com outros personagens e fatos marcantes, mas sempre seremos e precisaremos ser o protagonista da nossa vida, assumi-la com toda responsabilidade para vivermos um recomeço, uma reinauguração daquilo que somos.

O recomeço acontece quando olhamos a nossa vida de outra forma ou, quem sabe, com outros olhos. O segredo de uma boa retomada é tirar o foco dos problemas, daquilo que não deu certo e aprender com eles novas possibilidades para uma vida nova. Sempre aprendemos com as situações difíceis e com elas aprendemos a reescrever uma nova história.

São justamente as possibilidades que nos levam a realizar determinadas atitudes a fim de resolvermos os nossos problemas. Jesus tem o dom de nos fazer olhar para outra direção, tirando o foco daquilo que não deu certo para o que pode dar.

Algumas vezes, precisamos ser radicais ou severos com nós mesmos para sairmos da condição de fracassados e viver o recomeço: a escrita de um novo capítulo da nossa vida. Jesus não toma essa atitude por nós, Ele nos convida a sair dela. O esforço é nosso, o convite à solução vem d’Ele.

“Jesus tem o dom de nos fazer olhar para outra direção, tirando o foco daquilo que não deu certo para o que pode dar.”

Os personagens que participam da nossa história nos ajudam a enxergar melhor a nossa vida para tirarmos um bem maior daquilo que não deu certo. Viver bem o presente é ter um futuro bem sucedido.

Reencontrar, relembrar, reagir, reapresentar, recuperar, recomeçar, reinaugurar, realizar, resolver, reescrever, reconciliar: todas essas palavras são verbos, e verbo indica uma ação. Viver também é uma ação. E não há como praticá-las se não exercitarmos a ação maior de viver. O convite de Jesus é simples e claro: chama-nos a reagir, a recomeçar a nossa vida a partir da nossa reconciliação com a nossa história. Jesus tem o poder de ressuscitar os mortos mesmo quando estes ainda estão vivos.

Nós reagimos de maneira pessoal diante da ação de Jesus, e se a nossa reação for de reconhecimento da nossa verdade, pela Verdade maior acontece em nós a ressurreição: o recomeço de uma nova vida, pois Jesus é Aquele que faz nova todas as coisas, dá vida nova no lugar da velha. A ação de Cristo é fazer com que nos reencontremos, fazendo enxergar vida onde aos nossos olhos só há morte. É nos reconhecermos pecadores, mas também filhos de Deus; é perdoar e amar a nós mesmos pelo fato de o Senhor nos ter perdoado e amado primeiro; é redescobrirmos que, a partir do nosso presente, apesar de termos errado há poucos segundos, podemos recomeçar a reescrever a nossa história. Nós somos os protagonistas da nossa vida.

Jesus é o diretor geral. Como todo filme tem um começo, meio e fim, a nossa vida também os têm. Ela já começou. Estamos no meio do filme, caminhando para o seu final. Mas nossa vida não é uma trilogia com fantasias e magias, muito menos um reality show. Ela é real, com diversas situações difíceis e complicadas, mas com a capacidade de alcançarmos vitórias, porque Deus sempre está presente nela.

Nós somos o redator da nossa vida, mas se seguirmos os passos do diretor, chegaremos à vitória, pois Ele tem um final feliz para cada um de nós: a felicidade eterna.

Fonte: Destrave

21/08/2012

Eterno ou erótico: o que o sacia?


É certo que no homem há o desejo pelo prazer, o desejo de possuir coisas e pessoas, a vontade de experimentar novos sentimentos e sensações a todo momento. Muitas vezes, essas situações revelam o nosso vazio e nos angustiam logo que experimentadas. Isso ocorre com todos nós e, na modernidade, este desejo de possuir tudo e todos é potencializado pelas novas tecnologias que nos abrem uma gama incontável de possibilidades.

Somos bombardeados por meio de palavras, imagens e sons que nos envolvem rapidamente. O mais grave é que alguns conteúdos nos transformam em objetos, e quando menos esperamos, estamos fisgados pelos chamados conteúdos eróticos.

Dessa forma, a busca do prazer transforma-se em uma verdadeira enrascada, principalmente quando acessamos os conteúdos chamados “Adultos”, que começam com um ensaio fotográfico mais sensual, e o mesmo site o leva para outro mais quente, e logo há alguém refém de vídeos e fotos chamados pornográficos. Esses conteúdos são uma mentira, a qual nos envolve de tal forma que acabamos por ter a nossa vida dirigida em razão do prazer, da satisfação, do gozo, e quando paramos para pensar nos sentimos distantes de Deus, na angústia e na solidão.

Este desejo de ser “feliz”, buscando o que está fora de nós, pode ser um grande instrumento para a experiência do homem com o Senhor, da mesma forma que pode ser a causa de nossa escravidão ao erro. Assim foi com Santo Agostinho, que testemunhou na obra “Confissões” o quanto buscava no erótico a razão da sua vida, a ponto de afirmar: “Eis que eu Te procurava fora, e Tu estavas dentro de mim”. Platão, um dos mais importantes filósofos da Grécia antiga, em sua obra nominada “Banquete”, narra o nascimento do mito Eros, segundo ele este é pobre, sujo, hirsuto, descalço, sem teto, e está sempre à espreita do belo dos corpos e da alma, com sagazes ardis. Ele não é belo como geralmente se crê, mas é extremamente astuto.

O Papa Bento XVI, em sua Encíclica Deus caritas est, ensina que o eros necessita de disciplina, de purificação para dar ao homem não o prazer de um instante, mas uma encontro verdadeiro com o eterno. Segundo o Santo Padre o modo de exaltar o corpo, a que assistimos hoje, é enganador. O eros degradado a puro sexo torna-se mercadoria, uma coisa, que se pode comprar e vender; assim, o próprio homem torna-se mercadoria. Existe desta forma, uma significativa relação entre a busca pela insaciabilidade com a santidade.

Na outra vertente há o estrago que o desequilíbrio causa no homem quando ele reduz a sua vida ao erotismo. Portanto, a busca por algo absoluto pode ser feito a partir da escolha certa, rompendo com o erotismo e e se abrindo à eternidade! Quando decidimos não ser escravizados pelos apelos eróticos e todas as suas vertentes, podemos saciar a sede do nosso coração, fixando no amor incondicional a Deus e ao próximo, e tomar posse das palavras de São Pedro: Senhor, a quem iríamos nós? Tu tu tens as palavras da vida eterna! (Jo, 6, 68).


Ricardo Gaiotti
Advogado, missionário da Canção Nova
ricardo@geracaophn.com

Fonte: DESTRAVE

20/08/2012

Amar com corpo, espírito e coração


O homem é um ser corpóreo. Apesar de estarmos representados pela matéria, o corpo não é um objeto entre outros objetos. Pelo contrário, o corpo é uma palavra, uma manifestação física e material do mundo espiritual e mental. Tudo o que pensamos reflete, inevitavelmente, em nosso corpo; da mesma forma, tudo o que sentimos também se manifesta fisicamente em nossa aparência.

Por essa razão, devemos ser muito cuidadosos, tendo uma grande consciência de tudo o que pensamos e sentimos sobre nós mesmos e sobre os outros. Aqueles que estão imersos em uma consciência espiritual e proporcionam harmonia, luz e compreensão do mundo, geralmente apresentam um olhar atraente, saudável e sua presença transmite paz.

No entanto, todos aqueles que se machucam em pensamentos e ações, geralmente apresentam uma aparência desagradável, o que é apenas um reflexo do seu coração. João Paulo II diz: “Seu corpo esteja a serviço do seu eu interior, os seus gestos e seus olhos são sempre um reflexo de sua alma”.

A adoração do corpo? De novo não! A depreciação do corpo? Nenhum dos dois. Domínio do corpo! Sim! Devemos parar nesse ponto para refletir na maneira como a natureza, sabiamente, determina que o corpo seja apenas um reflexo do que temos em nosso interior, de forma que nossos mais profundos segredos seriam revelados a partir de nossa aparência.

Pense em um aluno e em um atleta que querem colocar toda a energia a serviço dos respectivos ideais. Pense num pai ou numa mãe, cujo rosto inclinado sobre a criança reflete, com profundidade, as alegrias da paternidade e da maternidade. Pense no músico e no ator que se identificam com os personagens que trazem à vida. Olhe para o sacerdote, seminarista, consagrado, radicalmente entregues à contemplação e à meditação, deixando transluzir Deus por intermédio de seu rosto. Toda nossa dignidade consiste, pois, no pensamento: “trabalhemos, portanto, para pensar bem”.

Lembre-se de que cada um de nós vale o que vale o nosso coração, como afirma o beato João Paulo II. Toda a história da humanidade se resume na necessidade de amar e ser amado. O coração é a abertura de todo o ser à existência dos outros e à capacidade de conhecê-los para compreendê-los. E uma sensibilidade assim, verdadeira e profunda, torna-nos vulneráveis. Deve ser por isso que alguns são tentados a se livrar dessa sensibilidade endurecendo-se. O amar é, essencialmente, dar-se aos outros.

Longe de ser um amor instintivo, é uma decisão consciente de ir até os outros. Para amar verdadeiramente é preciso desprender-se de muitas coisas, sobretudo, de si mesmo, dar-se gratuitamente, amar até o final. Esse despojamento de si, trabalho a longo prazo, é desgastante e emocionante. É uma fonte de equilíbrio.
É o segredo da felicidade.

Fonte: http://www.almas.com.mx/mx

17/08/2012

A fonte da amizade

Imagem de Destaque
É na amizade com o Senhor que aprendemos a ser verdadeiros amigos
Se buscarmos a Deus com toda a nossa força, com todo o nosso entendimento, tratando-O como um Verdadeiro Amigo, naturalmente Ele nos providenciará um amigo fiel, bálsamo de vida. Os que temem o Senhor encontrarão esse amigo. O temor ao Senhor é o princípio e origem de toda amizade, isso é uma lei natural do Reino de Deus. Por isso, podemos dizer que a fonte da verdadeira amizade é Deus.

Em vez de procurarmos amigos com nossas forças e iniciativas, precisamos primeiramente ser amigos do Amigo por excelência, Jesus Cristo. Do contrário ficaremos mendigando o “amor” das pessoas com o intuito de preencher nossas carências. Desse modo, certamente, só encontraremos esmolas e restos, uma vez que essas pessoas não poderão – por melhores que sejam – corresponder à nossa necessidade mais profunda de amor.

Uma amizade que tem como ponto de partida a nossa vontade pode até parecer verdadeira e eterna, mas com o tempo descobrimos que não passava de um afeto passageiro, inventado por nós mesmos, fruto de iniciativas meramente humanas, não vindas do coração de Deus. Cultivar afetos desse gênero só nos levará a amargas decepções e estas, consequentemente, vão nos causar feridas e nos fechar a outros relacionamentos. Assim, não mais acreditaremos na existência e na credibilidade de amigos.


“Um amigo fiel é um poderoso refúgio, quem o descobriu, descobriu um tesouro. Um amigo fiel não tem preço, é imponderável seu valor. Um amigo fiel é um bálsamo vital e os que temem o Senhor o encontrarão” (Eclo: 6, 14-16).

Não são poucos aqueles que afirmam ser fácil e simples fazer amigos. O difícil e complicado, porém, é cultivar as amizades que conquistamos. Por vezes, uma amizade que levou um bom tempo para ser solidificada, repentinamente, desmorona em um piscar de olhos. E pior ainda: aquilo que antes parecia ser amor se transforma em um grande sentimento de ódio. Se não soubermos controlar as fragilidades, que existem em nós, perderemos muitos amigos.

É na amizade com o Senhor que aprendemos a ser verdadeiros amigos. É na intimidade com o Senhor que Ele nos ensina a estar atentos ao outro, a acolhermos o outro como ele é, a compreendê-lo com seus problemas e diferenças.

Em vez de nos fecharmos e ter nojo das feridas e misérias do outro, sejamos bálsamo vital e ajudemos o nosso amigo a ser melhor. Sejamos um instrumento de amor e não de julgamento. Não sejamos apenas mais um, mas tenhamos uma atitude de acolhimento sincero. O amigo não desiste diante dos defeitos, mas tem a capacidade de ir além. A amizade gira em torno de Cristo, Ele é o centro e a fonte da amizade verdadeira.

Bruno Franco
Missionário da Comunidade Canção Nova

Fonte: Canção Nova

16/08/2012

Assumir nossa real identidade

Imagem de Destaque
Para sermos livres

Sem dúvida alguma, a liberdade não é uma utopia. Ela é, intrinsecamente, desafiante, mas não irreal. É fato que a liberdade aqui proposta, no sentido de uma autonomia identitária (posse contínua da própria identidade), é realidade exigente e profundamente "desinstaladora" para toda e qualquer pessoa.

Vivemos em um tempo no qual muitas pessoas “existem” sob os fardos de uma profunda crise identitária e constantemente representam diferentes personagens – em nome de ideologias e modismos – e, infelizmente, o que realmente se é acaba ficando submerso em meio a essa teia de representações.

Cada ser humano possui uma história, uma essência, enfim, uma específica identidade. Pena que são raras as pessoas que conseguem, de fato, contemplar – com inteireza – e assumir o que verdadeiramente são. E aqui é uma questão de assumir o ser, o que realmente se é, e não as deformidades e vícios que nossa história foi – silenciosamente – agregando à nossa personalidade.Temos, muitas vezes, uma grande facilidade de nos assumir no pior de nós.

Contudo, não é unicamente o pior o que configura a nossa verdadeira essência, pois não somos – definitivamente – apenas nossos traumas e erros, antes, somos muito mais: seres criados a partir de um grande Amor e com uma enorme capacidade de amar e fazer o bem.

Nossa identidade não mora apenas no que sentimos, muito menos em nossas más tendências. Não é porque nos sentimos continuamente arrastados por desejos maus e impuros, ou até mesmo contrários à nossa real identidade (psíquica, afetiva e sexual), que somos exatamente isso que estamos sentindo. Não. Sentir não é a forma mais exata de existir e, em muitas ocasiões, o que sentimos será apenas uma triste consequência das circunstâncias duras e fragmentadas às quais nossa história foi submetida.


Nós não somos nossas más inclinações, nossa identidade não reside aí. O mal incorporado à nossa personalidade é, inúmeras vezes, a nós agregado pelas deformidades e dores que compuseram nossa existência, e não são o fruto de nossa verdadeira essência e identidade. É insanidade assumir a mentira como verdade (cf. Is 5,20). Mais ainda o é assumir a deformidade como uma maneira concreta de existir. É preciso reagir às fragilidades e traumas que buscam sufocar nossa real identidade, pois isso se estabelece como um entulho que busca sufocar toda vida que está abaixo de si. É preciso a tudo isso reagir!

Não somos nossos defeitos e erros e, diante destes, precisaremos perenemente nos posicionar, protagonizando nosso futuro; e entendo que nossas circunstâncias não possuem o poder de eternamente nos definir. Faz-se necessário acreditar que existe uma essência boa em cada um de nós e que o defeito não é o que antropologicamente constitui nossa identidade.

A fraqueza está em nós, mas, não nos define. Ela (fraqueza) só o fará se constantemente nós a alimentarmos, afinal, a planta que mais cresce é a que mais regamos… Existe uma força de superação dentro de cada um de nós e, independentemente de como tenha sido nossa a história pessoal, poderemos reconstruí-la – ainda que a partir de seus escombros – e carregá-la com um novo sentido. É preciso não se conformar diante do mal, que deseja aprisionar nossa “identidade”, sempre lutando em um esforço de continuamente se reinventar, para assim redirecionar tudo o que já passou em uma mais acertada construção daquilo que virá.

Tal tarefa é possível. É realidade confiada a nós que, aliados à Graça, seremos capazes de, em quaisquer circunstâncias, transcender toda morte para em tudo fabricar vida e ressurreição. Tenhamos coragem!

Padre Adriano Zandoná

Fonte: Canção Nova

15/08/2012

As estações e seus segredos

Imagem de Destaque
Aprendamos com a natureza a recomeçar

Nasci numa manhã ensolarada de verão e gosto mesmo é do sol quente e brilhante desta estação. Porém, já aprendi com a vida que os outonos são necessários, assim como os invernos e também as primaveras. Na verdade, cada estação traz sua beleza e sua contribuição para que a vida não pare.

Agora aqui, na Europa, é primavera; no Brasil, outono e, assim, em todas as partes do mundo a natureza vai se revelando nas quatro estações, enquanto nos ensina, em silêncio, a também lidar com a arte de viver bem cada momento da nossa existência. Aprendemos que o outono é o tempo dos ventos fortes e das folhas que caem.

É a vez de deixar passar o que passa e ficar com o essencial; a vida precisa se abrir à renovação.Já o inverno é a estação das chuvas intensas, do frio e da pouca luz. No entanto, traz também sua beleza. Em alguns lugares, ele cobre tudo com o manto branco e gelado da neve; em outros, nesse período as chuvas fortes lavam a natureza, ensinando-nos que lavar a alma também é preciso em tempo de silêncio e espera. Na primavera, as cores enfeitam o universo de uma beleza rara.

É a esperança que desponta, dando a vez ao poder da vida. E no verão, o brilho e o calor do sol exaltam a criação, convidando-nos a abrirmos o coração e deixarmos a luz divina entrar. A natureza é sábia, conhece suas estações, compreende a linguagem de cada uma delas e as respeita passo a passo. Há quem diga que “As estações do ano revelam a beleza que se esconde na harmonia dos contrastes”.

Concordo e até acredito que também a vida humana tenha as suas estações e contrastes que se entrelaçam. A questão é: será que respeitamos a nossa metamorfose como faz a natureza? Perdas e ganhos; frio e calor; escuridão e brilho, morte e vida. Tudo isso faz parte das muitas fases da nossa existência e não há como ser diferente porque a vida segue seu rumo. Já pensou se a natureza resolvesse parar em alguma das estações?

Nós também não podemos parar em nenhuma das “estações” da nossa existência.As podas do outono sempre vêm... Paciência! Elas são necessárias para fazer desabrochar o novo.É verdade que, muitas vezes, os ventos do outono sopram forte contra nós e, assim, como folhas, vemos nossos sonhos voarem levados pelo ar. São perdas dolorosas, mas necessárias na arte de viver. Nessa hora é preciso calma.

A Palavra de Deus nos ensina: "Depois da tempestade vem a calmaria” (Mc 4,39). E suportar o outono, com paciência, é preparar-se para a vitória que virá. Quando o inverno chega todo o mundo percebe! Apesar de trazer também sua riqueza e ser uma estação aconchegante, não se pode fugir da realidade. O inverno é a estação do recolhimento, da reflexão, do silêncio, da espera…

E ele não dura para sempre!A Palavra de Deus lembra: "O pranto pode durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer” (Sl 30,5). Quando tudo parece imóvel e os dias são iguais, a semente começa a brotar. Nasce no coração uma esperança.

A vida ressurge na força dos sonhos e, com eles, a existência se reveste de cores e brilho. É a primavera chegando, trazendo de volta a alegra da vida. Tudo parece ter um novo sentido, e a Palavra de Deus certifica: “A vida venceu a morte” (I Cor 15,55).O tempo passa e, numa determinada manhã, o sol volta a brilhar mais forte.

É o verão que chega trazendo o calor para aquecer nossos sonhos e a luz para iluminar nossos passos. Assim a vida prevalece. É a vitória afinal!A natureza ensina-nos que quem passa por cada estação, sem queimar etapas, chega sempre à vitória e contempla a plena luz. Seja qual for a estação que você esteja hoje, acredite: Deus está ao seu lado e o quer vivendo bem esse tempo. Nos aparentes contrastes,

Ele costuma nos surpreender com Seu jeito sempre novo de amar. Abramos nossos corações ao Amor do Senhor, pois este é mais radiante do que as cores da primavera, mais intenso que o calor do verão, mais forte que os ventos do outono e tem o poder de vencer todos invernos da alma.

Seja feliz!

Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com

Fonte: Canção Nova

14/08/2012

A Sabedoria escondida em todas as coisas

Imagem de Destaque
Precisamos aprender a contemplar a vida

“Quero recordar agora as obras do Senhor, o que vi contarei. Ele sondou as profundezas do abismo e do coração humano, penetrou os seus segredos. Porque o Altíssimo possui toda a ciência e vê o sinal dos tempos. Nenhum pensamento lhe escapa e nenhuma palavra lhe é escondida. Todas as coisas formam dupla, uma diante da outra e ele não fez nada incompleto [...]” (Eclo 42, 15.18.20.24)

Um dos males muito profundos do nosso tempo é a incapacidade de contemplar, de parar gratuitamente diante da vida, da criação, dos acontecimentos, só para dar uma espiadinha despretensiosa e procurar saborear um pouco o sentido da existência.Nosso mundo tudo quanto toca deseja manipular, usar em favor do tempo, do lucro, da vantagem... Mas, assim, não se vê o essencial, perde-se o mais importante, torna-se míope para o fundamental.

Na sua simplicidade, o Autor sagrado olha a criação; olha-a contemplando-a, como uma criança deslumbrada, deixando-se envolver e maravilhar pelo que contempla. Assim, em tudo reconhece a presença sábia, providente e amorosa do Senhor.

Percebe que a realidade lhe escapa – e ainda hoje é assim: Tu, ó homem, não podes compreender de modo exaustivo o mistério da realidade, da vida, dos porquês da natureza, nem mesmo do teu coração...
E quando nos colocamos, de modo soberbo e pretensioso, diante desses mistérios, eles se tornam opacos, nada nos revelam e provocam uma angústia sem fim, a qual nos faz nos sentir pequenos, vazios, jogados à toa, num mundo sem sentido. Por outro lado, quando tomamos consciência de que, no princípio de tudo e por trás de tudo, há um Amor infinito, uma Sabedoria providente e amorosa, então tudo ganha novo sentido.

Ainda que não compreendamos tantas coisas e não tenhamos a resposta exata para tantas perguntas, podemos, feito crianças, olhar para o Alto, para Aquele que habita nos céus, e exclamar com sabedoria de menino:
“Eu não sei; mas, Tu sabes! Eu não compreendo; mas, Tu compreendes! Estou em tuas mãos benditas; tudo está em tuas santas e providentes mãos! Tu me amas; eu te amo! O teu Nome é Eternidade; o teu Nome é Amor!”


Dom Henique Costa, Bispo Auxiliar de Aracaju
www.domhenrique.com.br

Fonte:
Canção Nova

13/08/2012

Transmissão da Fé

Imagem de Destaque

Nossa missão é evangelizar!
A transmissão da fé cristã é a importante tarefa que desafia a Igreja Católica no cumprimento da missão recebida de seu fundador, Jesus Cristo. Um serviço que está permanentemente no horizonte da Igreja. E uma meta desafiadora: fazer todos os povos seguirem o caminho indicado pelo Mestre.

O Papa Bento XVI, sucessor do apóstolo Pedro na condução da Igreja, configura esse insubstituível dever de transmissão da fé como urgência de uma nova evangelização. Desse modo, o Sumo Pontífice convocou a realização, no mês de outubro, em Roma, da 13ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, congregando representantes dos bispos, sacerdotes, leigos e peritos do mundo inteiro, para aprofundar o tema da Nova Evangelização.

A abertura dessa assembleia, importante órgão de consulta e reflexão, assessorando o Papa no seu ministério, entrelaça também importantíssimos acontecimentos, como o início das celebrações, em 11 de outubro próximo, dos 50 anos do Concílio Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965, além da abertura e celebração do Ano da Fé, que será vivido até a festa de Cristo Rei, em novembro de 2013.O Papa Bento XVI sublinha que esse Ano da Fé será uma ocasião propícia para todos os católicos compreenderem, de forma ainda mais profunda, o fundamento da fé cristã.

Conforme explica o Santo Padre, em sua Carta Encíclica Deus caritas est (Deus é amor), esse fundamento “é o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e com isto a direção decisiva”.

A tarefa, portanto, urgente e primordial na missão da Igreja é qualificar, ampliar e oferecer a todos, a partir do encontro com Jesus Cristo Ressuscitado, uma redescoberta da fé cristã na sua integridade e no seu esplendor. Missão ainda mais urgente na atualidade, momento em que a fé, como também sublinha o Papa Bento XVI, é um dom a redescobrir, cultivar e testemunhar para se experimentar a beleza de vivê-lo.

Essa tarefa missionária de transmitir a fé cristã, para que ela seja vivida de modo fecundo, é o que se entende por evangelização. É a referência à atividade da Igreja em sua totalidade. Trata-se de uma preocupação e de uma permanente busca, marcando culturas, redirecionando vidas, resgatando e configurando valores na história da humanidade.

Tomar conhecimento destas etapas e constatar a beleza desta preocupação ajuda a entender o papel importante da missão da Igreja no mundo, seu cumprimento em meio a muitos desafios e a necessidade, neste terceiro milênio, de um novo impulso.Por isso, estão postos os desafios de uma pregação qualificada do Evangelho, em conteúdo e comunicação; a catequese, como alegre transmissão da fé, envolvendo todos, especialmente os catequistas e, particularmente em cada família, o pai e a mãe.

Também a vida sacramental e o cultivo do valor rico da piedade popular com o insubstituível testemunho de vida de cada um. Essa tarefa de transmissão da fé é assumida e retomada, no contexto das turbulências e mudanças profundas de nosso tempo, na contramão de muitas coisas.Na contramão das imposições superficiais, geradas e alimentadas pela mentalidade consumista e individualista que leva a compreender o bem e a felicidade como consumo, ou como simples e insaciável prazer.

Na contramão do entendimento adequado da autonomia do sujeito e do uso da liberdade, percebida como rejeição a qualquer tipo de tutela, com a consequente e perigosa perda de referências. Na contramão dos portadores das bandeiras do ateísmo, da indiferença, prejudiciais tanto quanto os entendimentos mágicos da experiência religiosa, com manipulações milagreiras, ignorando o poder da fé na promoção da cidadania, da ética e da honestidade.

A Igreja Católica, em razão do tesouro precioso de sua fé e do compromisso no seguimento de Jesus Cristo, está abrindo uma nova e determinante etapa. Nela, a transmissão da fé se torna prioridade nos planejamentos, atividades, compromisso prioritário de todos. Nesse fluxo de eventos, celebrações e acontecimentos, a Igreja Católica está constituindo Observatórios para o entendimento desta Nova Evangelização. Aqui na América Latina, esses Observatórios estarão em Belo Horizonte, Buenos Aires, Medellín, Rio de Janeiro e Santiago do Chile.

Desde a compreensão adequada e sempre desafiadora da pós-modernidade, incluindo a valorização e resgate de experiências de fé, contando com o trabalho de catequistas, pai, mãe, evangelizadores e ministros, até o lastro do diálogo com a sociedade contemporânea para que a vivência do Evangelho sustente culturas, alimente o sentido da vida e corrija nossos descompassos.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

Fonte: Canção Nova

10/08/2012

Ascensão e Comunicação

Imagem de Destaque
A linguagem da evangelizaçao transforma o mundo

O Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado neste dia 20 de maio, com o tema “Silêncio e Palavra: Caminho de Evangelização” coincide com a Festa da Ascensão do Senhor. Na Ascensão acontece a plenitude da comunicação do Criador com Sua criatura, selando definitiva e evidentemente o cumprimento da Aliança de Deus com o Seu povo.

A comunicação supõe anúncio de palavras, portanto de vibração de sons, de barulho, mas também exige momentos de silêncio. Às vezes a capacidade de ouvir fala mais alto do que as palavras. A cultura dos ruídos impede uma boa comunicação e dificulta muito o diálogo.

Com isso dizemos que o silêncio faz parte integrante da comunicação entre as pessoas.Ao voltar à Casa do Pai, Jesus comunica aos apóstolos a missão de anunciadores da Palavra de Deus. Para isso deveriam ser testemunhas de Sua ressurreição. Assim dizemos que a Ascensão é a Festa da Comunicação, do encontro e do diálogo entre o humano e o divino, o cumprimento da Aliança de relacionamento entre Deus e aqueles que O reconhecem como Deus.

Na Ascensão Jesus promete enviar, aos apóstolos e à Igreja toda, o Espírito Santo comunicador, confirmando Sua presença definitiva na vida das comunidades cristãs. A grande comunicação confiada a todos nós é que anunciemos o fato de que Jesus ressuscitou e não morreu. Ele continua vivo entre nós.O poder da comunicação está apoiado, de forma bem determinada, na autenticidade de quem comunica. Jesus foi modelo, com uma comunicação simples, mas com palavras munidas de vida, de coerência e sadia intenção.

Ele transfere esse poder para os discípulos, devendo agir nos princípios determinados pelo Mestre.Devemos saber a linguagem da comunicação de Deus. Ela vem acompanhada de certeza e não de uma nova língua, de um novo idioma, mas um novo modo de comunicar o caminho de libertação, de ascensão e da vida nova do Reino de Deus.

É uma linguagem propriamente de evangelização e de ação transformadora do mundo, que tem como base atitudes concretas e de fidelidade à fé.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba - MG

Fonte: Canção Nova

09/08/2012

Para frente e para o alto

Imagem de Destaque
Semear a esperança e propor novos caminhos

“Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que, do meio de vós, foi elevado ao céu, virá assim, do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (At 1,11).

Os discípulos formados por Jesus foram acalentados com a presença d'Ele e agora se veem lançados à missão, encarregados por Ele, quando de Sua partida para o Céu, de levar a Boa Nova do Evangelho a todos os recantos da Terra: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado” (Mc 16,15-16).Em todas as etapas de sua caminhada por esta terra os cristãos são desafiados a buscar o ponto certo para pousar seu olhar e suas esperanças. Trata-se de encontrar o ponto de referência que lhes possibilite navegar pelas águas agitadas da vida, sem perder o rumo.

Caminhar a esmo, sem clareza de objetivos, não dá consistência a qualquer trabalho humano. Como da parte de Deus há sempre a clareza de que deseja a salvação de todos e quer formar uma única família, que quer o mundo unido e lança, pela ação do Espírito, as sementes do Verbo em todas as partes, é preciso sempre aprender e seguir os passos do Salvador.

O Evangelho de São Marcos já constatava que “os discípulos foram anunciar a Boa Nova por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra pelos sinais que a acompanhavam” (Mc 16,20).O cristão busca as coisas do Alto, onde Cristo está à direita do Pai (Cf. Cl 3,1).

Sua tarefa não é apenas olhar para a realidade que o envolve, mas semear a esperança, propondo novos caminhos. O olhar do pesquisador, que aponta as tendências e constata a opinião pública, é insuficiente para ele. Antes, cabe-lhe propor um jeito diferente de viver, cuja origem é “do Alto”. Quando tudo aponta para a ganância e o acúmulo de bens, é preciso semear a partilha e a comunhão. Quando o olhar do analista do dia a dia enxerga apenas os crimes e a corrupção, devemos ir ao encontro de novas práticas de partilha, existentes bem perto da gente, apostando na esperança, ajudando as pessoas a se levantarem e a recomeçarem.


Alguns fatos me chamaram a atenção recentemente. Em visita ao “MUPAT”, uma organização na “Cidade Nova”, região de Ananindeua, na Arquidiocese de Belém, encontrei uma casa, posta à disposição de um grupo de pessoas, onde trabalhos muito simples, com materiais muito simples, são destinados a ajudar os membros da organização não governamental e a servir aos mais pobres. Dois adolescentes, filhos de um catador de lixo, tornam-se “mestres” ao ensinar sua arte de reaproveitar garrafas “pet”. À costura feita pelas mulheres que ali se reúnem se ajunta a conversa, na partilha das dificuldades e na descoberta de soluções para educar os filhos. Uma delas contava a respeito do filho, hoje consagrado a Deus, saído de situações de risco.

Um mundo novo, bem simples, ao alcance de nosso olhar e de nossa mão! Outro fato marcante foi a observação de um profissional de comunicação, em meio à grandiosa procissão das velas, na Festa de Nossa Senhora de Fátima. Partilhava comigo a alegria de sua escala de serviço, quando, acostumado a pautas que incluem diariamente crimes e escândalos, era escalado naquele dia para uma festa de fé! Parece pouco, mas seu coração e o mundo ficaram diferentes, pois a câmera com que trabalhava colhia imagens diferentes, era purificada pelo bem que gravava.

Não menos significativo foi o fato de, nesta semana, ter assinado a escritura, com a qual a “Obra Social Nossa Senhora da Glória” recebeu a área localizada em Mosqueiro e na qual será implantada, na Arquidiocese de Belém, a “Fazenda da Esperança”, para a recuperação de pessoas envolvidas com drogas. Há tudo para fazer, mas já começamos!

A realidade que nos cerca é muito pequena para o tamanho do sonho plantado por Deus. Fomos feitos por Ele para o que é melhor! Daí a positiva inquietação do cristão que pretende viver sua fé. Onde quer que se encontre, planta novas ideias, descobre soluções simples, acredita nos pequenos gestos, aposta no bem que pode ser feito.A Solenidade da Ascensão do Senhor, celebrada pela Igreja, tornou-se o Dia Mundial das Comunicações Sociais. É que, entre a subida do Senhor aos Céus e sua prometida volta no final dos tempos, cabe-nos encontrar os meios adequados para levar a Boa Nova a todos os recantos da Terra.

A inteligência humana tem encontrado, desde os mais simples sinais, quais sejam os olhares, sorrisos, lágrimas ou abraços, até chegar aos mais recentes e trabalhados meios de comunicação, vias que possibilitam a comunicação entre as pessoas. Estas vias podem servir ao bem ou ao mal, pois dependem dos que as utilizam! Por isso, o Dia das Comunicações Sociais seja o dia em que, como Igreja, desejamos entrar no coração das pessoas que realizam as comunicações, para agradecer-lhes e pedir a Deus por elas.E como os cristãos acabam propondo coisas que parecem simples, mas que são importantes, chegue a todos, especialmente às pessoas que trabalham nas comunicações, a conclusão da mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2012, sobre “Silêncio e Palavra, caminho de comunicação”: “Palavra e silêncio.

Educar-se em comunicação quer dizer aprender a escutar, a contemplar, para além de falar; e isto é particularmente importante paras os agentes da evangelização: silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo. A Maria, cujo silêncio “escuta e faz florescer a Palavra” (Oração pela Ágora dos Jovens Italianos em Loreto, 1-2 de setembro de 2007), confio toda a obra de evangelização que a Igreja realiza através dos meios de comunicação social”.


Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Fonte: Canção Nova

08/08/2012

Tal pai, tal filho!

Imagem de Destaque
Nem sempre esta afirmação é correta

O título exprime um provérbio muito em voga na Antiguidade. Será ele válido ainda hoje? Ao leitor, a decisão! Para ajudá-lo na resposta, começo com dois fatos, assim como foram veiculados pelos meios de comunicação social.O primeiro é do Estado de São Paulo: «O filho de um comandante da Polícia Militar de São Paulo, foi preso acusado de agressão contra uma garota de programa. O comandante, ao ser procurado, o comandante-geral disse que seu filho é maior de idade e deve responder por seus atos como um cidadão comum, e que a lei deve ser cumprida».

O segundo aconteceu em Campo Grande: «Após a vítima de furto, registrar boletim de ocorrência na Delegacia, dizendo que foram levados de sua residência dois notebooks e vários eletrônicos, homens do Batalhão da Polícia Militar, para verificar o crime. Porém, antes mesmo de prender o bandido, a mãe dele reconheceu a vítima de furto e entrou em contato com a polícia, afirmando que os objetos estavam em sua casa.

A guarnição prendeu o meliante, que confessou o crime e levou os militares até a residência de sua mãe».Na opinião da maioria dos leitores dos jornais, que divulgaram tais notícias, o pai e a mãe estão de parabéns. Cito apenas dois comentários, a partir da notícia de Campo Grande: «Coragem e honradez dessa mãe! É preferível que o bandido vá preso a vê-lo, amanhã, morto. Bandido prolifera porque os pais fingem que não sabem de nada e muitos até se aproveitam dos roubos. Pais, denunciem! Assim vocês estarão ajudando seus filhos a trilharem o caminho do bem!». «Se todas as mães vissem seus filhos como algumas os veem, provavelmente estaríamos ajudando mais a eles! Infelizmente, não somos todas que temos essa capacidade de amar com o desprendimento que muitas têm!».

De minha parte, só posso agradecer a Deus pela multidão de pais que assumem sua missão com coragem e generosidade. Como todos, eu também sei das dificuldades enfrentadas por eles para manter a família unida e educar os filhos. Por isso, ofereço a eles e aos jovens alguns tópicos da mensagem preparada por Bento XVI para o Dia Mundial da Paz, celebrado no dia 1º de janeiro de 2012 – cujo conteúdo é sempre atual:«A educação é a aventura mais fascinante e difícil da vida. Educar – na sua etimologia latina “educere” – significa conduzir para fora de si mesmo ao encontro da realidade, rumo a uma plenitude que faz crescer a pessoa.

Este processo alimenta-se do encontro de duas liberdades: a do adulto e a do jovem. Isso exige a responsabilidade do discípulo, que deve estar disponível para se deixar guiar no conhecimento da realidade, e a do educador, que deve estar disposto a dar-se a si mesmo. Mas, para isso, não bastam meros dispensadores de regras e informações; precisa-se de testemunhas autênticas, ou seja, de testemunhas que saibam ver mais longe do que os outros, porque a sua vida abraça espaços mais amplos. A testemunha é alguém que vive por primeiro o caminho que propõe.

Caros jovens, vocês são um dom precioso para a sociedade. Diante das dificuldades, não se deixem tomar pelo desânimo ou pelas falsas soluções que frequentemente se apresentam como o caminho mais fácil para superar os problemas. Não tenham medo de se empenhar, de enfrentar fadigas e sacrifícios, de optar por caminhos que requerem fidelidade e constância, humildade e dedicação. Saibam que vocês podem servir de exemplo e estímulo para os adultos, e tanto mais o serão quanto mais se esforçarem por superar as injustiças e a corrupção, quanto mais desejarem um futuro melhor e se comprometerem a construí-lo.

Cientes de suas potencialidades, não se fechem em si próprios, mas trabalhem por um futuro mais luminoso para todos. Nunca se sintam sozinhos! A Igreja confia em vocês, acompanha-os, encoraja-os e deseja oferecer-lhes o que tem de mais precioso: a possibilidade de levantar os olhos para Deus e de encontrar Jesus Cristo – ele que é a justiça e a paz».

Dom Redovino Rizzardo, cs

Bispo de Dourados

Fonte: Canção Nova

07/08/2012

Serenidade e coragem

Imagem de Destaque
Tende coragem! Eu venci o mundo

Quando Jesus se despediu dos Apóstolos, no final da Última Ceia, já caminhando para a Paixão, fez entrar em seus corações uma lufada de confiança: "Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. Permanecei no meu amor [...]. Eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa" (Jo 15,9.11).

Ao mesmo tempo, mostrou-lhes que a alegria cristã não é o regozijo ruidoso e oco do mundo, que se acende como um palito de fósforo e se apaga logo depois. Um filho de Deus sabe manter-se sereno e feliz, mesmo em meio às mais duras contradições.

Neste sentido, Jesus anunciou, com toda a clareza, aos apóstolos e aos que iam lhes suceder o que deveriam esperar em todos os tempos, até ao fim do mundo: "Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como ama o que é seu; mas, porque não sois do mundo, e porque eu vos escolhi do meio do mundo, por isso o mundo vos odeia" (Jo 15,18-19).

E acrescentou, pouco depois: "Eu vos disse estas coisas para que, em mim, tenhais a paz. No mundo tereis aflições. Mas, tende coragem! Eu venci o mundo" (Jo 16,33). Os católicos fiéis, que conservam uma consciência sensível, não precisam fazer nenhum esforço para entender que hoje – nestes tempos de agressividade deliberada e escancarada contra a Igreja e o Papa – essas palavras de Cristo são de uma plena atualidade.

No dia 29 de junho de 2009, o Papa Bento XVI pronunciou algumas palavras de serena coragem e esperança, que são como um eco das palavras de Jesus na Santa Ceia, que acabamos de citar. Foi na homilia de encerramento do Ano Paulino, na Basílica de São Paulo Extramuros.

Uma homilia rica de conteúdo, na qual, entre outras coisas, lemos as seguintes considerações: «No capítulo quarto da Carta aos Efésios, o apóstolo Paulo nos diz que, unidos a Cristo, devemos alcançar a idade adulta, uma humanidade madura [cf. Ef 4, 12-15]. Não podemos continuar a ser “crianças, entregues ao sabor das ondas e levados por todo vento de doutrina” (4,14).

Paulo deseja que tenhamos uma fé “responsável”, uma fé “adulta”. «A palavra “fé adulta”, nos últimos decênios, transformou-se num chavão muito difundido. Com frequência é entendida como a atitude daquele que não escuta a Igreja e os seus pastores, mas escolhe de forma autônoma o que quer crer e não crer, isto é, uma fé “feita por cada um à sua medida”.

Isso é interpretado como “coragem”, a coragem de manifestar-se contra o Magistério da Igreja.«Na realidade, para isso não é preciso coragem nenhuma, porque quem o faz pode ter a certeza de que, por ser contestador, vai receber o aplauso público. Pelo contrário, é necessária coragem para unirmo-nos à fé da Igreja, especialmente quando essa fé contradiz o “esquema” do mundo contemporâneo. A essa falta de conformismo da nossa fé, Paulo a chama “fé adulta”.

Pelo contrário, qualifica como infantil o fato e correr atrás dos ventos e das correntes do tempo presente. «Assim, por exemplo, faz parte dessa fé adulta comprometer-se com a inviolabilidade da vida humana desde o primeiro momento da sua concepção, opondo-se com isso de forma radical ao princípio da violência, precisamente na defesa das criaturas humanas mais vulneráveis. Faz parte da fé adulta reconhecer o matrimônio entre um homem e uma mulher para a vida toda como algo ordenado pelo Criador e restabelecido novamente por Cristo.

A fé adulta não se deixa arrastar, de um lado para outro, por qualquer corrente. Opõe-se aos ventos da moda. Sabe que esses ventos não são o sopro do Espírito Santo; sabe que o Espírito de Deus se expressa e se manifesta na comunhão com Jesus Cristo […]».Meditemos sobre essas palavras do Santo Padre, bem atuais.

E não esqueçamos nunca que a comunhão com Jesus Cristo exige, por querer de Deus, comunhão com a Sua Igreja: Quem vos escuta – declarou Jesus aos Apóstolos –, é a mim que está escutando; e quem vos despreza, é a mim que está desprezando (Lc 10,16). Sem união com a “Sua Igreja” não pode haver união com Nosso Senhor.

Padre Francisco Faus
http://www.padrefaus.org/

Fonte: Canção Nova

06/08/2012

Deus não improvisa

Imagem de Destaque
Conheça um belo exemplo de bondade

Há quem diga que nossa vida é como o tear e todos os acontecimentos são como fios entrelaçados entre si e revestidos de significados. Nada acontece por acaso e, à medida que o tempo vai passando, vamos, cada vez mais, tomando conhecimento do “bordado”, resultado da nossa história. Contemplar a obra terminada é tarefa que foge das nossas mãos, mas colaborar para que ela seja apreciável é missão que se dá na generosidade partilhada por nós a cada dia.

Nossa vida é repleta de acontecimentos, às vezes passam-se anos sem sabermos notícias de quem um dia fomos cúmplices e, de repente, o reencontro acontece. Em outros casos fomos ajudados por alguém e nunca o encontramos para, ao menos, lhe agradecer. Há também situações em que não conseguimos ser tão gentis com alguém como deveríamos, mas não houve tempo para, nem sequer, pedir-lhe perdão... E por aí seguem os acontecimentos que se entrelaçam como fios, dando cor e forma ao "bordado" da nosso história.Ouvi uma história que me fez pensar muito sobre isso. Partilho com você: Conta-se que, há muitos anos, um aristocrata inglês dirigia-se da Escócia para Londres a fim de participar de uma sessão urgente do Parlamento. A sua carruagem ficou atolada na lama e ele estava à beira do desespero quando um jovem camponês apareceu com a sua junta de bois e a puxou para a estrada seca.

O homem nobre ficou tão grato que perguntou ao rapaz como lhe poderia agradecer. O rapaz respondeu que não era preciso nada, pois ficava feliz por ter sido útil. Mas o aristocrata insistiu, perguntando-lhe: “Com certeza tens um sonho, ou alguma coisa de que gostarias de realizar na vida?” Então o jovem respondeu: “Sempre sonhei em me tornar médico, mas isso nunca será possível para mim”.

Quando o lorde chegou a Londres tomou providências para que o jovem camponês recebesse uma bolsa de estudos e estudasse nas melhores escolas. Anos mais tarde, num momento decisivo da Segunda Guerra Mundial, Sir Winston Churchill estava morrendo vitima da gripe pneumônica. Nessa ocasião foi-lhe administrado um novo remédio que lhe salvou a vida. Era a penicilina. O remédio tinha sido descoberto pelo Dr. Alexander Fleming, ninguém mais nem menos do que aquele jovem camponês. E o lorde inglês que lhe tinha dado a bolsa de estudo, era justamente o pai do próprio Winston Churchill.

É interessante observar, ainda mais com a ajuda da história, o quanto estamos interligados uns aos outros e como nossos atos gratuitos de bondade tocam as pessoas que estão à nossa volta. Fica bem claro que a lei da natureza funciona também neste sentido: O que plantamos é isso que vamos colher. Tudo começou com um simples gesto de bondade da parte de um rapaz do campo. A resposta foi outro ato de bondade, que se tornou benéfico para toda a humanidade. Milhões de pessoas, até hoje, são curadas de doenças terríveis graças à descoberta da penicilina.

Ou seja: graças à generosidade partilhada pelo pobre e pelo rico. Este é um exemplo apenas, entre tantos que conhecemos.É bom saber que não estamos isolados neste mundo! Independentemente da nossa condição, nossos atos têm consequências e podem mudar muitas coisas. Eu, particularmente, já vi realidades difíceis serem mudadas pelos pequenos e constantes gestos de bondade. Poderia citar aqui o caso de um esposo agressivo, sem fé e preso aos vicíos voltar para sua família e tornar-se um homem bom devido ao amor persistente e corajoso de sua esposa, que nunca deixou de o tratar bem e rezar pela conversão dele durante anos.

E a história não para, Deus, que é o Autor da bondade, constantemente bate à nossa porta à espera de que possamos dar um "sim" à generosidade, como fez a Virgem Maria. O Cardeal Inglês, Seán O'malley, certa vez em visita ao Santuário de Fátima, explicou que foi Nossa Senhora quem, generosamente, abriu as portas da humanidade para Deus entrar pelo "sim" dela. Segundo ele, Deus escolheu colocar o destino de todos os homens nas mãos de uma jovem e contar com a bondade dela para enviar Seu Filho ao mundo e, depois por intermédio d'Ele, nos salvar.

E Maria, completamente livre diante de Deus, poderia ter se apegado aos seus projetos pessoais ou alegado estar ocupada, inclusive com “as coisas do Senhor”, a ponto de não O poder servir e Lhe dizer "não". No entanto, ela foi generosa, aceitou despojar-se de si mesma e, com seu “sim”, permitiu a Deus entrar na nossa história e na nossa família humana. Desta forma, a Santíssima Virgem tornou-se o modelo a ser seguido por cada um que, ao passar por este mundo fazendo o bem, deseja um dia ser reconhecido pelo Senhor como “Benditos do meu Pai [...]” (Mt 25,34).

Hoje, inspirados pelo exemplo da Mãe de Deus e de tantos outros que conhecemos, tenhamos a coragem de optar pelo bem. Isso, sim, vale a pena! O tear da nossa vida precisa de fios coloridos e fortes para dar continuidade à obra começada desde o nosso nascimento. Estejamos atentos e não deixemos passar as oportunidades que temos de praticar o bem, principalmente para com os mais necessitados, sabendo que Deus não improvisa.

A bondade ou a maldade que semeamos hoje havemos de colher amanhã. E viva a generosidade!

Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com

Fonte: Canção Nova

03/08/2012

Olhar com amor e confiança

Imagem de Destaque
Os “bons olhos” de Cristo

Uma das manifestações mais tocantes da bondade de Cristo é a Sua infinita capacidade de dirigir um olhar amoroso e confiante a todos, mesmo aos que parecem mais pervertidos e irrecuperáveis. É uma atitude que vemos a cada passo nos relatos evangélicos, ao contemplarmos o modo acolhedor e esperançado com que o Senhor encara os pecadores, os miseráveis, todos aqueles que aparecem como o rebotalho imprestável da sociedade.

Há, concretamente, uma passagem do Evangelho em que essa atitude se revela com grande transparência. São Lucas pinta a cena com os traços de um drama em que intervêm dois personagens, Cristo e um fariseu chamado Simão.Ambos contemplam o mesmo fato: a invasão inesperada de uma mulher pecadora na casa do fariseu, onde Jesus estava à mesa juntamente com outros convidados.

E eis que uma mulher, que era pecadora na cidade, quando soube que Ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro cheio de bálsamo. Estando a Seus pés, detrás d'Ele, começou a banhar-Lhe os pés com lágrimas, enxugava-os com os cabelos da sua cabeça, beijava-os e ungia-os com bálsamo (cf. Lc 7,37-38). Aquela pobre mulher, tocada na alma pela divina bondade de Cristo - convertida pela pureza do exemplo e da palavra de Nosso Senhor -, não sabe o que fazer para expressar a sua dor, o seu arrependimento.Nesse momento, dois pares de olhos se fixam especialmente nela: os do fariseu Simão e os de Cristo. Ambos observam a mesma cena, a mesma pessoa, os mesmos gestos. Mas veem coisas inteiramente diferentes.

O fariseu fita a pecadora com olhar de desprezo: Vendo isto, o fariseu que o tinha convidado disse consigo: Se este fosse profeta, com certeza saberia quem e qual é a mulher que o toca, e que é pecadora. Simão só vê o “lado mau”. Vê com “maus olhos”.Cristo, pelo contrário, dirige à pecadora o olhar do amor benigno: os “bons olhos”. Mansamente, volta-se para o fariseu e diz-lhe: Simão, tenho uma coisa a dizer-te… E o que Cristo vai dizer-lhe, com um laivo de tristeza, é que Simão ainda não aprendeu a enxergar com bondade, ainda não aprendeu a apreciar o valor dos outros com uma “atenção amorosa”.Um credor - começa Cristo - tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários, o outro cinquenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a dívida. Qual deles, pois, o amará mais? O que equivale a dizer: Simão, onde tu vês um atrevimento despudorado, eu vejo amor.

Esta pobre criatura chora pela pena do arrependimento e a esperança do perdão. E prossegue: Vês esta mulher?… - sim, é necessário, é importante conseguir “ver” os outros, coisa nada fácil -, vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; e esta com as suas lágrimas banhou os meus pés e enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste o beijo da paz, mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar os meus pés. Não ungiste a minha cabeça com bálsamo, mas esta ungiu com bálsamo os meus pés. Pelo que te digo: São-lhe perdoados os seus muitos pecados porque muito amou (cf. Lc 7, 40-47).Como se percebem bem aqui os “bons olhos” de Jesus! Mais do que ninguém, Cristo era capaz de penetrar nos abismos do mal que o pecado cavara naquela alma. E mais do que ninguém, por ser Ele Deus - Deus feito homem -, podia sentir-se atingido pelo pecado, pois este é, acima de tudo, uma ofensa a Deus.Nada disso, porém, passa para o primeiro plano no olhar de Cristo.

Na escuridão do pecado, que envolve a alma daquela pobre mulher, Ele não detém a vista no que O ofende; só vê brilhar - como a luz que cintila numa noite escura - a bondade que começa a desabrochar naquela alma dolorida. Apenas vê o “lado bom”, a semente de bondade e a chama de esperança que ali está a despertar, e que Ele pode e quer ajudar a crescer e a acender cada vez mais.O fariseu queria expulsar, indignado, a pecadora e, com isso, certamente a teria ferido “mortalmente”, pois teria abafado a sua esperança, e a teria acorrentado, talvez para sempre, ao seu mal. Cristo não. Jesus estende-lhe a mão e a salva: A tua fé te salvou; vai em paz (cf. Lc 7, 50).

E assim uma dupla alegria, imensa, nasce daquele perdão: a da pecadora perdoada, purificada, nascida de novo; e a de Nosso Senhor, que declara: Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento (Lc 15,7).Por que você não procura mais essa alegria, que Jesus tem preparada para todos nós? Não percebe que é a alegria que invade a alma cada vez que fazemos, com dor e esperança - como aquela mulher - uma boa confissão?

Padre Francisco Faus
http://www.padrefaus.org/

Fonte: Canção Nova

02/08/2012

Seja feita a Tua vontade

Imagem de Destaque
Assim na terra como no céu

Com muita frequência, nós nos deparamos com os resultados de pesquisas destinadas a compor estatísticas que avaliam as tendências de nosso tempo nas diversas áreas da vida e da atividade humana. Trata-se de uma atividade inteligente, com metodologia precisa, cada vez mais apurada. Durante a semana que passou, já estavam à disposição levantamentos a respeito do que os eleitores levarão em conta nas próximas eleições municipais. Os comerciantes estão sempre atentos às tendências de mercado, os meios de comunicação conferem sua audiência, e daí por diante. Também as estatísticas religiosas nos interessam.

Queremos saber com quem estamos tratando, como as pessoas recebem nossas mensagens, o efeito prático de nossa pregação e daí por diante. É que todos querem saber em que chão estão pisando.Há alguns dias, veio-me um desejo diferente: o de tornar-me, como um texto lido há alguns anos, um contador de estrelas, olhando para o alto ao invés de olhar apenas para o chão, sonhar com o Céu e não apenas constatar a realidade que nos circunda. E redescobri a oração do Pai-Nosso, tão antiga quanto nova e revolucionária.

Para rezá-lo, veio-me de forma espontânea o sinal da cruz. Antes de "Pai nosso" eu disse: "Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". Vi que traçava, junto com as palavras, a cruz de Cristo sobre mim. Pareceu-me ver o universo aberto de forma diferente, com uma haste voltada para o alto, para o infinito. A outra abraçava o mundo. O contador de estrelas começou a sonhar, mas com os pés no chão!Vi que existe no alto um modelo para caminhar na terra. De fato, há um “plano” pensado desde toda a eternidade, há um sonho de Deus para a humanidade. Seu nome é santificado porque as pessoas são chamadas a viver voltadas para fora de si, abertas para amar e não dobradas sobre os próprios interesses.

Como sou livre, incomodou-me um pouco pensar que, no desenho do projeto de Deus, está escrito que é para fazer a Sua vontade, até que entendi que, numa reunião de amor, cuja duração se estende por toda a eternidade, a família de Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, tramaram a estratégia da felicidade. Pareceu-me ver, olhando para as estrelas iluminadas no horizonte da fé, que é mesmo melhor fazer o que agrada a Deus, pois Ele é infinitamente mais inteligente do que todas as mentes humanas. E foi então possível rezar de novo “venha a nós o vosso Reino”, constatando que é melhor implantar o Reino que precede e pode iluminar todos os reinos do mundo.

Se eu tivesse em mãos todas as constituições de todos os países, e a elas ajuntasse a avalanche de leis que os homens e mulheres elaboram a cada dia, no afã de encontrar saídas para os problemas de nosso tempo, descobriria nelas os rastros daquele “plano”, porque sei que estão plantadas por aí muitas sementes do Verbo de Deus. É que acredito na ação misteriosa e verdadeira do Espírito Santo, que planta o bem onde nós menos esperamos.

Nas estrelas do Céu de Deus, vi que estava escrita a lei da providência. Pão do Céu e Pão da terra, pão compartilhado e dividido. Na oração, o sonho de que todos acolham o alimento do Céu e aprendam a lei divina da liberalidade, para que não haja fome nesta terra. Foi bom constatar que a natureza que Deus nos deu foi pensada com inteligência. Não faltam recursos nem comida, mas falta partilha! Quem se volta para o alto descobre a receita da despensa e da cozinha de Deus!O Céu de Deus, a casa da Santíssima Trindade, é amor eterno.

Quando desceu a terra, este amor assumiu a face da misericórdia. Que ousadia e que risco corri ao dizer “perdoai-nos assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Viramos o jogo? O Céu e o Pai do Céu se submetem à nossa capacidade de perdoar? É que o plano de Deus nos introduziu num verdadeiro jogo de amor. Numa nova “escada de Jacó” (Cf. Gn 28,12 e Jo 1,51), o Céu e terra partilham seus dons, ainda que o Céu seja sempre o vencedor, pois a vitória que vence o mundo é a fé!Para chegar a tais alturas, aquele que nos livra do mal nos liberte também da tentação de olhar somente para baixo, nivelando o mundo ao rodapé das constatações frias.

Deus tem a palavra e Ele é mais inteligente do que minha pobre percepção da vida. Olhando para Ele, que é família e não solidão, sonhei com o mundo “passado a limpo”, como foi pensado para a felicidade de todas as criaturas de todos os tempos.

Sonhei tanto que rezei assim: “Ó Deus, nosso Pai, enviando ao mundo a Palavra da verdade e o Espírito santificador, revelastes vosso inefável mistério. Fazei que, professando a verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a Unidade onipotente”. E disse “Amém”. E sonhei de novo toda a humanidade vivendo o Céu, na terra e na eternidade!

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Fonte: Canção Nova